XII. Garotas, garotas... Sempre causando problemas para os garotos.

  No almoço, Hayden resolveu se aproximar de Alison. A irmã estava tão entretida em suas revistas de moda que não notou sua aproximação. Hayden pigarreou duas vezes, bem alto, para atrair seu olhar.

- Oi Hayden – ela deu um daqueles sorrisos angelicais que quase abalou toda a coragem que ele tinha juntado para falar com ela.

  Sem querer enrolar muito, Hayden puxou uma cadeira e sentou ao lado de Alison.

- Eu vi você e o Scott no domingo.

  O sorriso de Alison desapareceu instantaneamente. Bingo.

- E o que exatamente você viu, Hayden? – ela perguntou, na defensiva.

- Vocês estavam, tipo... Paquerando – ele respondeu, enjoado. Essa coisa de aluna e professor era tão... Na verdade, nem Hayden sabia dizer ao certo. Era muito estranho – E nem estavam se preocupando em disfarçar.

  Alison riu, incrédula.

- Pelo amor de Deus, Hayden! Você precisa de óculos, ou de uma namorada – alfinetou – Ninguém estava paquerando, credo. Só no universo alternativo em que você vive, eu paqueraria o Scott. Tenho coisas mais importantes para me preocupar, tipo procurar um bom estágio para mim. Você devia fazer o mesmo, sei lá. Só acho.

  Hayden rolou os olhos.

- Ótimo. Se você quer continuar brincando com fogo, se divirta sozinha. Só não se esqueça do que nossa avó dizia: criança que brinca com fogo faz xixi na cama – ele falou, querendo soar meio ameaçador e sexy como fazia os atores em filmes e seriados. Ele sempre foi fã dessas frases de efeito.

- Adeus, Hayden – Alison acenou, voltando a ler sua revista. Hayden se levantou e saiu à caça de Brendon. Seu melhor amigo estava do lado oposto do salão. Brendon parecia nervoso, sentou do lado do amigo e perguntou.

- E aí, cara? Algum problema?

- Bom, isso depende do ponto de vista – Brendon, respondeu, sem humor.

  Hayden sorriu. Brendon tinha a mania de falar formalmente quando estava nervoso. Às vezes, era irritante, mas na maioria das vezes, Hayden ria, assim o Brendon ria também e eles ficavam rolando de rir um da cara do outro e no final ninguém conseguia lembrar do que estavam rindo.

- O que aconteceu?

- É essa coisa de duplas de estudo, cara – Brendon espetou uma almôndega com o garfo e a encarou, pensativo.

- Sua dupla é algum troglodita calouro?

- Antes fosse. É uma garota do segundo – murmurou.

- Isso é muito melhor que um calouro – brincou – Mas quando o problema com a garota?

- É Nikki Hastings. Namorada do Blake.

  Ah, agora estava tudo explicado.

  Brendon nunca havia contado o motivo que acabou com a amizade que ele tinha com Blake, nas férias de verão do primeiro ano, mas Hayden também nunca perguntou ou insistiu em saber. Brendon contaria se ele quisesse. Simples assim. Mas foi uma coisa bem radical. De repente, cada um foi pro seu lado e Brendon não queria sequer ouvir o nome de Blake, e vice-versa.

- Isso é ruim – disse Hayden – Você vai pedir para trocar?

- Não pode trocar de dupla, Hayd...

- Eu posso usar meu poder de filho da diretora e intervir, sei lá.

- Não. Tá tudo bem. Afinal, o meu problema é com o Blake, não com ela.

  Hayden riu.

- Ele não vai ficar nada feliz em saber disso.

*

  Nikki estava com a bandeja em mãos, enquanto observava as opções que ela tinha para o almoço naquele dia. Ela estava decidindo entre macarrão com almôndegas ou fritas com queijo quando ouviu uma conhecida voz com um incrível sotaque a cumprimentar.

- Olá Nikki.

- Oi, Cam – ela sorriu para o britânico. Deus, como ele era lindo. A Noah precisava fazer alguma coisa rápida para não perder um garoto daquele, Nikki pensou – Como você vai?

- Ah – ele fez – Mais ou menos.

- Hm, e uma certa garota ruiva, que usa óculos e é minha colega de quarto tem algo a ver com isso?

  Cam suspirou, passando a mãos pelos cabelos compridos.

- Talvez.

  Nikki deu um risinho.

- Tenha paciência com a Noah, ela ainda está andando com as rodinhas de apoio, se é que você me entende.

- É. Entendo – ele murmurou, se esticando para alcançar a pinça para saladas – Mas é que às vezes eu acho que ela não vai, sabe... Se livrar daquela armadura que ela construiu ao redor de si mesma.

- Se você realmente gostar dela, você vai esperar – Nikki sorriu, pegando um prato e oferecendo para a cozinheira colocar uma porção de macarrão nele. Deslizou a bandeja pelo balcão e pegou um copo plástico para levar até a máquina de refrigerante. Cam continuava logo atrás dela – Se bem que acelerar um pouco esse processo não será muito ruim.

- Como assim?

- Se aproxime mais dela, converse, brinque, faça-a sorrir. Cam, vai por mim, garota nenhuma resiste ao seu charme britânico – ela deu uma piscadela marota e os dois riram.

- Fala sério – ele riu.

- Estou falando. Olhe ao redor, que tipo de garotos você vê? Americanos mal educados, trogloditas e cuja única coisa que ocupa suas cabeças é sexo, drogas e rock’n’roll. Você está no topo da cadeia alimentar, amigo – Nikki lhe deu uma cotovelada sutil no braço. Ela encheu seu copo com

 refrigerante e colocou-o na bandeja.

- Só mais uma coisa – ela murmurou – Acho ótimo a idéia de você e a Noah juntos, mas ela é minha amiga e se você pensar em machucá-la, quem vai se machucar pra valer é você – ameaçou. Cam a encarou assustado por alguns segundos. Em seguida ela sorriu inocentemente e disse – Até mais tarde, Cam.

  Nikki caminhou pelo salão até a mesa onde Noah almoçava, acompanhada de... Blake?

- Blake? Oi – ela disse, surpresa. Se sentou ao lado de Noah e tomou um gole de refrigerante.

- Oi – ele sorriu.

- O que está fazendo aqui?

- Ah, não estou a fim de ouvir o Heath contar como foi o fim de semana dele enfiado em algum clube noturno de Boston ou levando garotas para a jacuzzi da casa dele em Cape Cod – Blake revirou os olhos. Ele pegou uma batata frita e a mordiscou – E aí, quem é sua dupla de estudo?

- Brendon Hamilton – disse Nikki, enrolando o espaguete no garfo. Ela notou Blake cerras as mãos em punhos, usando tanta força que seus tendões ficaram brancos.

  Ok, aquilo era muito estranho.

- O que você disse? – Blake perguntou, tenso.

- Meu parceiro de estudos é Brendon Hamilton – Nikki repetiu, sem entender nada – Por quê?

- Não, nada – murmurou Blake, se levantando – Eu vou fumar – disse, se levantando e saindo do salão numa velocidade impressionante. Nikki e Noah se entreolharam.

- Que bicho o mordeu? – Noah perguntou.

- Tenho a leve impressão de que o bicho se chama Brendon – disse Nikki, enrolando mais macarrão no garfo – Mas eu cuido disso mais tarde, eu quero falar uma coisa com você – ela mudou de assunto drasticamente.

- O que é? – Noah perguntou, temerosa.

- Cam – Nikki sorriu.

- Ah não – Noah gemeu, fazendo uma careta – Eu sabia que você ia falar isso.

- Eu só quero te aconselhar a agarrar esse homem sensacional logo, porque já tem menina de olho nele. Eu estava no corredor mais cedo e vi umas duas garotas olhando pra ele e cochichando – Nikki mentiu, querendo testar o nível do ciúme de Noah.

- Viu mesmo?

- Aham – Nikki deu uma garfada – E elas eram lindas, sabe? Altas, magras, bronzeadas e com uns peitões enormes.

  Noah trincou a mandíbula e olhou para Cam, que estava conversando com alguns amigos, rindo e exibindo aquelas covinhas sensacionais que apareciam nos cantos de sua boca quando ele sorria. Nikki viu aquele conhecido brilho possessivo no olhar da amiga e sorriu, voltando a enrolar o macarrão em seu garfo.

  Ela era uma espécie de cupido às avessas e um tanto bêbada.