Ecklie apertou a mão da morena e deram um leve sorriso no canto da boca como sinal de cortesia.

-Foi bom ter você de volta, por pouco tempo, mas útil.

-Foi bom ter voltado, principalmente estar indo embora. - Sara desferiu sem pena.

-Claro.

Ela saiu da sala onde Raymond, Brass e Catherine lhe esperavam.

-Oi. - Sara disse com um meio sorriso, estava um pouco, ou muito, surpresa por vê-los.

Não esperava, em momento algum, apenas passar um dia em Vegas... As coisas aconteceram tão rápido que nem teve a chance que queria para pensar nas coisas.

Catherine se aproximou dela e as duas se abraçaram. Não foi um abraço falso, nem amigo e muito longe de ser um conforto para a improvável saudade que sentiriam uma da outra, mas era um abraço, de despedida, de compreensão, acima de tudo: de respeito.

-Nós duas estávamos de cabeça quente àquela hora e bom eu acho que... - Catherine falou ao pé do ouvido de Sara, mas ela a interrompeu.

-Tudo bem Catherine. - Sara disse em tom igualmente baixo ainda abraça a loira. - Nós duas nos devemos desculpas, com certeza estávamos de cabeça quente com tudo.

-Isso mesmo. - Sara e Catherine se soltaram e sorriram uma para outra. - Foi um prazer, doutor. - Sara e Raymond apertaram as mãos e deram um abraço apertado e amigo.

-Igualmente.

-Seu motorista está pronto. - Brass disse com um esboço de sorriso assim que ela e Raymond se soltaram.

-Claro, Brass.

-Vamos?

-Eu só vou falar com o Archie e já vou para o carro. - Sara virou para Catherine. - Queria ficar até o Nick e o Greg melhorarem, mas não posso, por favor, me mantenha em contato.

-Tudo bem, assim que tiver uma variação no quadro eu te ligo. - Catherine disse dando outro abraço em Sara, dando leves tapinhas em suas costas.

Sara começou a andar pelos corredores do laboratório, se lembrou da última vez que fez isso, quando deixou aquele lugar.

Passou pela sala de Hodges, que estava muito ocupado falando com Wendy.

Caminhou pela frente da sala de Mandy, que estava distraída olhando para tela do computador esperando uma confirmação de alguma digital.

A sala de Archie estava com a porta entre-aberta e ele debruçado ao lado o teclado dormindo. Ela sorriu para si mesma, ele merecia aquele sono, por mais desajeitado e impróprio que fosse.

Andou mais um pouco e após um suspirou viu a sala de Grissom com a porta e as persianas fechadas. Ela exalou rápido e balançou a cabeça de forma negativa com um sorriso sem graça no rosto encarando o chão... Certas coisas nunca mudam e outras nunca acontecem... Ela iria embora de Las Vega outra vez, só que nesta ocasião levaria na memória que ele não estava lá nem para se despedir. Engoliu a seco, não era essa a memória que queria levar, mas era que lhe sobrava.


Ela se virou, sem olhar para frente e se chocou contra um ombro largo, foi então que viu reto e enxergou o rosto de Grissom.

-Desculpa.

-Você já vai?

-Sim.

-Um dia não é muito pouco tempo para mudar de idéia sobre alguma coisa?

-Qualquer tempo é pouco tempo para quem acha quatrocentos anos pouco. - Os dois ficam em silêncio em uma troca de olhares interrupta.

-Eu quero que você seja feliz, não importa se em São Francisco ou sem mim.

-Por favor, não me mande o convite do casamento, não quero ser indelicada em recusá-lo. - Ele levantou a mão direita entre um fechar de olhos e um suspiro. Ela estava sem anel algum.

-Quando eu cheguei em casa ontem, pouco mais das três da manhã, na mesa do jantar tinha o anel da minha avó e um bilhete, entre outras coisas, pedia para eu criar vergonha na cara, correr atrás das coisas que eu realmente queria, e também dizia para eu parar de me enganar.

-Espero, sinceramente, que consiga. Você merece ser feliz.

-Sara, o que eu quero dizer é que mortos viveram minha vida mais do que eu, e eu sou feliz sem vida. Eu queria saber se podia ser feliz com ela.

-Ninguém te imagina feliz sem seu porco radioativo. - Os dois sorriram no canto das bocas.

Sara engoliu a seco, ela abaixou o olhar, segurou a gola do casaco de Grissom e puxou para si trasendo-o junto, ele não pode evitar, ela uniu suas bocas, o encostar dos lábios foi macio, o encontro das línguas uma necessidade, ele envolveu seus braços na cintura dela e ela envolveu seus braços no pescoço dele. Ficaram juntos por minutos que pareceram horas.

-Você vem comigo? - Ela perguntou ainda agarrada ao corpo dele com suas testas juntas e cada um sentindo a respiração quente do outro.

-Sim. - Ele sussurrou baixo fechando os olhos azuis e pressionando o corpo de esguio da morena contra si, apenas querendo sentir seu cheiro e seu toque e voltaram a unir seus lábios.

~♥~

“Sara,
É estranho ver como o tempo passou e ao mesmo não.
Sinto sua falta, e me entristece ver que ainda faltam semanas para nosso reencontro. Anseio todas as noites por sua companhia. Na verdade, sinto falta principalmente do seu cheiro e do seu toque, afinal, em pensamento você está comigo a cada instante, tão vivadamente que parece sua projeção astral que me acompanha diariamente, e é isso que ameniza sua falta.
Sei que está bem, mas após nosso casamento minha preocupação, que já parecia infinita, pareceu dobrar de uma maneira assustadora.
Não é ciúme, é medo. Você sabe que eu preciso de você.
Seria impossível, mas talvez Shakespeare tinha previsto meus sentimentos e pensamentos por você e o que eu espero do nosso relacionamento quando escreveu o Soneto 18:

SONETO 18

Como hei de comparar-te a um dia de verão?
És muito mais amável e mais amena:
Os ventos sopram os doces botões de maio,
E o verão finda antes que possamos começá-lo:
Por vezes, o sol lança seus cálidos raios,
Ou esconde o rosto dourado sob a névoa;
E tudo que é belo um dia acaba,
Seja pelo acaso ou por sua natureza;
Mas teu eterno verão jamais se extingue,
Nem perde o frescor que só tu possuis;
Nem a Morte virá arrastar-te sob a sombra,
Quando os versos te elevarem à eternidade:
Enquanto a humanidade puder respirar e ver,
Viverá meu canto, e ele te fará viver.”

~~Fim