Shiroi Tsubasa escrita por Shiroyuki


Capítulo 10
Capítulo X


Notas iniciais do capítulo

Nyaan~ mais um capítulo... Muito fofinho, e um pouco deprimente, na minha opinião, mas espero que gostem~



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Nadeshiko pousou a cabeça na classe, ouvindo os barulhos de pessoas caminhando e falando alto ecoarem em sua cabeça. Suspirou, fechando os olhos por poucos segundos, com vontade de soltar os cabelos firmemente presos no alto que latejavam. Rima não estava com ela hoje, por que sentia dores e não quis sair da cama.

Os dias que se passaram haviam sido cansativos... Rima havia entrado em uma fase difícil que, segundo os cálculos do garoto, aconteciam ao menos uma vez por mês. Ela estava estressada, emotiva e exagerada, e tudo ao mesmo tempo. Nagihiko não sabia nem o que deveria falar quando estava com ela, com medo de que a garota pulasse em seu pescoço e lhe arrancasse as cordas vocais.

Na última noite, ela havia gritado do banheiro, pedindo por absorventes. Mas como Nagihiko saberia o que eram os tais absorventes no meio daquele closet enorme e surreal, que mais parecia um portal para outra dimensão? Rapidamente, ele pesquisou por imagens no Google (vendo coisas realmente desnecessárias que jamais iriam deixar de lhe assombrar) e procurou por objetos similares nos armários. Enquanto fazia isso, em menos de 5 minutos, era presenteado com a voz aguda e abafada pela porta do banheiro, que gritava sem parar. Depois de passar o pequeno pacotinho por baixo da porta, ouvindo a indignação de Rima por ele não ter entregado em mãos, escorou-se na parede e deixou seu peso ceder, recuperando o fôlego e um pouco da sanidade. Após sair, Rima voou até a cozinha e comeu todos os chocolates e sorvetes que encontrou por lá, então voltou ao quarto e foi dormir, sem dirigir uma única palavra a ele.

Nadeshiko respirou fundo e ergueu a cabeça, sem olhar para nenhum lugar específico. Logo o Nikkaidou-sensei chegaria e ela poderia ocupar o cérebro com alguma coisa mais produtiva. Amu apareceu algum tempo depois, com um sorriso enorme no rosto, e ocupou seu lugar ao lado dela. Assobiou alguma música sem sentido por alguns segundos, e finalmente percebeu o estado da amiga.

— Você está bem, Naddy? – perguntou, sem conseguir esconder a felicidade latente apesar de estar um pouco preocupada – Onde está a Rima-chan?

— Na cama, em forma de bolinha, reclamando de dor – disse, sem olhar na sua direção.

— Ah! É mesmo... já é final do mês não é...? – Amu divagou, com o indicador no queixo, e acenou com a cabeça, entendendo tudo em uma fração de segundos.

— Espera! – Nadeshiko percebeu algo, e olhou para a garota quase em desespero – O que você sabe sobre isso? Diga-me tudo! Agora!

Amu pigarreou, e com semblante solene, iniciou. Passaram-se vários minutos de explicação, e tudo o que se via era as feições de Nadeshiko tornando-se mais e mais atônitas. Com os olhos arregalados e o queixo caído, ela piscava de surpresa a cada segundo.

— Então... quer dizer que isso... acontece todo mês? – ela disse finalmente, ao recuperar a fala.

— Exatamente – Amu confirmou, vitoriosa – não me diga que nunca estudou isso em biologia?

— Ah... bem... acho que sim... mas eu nunca imaginei que seria... dessa forma...

—A Rima não é alguém fácil de lidar, ainda mais nesses dias, mas você logo se acostuma – Amu balançou a mão no ar, despreocupada.

Nadeshiko concordou com a cabeça rapidamente. Teria que se acostumar com todos os lados da complicada personalidade de Rima, para já estar preparado quando eles se casassem. Com esse último pensamento, corou furiosamente e enterrou a cabeça de novo na classe, enquanto o professor chegava e iniciava a aula.

Quando nos casarmos... Ah! Isso seria realmente maravilhoso...

-

Nadeshiko subia a escada rapidamente, com a preocupação tingindo seu rosto sempre calmo com diferentes tons. Havia saído da escola mais cedo, apenas para ver como Rima estava. Abriu a porta silenciosamente, espiando através dela. Estava tudo escuro no quarto, e ela podia ver as formas disformes dos cobertores em cima da cama, aparentemente vazia.

Adentrou no ambiente, notando uma pequena luz do abajur sobre a escrivaninha, que raramente era usada. Sem pensar duas vezes, ligou a tomada, iluminando todo o quarto, e sobressaltando a pequena figura que estava encolhida em cima da cadeira.

— O que está fazendo, Rima-chan? – indagou enquanto se aproximava, espiando sobre o ombro da garota.

Rima debruçou-se sobre a mesa desesperadamente, derrubando no chão uma lapiseira.

— Não é nada – disse, com a voz aguda e alarmada, sem tirar o corpo de cima do que parecia um caderno ou um tipo de agenda.

— Ah, vamos, deixe-me ver – Nadeshiko disse, tentando ver algo de um lado e de outro.

—T-tudo bem, mas não ria – Rima sussurrou, dando-se por vencida. Olhou para Nadeshiko com os olhos lacrimosos e o rosto muito corado, ao levantar lentamente da mesa.

Nadeshiko pegou o caderno das mãos trêmulas, examinando seu conteúdo com os olhos abrindo-se mais, pouco a pouco. Nas páginas brancas, um esboço disforme ia ganhando nitidez. Um rosto magro e solene, com cabelos longos e soltos ao vento, e a gola de uma camisa caindo desalinhada sobre o peito nu. Era quase como olhar em um espelho. Aparentemente, Rima não havia notado qualquer semelhança com a forma feminina a sua frente.

— Você desenha muito bem, Rima-chan – balbuciou a primeira coisa que veio à mente, enquanto tentava imaginar alguma forma de contornar a situação. Era impossível que ela se lembrasse de qualquer coisa, não era?  - Quem é? – indagou, fingindo curiosidade.

— O meu príncipe... – Rima admitiu em voz baixa, segurando com força uma almofada lilás, enquanto sentava na cama. Nadeshiko não pode deixar de reagir àquelas palavras. “Ela disse meu…”.

— Você ainda se lembra dele? – perguntou, sentando ao lado dela na cama, a uma distância segura. Segura, e grande demais para ele.

— Sim – ela admitiu, sorrindo – ele sempre aparece nos meus sonhos, todas as noites – Nadeshiko a fitou chocada, com a boca entreaberta a meio caminho de dizer algo – Eu queria tanto que ele fosse real – Rima apertou a almofada com ainda mais força, enterrando suas unhas nela.

— Talvez ele seja... – Nadeshiko começou a falar, sem pensar realmente no que dizia – Só está esperando o momento certo para procura-la.

— Eu espero que você esteja certa – falou com a voz embargada, deixando uma única e brilhante lágrima deslizar sobre seu rosto – por que seria muito cruel e patético se eu estiver apaixonada por uma ilusão.

— Apaixonada? – Nadeshiko repetiu, sem produzir som.

— Eu nunca me senti assim antes, Nadeshiko – Rima deitou na cama, encolhendo-se como uma bola. Fechou os olhos, tomando folego para começar a falar – meu coração se aperta cada vez que eu o vejo nos meus sonhos. Ele sempre tem um semblante triste, e nunca diz nada, apenas caminha para longe de mim, e eu nunca consigo alcançá-lo. Somente uma vez eu consegui ficar perto dele, mas esse sonho é o mais confuso de todos, e eu não lembro bem. Por que, mesmo ele sendo só um sonho, faz com que eu me sinta tão agitada quando penso nele, e meu coração bate tão forte quanto ele está perto? Eu estou ficando louca, Nadeshiko?

— Você não está louca… – Nadeshiko sussurrou calmamente, com feições gentis. Não resistiu por muito mais tempo e se aproximou, passando os dedos sobre a face de Rima suavemente –… pelo menos não de fato. É apenas uma pequena loucura, que todas as pessoas experimentam ao menos uma vez na vida…

— Amor? – perguntou Rima, num fio de voz, corando excessivamente apenas com a menção da palavra. Nadeshiko assentiu com a cabeça, mantendo-se em silêncio. Sentiu que se dissesse mais uma palavra, as lágrimas despencariam, e seu lado masculino jamais perdoaria essa demonstração na frente daquela garota – Mas ele sequer existe...

— Ele existe, Rima, eu tenho certeza disso – sussurrou suave, vendo a surpresa de Rima transparecer visivelmente – Ele está bem perto, só não tem coragem para dar o último passo e se revelar. Isso que vou dizer é bem egoísta, mas eu ficaria feliz se você aceitasse esses sentimentos, mesmo que eles não façam sentido algum.

Rima acenou com a cabeça, abraçando a almofada com mais força.

— No próximo final de semana eu e você vamos sair para fazer alguma coisa divertida, então é melhor você se animar logo – Nadeshiko disse, com a voz falsamente tranquila.

Rima sentou na cama imediatamente, secando a lágrima solitária que permanecia marcando sua face, tentando ao máximo sorrir sincera. Balançou a cabeça positivamente e sem dizer nada, foi em direção ao banheiro. Nadeshiko seguiu-a, assim que ouviu a porta sendo fechada. Escorou-se na porta e sentou no chão, com atenção redobrada o barulho da água enchendo a banheira. Através desse som, um pequeno arfar podia ser ouvido, seguido de soluços e gemidos baixos. Rima havia escapado para o banheiro para chorar escondida, sem ser vista por ninguém. Sua educação rígida e sua personalidade complicada faziam com que ela tivesse se acostumado a agir assim sempre que os sentimentos tornavam-se pesados demais para ficarem simplesmente contidos.

Nadeshiko bateu a cabeça na porta, com a mão cobrindo os olhos. Que tipo de homem ele era, deixando a garota que amava sofrer por razões que ele mesmo desconhecia? Não conseguia sequer imaginar o conflito interno por que Rima passava agora, ao pensar que está apaixonada por um produto da sua mente. E ele, Nagihiko, não tinha nem mesmo coragem para admitir a verdade, unicamente por não ter força suficiente para ficar longe dela.

— Você está bem? – indagou com a voz algumas oitavas mais alta, ao perceber que Rima demorava demais no banheiro.

— Estou sim – Rima gritou do outro lado, dando uma pequena risada logo depois, que lembrava a de um bebê – Você até parece uma segurança falando assim.

— É, já me falaram isso... – Nadeshiko completou, sorrindo para si mesma. Obviamente, Rima estava tentando se recuperar da maneira que melhor conhecia: fingindo que estava tudo bem, enterrando seus sentimentos e agindo como se eles não importassem.

Mas eles importavam, e muito, para Nagihiko. Ele sentia que tudo em Rima gritava ‘frágil’. Sua base familiar era fraca, tinha poucas pessoas em quem confiava realmente, seu temperamento complicado, sua maneira de agir contraditória. Seus anseios, alegrias e dores, eram empurrados e escondidos no fundo do seu coração, onde certamente haveria um grande muro, espesso e impenetrável, que impedia qualquer um de adentrar livremente.

Isso não importa – sussurrou para si mesmo, com os olhos brilhando de determinação. Não importava se Rima queria ficar para sempre em sua concha, Nagihiko iria destruir qualquer barreira para resgatá-la, protegê-la e acariciar cuidadosamente cada pequeno sentimento que ela possuía. Estava decidido, finalmente. Não haveria mais segredos, nem sofrimento. Nunca mais iria ver aquele semblante de tristeza no rosto da garota que amava.

Nem que para isso, tivesse que revelar a verdade sobre sua identidade.


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Notas finais do capítulo

Nyaa~ só para constar, Nagi é um garoto das antigas que apoia o casamento... o tipo fofo e perfeito, impossível de encontrar hoje em dia...

Ajude a salvar essa espécie em extinção, deixando um review [???]