Decepções. No dicionário consta: surpresa desagradável, desilusão. Você provavelmente já sofreu alguma. Eu já sofri várias. A primeira foi quando eu ainda era uma criança. Descobri que Papai Noel não existe da pior forma. Vi meu pai tentando prender aquela barrigona branca de espuma dentro da calça vermelha. Eu tinha 5 anos. Depois dessa, vieram muitas outras decepções. Na minha tão conturbada adolescência as decepções se mesclaram a outro sentimento: amor. Não, não. Talvez essa palavra seja muito forte. Paixão, sim, essa é a palavra certa. Menos forte e mais real. Mas isso é assunto pra outro conto.

Sabe aquela frase que todos dizem: Quem merece tuas lágrimas não te faz sofrer? É mentira. Todos sofrem, todos vão te fazer sofrer. Merecimento não é algo que existe quando se aproxima da fronteira com o coração. Todos machucam. É natural. Foi nessa época que desisti de amar. Desisti de sentir. Desisti de existir. Passei apenas a viver. Não queria sofrer por um coração partido. Mas sabe o que é pior quando seu coração se torna uma rocha? Quando se quebra, é algo muito mais impactante e doloroso.

O intervalo de tempo entre a calcificação dos meus sentimentos e o momento em que retornaram ao pó foi longo. Talvez tenha durado 10 anos. Talvez até mais. Um anjo apareceu em minha vida. E ao mesmo tempo que me elevou como algo sublime, causou minha destruição. Sua voz, seu rosto, seu carinho, seu cheiro... emanavam sinceridade e me faziam buscar ao fundo de meu ser, algo que eu até então não tinha conhecimento: o amor. Era tudo lindo, amável e afável em nossa relação. A maior discrepância era o nosso sentimento: eu amava muito mais. Não suportava passar minutos que fossem longe. Possuía um ciúmes doentio. O que era meu, era meu e ponto. Descobri que não era assim do pior modo.

A cama bagunçada, os lençóis enrolados ao redor do corpo e o rosto assutado de quem foi pego comentendo um crime grave. A marca de minha mão em seu rosto. O choro contínuo. Dos dois. Por ter traído, por ter falhado no ato de libertinagem. Por ter acreditado. Por ter se decepcionado mais uma vez.

Minha maior decepção afinal de contas, foi comigo mesmo. Foi com minha incapacidade de superar, minha incapacidade de não sentir. Minha capacidade de acreditar e esperar o melhor de qualquer um. Não conheço mais ninguém assim como sou. O ar está frio aqui em cima. Está barulhento também, todos esses carros passando com tanta pressa de chegar a nenhum lugar. Algumas pessoas gritam e estou sentindo vertigem. Talvez eu esteja prestes a cometer a pior decepção da minha vida. E a última também.