“Às vezes eu choro tanto por implorar

        Tão doente e cansado de todos esses batimentos desnecessários”

        I don’t Love you – My Chemical Romance

Capítulo 15 - A Volta do Lorde

Os dias de sol foram se embora, a neve começara a cair e trazia junto de si uma excitação que eu nunca vira antes entre os alunos do quarto ano, pois logo poderíamos participar de nosso primeiro baile, embora eu fosse a única quartanista que não estava dando à mínima. Faltava mais de um mês para o baile de inverno e a maioria dos alunos já tinha seus pares para ir.

Alice esperava que Richard a chamasse para ir, mas isso não aconteceu e para seu desespero ele convidou Jhulia Parkinson. Cory me chamara, eu disse que não iria, então para não sobrarem, Cory e Alice iriam juntos. Alice fingia que não estava animada com isso. Melhor assim.

Mas hoje haveria outro baile, o baile do dias das bruxas, também não iria nesse e para o alívio de todas as outras garotas nesse baile não se era necessário casais.

- No que está pensando? - Perguntou Alice se contemplando no espelho terminando de se arrumar, ela vestia um vestido curto tomara que caia de cetim cereja, e uma sandália de saltos negros.

- Há exatamente um ano pegamos o diário de Tom, lembra? - Um suspiro escapuliu de mim, do parapeito da janela eu observava as estrelas que brilhavam no céu.

- Vamos encontrar ele, não se preocupe. Você vem pelo menos para o banquete?

- Claro.

Todos meus amigos estavam bem arrumados para o baile que aconteceria logo após ao banquete. O Salão Principal estava bem enfeitado, morcegos encantados voavam por todas as partes, abóboras iluminadas enfeitavam todas as mesas e o jantar estava delicioso. Kingsley não estava presente em sua mesa.

Ao fim do jantar a maioria dos alunos se retiraram para uma das torres onde ocorreria o baile, os alunos mais novos do primeiro ao terceiro ano foram para seus dormitórios.

Não queria ficar no salão comunal da Sonserina com os outros alunos, não queria ficar no dormitório e muito menos ir até a  biblioteca.

Sem saber para onde ir, fui para Torre de Astronomia, o único lugar aberto do castelo. E apoiada na grade, fiquei contemplando as estrelas, a lua, a neve. A fria brisa da noite soprava, fazendo balançar meus cabelos, eu fechava os olhos e apenas a sentia. Tudo era tão simples naquele momento e meus problemas e medos já não pareciam fazer parte de mim, não mais.

- Se importa se eu ficar por aqui... Por algum tempo? - A conhecida voz perguntou atrás de mim. Em qualquer outra hora eu teria feito um escândalo, ou nem tanto, às vezes apenas brigado. Mas eu estava finalmente me sentindo bem comigo mesma. E apenas acenti com a cabeça.

- O baile não estava tão divertido assim?

- Eu não fui. - Ele se apoiou na grade junto ao meu lado e virou o rosto para meu lado, o vento balançava seus rebeldes cabelos castanhos. - Por que eu sempre te encontro aqui?

- Não é por coincidência, da última vez você me seguiu - Virei meu rosto para ele e ele me encarava sorrindo - O que foi? - Perguntei.

- Estou me perguntando, por que você não saiu assim que entrei aqui, ou tentou me atacou com um feitiço, ou coisa do tipo?

- Não sei - respondi sincera - Só não se acostuma com isso - falei sorrindo.

- Vou tentar, prometo.

Os minutos foram passando e ficamos em silêncio ambos contemplando a lua que estava tão perto que parecia que poderíamos tocá-la, ela estava cheia e amarelada, tão magnífica que palavras não a descreveriam.

- Ted... É lua cheia - Falei calmamente me virando para ele - Você não...?

- Não mais, enquanto eu tomar a poção. Depois que todos descobriram sobre mim passei a tomar uma poção que não sei o nome.

- Poção do Acônito?

- Essa mesma.

- Viu Ted, se você não fosse tão bobão poderia ter contado antes para Minerva e nunca teria se transformado.

- Valeu a pena - Ele disse sorrindo ainda olhando para a lua e eu apreciava seu rosto que refletia o brilho da lua. - Talvez se não tivesse me transformado, a gente ainda se odiaria.

- Nunca te odiei Ted. Quer dizer, eu só não gosto de você - Falei rindo.

- Sei... Você não vive sem mim Belly.

- A claro, o que seria de mim sem você?

- Está vendo! - Ele disse rindo, agora se virando todo para mim - AnnaBelly... - ele falou meu nome e soltou um pesado suspiro - Eu sinto tanto... Por tudo que te causei. Estraguei todas as chances que eu tinha com você.

Ele remexeu nas suas vestes e tirou de dentro delas um pequeno caderno marrom com as bordas douradas, imediatamente o reconheci e meu coração disparou, era o diário de Tom. Ele o estendeu para mim e eu o peguei.

- Juro que nem o abri, não foi por falta de querer... Mas não era o certo a fazer, de verdade me desculpe. - E com essas últimas palavras ele se virou e foi descendo a escadaria da Torre de Astronomia.

Não sei por quanto tempo fiquei ali. Novamente encostadas nas grades segurei firme o diário de Tom sem abrí-lo. E o que foi aquilo? Ted o roubou e do nada resolveu o devolver? Não fazia sentido. Ou fazia? E o que significava aquilo de “Estraguei todas as chances que tinha com você”? Ted... Gostava de mim? Era isso? Quer dizer ele me atormentou por três longos anos, mas eu nunca me importei de verdade, porque no fundo eu sentia que eu merecia. Mas... Por que meu coração disparava ao pensar nele? Por que eu me sentia de um jeito completamente diferente?

Perguntas, perguntas e mais perguntas! Eu tinha que parar, eu precisava parar. Eu estaria daqui a três meses trazendo meu pai de volta e mesmo que Ted gostasse de mim, no momento em que o sacrifício acontecesse, ele me odiaria novamente, não faria diferença o que ele realmente sentia. Ou o que eu sentia.

- Onde está o Cory? - Alice perguntou a Richard enquanto tomávamos café da manhã e nos preparávamos para mais um dia de aula. - Tem certeza que ele acordou?

- Acordou, ele disse que tinha que resolver uma coisa antes das aulas começarem. Também não vi o Eldred. Alec, você o viu?

- Ele levantou e foi direto para a biblioteca, tinha alguma coisa a ver com o diário. - Respondeu o moreno terminando de beber seu suco - Mas que diabos...?

- O que foi? - Alice perguntou toda curiosa.

- Não sei... - Alec se levantou e foi andando até a porta do Salão Principal. Richard e eu nos entreolhamos e fomos atrás de Alec e Alice veio logo atrás.

Havia uma pequena aglomeração de alunos mais a frente, no corredor próximo ao pátio de pedra, Alec foi abrindo caminho, várias pessoas se levantavam na ponta dos pés, e eu ouvia fortes estrondos vindo de não muito longe. Alice segurou em minha mão para não se perder de mim e com muito esforço conseguimos chegar a frente.

A cena que se seguia fez meu coração bater descompassado e um arrepio percorreu toda minha pele. Cory no meio do pátio bradava vários feitiços na direção de Ted, que com muito esforço se desviava e se protegia, vez ou outra conseguindo lançar um pequeno feitiço em Cory.

- Meu Merlin - sussurrou Alice levando a mão à boca.

- Everte Statum - um pequeno fio de luz branca saiu da varinha de Cory em direção ao Ted.

- Impedimenta! - A força com que o feitiço atingiu o escudo de Ted o fez cambalear para trás.

- Perfurosempra - Cory aproveitava que Ted estava indefeso e lançava novamente outro feitiço.

- Expelliarmus! - Ted Tentou desarmar Cory, mas não conseguiu. Cory fez um escudo.

-Tarantallegra - Cory lançou

- Estupefaça - O feitiço de Ted se chocou com o de Cory fazendo com que fagulhas coloridas saíssem dos dois quando eles se encontraram.

- Trip - O feitiço atingira o ombro de Ted o fazendo cair ajoelhado.

Cory se preparava para lançar outro feitiço, peguei minha varinha.

- O que vai fazer Belly? - Alice perguntou me vendo apontar a varinha para Ted.

- Protego Totalum - Lancei discretamente o feitiço em Ted, o protegendo por completo de qualquer feitiço que Cory lançasse. Alice me olhou incrédula mas nada disse.

- Verdimillious - Novamente Cory lançou.

Ted rolou para o lado desviado do raio verde e se levantou.

- Vermilion - Ted lançou errando Cory e acertando a fonte onde os pássaros se banhavam fazendo com que ela se explodisse em pedaçinhos.

- Félie Petrifes - Cory lançou o feitiço das Trevas acertando Ted que foi empurrado com toda a força para trás parando somente quando bateu de costas na parede do castelo. Como Cory foi capaz de lançar um feitiço das trevas no Ted? - Sectumsempra! - O raio verde atingiria em cheio o peito de Ted mais ricocheteou devido ao feitiço de proteção que lancei nele.

Do outro lado da roda que se formara entre os garotos eu via Penélope segurando seu irmão gêmeo para impedir que esse atacasse Cory.

- Waddiwasi - Novamente Cory lançou em Ted que agora se levantava e com a varinha se desvencilhava dos feitiços.  

- Estupefaça - Ted lançou, enquanto Cory conjurava um escudo e Ted já começava a lançar outro – Everte Statum.

Cory foi lançado para o alto, todas as cabeças que presenciavam o duelo se levantaram e acompanharam o corpo de Cory sendo levantado, ele iria cair e se machucar seriamente, peguei minha varinha e apontei para ele, mas antes que dissesse qualquer coisa um homem ao meu lado ordenou:

- Aresto Momentum - Cory parou no ar e lentamente foi para o chão.

Era Kingsley. O diretor apareceu para parar a briga, com a mão direita segurava sua varinha e ele levantou a mão esquerda e a abriu, sem dizer uma palavra as varinhas de Cory e Ted foram parar na mão dele.

- Na minha sala. Os dois. Agora - Ordenou o diretor. Ted saiu à frente e acompanhou o diretor, seus cabelos e olhos estavam de um vermelho fogo e suas pupilas estavam extremamente dilatas, já Cory tremia dos pés a cabeça e suas mãos estavam fechadas em punhos.

Não fui a única que não compareceu em nenhuma das aulas do dia. Já era hora do almoço, mas Cory e Ted continuavam na sala do diretor. O salão comunal da Sonserina ficou lotado de alunos que presenciaram o duelo, em sua maioria amigos e conhecidos de Cory. Alice estava histérica, a última vez que pegaram Cory ele estava torturando, juntamente com Alice e Richard, amigos do Ted. E agora duelaram na frente de toda a escola e para piorar todos viram quando Cory, um garoto de apenas quinze anos lançou feitiços das Trevas contra Ted. As chances dele ser expulso eram extremamente grandes.

Com muito esforço Jhulia e Mary conseguiram acalmar Alice, e quando ela se acalmou ela levantou-se e foi me arrastando pelos braços até nosso dormitório. Ela bateu a porta com força e me encarou com uma cara completamente transtornada.

- O que foi aquilo? - Perguntou ela com a voz alterada.

- Também queria saber. - Respondi sinceramente mantendo a calma.

- Não se faça de boba Belly, você sabe muito bem do que estou falando! Eu vi você lançando um feitiço de proteção naquele vira-lata inútil. O que está acontecendo entre vocês dois?

- Não tem nada acontecendo entre nós dois, Alice. Cory sabe duelar, sabe feitiços que muitos nem sonham que existem, eu mesmo o ensinei, ele poderia ter matado o Ted!

- Pelo amor de Merlin AnnaBelly, não finja para mim. Há tempos que eu vejo como você e o Lupin se olham, eu vejo as insinuações que ele faz para você, e eu vejo como ele lhe deixa nervosa. Só tenho cara, mas não sou boba.

- Não vou discutir com você Alice.

- Colloportus. - Ela disse apontando a varinha para a porta, que deu um estalo. - Você não vai sair daqui enquanto não terminarmos.

- Está me intimado? - Perguntei incrédula. - A mim? Você tem certeza?

- Não tenho medo de você Belly. Você pode ser a bruxa mais poderosa que eu conheço, mas você é humana como todos nós, não vou deixar que seus erros e escolhas afetam as pessoas que mais amo. A mim tudo bem, mas não a Cory.

- Olha só quem resolveu falar o que vem pensando há meses, você acha que eu não sei o que você pensa de mim Alice? Você acha que eu não sei que você fica ao meu lado apenas porque Cory fica. Você acha que eu não sei a inveja que você sente, por que o cara que você ama, me ama? Pode fingir para quem quiser que o Richard é seu príncipe encantado, mas ambas sabemos que você faz isso apenas para não demonstrar o que sente pelo Cory.

- Não venha jogar meus sentimentos em minha cara. Eu te considero uma irmã Belly. Eu te amo, de verdade. Mas se você quer estragar a sua vida, não nos leve junto!

- O que você quer dizer?

- Depois que você encontrou essas horcruxes você virou outra pessoa. Você não é mais a AnnaBelly que eu conheci que admirava as Artes das Trevas, mas apesar disso prezava as pessoas que estavam ao seu lado. Você é outra, e uma pessoa completamente diferente. Você preferiu ajudar o filhote de lobo ao Cory!

- O que você fala não faz sentido. O diário não tem nada haver com Cory ou com o Ted.

- Eu não quero brigar com você Belly, me desculpe, mas é que... E eu o amo! Ele vai ser expulso! E a culpa é sua Belly! - Os olhos de Alice começaram a se encher de lágrimas e ela começou a andar de um lado para o outro.

- Minha...? Por Merlin, tudo é culpa minha agora?

- Cory não suporta a idéia de você gostar de Teddy... Ele não suportou saber que vocês se beijaram, eu ouvi Ted contar ao Leo e contei ao Cory, mas principalmente ele não suportou saber que Ted roubara seu diário e você nem ao menos disse uma palavra! Viemos nos sacrificando por você há tempos e qualquer coisa errada que fazemos, só falta você nos decapitar e agora o lindo do Lupin rouba o diário do Lorde das Trevas, e tudo bem? Como você foi se apaixonar logo por ele!

- Não estou apaixonada por ninguém Alice!

- Não? Jura? Não importa, você preferiu ajudar Ted ao Cory, e ele não pode ser expulso, não por sua causa!

- Alice, o amor a cegou.

- Não Belly. Quem o amor cegou, foi você. Se Cory for expulso por causa desse maldito duelo que aconteceu por sua causa, eu juro Belly que você vai se arrepender.

- As palavras podem ser uma arma poderosa, Alice. Tem que saber como usá-las. Alohomora - A porta se destrancou, e enquanto saia, terminei de falar - Nunca se deve ameaçar um bruxo mais poderoso que você Alice. Nunca.

- Ted?

- Como sabia que eu estava aqui? - Perguntou ele com a voz baixa, apoiado na grade da Torre de Astronomia.

- Tive um palpite. - Respondi com sinceridade caminhando até ele - Você está bem?

- Estou. - Ele se virou para ficar de frente para mim - Graças à você. Eu senti quando seu feitiço me envolveu. Obrigado.

- Tudo bem...

- É a segunda vez que você me salva, deveria ser ao contrário, não? Eu que deveria ser o herói e você a donzela em perigo.

Eu sorri com a piada.

- Por que duelaram? - Perguntei caminhando até ficar ao lado dele.

- Você sabe por que... Cory não aceita concorrentes.

- Isso quer dizer que você...

- Que eu estou a fim de você? Não Belly. - Ele parecia estar completamente frustrado, seu lindo e conhecido sorriso há muito eu já não vira - Quer dizer que estou louco, louco por estar apaixonado pela filha do Lord das Trevas, não me julgue por isso, não mandamos no coração.

- Não vale à pena arriscar sua vaga em Hogwarts por mim Ted. Talvez eu não esteja perto da próxima vez para te ajudar.  Não sou uma pessoa boa, Ted. Você merece alguém melhor do que eu.

- Por que veio aqui Belly? Para falar para mim desistir de você? Porque se for perdeu tempo.

- Queria ter certeza que você estava bem. Afinal, a culpa foi minha.

- Só pra constar, eu teria ganhado se o diretor não estivesse aparecido. - disse ele voltando a sorrir.

Deixei Ted na Torre de Astronomia depois de certificar que ele estava realmente bem. Nossa curta conversa passava pela minha cabeça enquanto me encaminhava para a biblioteca já que não queria ver Alice, que estava no salão comunal. Sei que a conversa com Ted foi curta, mas as poucas frases trocadas foram tão significativas que fez nascer dentro de mim um sentimento que eu pensei que não seria capaz de sentir.

- Graças a Merlin eu te achei! - Eldred vinha andando pelo lado oposto e me puxou pelo braço para dentro de uma sala de aula vazia.

- As pessoas têm que parar de me puxar pelo braço! - Falei enquanto massageava meu braço direito. - Que foi?

- Eu te procurei o dia inteiro! Fui as suas aulas e não te achei, onde se meteu?

- No salão comunal, por que não te vi lá depois do que aconteceu?

- O que aconteceu? - Perguntou ele sem interesse.

- Cory e Ted duelaram.

- Interessante - Falou sem ouvir nenhuma palavra do que eu disse - AnnaBelly, não vamos precisar fazer o sacrifício para trazer Tom de volta. - Falou ele me olhando seriamente. Ele vira a interrogação no meu olhar, não foi preciso eu fazer a pergunta do motivo - Não vai ser preciso porque... Ele já voltou Belly.