Shiroi Tsubasa escrita por Shiroyuki


Capítulo 11
Capítulo XI


Notas iniciais do capítulo

Aaaah, esse com certeza é meu capítulo favorito até agora!!!
Espero que gostem tanto quanto eu! ♥
Boa Leitura



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Nagihiko olhava para Rima, sem conseguir desviar o olhar. Estava vestindo roupas masculinas agora, mas não se incomodava. Rima também não parecia surpresa, apenas sorria gentilmente. Foi então que Nagihiko percebeu.

Não era real. Como poderia ser? Mashiro Rima sorrindo gentilmente, sem nenhum estímulo externo? Era obviamente um sonho.

Ele resolveu então fazer um teste. Poderia simplesmente se beliscar, mas que graça teria?

— Mashiro Rima, você vestiria um maiô escolar para mim? – perguntou, lançando seu melhor olhar galante, seguido de uma brilhante piscada de um só lado, jogando os longos cabelos para trás teatralmente.

— O que você é, um maníaco pervertido? – Rima desferiu seu melhor golpe, o chute nas canelas. Era simples, porém muito efetivo.

Ah, os sonhos de Nagihiko eram fiéis demais á realidade! Ele até podia sentir a dor…

Curvou-se, segurando o local dolorido, sentindo o arrependimento por ter pronunciado aquelas palavras latejando sobre a pele, chegando até os ossos, mas tão rápido quanto Rima o chutou, ele se recuperou e voltou à pose inicial. Sentindo o coração acelerar sem nenhum motivo certo, ele segurou a mão de Rima. Ela era tão pequena e macia… Ele puxou o ar pesadamente e então fitou os olhos de Rima sem nenhuma insegurança. Ela o encarava com incredulidade e as bochechas corando imediatamente. Aquilo não fazia sentido, mas por que um sonho deveria fazer sentido?

— Eu amo você, Rima – ele disse, com a voz limpa e clara, sem duvidar nenhum momento que aquilo era o que ele deveria fazer em primeiro lugar. E, de repente, eles estavam em algum lugar na beira de um lago, no meio do outono, com as folhas secas flutuando ao redor.

Rima baixou o olhar, de um modo que ele não poderia ver sua reação. Mas ela ainda estava com a mão entre as dele, o que era provavelmente um bom sinal. Sem se afastar, ela levantou a cabeça. Seu semblante estava diferente, mais leve, mais real. Sorria, mas era um verdadeiro sorriso de Mashiro Rima, e não um sorriso falso e imaginário.

— Nagi… - ela sussurrou, fazendo o corpo dele arrepiar-se por inteiro, ao ouvi-la chama-lo assim – eu também, amo muito você – ela completou, com sua voz de soprano enevoada pela atmosfera fantasiosa.

Nagihiko sentiu seu coração falhar muitas batidas, enquanto acelerava. Era doloroso, mas ao mesmo tempo, dava uma sensação reconfortante. Rima segurou a mão de Nagihiko com força, espalhando seu calor, e pousou a outra em seu ombro, apertando a camisa entre os dedos finos. Fechou os olhos, pondo-se na ponta dos pés. Ele sentia o calor que irradiava do corpo dela tocar o seu. Era como uma pequena chama, quente e confortável. Ele prendeu o ar, com o peito batendo dolorosamente, ainda mais forte. Fechou também os olhos, esperando.

Esperando…

Nagihiko abriu os olhos, sem mover um músculo. Soltou o ar, decepcionado. Por que tinha sempre que acabar assim? O que ele havia feito de tão errado, para não merecer nem mesmo um sonho?

Aos poucos, foi tomando consciência de seu corpo, espalhado irregularmente no futon. Rima havia se acostumado a vê-lo dormir de maneira desleixada, mas seria perigoso, se ela o visse nesse estado agora. Ele estava com parte da camisa erguida, mostrando o abdômen definido e o peito definitivamente masculino. Usava também uma cueca samba-canção, para conservar o mínimo de dignidade nem que fosse enquanto dormia, mas nisso não havia problema, já que Rima não saberia como se parece uma roupa de baixo masculina.

Sentindo-se agitado, por causa do sonho, Nagihiko sentou, movendo os lençóis desarrumados para o lado. Passou a mão nos cabelos soltos, bagunçando-os inconscientemente. Não conseguia esquecer-se da expectativa criada, da percepção tão sólida de Rima nos seus braços, mesmo que fosse tudo um produto da sua mente imaginativa e deprimente. Tudo o que ele precisava agora era de um pouco de ar da noite, água gelada, ou que sabe um bom psicólogo. Como as duas primeiras opções eram mais viáveis, Nagihiko levantou-se, completamente desperto. Coçou a virilha como não fazia a muito, e teve uma vontade repentina de arrotar, mesmo que não costumasse fazer isso nem mesmo na época em que era… homem?

Balançou a cabeça para organizar a cabeça, que se enchia de pensamentos inúteis por causa do sono, e continuou a caminhar em direção à porta.

— Quem é? – uma voz sussurrada e melódica o despertou do estado de torpor imediatamente. Nagihiko sentiu seu corpo congelar no lugar, rigidamente – eu sabia que era você – a mesma voz sonolenta disse, parecendo feliz. Nagihiko sentiu-se agitado. O que faria? Rima balbuciou alguma coisa sem nexo, com as mãos soltas no ar.

Nagihiko avaliou as opções rapidamente, ainda que já estivesse andando na direção de Rima. Teria que atuar de acordo com ela, da maneira que fez na última vez. Claro que isso era mais como uma desculpa, para Nagihiko agir livremente da forma que queria, enquanto Rima pensava estar num sonho.

Sentou na beira da cama, sentindo seu corpo todo tremer de nervosismo. Todos os pensamentos racionais gritavam para alertá-lo da loucura que ele estava prestes a cometer, mas a única voz que o impelia a continuar era muito mais forte.

— Rima-chan – ele disse, no seu tom normal de voz. Rima abriu completamente os olhos, corando visivelmente, mesmo no escuro – Anh… eu… vim ver você…

— Eu sabia que viria – ela disse, atirando-se nos seus braços. Levantou um pouco a cabeça, para olhar melhor para ele. Estava tão real, iluminado pela luz a Lua que entrava pela janela, com seus cabelos soltos e brilhantes, sua pele lisa… Rima até podia sentir o cheiro de ar livre que ele emanava. Abraçou-o novamente, com força, parecendo uma criancinha aninhada a ele.

— É melhor você dormir – Nagihiko sugeriu calmamente, acariciando os cabelos bastos com cuidado.

— Não – Rima rebateu – eu quero que você fique aqui, comigo.

— Mas eu vou…

— Sempre que eu durmo você some – ela alegou, fazendo beicinho. Nagihiko não pode evitar sorrir.

— Tudo bem, só mais um pouco – deu-se por vencido, trazendo Rima para mais perto, aspirando o perfume de maçã verde do cabelo dela.

— Dói muito, mas eu te amo – ela admitiu, com naturalidade. Aquilo era só um sonho, afinal, ela não via motivos para se reprimir ou constranger. Nagihiko afundou-se com essas palavras ecoando na sua mente dolorosamente. Ele era oficialmente um covarde. A vontade de contar tudo voltou novamente, mais forte do que antes.

— Rima, eu… sou bem egoísta, eu sei, mas ficaria feliz se você aceitasse esses sentimentos, mesmo que eles não façam nenhum sentido… só um pouquinho mais.

A risada dela ecoou, como sinos no meio da noite. Parecia ainda mais com uma criança quando ria daquele jeito.

— Você parece a Nadeshiko falando desse jeito – ela disse divertida, sentando na cama, segurando Nagihiko pela manga da camiseta, como que para garantir que ele não fosse fugir.

Nagihiko coçou o queixo, olhando para o dossel da cama, tentando disfarçar. Rima pulou para fora da cama, usando apenas sua camisola branca cheia de babados e fitas que ia até os tornozelos, parando na frente de Nagihiko, com as mãos nas costas. Ele nunca havia a visto tão solta e animada.

— Você é lindo – ela disse de repente, inclinando-se para frente, corando levemente, mas sem demostrar constrangimento. Nagihiko, por sua vez, enrubesceu até a raiz dos cabelos, olhando atônito para a pequena figura a sua frente – eu quero entrar na piscina – ela bradou subitamente, indo rumo à porta.

— Não! – Nagihiko gritou, segurando Rima pela mão em tempo – você não pode.

— Por que não? – ela indagou, com as sobrancelhas arqueadas – o sonho é meu.

— Mas… hoje não – Nagihiko procurou uma desculpa rapidamente, tendo uma ideia tão absurda que poderia dar certo. Inclinou-se até a altura dela, roçando com os lábios sua orelha. Percebeu Rima estremecer em seus braços, e sorriu para si mesmo pelo feito. Sentia-se agitado por dentro com esse simples toque, mas não pretendia parar. Percorreu toda extensão até a bochecha, voltando para o pescoço depois – Não saia do quarto, certo? – soprou em sua orelha, sentindo-se patético e extasiado ao mesmo tempo. Aquilo deveria segurá-la por algum tempo, de qualquer forma. Segurou a garota pela mão, delicadamente, e guiou-a até a cama, onde a colocou sentada, e ajoelhou-se no chão, em cima do futon onde antes dormia, ficando no mesmo nível dela.

— Você deve ficar aqui – ele disse, com um leve tom de autoridade ao fundo, tentando manter o olhar imperativo firme.

— Qual o seu nome? – Rima murmurou curiosa e trêmula, sem discutir a ordem e nem quebrar a troca de olhares.

Nagihiko pensou rapidamente, lembrando-se do sonho que havia tido há pouco.

— Nagi.

— Nagi-kun – ela repetiu, acariciando cada sílaba – Quem é você? – ela perguntou calmamente, inclinando a cabeça para o lado.

— Eu… lamento, mas essa é uma pergunta que não posso responder – ele articulou quase como quem se desculpa, sem conseguir fitar Rima diretamente nos olhos. Doía enganá-la daquela forma.

Ela apenas concordou com a cabeça, sorrindo de leve. Para ela, era apenas um sonho, não importava que não fizesse sentido ou não lhe fornecesse respostas. O que importava, era que o seu Príncipe estava ali com ela, naquele momento.

— Você vai aparecer para mim logo, não vai? – ela sussurrou repentinamente, quase como uma ordem.

— Eu já não estou aqui? – ele respondeu ambiguamente, acariciando suavemente as mãos de Rima entre as suas.

— Eu disse aparecer de verdade, não no meu sonho – Rima pronunciou, impaciente.

— Eu quero muito isso, Rima, você pode ter certeza, mas não é algo que esteja ao meu alcance – ele respondeu sinceramente, vendo a expressão dela desmanchar-se como um balão de gás no final da festa. Uma lágrima teimosa escapou, prendendo-se na ponta dos longos cílios e então, caindo, lentamente. Rima cerrou os dentes, não querendo que mais nenhuma fugisse. Sentia-se tola e infantil, agindo dessa forma.

Nagihiko não tinha ideia do quanto era difícil para Rima compreender e aceitar os sentimentos que afloravam sem que ela soubesse sua origem, julgando que não passavam de simples devaneios.

Antes que ela percebesse, as lágrimas saiam em cascatas, correndo por sua face, e pingando devagar, uma por uma. Ela começou a soluçar, secando os olhos debilmente com as costas das mãos. Nagihiko a fitava, sem saber como agir. Cada lágrima que ela derramava era como um golpe certeiro, machucava e doía fisicamente também. Seu coração se apertou como se tentasse sumir.

Agindo por impulso, como havia feito desde que acordara, ele agarrou as mãos de Rima, que tentava desesperadamente fazer o choro cessar. Segurando-as no alto, acima da cabeça dela, seus rostos acabaram por se aproximar. Rima o encarava, confusa e corada, com os olhos úmidos brilhando intensamente. Nagihiko ouvia o pulso martelando alto nos seus ouvidos, desnorteando os derradeiros resquícios de racionalidade que ainda lutavam para tomar o comando.

Aquela proximidade era perigosa, era o que ele deveria estar pensando. Mas naquele instante, único e irreal, sentindo a respiração quente e irregular de Rima bater em seu rosto, com seus narizes quase se tocando, ele deixou-se guiar pelos incentivos inconscientes, e acabou com os últimos centímetros que ainda os separavam.

Rima sentiu sua cabeça girar em muitas direções diferentes. Em um segundo, ela fitava os olhos de ouro líquido, banhados pelo Luar, e em outro, uma leve pressão nos lábios a fez estremecer e derreter, perdendo todos os sentidos. Aos poucos, Nagihiko soltou suas mãos, sem se afastar, e segurou-a pela cintura, num abraço forte e desesperado. Estando em uma posição mais alta que ele, sentada na cama, ela circundou os braços ao redor do seu pescoço, entrelaçando os cabelos macios nos dedos. Ele a puxou para perto, aprofundando o beijo, até que o ar lhe faltasse e ele tivesse que se separar para manter-se vivo. Levantou um pouco a cabeça, após se afastar, tocando sua testa com a dela. A respiração ofegante de ambos misturava-se em uma só, enquanto eles apreciavam o pequeno sonho particular de olhos fechados. O único som que preenchia o quarto vazio era o do coração de Rima, que pulsava audivelmente num ritmo descompassado e ligeiro.

— Você sabe que tem que dormir agora – ele murmurou, quase sem som algum, afastando-se minimamente. Rima acenou com a cabeça, sem abrir os olhos. Lentamente, foi se acomodando na cama, com Nagihiko a ajudando, e logo ressonava. Ele a cobriu, com cuidado, e permaneceu no mesmo lugar por alguns minutos, apenas observando-a entregar-se ao sono com um ínfimo sorriso nos lábios delicados.

Percorreu toda a extensão do rosto dela com os dedos, desejando mais do que nunca poder ser alguém diferente. Ainda sentia o toque hesitante e delicado dela queimando sua pele, como se suas mãos ainda estivesse lá. Era inacreditável as reações de proporções tão grandes que uma garota pequena com ela podia causar. Voltou a deitar em seu futon, com movimentos lentos e desperdiçados, querendo a todo custo gravar cada um dos últimos segundos na sua memória permanentemente. Ele não teria outra oportunidade como aquela, de ser ele mesmo e mais ninguém, ao lado de Rima.

Ou talvez, se tivesse sorte, Nagi poderia aparecer em mais alguns sonhos dela…

-

— Ei, acorda! Acorda!! – Nagihiko ouviu sua voz sendo chamada ao longe, ao mesmo tempo em que seu corpo era empurrado e puxado com força para todos os lados. Quando sentiu o calor esvair-se subitamente, o ar gelado da manhã entrou em contato bruscamente, e ele levantou-se num pulo.

Não conseguia manter os olhos abertos completamente, mas mesmo com a visão enevoada podia notar o grande sorriso nos lábios de Rima, que segurava seu cobertor entre as mãos com ar triunfante.

— Já falaram para você que tem o sono muito pesado, Nadeshiko? Faz muito tempo que eu tento te acordar, mas você parecia meio morta!

— Ah… é mesmo – Nadeshiko balbuciou, com a voz delicada e suave um pouco rouca por causa do sono, e as engrenagens do cérebro começando a girar lentamente – por que me acordou? Estamos atrasadas?

— Não, hoje é domingo! Você prometeu que me levaria para fazer compras, lembra?

Nadeshiko tinha uma pequena e confusa recordação de ter dito algo assim, enquanto Rima consumia-se em lágrimas por seu amado imaginário. E então, a noite anterior voltou como uma cascata de águas abundantes sem pedir licença. Ele se lembrou de tudo, e não conseguiu disfarçar todas as emoções que a lembrança o causara. Acenou com a cabeça, rapidamente, e correu para o banheiro, trancando-se lá.

Era difícil encarar Rima depois do que ele havia feito, mas por algum motivo insondável, ele se sentia estranhamente confiante e ousado, como se fosse capaz de fazer qualquer coisa. Tocou os dedos nos lábios, incrédulo, com um pequeno sorriso se formando no canto da boca. Ele ainda era um garoto afinal de contas, e como qualquer outro, iria se sentir muito bem depois de dar o seu primeiro beijo.  Ao se vestir de mulher, ele se sentia mais masculino do que nunca, orgulhoso pelo que tinha tido coragem de fazer.

Depois de se trocar com qualquer roupa que estivesse pelo banheiro, ele saiu, vendo Rima escovar os longos fios loiros distraidamente. Queria abraça-la, como havia feito antes, e contar toda a verdade ali mesmo, mas não podia simplesmente jogar tudo para o alto. Devia fidelidade ao pai dela, e havia feito um juramento junto com sua família, de servir e proteger seja quem fosse. Ele era um homem, e não fugia da sua palavra.

— Vamos? – perguntou delicadamente, abrindo a porta.

Rima sorriu e pegou sua bolsa. Nadeshiko não pode deixar de notar o quanto ela estava alegre, sorrindo feito uma boba.

— Vamos sim. Eu tenho muitas coisas para te contar.

Nadeshiko retribuiu o sorriso, enquanto Nagihiko planejava em algum canto afastado da sua mente como iria aparecer no próximo sonho. Aquilo era errado, mas irresistível a seu modo, e Nagihiko acabou descobrindo que era muito mais egoísta do que supunha. E vendo o sorriso amplo que Rima apresentava, estava mais certo ainda de que nada poderia dar errado.

Tudo não passava de um sonho, um lindo e perfeito sonho que poderia muito bem durar eternamente.


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Notas finais do capítulo

E entãao, o que acharam? Ah, eu realmente quero saber a opinião de todos ( ou melhor, todas?) vocês, até mesmo aqueles leitores fantasmas e anônimos que eu sei que estão aí!!!
Chuu~