XX. Não há vingança melhor do que aquela realizada em público.

  Depois de mais uma semana de treino pesado, finalmente o fim de semana em que a Batalha rolava chegou. A escola-sede da vez seria o St. Paul, que tinha as maiores acomodações para todas as quatro escolas que competiam: Maryon Mount, St. Paul, Instituto Whately e o Charles-Baldwin.

  O St. Paul lembrava muito a Universidade de Princeton, com sua fachada cheia de janelas e a construção feita de tijolos marrons. Os ônibus com os alunos dos colégios começaram a chegar pelas oito da manhã, para competirem apenas depois das dez. Primeiro, como mandava a tradição, era servido um sensacional café-da-manhã nas longas mesas do salão de jantar, e lá pelas nove, todos começaram a se acomodar nas arquibancadas dignas de estádio, para assistir a apresentação de torcida de cada escola. As líderes de torcida montavam coreografias ultra-elaboradas como a que se vê em As Apimentadas e eram devidamente acompanhadas pelos mascotes.

  Depois das apresentações e de um discurso do diretor do St. Paul, deu-se início à primeira partida de rugby dos garotos. Não que o pessoal não fosse cavalheiro, mas é que as partidasde rugby e futebol duravam mais tempo que o hóquei de campo, das garotas.

  O vencedor do ano anterior, o Whately, jogou contra o segundo colocado, o Maryon. Depois de uma batalha sangrenta, o Maryon venceu por um triz, mesmo depois de perder um atacante que deslocara o ombro numa colisão violenta. Blake, que obviamente fazia parte do time, fez o último try, dando a diferença de pontos que era necessária para a vitória.

  Nikki teve que dar o braço a torcer. Era muito mais emocionante assistir uma partida ao vivo do que pela televisão. E era muito mais interessante ver os garotos completamente lindos do Maryon e o Whately do que os caras feios e velhos das partidas profissionais.

  Em seguida, St. Paul, que ficou em terceiro no ano anterior, contra o Charles-Baldwin. O St. Paul perdeu feio com uma diferença de quinze pontos. O jogo acabou dez minutos mais cedo depois que o goleiro do Charles-Baldwin esmurrou um jogador do St. Paul e a coisa acabou virando uma pancadaria.

  Uma hora de descanso foi anunciado e todos foram almoçar. Nikki observava de longe Lauren ostentando sua braçadeira de capitã, reprimindo a vontade que ela tinha de enforcá-la com a braçadeira. Ela e Noah se serviram de cachorro-quente com molho e refrigerante e se acomodaram no cantinho da mesa reservada para os alunos do Maryon.

  Blake se aproximou. Ele usava o uniforme azul-marinho e branco de rugby e era perfeitamente possível ver seu corpo deliciosamente sarado devido ao tecido que parecia se aderir à sua pele propositalmente. Blake notou seu olhar e sorriu, se acomodando do seu lado.

- Olá Nicole – cumprimentou com a voz grave – Noah – ele acenou para a ruiva, que ficou incrédula com a saudação. Para Noah, Blake sequer sabia da sua existência.

- Blake – Nikki devolveu na mesma saudação zombeteira – A que devo a honra de sua companhia?

  Blake riu com a pergunta feita com um sorriso de deboche e arqueou perigosamente uma das sobrancelhas, fitando Nikki com certa malícia nos olhos. Quando Blake a olhava daquela maneira, Nikki só conseguia lembrar-se daquela música de Jace Everett, “quero fazer coisas ruins com você”.

- Vim desejar boa sorte com o jogo. E um aviso: as garotas do Charles são duronas.

- Obrigada, Blake.

- Disponha – ele deu uma piscadela e se afastou, indo se juntar ao seu grupinho de amigos do rugby. Nikki não pode deixar de observá-lo de costas. Por Deus, Blake era muito gostoso.

*

  Depois do almoço, todos voltaram para o campo para a grande final. O juiz apitou e a torcida foi a loucura. O clima de competição de escola desaparecera completamente. Parecia mais uma final mundial. Todos urravam, acompanhavam os gritos das torcidas e eram animados pelos mascotes. Nikki estava sentada com as garotas do time no primeiro banco, o mais próximo do campo.

  Os garotos do Maryon deram uma surra no Charles-Baldwin. Todos eram ótimos, mas não chegavam aos pés do ataque composto por Blake, Hayden e outros garotos cujos nomes Nikki não sabia. E no comando estava Heath, que realmente entendia da coisa.

  Depois de subirem ao pódio, erguendo uma pequena taça dourada e serem aplaudidos, os garotos do rugby deram espaço para os caras do futebol. Depois de horas de partidas, O St. Paul levou o primeiro lugar, deixando o Charles em segundo e o Maryon em terceiro.

  O sol já começava a se pôr quando as garotas entraram em campo. Primeiro, as vencedoras do ano passado: Charles-Baldwin e Whately. As garotas do Charles pareciam guarda-costas de tão altas e musculosas, mas apesar do tamanho, não eram ágeis o suficiente. Vitória para o Whately.

  Em seguida, as garotas do Maryon entraram em campo contra o St. Paul. Nikki começou a sentir suas pernas fraquejarem conforme ela avançava para sua posição no ataque. Sentia suas mãos escorregadias dentro das luvas e o estômago revirava. Quando o apito soou, não teve escapatória.

 Não demorou muito para ela receber a bola e tentar pontuar. Ela correu segurando o taco com toda a sua força quando foi impedida por uma grandona do St. Paul. Nikki desviou, correndo em direção à trave, disposta a dar o seu tiro.

- Passa a bola, Nikki! – gritava Lauren, furiosa – Passa a bola!

  Nikki estava prestes a ser barrada por mais duas garotas da defesa, então, contrariada, acatou a ordem de Lauren e passou a bola para a capitã, que sem hesitar, girou o taco e marcou um ponto perfeito. Mas não demorou muito até as garotas do ataque do St. Paul reagirem e marcarem ponto, graças a um esbarrão que Lauren recebera da defesa, fazendo-a perder a bola que estava prestes a passar para Fanny.

  O primeiro tempo terminou empatado. A tensão rolava solta durante o intervalo de dez minutos. Nikki enchia a cara de Gatorade enquanto Scott e Lauren discutiam as melhores formas de furar a defesa do St. Paul.

- A Fanny vai pro meio do campo – disse Scott – Você é melhor na passagem – explicou para a garota – Nikki e Lauren, quero cada uma em uma lateral, são os pontos mais vulneráveis do St. Paul. Quero que vocês façam passagens, nada de segurar a bola. Vamos vencer esse jogo, senhoritas!

  Nikki assentiu e vestiu o equipamento, encaixando o protetor bocal que tinha um gosto horrível de borracha e que a fazia salivar além da conta. Recolocou suas luvas e os óculos e correu para a lateral esquerda, como Scott tinha ordenado.

  A defesa do St. Paul voltara um pouco mais fraca, pois estavam se concentrando muito no ataque. Foi fácil para a dupla dinâmica Lauren & Nikki marcarem. O ponto da vitória ficou por conta de Nikki, quando Lauren, ao notar que seria barrada pela defesa, mandou uma bola perfeita para Nikki, que a pegou e atirou. No milésimo seguinte ao seu tiro uma garota chegou atrasada para impedi-la e as duas se chocaram violentamente e caíram no chão.

- Falta! Mas isso foi falta, caramba! – Lauren reclamou.

  Não foi marcada a falta, pois o juiz alegara que fora uma tentativa de defesa sem intenção de machucar. Nikki, meio tonta, voltou a sua posição e o jogo decorreu sem qualquer outro acidente. O Maryon vencera de dois a um.

  Depois da hora de descanso, o relógio já apontava oito e pouco da noite quando o Maryon entrou em campo contra o Whately. Depois de perderem uma jogadora, Kathryn, que desmaiou depois de levar uma pancada acidental na cabeça, o Maryon marcou um ponto, feito meio sem querer, Fanny lançara a bola para Lauren, mas exagerou na força e ninguém conseguiu pegar a bola, indo direto para a trave. E assim o primeiro tempo terminou.

  Outra pausa para água e discutir o jogo. Scott elogiou as meninas e pediu mais movimentação das garotas que ficavam no “meio-de-campo”. Nikki olhava para Lauren. Ela sequer podia imaginar o que estava prestes a acontecer. Mas primeiro elas tinham que vencer. Aí sua vingança contra a loura teria um gostinho ainda melhor.

  Antes de correr de volta para o campo, Nikki tentou localizar Blake na arquibancada. Ele ocupava o mesmo lugar onde as garotas estavam durante os jogos dos garotos. Colocou seu equipamento de volta e se posicionou do lado direito, enquanto Lauren corria para o esquerdo do campo.

  O apito soou e em menos de cinco minutos, por um pequeno erro de cálculo da goleira do Maryon, a supersimpática Mia McDonnell, o Whately marcou seu primeiro ponto. Disposta a virar o placar, Nikki corria atrás da bola e se oferecia para ser a receptora. Depois de receber a bola de Carly, Nikki mirou na trave e fez um lançamento perfeito, mas que foi belamente defendido. A goleira do Whately encaixou a bola na rede e lançou de volta para o ataque, que fez várias passagens da bola entre as jogadoras, para confundir Mia, que não se deixou enganar e bloqueou.

- Boa, Mia! – Nikki tentou animar a companheira, que estava meio cabisbaixa depois de errar na defesa.

- A bola, Nikki, a bola! – Carly gritou, Nikki se preparou para receber, mas Carly mandou a bola para Lauren. Boa fingida. Lauren correu.

- Pra frente! – ela pediu à Nikki, que se pôs perto da trave e recebeu a bola de Lauren. As duas avançaram mais um pouco. Nikki fingiu que ia passar a bola para Lauren, mas mandou direto na trave. Ponto. Ponto bonito.

  O juiz apitou o fim do jogo no minuto seguinte e a arquibancada do Maryon explodiu em comemorações, assim como os professores, Scott e as próprias garotas do time, que pularam em um montinho em cima de Nikki, como manda a tradição.

  Depois de ser abraçada e cumprimentada, Nikki correu em direção à arquibancada, não foi preciso chegar muito perto, pois os garotos do rugby e futebol foram os primeiros a invadirem o campo. Nikki procurou por Blake, que sorria e aplaudia as garotas.

- Mandou bem, Nicole – ele disse.

  Sem dizer qualquer palavra, Nikki enlaçou o pescoço de Blake e o beijou ferozmente. Assobios e brincadeirinhas deram lugar à comemoração.

- Vão para um quarto! – gritou um garoto, o resto riu.

- Aí, Blaaaake! – fez outro.

  Os dois se separaram. Blake olhava para Nikki incrédulo.

- Eu sabia que você estava morrendo de vontade de fazer isso – ele disse.

- Rá – fez Nikki – Olha pelo lado bom, agora você tem uma razão a mais para viver.

  Lauren estava parada a poucos metros dos dois, mas apenas Nikki a viu. Sua expressão era um misto de “vou me trancar no quarto e derreter de chorar” e “mato o primeiro engraçadinho que encostar em mim”. Nikki sorriu, satisfeita. Seu troco estava só começando a ser dado.