Shiroi Tsubasa escrita por Shiroyuki


Capítulo 17
Capítulo XVII


Notas iniciais do capítulo

Perdoem a demora... e espero que gostem *u*



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— Droga, Amu! Por que você não me contou?!?! – Rima exclamou, estupefata. Nadeshiko abafou uma risada. Gostava de vê-la irritada, e não saber das coisas, com certeza, deixava Rima muito, mas muito irritada.

— Me desculpe, Rima-chan – Amu riu fracamente – era um segredo.

— O que a Amu não te contou, Rima-chii? – Yaya surgiu do nada, balançando-se sobre as pernas.

— N-não é nada! – Amu apressou-se em dizer, quase suando frio. Yaya tinha uma certa fama na escola, por ser amiga de todos os senpais e kouhais, fazia as notícias correrem rápido. Ela, na verdade, adorava uma confusão. – Vamos tomar água? – ela tentou disfarçar, levando Yaya para longe da “fofoca”.

— Tudo bem – Yaya berrou sorridente. Ela nunca negava um pedido. Ambas rumaram para fora da sala, que estava vazia, já que todos chegaram bem cedo, antes de qualquer um sequer pensar em entrar na sala. Era a melhor hora da manhã, quando o silêncio não parecia esmagador, mas tranquilo e leve. As classes vazias davam uma sensação de calma, que só podia ser explicada por quem já foi o primeiro a chegar à sala.

Nadeshiko sorriu, vendo o rosto de Rima contorcer-se em milhões de caretas diferentes, resultado da sua irritação consigo mesma por não ter percebido algo que era óbvio desde o início. Inclinou-se sobre a classe, com a cabeça apoiada em ambas as mãos. A garota não percebeu o movimento, concentrada nos próprios pensamentos. Ele sorriu, e assoprou, de leve, a orelha de Rima.

Ela se sobressaltou, sentindo seu corpo todo arrepiar como se estivesse encostando-se a fios desencapados. Encarou Nagihiko por alguns segundos, tentando repreende-lo. Falhou. Dois segundos depois de fixar seus olhos nos dele, perdeu-se. Nagihiko se aproximou, sorrateiro como um gato, e selou seus lábios nos dela, arrancando um gemido baixo de surpresa. Rima impediu-o de se afastar, prendendo os dedos firmemente nos cabelos, desmanchando o penteado sempre tão perfeito.

— Gaaaahh!!  O que é isso???? – uma voz estridente, seguida por um pedido de desculpas, pode ser ouvida. Rima empurrou Nadeshiko para longe, fazendo-a quase cair da cadeira.

Yaya era quem gritava. Amu pedia desculpas. Aquele foi um péssimo timing...

— Expliquem agora tudinho para a Yaya! Vocês duas...

— Não! – Nadeshiko interrompeu, em desespero – Eu vou explicar. Senta aí e escuta, bem quietinha.

Amu parecia arrependida, e olhava para Rima com cara de gato que colocou passarinho morto na cama do dono. Rima apenas suspirou. Aquela seria uma conversa longa demais.

— E então... – ela perguntou para Amu, tentando se desligar da conversa tensa entre Yaya e Nadeshiko. – O que será que o Tadase tá fazendo?

-

Tadase correu por entre os arbustos, procurando por todos os lados algum sinal daquela garota. Seria impossível encontra-la se ela realmente não quisesse ser encontrada, mas Tadase possuía algum sentimento inominável que o impelia a seguir em frente. Ele precisava explicar tudo a ela, antes que fosse tarde demais. Tarde demais para o que?

Pensou em procurá-la no telhado, mas antes que pudesse virar-se para seguir o caminho, um vulto chamou sua atenção. Cabelos bastos e negros, balançando para todos os lados e afastando-se rapidamente. Ela corria na direção dos fundos da escola, onde o bosque que cercava toda a propriedade começava. Tadase não pensou duas vezes antes de tomar impulso e seguir na mesma direção.

Adentrou por entre as árvores, distinguindo apenas a pequena figura que se mexia com velocidade. Tadase acelerou, e em poucas passadas já podia alcança-la apenas esticando o braço, mas ele não o fez. Apenas continuou a segui-la, até que estivessem tão fundo na floresta que não era mais possível ouvir mais os murmúrios de pessoas falando ao mesmo tempo, e então ela parou, repentinamente. Não se virou, nem deu o menor sinal de que tinha consciência da presença de Tadase em seus flancos.

— Yamisaki-san... – ele sussurrou, estendendo o braço receosamente, sem tocá-la de fato.

— O que você quer comigo, garoto? Quem mandou você me seguir até aqui? – ela sibilou, rispidamente, cerrando os punhos.

— Eu... só achei que você poderia ter interpretado errado...

— E quem se importa? – ela elevou a voz, virando-se bruscamente – Quem se importa com o que eu penso? Eu te respondo: Ninguém! E você deveria ser esperto como eles e me deixar em paz! Vai embora! Me esquece!

— Não – Tadase se apressou em dizer, notando o quanto os olhos dela brilhavam, tentando segurar as lágrimas que se acumulavam rapidamente.

— Só volta pra sua amiguinha do cabelo de berinjela e me deixa, Hotori! Você nunca devia ter se aproximado de mim, pra começar.

— Por que? – ele indagou, retoricamente, se aproximando lentamente na área segura que Hitomi havia delimitado inconscientemente ao se redor – Por que você não deixa que ninguém se aproxime? Eu estive observando, Yamisaki, e percebi que você sempre está sozinha. Não tem amigos, e é rude com qualquer um que ouse chegar perto.

— V-você esteve observando? – ela balbuciou, tão baixo quanto um virar de página, com o semblante incrédulo. – Isso não vem ao caso! Eu não quero que ninguém chegue perto de mim! Eu odeio pessoas! – ela gritou, tentando disfarçar o constrangimento.

— Você odeia pessoas. Você me odeia também? – Tadase não conseguiu conter a pergunta, que escapou pelos lábios hesitantes. Seu rosto queimava, mas ainda assim, seu semblante demonstrava uma determinação surpreendente.

Hitomi, os olhos azuis arregalados em surpresa e a boca entreaberta, afastou-se alguns passos, com o corpo trêmulo dando a ideia de que ela sairia correndo assim que tivesse a chance. Tadase, porém, percebeu a sua intenção, e avançou mais alguns centímetros, deixando-a encurralada em uma árvore. A distância entre eles era de pouco mais do que uma classe escolar, e mesmo assim, Hitomi já se sentia sem ar, com o coração palpitando irritantemente alto. O que aquele garoto idiota estava pensando, usando os seus estranhos poderes de atração para entorpecê-la?

— Eu não te odeio... tanto assim – ela resmungou, tão baixo que Tadase teve que se inclinar para ouvir.

— Yamisaki-san... eu gosto de você. – Tadase disse, fitando Hitomi diretamente nos olhos. Ela vacilou, parecendo estar prestes a cair sobre os joelhos. Suas pernas bambearam, e ela teve de se segurar com força na árvore as suas coisas para não desabar ali mesmo. Era a primeira vez que ela ouvia essas palavras, dirigidas a ela.

— Não – ela disse, arqueando as sobrancelhas. Estava prestes a mentir, a enganar o garoto e a si mesma, mas era algo necessário. Encarou o chão de folhas secas, pois era mais fácil quando não via os olhos carmesins postos sobre si. – Você não gosta de mim. Está enganado. O que sente por mim é apenas pena, solidariedade, compaixão, nada além disso. Eu não sou alguém apaixonável.

Do que você está falando, Yamisaki? Eu estou dizendo que...

— NÃO! Não diga de novo! – ela suplicou, consciente do fato de que não aguentaria ouvi-lo se confessar novamente. – Apenas fique longe de mim, seu idiota! Eu não quero você perto de mim, está entendendo bem?

— É mentira – Tadase suspirou, fitando Hitomi gentilmente. Ela forçou-se a olhar novamente para os próprios pés. – Eu posso ver que está mentindo. Por que você simplesmente não me diz o que está acontecendo? Me conte a verdade!

— Não posso – ela soprou entre os dentes, respirando fundo. – Só peço que fique longe de mim. Para sempre. Eu definitivamente não sou alguém que você queira por perto, Hotori.

— Então por que você teve essa reação quando me viu com Fujisaki-san? Não há nenhuma explicação plausível, além de...

— Cala a boca – ela gritou, beirando as lágrimas novamente – Não suponha nada! Você não me conhece! Não sabe nada sobre mim! Fica longe! Longe!

Tadase não parecia estar ouvindo nada do que ela dizia. Estava convencido de que eram todas palavras vazias. Havia notado o brilho nos olhos, quando disse que gostava dela. Percebeu também a nota de falsidade em sua voz, que tremia quando se dirigia a ele.

Apenas sorriu, docemente.

— Eu amo você – ele disse, parecendo que essa afirmação era novidade também para ele, fazendo Hitomi engasgar no meio de uma frase. Antes que ela pudesse argumentar, ele terminou com a distância que os separava, tocando levemente a bochecha corada e macia dela. Seus corpos se tocavam levemente, deixando ambos perdidos em seus próprios sentimentos.

Hitomi levantou o braço direito, com o punho cerrado. Estava pronta para desferir um golpe, mas tremia tanto que nem mesmo parecia ameaçadora. Tadase tocou a mão rígida, fazendo-a abrir-se e entrelaçando seus dedos nos dela. Tão lentamente, como se estivesse sendo conduzida por alguma música inaudível, Hitomi fechou os olhos, inclinando sua cabeça para cima. Tadase fez o mesmo, aproximando-se. Ela sentiu todo seu rosto formigar, com a respiração quente de Tadase tocando-a. Delicadamente, ele aproximou seus lábios, impelindo Hitomi a escorar-se na árvore. Ela abraçou-o, circundando seu corpo com os braços finos e sem forças. Ele aprofundou o contato, hesitante, e ela correspondeu. O único som que preenchia o vazio calmo do bosque era o palpitar de seus corações, ritmado e rápido.

Subitamente, Tadase sentiu um baque na região das costelas. Sua respiração, já ofegante, ficou limitada e dolorosa. Ele cambaleou para trás, caindo no chão, sobre a relva. De pé, Hitomi estava com as mãos cerradas, e o rosto vermelho agora trazia espessas lágrimas que caiam sem parar. Ela não ousou olhar nos olhos de Tadase.

— Eu não sou quem você merece ao seu lado, Hotori. Não me siga, por favor. Eu prometo que sumirei da sua vida. Finja que nunca me conheceu, é melhor assim. Será como se eu nunca tivesse esquecido aquele livro, prometo – ela disse, formando um sorriso triste no final – Você vai ficar melhor com a garota-berinjela. – Enxugou as lágrimas, como se quisesse as deixar para trás também, e seguiu seu caminho. Ao contrário do que se pensava, ela apenas entrou mais dentro do bosque, na direção oposta a escola.

Tadase se ergueu, tirando os galhos e folhas da calça do uniforme. Olhou para o lugar onde Hitomi sumiu. Não havia nenhum sinal de sua passagem. Nenhum ruído, nenhuma marca. Nada.


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Notas finais do capítulo

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