IX. Nada como algumas grandes novidades durante o brunch.

  Nikki abriu os olhos disposta a voltar a dormir e morrer.

  Não que estivesse arrependida ou com vergonha. Nada disso. Só não estava muito a fim de ouvir brincadeirinhas do Blake, tipo, de verdade. Tudo bem que depois de, bem... Uma noite daquela os dois poderiam trocar brincadeiras à vontade, afinal, mais íntimos que aquilo só se eles olhassem as radiografias um do outro.

  Ela queria correr para a casa de Zoey e narrar cada detalhinho de sua noite enquanto as duas se entopem de sorvete de frapuccino de morango e biscoitos.

  Ela se espreguiçou e notou que estava sozinha na enorme cama de Blake. Olhou ao redor e viu a porta do banheiro entreaberta e o barulho da água caindo do chuveiro zunindo por todo o quarto. Ah, ótimo. Blake estava tomando banho. Isso significa que ele provavelmente sairia daquele banheiro... Molhado. Nikki queria se poupar daquela visão. Seu cérebro já estava cheio de Blake por um ano. Não precisava de mais uma versão dele. Uma versão molhada, diga-se de passagem.

  Se enrolou nos lençóis e começou a procurar por suas coisas. Vestiu sua calcinha o mais rápido que pode e saiu à caça de sua bolsa-carteira. Nikki a encontrou debaixo da mesinha-de-cabeceira, e sabe-se lá como ela fora parar ali. Pegou seu celular e olhou para a tela. Havia 47 ligações perdidas e 15 mensagens. 25 ligações eram de Zoey, 2 do seu pai e o restante de sua mãe. Já as mensagens eram todas de Zoey.

  Ligou para a amiga e fez uma careta quando deu na caixa de mensagens.

- Não me mate – ela disse logo após o bip – Tenho certeza que você vai me perdoar por desaparecer a noite toda. Vou passar na sua casa assim que eu... – Nikki pensou no que poderia dizer além de “terminar de caçar minhas roupas pelo quarto do Blake” – Resolver umas coisas. Te amo.

 Desligou e olhou ao redor, procurando pelo restante de suas roupas. Uma de suas meias 7/8 estava pendurada no abajur sobre a mesinha-de-cabeceira. Nikki a pegou rapidamente e começou a vesti-la. Mas então ela sentiu que havia algo diferente.

  O barulho do chuveiro tinha acabado.

 - Porcaria – sussurrou.

- Bom dia, raio de sol – Blake a cumprimentou. Nikki fez uma careta e contou até três antes de virar o rosto e olhar Blake.

  Quase foi possível ouvir o barulho do seu queixo caindo no chão. Blake estava com apenas uma maldita toalha enrolada na cintura e nada mais. Nikki tinha certeza de que ele não tinha se enxugado propositalmente, só para fazê-la assistir as gotinhas de água caindo de seu cabelo e escorrendo pelo tórax sensacional.

- B-Bom dia – ela engasgou.

  Blake sorriu e foi até seu closet, ficando de costas para Nikki, a presenteando com uma visão sensacional de suas costas. Ela tentou não ver a água escorrendo da nuca e passeando alegremente pelos músculos abaixo até desaparecer sob a toalha branca.

  Nikki precisava sair daquele quarto antes que ela cometesse alguma insanidade. Evitando olhar para Blake, ela encontrou sua outra meia e a vestiu.

- O que você está fazendo? – Blake perguntou.

- Me vestindo. Marquei um brunch com meu pai e não posso faltar – mentiu.

- Isso é uma pena – ele suspirou. Nikki estava tão distraída tentando colocar sua meia no lugar que não notou a aproximação de Blake. Ele parou na frente dela e se curvou em sua direção, alcançando seus lábios com facilidade. Afinal, depois daquela noite, não tinha mais motivo pra resistir, não é? Eles podiam muito bem ser namorados de mentira com benefícios... Não podiam?

  Blake forçou seu peso sobre Nikki, fazendo-a se deitar.

  Nikki abriu os olhos. Por mais que queria... Ela sentia que devia falar com Zoey o mais rápido possível.

  Por que era tão difícil se livrar de Blake?

  Talvez Nikki conseguisse responder essa pergunta quando Blake parasse de mordiscar seu pescoço. Quando ele desceu direto para sua barriga, ficou difícil para Nikki pensar.

- Blake, não – ela disse o mais firme que pode. Só que pareceu mais um suspiro do que uma ordem.

- Não? – ele perguntou naquela voz rouca – Por que não?

- Tenho que... Ir para casa.

- Casa? – a voz de Blake estava risonha. Ele sabia que estava ganhando e Nikki sentiu uma raiva profunda disso. Mas a raiva evaporou como fumaça quando ele mordiscou a parte interna de sua coxa direita. Golpe baixo.

- É. Minha casa – a voz de Nikki era só um fiasco.

- Tem que ser agora? – Blake ficou cara a cara com Nikki. Ela teve a impressão de que algumas gotas pingaram do cabelo de Blake em sua testa – Gosto de suas meias – ele mudou de assunto drasticamente, agarrando as pernas de Nikki exatamente onde ficava a renda das meias.

- Está tentando me distrair?

- Estou conseguindo? – ele deu um sorrisinho de lado.

- Não – Nikki murmurou, o empurrando com força. Blake caiu de costas na cama e Nikki se levantou, localizando seu vestido caído ao pé da cama. Ela o pegou e o ajeitou. Mas mãos seguraram sua cintura e ela foi prensada violentamente contra a parede. Blake a levantou e entrelaçou suas pernas ao redor da cintura. Nikki, ainda meio atônita com a rapidez e a força com que Blake a pegara, só conseguiu perguntar:

- O que você está fazendo?

- Não pense que vou deixar você sair daqui fácil assim – ele disse, antes de beijá-la

*

  Fanny correu pelos corredores desertos do prédio principal, seus saltos-agulha estalando no chão de mármore. Lauren estava grudada em seus calcanhares, olhando para todos os lados como se fosse uma superespiã procurando por algum inimigo, pronta para atirar em sua cabeça.

  Elas pararam na frente de uma porta de madeira, com uma placa presa, com um “Sr. Greene” escrito nela. Fanny tirou uma pequena chave do bolso – que apenas os membros do Comitê Docente recebem. Como ela fazia parte do CD há dois anos, ela já até colocara um chaveiro em formato de coqueiro e escrito “Carlifornia Baby” em rosa pink.

  O plano de Lauren era atacar Blake, já que nada parecia funcionar com a Nikki. Além disso, Lauren sabia do passado de Blake. Só ela sabia quantas histórias ele contou para ela durante aqueles papos de bêbado. Ela sabia exatamente qual ferida cutucar. Seria infalível.

  Fanny abriu a porta e as duas entraram. Fanny apressou a amiga

- Rápido, antes que ele volte do brunch.

- E onde estão as listas?

- No computador, na pasta Maryon – disse Fanny, que havia passado a semana ajudando o Sr. Greene a organizar as duplas de estudos, que rolava todos os anos, sempre com um aluno do terceiro e outro aluno do segundo ou primeiro.

  Lauren foi até o computador e clicou para que saísse do protetor de tela. Entrou em pânico ao ver uma caixa aparecer e pedir senha.

- Merda. Precisa de senha.

- É  Dartmouth – disse Fanny, como se a coisa mais óbvia do mundo.

- Como?

- Ele estudou em Dartmouth. Se não for esse, tenta D’artagnan, que é o nome do cachorro dele.

- Você me assusta – disse Lauren, as duas riram. Ela tentou Dartmouth e a senha foi aceita. Imediatamente, procurou pela tal pasta. Clicou duas vezes e uma série de pastas apareceu.

- Qual pasta?

 Fanny, que estava na porta de guarda, disse.

- Duplas da décima primeira série.

  Lauren clicou na pasta e abriu um arquivo. Leu cuidadosamente cada nome atrás do nome de Nikki.

- Achei.

  Ao lado do nome de Nikki estava o de Rebecca Laurent. Lauren apagou o nome da veterana e digitou:

  |   Nicole Hastings Williams   |   Brendon Hamilton Junior  |

    Depois procurou o nome do aluno que pegara Brendon como parceiro o trocou pelo nome de Rebecca. Salvou e olhou para Fanny.

- Consegui!

- Ótimo. Agora clica em log out e vamos dar o fora daqui.

  Lauren a obedeceu e as duas saíram correndo. Lauren mal esperava pelo resultado que aquela simples mudança iria causar. Seria uma bola de neve. E das grandes.

*

  Hayden saiu da academia, se alongando. Tinha enfrentado uma hora de malhação para não deixar a preguiça de domingo pegá-lo. Ele gostava de se exercitar nas manhãs de fim de semana, pois a academia ficava quase deserta, então ele podia ficar legal.

  Depois de “puxar um ferro”, resolveu dar uma corrida pelo campo e aproveitar uma das poucas manhãs ensolaradas que apareceram durante a semana. Respirou fundo e começou a correr.

  Mal tinha alcançado o campo quando viu algo, no mínimo, estranho.

  Alison estava na arquibancada.

  E Alison odiava até pensar na idéia de chegar perto do prédio esportivo, quando mais atravessá-lo em direção ao campo.

  Mas o mais estranho não era só o fato de que sua irmã gêmea mais-que-patricinha estava na arquibancada, em plena manhã de um domingo, sorrindo.

  Ela estava com o treinador Scott. E eles pareciam bem amigos para o gosto de Hayden.

  O ciúme de irmão mais velho (exatos três minutos e dezesseis segundos) borbulhou dentro de Haynden.

- Scott? O Scott? – perguntou a si mesmo. Por que a Alison não escolheu paquerar com o Jack Estripador? Seria menos perigoso.