Capítulo 16 – Ciúme não existe no vocabulário de Blake. Até agora.

  Blake entrou no salão de jantar faminto. Estava louco para comer um hambúrguer com batatas fritas e muito refrigerante. Pegou uma bandeja e foi para a fila. Lançou um olhar despreocupado pelo salão, fingindo que não estava procurando pela Nikki. E a encontrou, segurando um hambúrguer nas mãos e rindo. Só que ela não estava com sua companheira rotineira, a Noah. Ela estava com Brendon e Hayden, em uma mesa mais para o canto do salão. Enquanto Noah estava do lado oposto, conversando timidamente com o cara novo do time de futebol, Cameron.

  Ele havia passado o dia todo reprimindo pensamentos sobre ela e o Brendon. Preferiu se distrair o máximo que pôde, chegando até o absurdo de fazer sua lição de casa. Heath rolou de rir ao entrar no dormitório e vê-lo coberto de livros, fazendo o dever de Latim e de Literatura Inglesa Avançada.

Blake também estava repassando a cena com Lauren na cabeça sem parar, pensando que deveria ter pegado um pouquinho mais leve. Mas ela tinha escolhido exatamente seu ponto mais fraco: Brendon. Apesar de maluca, tinha sido realmente uma idéia um tanto genial, mas de um ponto de vista meio doentio.

  Era insuportável ver Nikki sorrir e conversar com Brendon como se eles se conhecessem há anos, não há dois dias.

- Ei, você está atrapalhando a fila! – reclamou um calouro. Blake o olhou com raiva e o garoto se encolheu. Com um suspiro alto, Blake largou sua bandeja e andou, apressado, pelo salão. Sua fome sumira completamente. Ele enfiou a mão no bolso da calça e segurou seu maço de cigarros, apertando-os com tanta força que chegou a amassar a embalagem.

  Conforme ele ia avançando pelo lugar, discutia internamente se deveria ou não se aproximar da mesa. Quem sabe ele poderia convencer Nikki a deixar aqueles caras e talvez os dois podiam ir até a cidade e comer uma pizza do Luigi’s. Ou só ficar de bobeira no terraço do Longbourn. Blake tinha uma garrafa de Jack Daniels pela metade escondido dentro do armário de sapatos.

  Respirou fundo e se aproximou, as mãos ligeiramente suadas fechadas em punhos.

*

- Você vai fazer alguma coisa na sexta? – perguntou Cam, subitamente. Noah corou violentamente. Eles tinham mantido um diálogo extremamente amigável e agradável durante todo o jantar, e Noah estava rezando para que ele não insistisse em tocar nesse tipo de assunto.

  Ela limpou a garganta fazendo mais barulho que o necessário.

- Sexta?

- É. A temporada de futebol começou e, com essa coisa de dupla de estudos, só tenho a noite de sexta livre. A gente podia ir até a cidade.

- Por que não? – Noah disse, meio sem fôlego. Seus pequenos olhos verdes procuravam por Nikki, para que a amiga lhe desse algum apoio, mas ela parecia interessada demais em alguma história que Hayden Redford estava contando. Noah apertou os olhos, levemente irritada. Pô, justo quando Noah precisava de uma ajudinha para ser forte, Nikki a trocava pelos novos melhores amigos do mundo?

  E pior: Nikki estava enrolando para contar sobre por que ela estava tão nervosa para a sua primeira tarde de estudo com Brendon. Disse que tinha algo a ver com Blake, não deixou nada muito claro.

  Os olhos sempre muito atentos de Noah viram que Blake se aproximava da mesa onde Nikki ria com Brendon e Hayden. Blake se curvou para falar com Nikki e esta pareceu um tanto surpresa em vê-lo. Brendon fez uma careta esquisita e o Hayden parecia ser o único naquela mesa que não estava preocupado ou tenso. Nikki parecia precisar de ajuda. Esquecendo completamente da companhia de Cam, Noah se levantou e atravessou o salão para ajudar a amiga.

*

  Blake cutucou gentilmente o cotovelo de Nikki.

- Ei, Nick – sorriu, tentando soar o mais despreocupado possível.

- Blake! – Nikki soou surpresa, e não foi no bom sentindo. Com o canto do olho, Blake viu Brendon enrijecer – E aí?

- Posso te roubar um pouquinho? – ele perguntou.

  Repentinamente, Noah apareceu, ligeiramente ofegante.

- Nikki, preciso falar com você.

  Nikki lançou um breve olhar para a amiga, e em seguida, para Brendon e Hayden.

- É urgente?

  Noah não respondeu. Nikki voltou a olhar pra Blake e depois para seus novos amigos. O sorriso no rosto de Hayden se desmanchou aos poucos. Ela pareceu considerar o convite de Blake durante algum tempo até que sorriu largamente e se levantou.

- Desculpe, garotos. Vou deixá-los um pouco – ela estendeu a mão para Blake e ele a pegou, Blake sentindo-se instantaneamente melhor, agora que estava a afastando do Brendon e do Hayden, que só faltava devorar Nikki com os olhos – Noah, a gente conversa no dormitório.

  Blake virou o tronco para procurar por Lauren. Não foi difícil encontrá-la. Estava sentada na mesa que sempre costumava comer e, apesar das olheiras evidentes e dos olhos e nariz levemente avermelhados, ela parecia muito satisfeita. Por um momento, Blake odiou Lauren com todas suas forças e desejou poder falar tudo aquilo que havia dito para ela naquela tarde mais uma vez, pois o seu plano de fazer Nikki e Brendon virarem amigos visivelmente estava funcionando

  Blake a arrastou para fora do prédio. Nikki, estranhando a situação, perguntou:

- Para onde está me levando?

- Sei lá – ele respondeu, risonho.

  Os dois contornaram o prédio frontal por fora e pararam na entrada do colégio. Era possível ouvir o som de cigarras e corujas cortando o silêncio bucólico do lugar. A noite de Outono estava fria e Nikki estava sem meia-calça, usando apenas shorts e moletom. Ela se encolhia cada vez que o vento soprava mais forte.

  Blake começou a puxá-la em para o lado leste do terreno da escola. Nikki, que nunca havia se preocupado em desbravar os terrenos do Maryon, ficou de queixo caído ao ver que havia uma pequena capela em ruínas próxima do prédio principal.

  Eles se aproximaram. A capela parecia ter bem uns trezentos anos e era escura, seus vitrais coloridos estavam quebrados e a cruz no teto faltava alguns pedaços. Dentro, havia muitos materiais de construção, enormes forros plásticos brancos e latas de tinta sobre os bancos de madeira, de onde vinha aquele conhecido cheiro de madeira centenária que Nikki conhecia tão bem.

  Apesar de ser uma capela, Nikki não pode deixar de sentir um certo arrepio. Aquele lugar abandonado e escuro não parecia muito apropriado para uns amassos, além do fato de claro, ser uma capela. Onde Blake estava com a cabeça?

- Por que me trouxe aqui?

  Blake deu de ombros.

- Achei que você não conhecia muito o lugar.

- E resolveu fazer um tour às sete e meia da noite? – ela não pode deixar de alfinetá-lo. Blake riu, passando a mãos pelos cabelos loiros e lisos.

- Está com medo? – ele perguntou, apertando os olhos

- Não – Nikki murmurou, esfregando os próprios braços; aquele moletom da Columbia de seu irmão mais velho, Eric, não era exatamente um bom agasalho.

  Blake riu e a beijou. Assistada, Nikki colocou suas mãos abertas sobre o peito dele e o empurrou.

- O que você está fazendo? – pergunto por reflexo.

- Que foi? – Blake perguntou, confuso e com um leve sorriso no canto da boca.

- Blake, na boa, se você quisesse ficar comigo, você tinha me levado, sei lá, pra qualquer lugar calmo e aquecido. Isso aqui tá parecendo cenário de massacre de filme de terror amador – Nikki disse, franzindo o nariz – Por que me trouxe aqui?

  A resposta estalou no cérebro de Nikki antes mesmo que Blake pudesse abrir a boca para respondê-la. Ela começou a rir.

- Você queria me afastar do Brendon e do Hayden! Ah, meu Deus! – ela levou uma das mãos a testa teatralmente – Você está com ciúmes, Blake!  - aquilo soava tão engraçado que Nikki não conseguiu terminar o namoro falso com Blake, como mandava o trato deles. Qualquer tipo de sentimento e era término na certa.

- Não seja ridícula, Nick – Blake tentou parecer relaxado, mas sua voz o traía, defensiva.

- Eu... Eu vou embora. A gente se vê amanhã – disse Nikki, sem fôlego, girando nos calcanhares, ansiosa para deixar aquela capela sinistra. Mas no fundo, ela torcia para que Blake corresse atrás dela, puxasse seu braço e a beijasse ferozmente. E depois os dois correriam para dentro do Maryon e se trancariam dentro do primeiro lugar vazio que encontrassem e fariam um sexo muito bom.

  Mas Blake não foi atrás dela, então, sem alternativa, Nikki retornou, rindo, para seu dormitório, esperando que pudesse acabar com sua frustração sexual enchendo a cara de Pringles e Coca Diet.

*

  Cam e Noah caminhavam lentamente em direção ao Rosenhill.

- Então... – Cam pigarreou – A gente podia comer uma pizza na sexta, e aí eu podia de ensinar a jogar Counter Strike – riu.

- Parece legal – murmurou. 

  Os dois pararam na frente da enteada do dormitório das garotas.

- Você vai ao baile de Halloween? – ele perguntou.

  Noah fez uma careta.

- Ah, não. Vou pra casa. Festa de família, sabe como é.

- Que pena. Bom você está entregue – ele sorriu, colocando uma mecha escura de seu cabelo atrás da orelha com um movimento extremamente sexy. Será que alguém poderia explicar por que aquele cara era tão gostoso e tão, tão, tão... Britânico?

- Boa noite, Cam.

- Boa noite, Noah – Cam se despediu, fazendo Noah se deliciar com seu sotaque sensacional. Ele se aproximou perigosamente e Noah, automaticamente, fechou os olhos, esperando por um beijo. Mas os lábios de Cam apertaram-se carinhosamente em sua bochecha, fazendo uma série se arrepios percorrerem o corpo de Noah, que acenou timidamente e pulou para a soleira da porta.

- Tchau – ela disse antes de correr para dentro do Rosenhill.