Olhos negros do Uchiha passavam distraidamente pelo quarto escuro e perfeitamente desarrumado, como nunca estivera antes, pela terceira vez em um só minuto passara as mãos pelo cabelo em gesto de puro descontentamento, logo as descera para os olhos apertando-os  com certa força e as escorrera abertamente pelo rosto, espetando-a na barba rala, mal feita que por falta de cuidado crescera ali.

Levantou-se bruscamente e caminhou em círculos pelo quarto inquieto, olhou mais uma vez para as fotos que o deixara tão atordoado tentando achar uma explicação lógica para aquilo, ou talvez ignorar as imagens e imaginar que nada da quilo estava acontecendo.

Seus olhos correram pela foto pela centésima vez dês de que as recebera, observou as mãos do atrevido na cintura fina e os lábios tomando os dela sem que a mesma fizesse nada.

Um desespero correu por suas veias ao imaginá-lo tocando-a mais do que já estava, os imaginou da mesma maneira que quando chegava em casa e a fazia sua, os dedos cobrindo o corpo curvilíneo e puro que fora somente dele por toda a vida, os gemidos musicais que escoavam pelo cômodo saindo de seus perfeitos lábios para outro que não fosse  ele. A Raiva subiu rapidamente a cabeça, e sem pensar duas vezes ele pegou o abajur aceso do lado da cama e jogou contra a porta fechada.

Os olhos negros tornaram-se levemente avermelhados, a raiva era evidente em seu rosto contorcido por uma careta.

“Eu não posso te perder, você não pode ser de outro Sakura, não pode fazer isso comigo”.

____________________________________

Meus olhos insistiam em queimar intensamente o sol batia insistentemente sobre eles ainda fechados irritando-me, levantei com cuidado sentindo uma forte pontada na cabeça, olhei em volta tentando me lembrar do que havia feito na noite passada depois de Kiba partir assim que a chuva acalmara um pouco horas depois de o filme ter acabado, ficamos conversando por um tempo e então ele se foi.

A noite estava parcialmente gélida, assim como meu quarto, minha cama, assim como eu mesma. Sozinha, e desolada, as lembranças de Sasuke me invadiram com força e intensidade total, a dor que até então estava acalmada viera nítida e quase palpável.

Lembro-me de procurar álcool por meus pertences, mais eu não tinha o habito de bebê-lo muito menos tivesse o suficiente para embebedar-me, mais então me recordei que na casa de meus avós havia um porão onde eles escondiam as bebidas e maquinas de pebolim que meu avô costumava jogar e dizer que o que ficava no porão eram coisas impróprias para crianças, más eu e Naruto nunca ligamos para isso, claro que o que nos importava era apenas as maquinas do jogo e não a grande quantidade de álcool da adega, e bem... As casinhas daquela cidade seguiam um padrão de igualdade. Dito e feito, o porão estava em decadência, claro,  a dias sem ser limpo e abaixo do solo não esperava outra coisa, algumas garrafas de Rum e whisky espalhadas pelos suporte, envelhecidas. Uma seria o suficiente para que eu esquecesse o mundo e de tudo que me alastrava.

Depois disso lembro apenas de alguns gritos vindos de mim mesma após a injeção do álcool e também de lágrimas, muitas lágrimas!

Levantei-me para banhar-me, aparentemente ainda não havia feito isso, enrosquei meus pés em algumas peças de roupas jogadas no chão e quase tropecei, só então notei que estava semi nua, meu corpo estava coberto apenas pelas roupas intimas, meus pés estavam com a sola suja de destroços  de barro, o que prova que sai de casa na madrugada e inconsciente de meus atos. “Maravilha. Era tudo o que eu precisava!”.

Retirei o resto de minhas roupas e me joguei na banheira, teria um longo e maravilhoso banho, só então veria quais foram os verdadeiros estragos de minha fraqueza e irresponsabilidade.

Minha cabeça pesava e meus olhos ainda queimavam, talvez pelo choro talvez pelo álcool, ou pela enxaqueca, não sei ao certo, nunca havia ficado de “ressaca” até o momento.

Então o telefone começara a tocar e eu o ignorei, fechei meus olhos e continuei com meu banho. A água quente fazia meu corpo formigar levemente, para então relaxar, permiti-me fechar os olhos por alguns segundos, então o sono tomo-me, e ali mesmo cochilei.

Havia perdido a noção do tempo, haviam onze chamadas perdidas de um numero desconhecido em meu celular, assustei-me quando ele tocou novamente em minhas mãos, a musica calma tocando, talvez seja por isso que não me acordou, a musica lenta havia sido uma ajuda para a duração do sono ao invés de interrompe-lo, fitei o telefone por alguns segundos e então o atendi.

- Mais que merda em garota! Eu estava quase indo ai para  te buscar pessoalmente, qual é o seu problema ein? faz horas eu estou te ligando sem parar e você não atende, o que eu você estava fazendo? – A voz rouca intensamente irritada me deu certa nostalgia – Mais que droga!

- Itachi? O que... – Eu estava levemente confusa com toda aquela gritaria, pausei um pouco minha fala para então raciocinar direito, Itachi nunca se exaltava algo estava errado. – O que aconteceu? – Levantei-me apressadamente já me enrolando na toalha sem desgrudar o ouvido do aparelho.

- Aquele bastardo enlouqueceu! Ele estava quebrando tudo que via pela frente – O Uchiha bufou do outro lado da linha - Mais que merda em Sakura, você não poderia ser mais discreta? Qual o seu problema garota estúpida?  - Ele disse ainda com a voz exaltada.

- Do que você ta falando? – Obviamente eu estava confusa. Ouvi um barulho de folhas sendo reviradas do outro lado e então ele voltou a falar.

- Esposa  ou ex-esposa do grande empresário Uchiha Sasuke vive um intenso e romântico amor no interior.

Depois de semanas sumida a belíssima mulher é encontrada em uma cidadezinha pacata com um moreno de tirar o fôlego.  Quer que eu continue ou pode parar por aqui? Por que tem muito mais, e extremamente ridículo!

Você achou que poderia sair por ai fazendo o que desse na telha que ninguém notaria? Você foi burra! Agora o bastardo sabe do seu casinho com sei lá quem, e melhor, sabe onde você está. – Ele bufou novamente, se irritando ainda mais - Se eu fosse você voltava antes que ele próprio vá te buscar, garanto que no estado em que ele esta não vai ser uma cena nada bonita de se ver e muito menos de participar. E eu não vou me meter!

Não tive tempo de responder, ele despejou tudo de uma vez só sobre mim, me deixando de certa forma estática. Alguém havia visto Kiba e eu, alguém fizera uma matéria e provavelmente tinha fotos e provas do que falava. Escutei um estrondo do outro lado da linha.

“ Seu lazarento” .

- Mais o que... – Questionei.

- Mais que merda Sasuke você não pode... – Então a ligação foi encerrada.

As coisas não estavam nada boas por lá, definitivamente era hora de voltar.

A imagem de Kiba viera imediatamente em minha cabeça, imagens da noite passada e de nossos últimos encontros.  “Logo agora, mais que merda!!”