Vamos arrasar hoje à noite!

Vamos arrasar!

Mostre a todos eles que você não é do tipo comum.

- Let's Kill Tonight, Panic! At The Disco

- Ei! Você aí! – gritei. O garoto me olhou com o cabelo vermelho espetado, e um sorriso arrogante no rosto. – Vem aqui.

- Algum problema?

- Sim! Você acha que pode chegar aqui e tirar uma com a minha cara? E que eu não vou fazer nada?

- O que você pode fazer comigo? Eu sou mais alto... Mais velho.... E mais forte que você.

- Esqueceu de dizer mais burro. – falei, e dei uma virada no bastão de modo que foi na cara dele.

Ele cambaleou e caiu no chão, mas logo já estava de pé e tentando me acertar com socos. Eu desviei de quase todos, mas ele acertou dois na minha barriga e um particularmente doloroso no queixo. As palavras de Dionísio voltaram à minha mente: ‘’E precisa de alguém a altura para ficar com ela.’’ Ele tinha confiado em mim. Ele dissera que eu era especial, que eu estava à altura de alguma coisa. E mesmo que essa coisa fosse um galho enrolado no mato e coberto com castanhas, eu faria jus a isso.

Eu me lembrei daquele dia, tantos meses atrás. Me lembrei do sorriso calmo de Mark, enquanto caía com um baque surdo no chão. Me lembrei do sorriso arrogante de Zac, o mesmo que eu via no rosto desse garoto agora. E de repente me lembrei de como segurar um bastão.

Apertei o tirso com mais força, e investi contra ele. Ele segurou o bastão e empurrou de volta pra mim, e eu aproveitei o impulso para girar e devolver o golpe com o triplo de força. As pinhas bateram na cara dele, e uma espetou o olho dele. Ele gritou e botou a mão no olho, e eu pude ver o sangue escorrendo. Eu bati na barriga dele para ele se curvar, e depois nas costas para ele cair no chão.

Ele caiu gemendo de dor, e pedindo ajuda, mas ninguem se atreveu a chegar mais perto. Eu troquei o bastão de mão, de modo que segurava a parte onde ficavam as pinhas, e apertei com força. Ele diminuiu e se enrolou no meu pulso, como uma pequena pulseira de algo parecido com madeira, com contas de uvas e pinhas.

- E aí? Ninguém vai ajudar o imbecil?

Enquanto dois meninos passavam por mim me mandando olhares assassinos, eu me dirigi a mesa para tomar meu café da manhã.

* * * * *

- Damon? – chamou a Lara... Lua... Livia... Enfim, a bruxa.

- O quê foi agora? – olhei para ela. Não pude deixar de reparar em como ela estava corada. – O que aconteceu com você, estava treinando?

Ela olhou para trás, na direção daquele menino estranho que estava sempre sozinho – Nico, lembrei o nome dele. Quando olhou de volta pra mim, estava mais corada ainda.

- Não, mas é disso que eu vim falar. Eu estava conversando com Nico – à menção do nome, ela corou ainda mais, o que eu não achava possível – E ele sugeriu que eu treinasse. E eu queria saber se, tipo, se eu podia treinar com você, porquê todas as outras pessoas sao esquisitas e muito melhores que eu, e tipo....

- Garota. Shh. – interrompi. Ela abriu a boca, mas fechou de novo. Eu ia recusar, mas lembrei da nossa conversa aquele dia. – Pode ser. Vamos?

Ela assentiu e andamos até a arena. Imediatamenete o barulho de espadas tinindo encheu meus ouvidos, e eu só queria ter tido tempo de trazer meu iPod para não ter que ficar ouvindo isso.

- Vem cá. – falei, enquanto me preparava para lutar com ela. – Você sabe que eu também vou ser melhor que você, né?

- Talvez. – falou, puxando a pulseira esquerda com a mão direita e vice-versa, e ela tinha dois sais na mão. Eram muito grandes, muito brilhantes, e muito, mas MUITO afiados.

- O... Onde você arrumou isso??

Ela corou: - Vamos começar?

Eu nem respondi, já peguei o bastão e investi contra ela por cima. Ela rolou para o lado e quase bateu em outro garoto que estava lutando. Olhou pra mim um pouco assustada, mas rodou os sais na mão e investiu contra mim. Ela segurava aquilo como se tivesse garras, tipo uma Wolverina da vida, e eu comecei a ficar com medo dela, vou admitir. Ela dava uns giros e uns pulos que eu não achei que ela conseguisse alcançar.

Com o tempo da luta, eu tambem pareci conseguir me acostumar mais com o tirso, e logo já estava usando como se soubesse lutar com aquilo desde os 5 anos de idade. Sustentei um giro com uma mão por dez segundos, e eu acho que vi ela sorrir.

Mas também comecei a ficar cansado. E francamente, achei que ela podia- bem, que ela podia me vencer. E eu não ia deixar isso acontecer. E eu queria tanto vencer, eu sentia que podia fazer qualquer coisa pra vencer. E foi quando aconteceu.

Num golpe particularmente próximo da barriga dela, ela segurou o bastão e empurrou de volta pra mim. E naquele breve toque, eu vi uma luz roxa sair do tirso e percorrer o corpo dela. Ela tremeu, engasgou com nada, e caiu no chão.

Imediatamente eu me abaixei para ver se ela estava bem. E quando eu toquei nela, ela começou a tremer como se estivesse tendo uma convusão, e gritou. Muito alto.

-Ei!! Bruxa!! Ei, você...? – eu tentei encostar nela, mas ela gritou mais alto ainda e se afastou de mim.

- Você!!! Eu... Minha... Culpa.... Não!! – e deu um grito de pura agonia.

- GAROTA!! – gritei me afastando dela – Mas o que...??

- Se afastem!! – gritou um garoto atrás de mim. Ms lógico, ninguém saiu. A menina estava morrendo, e o povo só faltava comprar uma pipoca pra acompanhar. – Ela precisa de ar!!

- Chamem uma ambulância, alguém!! – eu gritei, e só aí lembrei que eu estava num acampamento no meio do mato, e que não tinha jeito maneira de uma ambulancia chegar a tempo de levar ela po hospital. Devo ter pareecido um idiota.

- Levem ela pra enfermaria!!! – sugeriu alguém. Eu me preparei pra pegar ela, mas no segundo em que eu toquei nela ela me segurou pelo pescoço.

Quando eu olhei para ela, estava com os olhos injetados de sangue e com as veias do rosto saltadas.

- Saiam da frente!! Saiam, saiam, sai daqui!! – gritou um cara atrás de mim. Logo depois, aquele cara, Perseu, o deus da chuva, do vento, sei lá do que, se abaixou do meu lado e botou as mãos na cabeça dela.

- O que você está fazendo?? – perguntei.

- Cala a boca. – ele murmurou de volta, e manteve as mãos ali por mais alguns segundos. Depois ele pegou o braço dela e beliscou, e ela imediatamente desmaiou.

Todos ficaram em silêncio, esperando algo acontecer.

- O que você fez? – perguntei de novo.

- Nada que te interesse. – falou pegando ela no colo.

- Como fui eu que fiz isso, eu acho que me interessa sim. – rebati. Os olhos dele fumegaram com raiva.

- Eu vou levar ela para seu pai. Se alguém vai saber o que aconteceu, vai ser ele.

Ele abriu caminho entre a multidão, antes de olhar para mim e chegar mais perto.

- Eu aconselho que tome mais cuidado. Aqui, eles interpretam tudo do jeito errado. Se alguem achar que você está do lado errado...

- O quê? Vão me bater?

Ele deu de ombros: - Ah, na verdade eu podia assistir isso.