O Supervisor escrita por DennyS


Capítulo 7
Capítulo -VII- Fora de Controle




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~* VII*~

Fora de controle

–Sr. Uchiha?

Nos últimos minutos, tentar ignorá-lo estava sendo muito difícil. Sasuke Uchiha tinha uma presença tão intensa que eu tinha certeza que era possível senti-la mesmo estando muito longe dele. Os olhos negros eram como chamas, seu rosto um chamariz, uma atração irresistível para qualquer mulher. Não havia uma única alma viva que passasse por nós e não o reparava.

Estávamos dobrando a esquina do hotel, bem próximo ao Arco do Triunfo. O clima em Paris era agradável naquela noite. As ruas estavam apimentadas de casais apaixonados, os restaurantes muito movimentados; era uma noite de sábado que parecia estar muito longe de acabar.

Sasuke caminhava ao meu lado com as mãos nos bolsos, seu rosto um enigma para mim. Vi seus ombros ficarem rijos quando eu o chamei.

–Sasuke. – disse ele ainda sem me fitar. – É assim que metade do mundo se dirige a mim. – seus olhos me encontraram por um momento. Percebi que ele realmente não se agradava de ser chamado de “Sr. Uchiha” todo o momento. Lembrei-me de Tsunade. Ela não gostava de ser chamada de senhora porque se sentia velha, mas no caso do Sasuke era uma situação muito diferente. Era como se ele sentisse que todos a sua volta que o paparicavam, que o tratavam tão bem, com tanta formalidade eram falsos.

–Eu não poderia tratá-lo com tanta intimidade. – comentei sendo sincera a respeito dos meus sentimentos. Eu poderia chamá-lo de Sr. Uchiha não por ele ser rico e poderoso, era uma questão de respeito. Porém o olhar que ele me lançou fez-me recuar um passo. Eu tinha que obedecê-lo, afinal. – Tudo bem. – eu me rendi. – Sasuke-kun... – pronunciei seu nome, sendo um tanto irônica. Ele arqueou uma sobrancelha. – Eu gostaria de fazer uma pergunta.

–Já que não perguntou se poderia fazer uma pergunta, então faça.

Eu tentei escolher bem as palavras. Agradeci mentalmente por seu rosto estar encarando o caminho e não o meu rosto.

–Bom, essa dúvida está me perturbando, e por motivos que eu desconheço. Não tenho outra alternativa senão perguntar diretamente a você, já que é o único que pode esclarecê-la. – eu espiei a sua expressão, mas ele se mantinha firme olhando para frente. Suspirei. – Eu fui uma péssima funcionária na central de cobranças?

Sasuke não respondeu de imediato e também não olhou para mim. Ele continuou caminhando, como se estivesse escolhendo, assim como eu, as palavras certas para se dizer.

–O que eu disse a você naquela época a impediu de continuar a sua carreira? – seus olhos me sondaram, mas não eram duros ou existia algum traço de irritação em suas feições. Naquela noite ele tinha a expressão mais serena que eu já havia visto. – Fez você desistir e procurar um emprego mais fácil e apropriado?

–Não, mas...

–Então, por que a minha opinião agora resolveria para alguma coisa?

–Eu só gostaria de entender porque...

–Você era imatura. – ele me interrompeu novamente, voltando a olhar para frente. – Era o seu primeiro emprego. Considere tudo o que eu disse e fiz a você um teste do qual você passou.

–Ter sido o meu primeiro emprego não explica a maneira como me tratava. – eu não acreditava nas minhas palavras, não acreditava que estava realmente conseguindo dizê-las. Há quanto tempo eu esperava por aquele momento? – Afinal, o seu assistente Konohamaru está em seu primeiro emprego e segundo ele, se não estiver mentindo, você não realizou esse teste de resistência para avaliar a sua competência. – eu interrompi meus passos e ele também. Estávamos nos encarando e eu não pude ler a sua expressão pois eu estava com um vinco na testa, as palavras surgindo na minha cabeça e passando pela minha boca antes que eu pudesse engoli-las. – Ou talvez você seja um machista e acha que uma mulher não seja capaz de realizar qualquer tipo de trabalho, principalmente um que conseqüentemente esteja sob a sua supervisão. Mas para ser sincera, este também não seria o caso, porque muitas outras mulheres eram da sua equipe na central de cobranças e esse tal teste do qual eu passei, não foi realizado com nenhuma delas, pelo que eu sei. – eu sabia que estava irritantemente tagarelando, mas simplesmente não conseguia me controlar. Finalmente eu estava desabafando! Sasuke estava sério, mas seus olhos sorriam. – Por isso, Sr. Uchiha, se você me odeia, eu gostaria muito de saber o motivo. Se você tivesse idéia de quantas vezes eu quis atirar um monitor na sua cabeça toda vez que... – eu me interrompi. Percebi que a minha boca estava passando dos limites novamente. Eu não queria brigar com alguém em uma noite tão bonita em Paris, principalmente com Sasuke Uchiha! – Que droga!

Abri a boca para tentar me desculpar pela inconveniência, mas fiquei em silêncio observando a sua expressão. Os olhos de Sasuke me sondaram por um longo momento, depois ele desviou o olhar e o fixou acima da minha cabeça, como se estivesse com o pensamento bem distante.

–Você não tem mesmo medo de mim. Isso é impressionante. – seus olhos voltaram para o meu rosto, apenas alguns centímetros. – Você sabe quem eu sou, não sabe?

–Descobri ontem pela Tsunade que você é o herdeiro legítimo de uma das empresas mais importantes do país. – mordi a língua para não completar o resto do meu pensamento. Eu sabia que ele era muito rico, tão rico que era capaz de vender o Bill Gates como escravo no mercado negro. – E sim, eu não tenho medo de você. Mas o que é impressionante?

Nossos olhos se envolveram por um longo momento, ou era apenas a minha cabeça que desejava que o tempo não passasse.

–Você. – seus olhos permaneceram no meu rosto e eu me senti sem ar. Nem havia percebido que ele não esclarecera a minha dúvida. Eu já não queria saber o motivo do seu ódio por mim, eu já não raciocinava direito. – Mesmo sabendo agora quem sou, seu tratamento ao meu respeito não mudou nada. – seus lábios se estenderam em um meio sorriso. – Talvez tenha piorado.

–Eu... Eu... – desviei os olhos dos seus ônix. – Não entendo como...

–Estou cercado de hipócritas bajuladores, Sakura. – senti meu corpo arrepiar-se ao ouvi-lo pronunciar o meu nome. – É muito raro encontrar alguém como você.

–Alguém como eu? – por um lado eu entendia o que ele queria dizer, mas não via nada de tão surpreendente nisso. Eu não me humilhava para uma pessoa que estivesse acima de mim em qualquer aspecto. Mesmo quando ele era o meu supervisor eu o tratava como o meu chefe, com todo profissionalismo que eu poderia ter, mas fora da empresa não conseguia ouvir desaforo. Um exemplo foi aquele nosso pequeno desentendimento na primeira festa da CGCG, quando ele insinuou aquele absurdo ao meu respeito. Se eu soubesse que ele estava fazendo uma espécie de teste eu o teria ignorado e erguido a cabeça demonstrando que não seria atingida por ele e por suas palavras.

Ou melhor, talvez eu não teria feito isso. Eu tinha um ódio mortal por ele naquela época. Acho que chamá-lo de desgraçado foi pouco comparado ao que eu poderia fazer se ele continuasse me insultando.

–Hoje de manhã você provou ser muito corajosa ou muito tola. Quem diria ao dono de uma empresa onde trabalha, que foi um desprazer encontrá-lo?

Ele estava querendo fazer uma piada, mas eu não pude deixar de corar de vergonha.

–Eu pediria desculpas se estivesse arrependida. – disse novamente sem pensar. Arregalei os olhos pelo meu próprio atrevimento e ele sorriu. – Quero dizer...

–Não, você não quer dizer nenhuma outra coisa que já não tenha dito.

Começamos a rir juntos. Eu sabia que estava ultrapassando os limites, mas simplesmente dizia tudo sem pensar. Sasuke mexia tanto comigo que eu ficava descontrolada.

Meus olhos se desviaram dele. Eu tinha que me recompor, porque jamais gostaria que descobrisse o quanto sua presença era intensa para mim. Meus olhos avistaram um ponto brilhante do outro lado da rua e eu não pude me segurar.

Kong! – eu disse sem me conter. Era uma placa no quinto andar da loja Kenzo – Já ouvi falar tanto desse restaurante! Sua decoração é inspirada no Japão. – comentei naturalmente, esperando que seus olhos deixassem o meu rosto e assim eu pudesse respirar normalmente.

–Você está com fome? – corei ao constatar que ele interpretara mal o meu comentário. Seus olhos tinham um brilho intenso ao fazer aquele convite.

Abri a boca para dizer que ele não precisava se incomodar e percebi que a sua expressão tinha um traço de excitação, como se esperasse ansioso pela minha resposta. Eu só poderia estar vendo coisas, porque afinal, qual mulher diria não a ele? Sasuke já devia estar acostumado a ter tudo o que quisesse.

–Ah, você não precisa...

–Venha. – senti seus dedos envolverem a minha mão delicadamente. Seus olhos me incendiaram por um momento e me vi atravessando a rua ao seu lado. Seu perfume me inebriando os sentidos enquanto os segundos passavam.

Quando entramos no prédio, seguimos para o quinto andar. Sasuke falou em um francês muito fluente com o recepcionista e pela primeira vez na vida eu não pude entender nada, mesmo sendo na língua que eu dominava muito bem. O funcionário do restaurante disse alguma coisa como “sem reservas, sem mesa”, mas eu não pude mais tentar prestar atenção.

Eu ainda estava tão entorpecida pelo que estava acontecendo que mal pude entendê-los. Olhei para a minha mão dentro da mão masculina do Sasuke. A minha mão estava fria e ainda sim tremia em contato com a sua pele quente. Eu não queria puxar a minha mão de seu poder, temia que ele não gostasse dessa atitude, mas eu não poderia deixar esse pequeno ato ir mais adiante. Lembrei-me que naquele mesmo dia eu havia chegado à conclusão de que Sasuke jamais poderia ter comigo algo mais que uma amizade de trabalho. Ele era um multimilionário, o homem que podia ter a mulher que quisesse em um piscar de olhos. Mesmo que ele me quisesse seria para uma noite ou até o tempo em que ficasse enjoado de mim. Essa era a realidade, embora eu conhecesse esse tipo de história em revistas, livros e filmes. Eu não me considerava uma garota sonhadora, eu tinha consciência do que era o mundo real. Mesmo que estivesse apaixonada por ele, eu sabia me valorizar. Nunca, nunca ninguém iria se aproveitar dos meus sentimentos.

O recepcionista nos conduziu até uma mesa sob a luz do luar, com uma vista barbaramente impressionante para o Sena. Ele retirou uma plaquinha de cima da mesa que dizia “reservado” e puxou a cadeira para que eu me sentasse. Vi quando ele guardou uma boa quantia em dólares dentro do bolso do seu paletó branco e com um enorme sorriso perguntou em francês se Sasuke desejava mais alguma coisa. Sasuke disse que não e o recepcionista gesticulou para um garçom nos atender.

Depois que este nos entregou os cardápios eu pedi a primeira coisa que vi e olhei para o Sasuke. O garçom se retirou e eu tentei me manter com o mesmo humor de minutos atrás enquanto caminhávamos juntos pela calçada.

–Não devia ter dado tanto dinheiro para o recepcionista em troca de uma mesa reservada. – comentei com um meio sorriso.

–Por que não? Acha que você não merece ter essa bela vista enquanto jantamos? – seus olhos eram tão intensos que eu senti meu rosto esquentar.

–Não por isso, ele vai nos tratar com uma educação exagerada, isso é muito irritante. – Sasuke deu um meio sorriso.

–Se isso acontecer, eu posso pagá-lo para nos deixar em paz.

–Você sempre resolve tudo com dinheiro?

–Na maioria das vezes, sim.

Eu ri incrédula pela sua sinceridade. Claro que Sasuke podia queimar dinheiro se estivesse muito irritado ou entediado.

Eu nem podia imaginar essa barbaridade.

Desviei os meus olhos para o resto do restaurante. Cheguei ali tão concentrada nos meus pensamentos que nem pude notar a tal decoração japonesa de Philip Starck.

A aparência era bem moderna, lustres e abajures iluminavam o salão. As mesas tinham um tom oriental contornadas em vermelho e preto que fazia com que eu me sentisse em casa. Os quadros eram voltados totalmente para a cultura japonesa, assim como os vasos, flores e esculturas.

Como qualquer restaurante em Paris naquela noite, o Kong estava cheio. Em uma mesa, também no terraço havia um grupo de mulheres conversando e tomando vinho. Percebi que elas olhavam diretamente para a mesa onde eu estava com o Sasuke, ou melhor diretamente para o Sasuke, conversando entre elas e dando risadas.

–Era como você imaginava? – a voz do Uchiha fez-me desviar a atenção para ele.

–Melhor. – disse com um sorriso. – Quando eu era pequena, eu dizia ao meu pai que gostaria de visitar a França algum dia e jantar em um restaurante que não fosse francês. Ele quase tinha um ataque e me mandava parar de falar asneiras. Nunca entendi porque ele sempre gostou da França.

–Foi por causa dele que você estudou francês? – Sasuke tinha o olhar sério, como se estivesse realmente interessado na minha história.

–Não só francês, como também espanhol, inglês e alemão desde que eu comecei a falar. Ele é muito rígido a respeito dos estudos.

O garçom voltou com alguns petiscos e as bebidas que nós pedimos.

–Imagino que você seja filha única. – comentou Sasuke depois que o garçom se retirou.

–Sim. – confirmei, mordiscando um pãozinho de batata.

–Isso explica o motivo de seu pai ser tão severo com você sobre os estudos, mas se me permite perguntar, por que não está na faculdade? Se ele prioriza tanto o seu desenvolvimento acadêmico, não ficou chateado por você ter iniciado a sua carreira na área de telemarketing?

Eu abaixei meus olhos para as minhas mãos.

–Eu saí de casa sem o consentimento dele. – levantei os olhos para o Sasuke temendo que ele tivesse uma expressão de desaprovação, mas seus olhos ainda estavam sérios e sinceros, seu rosto um pouco confuso. – Nós tivemos uma briga. – eu desviei os olhos novamente. – Foi uma coisa estúpida, mas ele me disse que... – eu não pude completar a frase, senti que meus olhos começaram a arder. – Não importa. Eu estou indo bem, não pensei que fosse conseguir me virar sozinha, mas estou.

–Você não está totalmente bem. – voltei os olhos para o seu rosto. – É obvio que está triste pelo que aconteceu.

–Estou, mas não tenho coragem de voltar. – meus olhos se contraíram e novamente eu disse sem pensar. – Na verdade, tenho medo de voltar... Não sei o que pode acontecer, não sei o que ele poderá me dizer...

Eu nunca tinha aberto os meus sentimentos a esse respeito com alguém que não fosse a Tenten. Eu sabia que era estranho conversar com alguém como o Sasuke sobre a minha briga com o meu pai, afinal ele era o meu chefe, alguém que não tinha nada a ver com os meus sentimentos, nada a ver com a minha vida. Mas eu me sentia confortada ao seu lado. Seus olhos eram tão sinceros que eu não podia resistir.

–Você nunca saberá se não tentar. – disse ele com o olhar intenso. Estava com os cotovelos apoiados na mesa, o rosto inclinado na minha direção. A mesa era tão estreita que se eu me inclinasse mais um pouco, eu poderia beijá-lo.

Esse pensamento fez o meu estômago se contrair. Instintivamente fitei os seus lábios e o meu coração acelerou. Sasuke também olhou para a minha boca e isso só piorou a reação do meu corpo.

–Bom, antes do jantar chegar eu vou até o toalete. – tentei me recompor, afastando-me dele quase que exageradamente. – Com licença.

Levantei-me e caminhei com cuidado ou tropeçaria nos próprios pés. Eu sabia que ele ainda me olhava.

Quando cheguei ao banheiro, apoiei as mãos na pia e suspirei de olhos fechados.

Controle, Sakura. Tenha controle.

Controle, controle.

Lembre-se de quem você é.

–Por favor, querrida! Não me diga que ele terminou com você! – ouvi uma voz com um leve sotaque francês.

Abri meus olhos e encontrei uma mulher alta de cabelos castanhos ao meu lado passando batom.

–O que...? – eu perguntei confusa.

–Eu e minhas amigas vimos o seu namorado charrmoso. Vocês dois são o casal mais lindo desse restaurant. – ela guardou o batom na bolsa e se virou para mim. – Como estamos todas solteiras esta noite, estamos classificando os casais de Parri e vocês estão com as notas mais altas. – eu não acreditava no que estava ouvindo. – Vocês têm um clima sexual muito intenso pelo que pude notar. Não me leve a mal, porque esse é o meu trabalho. Eu sou uma das psicólogas de casais mais famosa de Parri! Basta olhar para um homem e uma mulher, que eu sei exatament como se sentem um pelo outro.

–Desculpe, eu...

–Não me diga que vocês romperam o relacionamento! Percebi que alguns minutos atrás você estava prestes a chorar, e agora a encontro no banheiro como se fosse vomitar! É realmente uma pena! Pobrezinha... Um homem tom belo e rico...

Melhor psicóloga de Paris? Se ela realmente fosse teria notado que Sasuke e eu não tínhamos nada. Não estávamos abraçados e nos beijando como os outros casais do restaurante.

Eu a fitei especulativamente. Essa mulher parecia ser tão jovem para uma psicóloga.

–Você realmente é uma psicóloga de casais?

–Oh, sim!

–Era exatamente do que eu estava precisando! Onde você se formou, só por curiosidade? – eu arqueei uma sobrancelha e ela pareceu um pouco sem jeito.

–Me formei em uma universidade muito famosa de Parri! Não me lembro o nome...

–Se você puder me dar o seu cartão, quem sabe eu marque uma seção com o meu namorado, tudo bem?

–Oh, que descuidada! Não trouxe minha bolsa! Se você me desculpar, fica para próxima, sim? – ela seguiu na direção da porta, deu um tchauzinho e eu pude ver a sua bolsinha debaixo do braço.

~*~*~*~

Quando voltei para mesa, a comida já havia chegado. Antes de me sentar, lancei um olhar furtivo para o grupinho de mulheres do outro lado. Elas cochichavam e disfarçavam um olhar ou outro na nossa direção. Uma delas, uma morena de olhos azuis não tentava disfarçar, ela nos fitava sem a menor preocupação. Sasuke seguiu o meu olhar, tinha um leve traço de irritação nos seus olhos.

Alguma coisa me dizia que alguma delas teria tentado um flerte com ele quando eu me ausentei.

Ou...

Pela maneira como a morena o fitava, ela o conhecia.

–Algum problema, Sasuke-kun? – perguntei um tanto constrangida. Não era como se eu desejasse que nada estragasse aquela noite, eu ainda tentava me controlar, dizia a mim mesma que nós não passaríamos das preliminares. Nada, absolutamente NADA entre nós iria acontecer naquela noite. Porém, eu também não desejava que ela terminasse mal.

–Por que acha que tem algum problema? – ele desviou os olhos para o banquete que nos foi servido depois pegou a garrafa de vinho branco em um balde com gelo ao lado da mesa.

–Você conhece aquelas mulheres? – perguntei tentando disfarçar a curiosidade mortal por trás da minha voz. Tentei agir naturalmente enquanto salpicava um pouco de sal no meu prato.

–Uma delas. – ele respondeu ainda sem me fitar. Com certeza era a morena de olhos azuis. Claro que ele encontraria uma ex-namorada em Paris. Ele encontraria uma ex em qualquer lugar! Aquilo me deixou tão mal que eu fiz uma careta ao engolir a primeira garfada da leve comida francesa com um toque oriental do Kong. – Eu gostaria de saber um pouco mais sobre o seu pai. O que ele faz?

Percebi que o Uchiha tentava mudar o assunto, me fazer esquecer aquelas mulheres. Isso me irritou um pouco, mas eu tinha que admitir que a vida pessoal de Sasuke Uchiha não era da minha conta.

–Ele tem uma fábrica de tecidos em Konoha, uma cidade pequena, você não deve conhecer.

–Como não? Eu nasci em Konoha.

–É mesmo? – fiquei tão surpresa que logo depois pensei que ele estivesse fazendo uma piada. – Não brinca!

–Não estou brincando. – ele fingiu uma expressão séria e logo depois sorriu. – Por que a surpresa?

–Não me lembro de ninguém mencionar em Konoha que alguma família Uchiha morasse lá.

–Minha família saiu de Konoha assim que a empresa passou para um nível maior, eu ainda era muito pequeno e você provavelmente ainda não havia nascido.

–Mesmo assim, acho que eu deveria saber que os fundadores da CGCG eram de Konoha.

–Você nem ao menos sabia quem eu era até ontem, lembra-se? – Sasuke me lançou aquele olhar que me fazia prender a respiração e aquele sorriso torto que me desconcertava.

–E você está querendo me culpar por isso? Foi você quem se camuflou, escondendo a verdade de muita gente. Eu tenho certeza que muitos ainda não te conhecem.

–Bem que eu gostaria que isso fosse verdade. – ele murmurou com o olhar pensativo.

Terminamos o jantar, mas continuamos conversando. Era como se houvesse muito assunto para ser discutido com ele. Eu me sentia como se quisesse saber sua opinião sobre diversas coisas, como se para saber se pensávamos do mesmo jeito, se gostássemos das mesmas coisas, se tínhamos mais em comum que apenas ter nascido na mesma cidade.

Durante aquelas horas que se seguiram descobri que ele gostava apenas de música clássica e de Jazz dos anos 80, mas odiava ópera e musicais. Sua cor favorita era azul, odiava comida muito apimentada e gostava de tomate.

Descobri algumas coisas sobre a sua família. Sua mãe ainda tinha uma casa no campo, bem próximo à Konoha, seu irmão morava em Nova York para cuidar da empresa que se localizava lá e ele era casado e tinha dois filhos lindos.

Eu não perguntava diretamente o que realmente desejava saber sobre ele, só tentava chegar à minha própria conclusão. Mas não ficava muito satisfeita. Eu queria muito conhecê-lo melhor e isso fazia com que eu agisse por impulso. O que estava sendo muito normal naquela noite. Afinal, eu não pensava muito bem antes de dizer qualquer coisa.

–Eu não consigo imaginá-lo como supervisor agora. – comentei distraída, sentindo um leve traço de liberdade dentro de mim causado pela terceira taça de vinho branco.

–Por que não? – Sasuke tinha a cabeça inclinada para frente novamente, seus olhos estavam estreitos, os fios negros de seus cabelos se despenteando do gel. Ele havia retirado o paletó e a gravata borboleta estava desfeita sobre os seus ombros. As mangas de sua camisa preta estavam na altura dos cotovelos.

–Porque sei quem você é. Não tem mais graça. – eu ri do meu próprio comentário idiota e ele sorriu.

–Agora que você trabalha pra mim novamente, como se sente? Ainda vai me acusar de não ter senso de humor?

–Não sou eu quem vai poder julgá-lo agora, pois vou pedir demissão. – ele continuou sorrindo, achou que eu estivesse brincando. Eu fiquei séria e me amaldiçoei por ter aberto a boca. Por que eu não estava calculando o que dizer antes de dizer, meu Deus?!

–Está falando sério? – ele perguntou depois de um momento, quando notou o arrependimento em meu olhar.

–Sim, estou. – sua expressão mudou repentinamente. Primeiro confusa, depois irritada e por um momento furiosa. – Eu me decidi recentemente.

–Posso saber o motivo? – sua expressão era um tanto sombria. Vi seus olhos pousarem no hematoma que a mão de Sasori deixara no meu braço pela milésima vez naquela noite. – Se for pelo Akasuna, eu não vou permitir que ele toque em você. Que ele muito menos passe perto de você na empresa.

–Não é por isso. Não estou preocupada por trabalhar no mesmo lugar que Sasori Akasuna. – disse com sinceridade, porque era a pura verdade. Eu poderia ter ficado com medo daquela criatura de olhar insano, mas o verdadeiro motivo pelo qual eu já havia decidido pedir demissão estava bem na minha frente. Mas como dizer isso a ele?

–Então, me explique por que tomou essa decisão, afinal.

Eu desviei os olhos para as mãos. Como eu poderia explicar que desejava me afastar dele? Mesmo pelo que acontecera naquela noite linda, mesmo depois de tê-lo conhecido um pouco melhor, eu não deveria me iludir.

–Desculpe, Sasuke-kun. É um motivo particular. – ousei fitá-lo nos olhos e sua expressão pareceu ficar ainda mais sombria. Não havia outra desculpa e eu tinha certeza que não conseguiria mentir.

–É claro. – ele disse depois de um momento. – Você não precisa me dizer, mas como seu chefe eu devo saber o motivo de sair da empresa tão repentinamente.

–Em todo caso, eu ainda trabalho para Global S.A. Ainda não existe um contrato com a CGCG.

–A Global S.A. deixou de existir. – ele retrucou com a voz um pouco dura.

–Desde hoje pela manhã. Eu ainda devo alguma satisfação para Tsunade.

–Não, não deve. – percebi nos seus olhos que ele não desistira enquanto não soubesse a razão da minha decisão de pedir demissão da sua empresa.

Eu suspirei e desviei os olhos. A mentira que passou pela minha cabeça pareceu ser a mais sensata. Ele me deixaria em paz de uma vez por todas se eu lhe dissesse aquilo.

Pela primeira vez naquela noite, pensei duas vezes antes de dizer o que estava prestes a dizer. Não havia outra alternativa. Eu não queria me iludir com esperanças falsas, não queria acreditar que Sasuke Uchiha gostava de mim e não estava cheio de segundas intenções. Eu tinha certeza que um relacionamento sério nunca aconteceria entre nós.

–Eu vou me casar. – disse olhando para o seus olhos e ele reagiu de uma maneira que eu não esperava. Foi como um choque, mas logo ele se recompôs. Depois seu sorriso era irônico.

–Se fosse esse o motivo, você teria dito de uma vez. – essa não! Ele percebeu que eu havia mentido?

Na verdade, pela sua expressão, era como se ele quisesse acreditar no que acabara de dizer.

–Mas é claro que é verdade! Eu só pensei que... Na verdade, meu noivo está querendo fazer uma surpresa e me fez jurar que não contaria nada a ninguém. Eu apenas agi por impulso. Percebi agora que não havia problema em contar a você.

A respiração de Sasuke ficou pesada, ele não estava mais inclinado sobre a mesa, seu olhar era duro. Me perguntei por que ele parecia tão decepcionado. Afinal, para um homem rico e atraente como ele, se envolver sexualmente com uma mulher comprometida não deveria ser problema. Isso acontecia muito com esses empresários jovens e milionários.

–Então você vai se casar... – ele murmurou um pouco inquieto na cadeira. – E por que vai pedir demissão? Ele não quer que você trabalhe? – a palavra ele saiu entre dentes ou eu estava enganada? – Ou seria por minha causa?

Fiquei um tanto chocada pela sua última pergunta.

–Por sua causa? Acho que nós dois já resolvemos as nossas diferenças, Sr. Uchiha. – ele fez uma careta de irritação quando me dirigi a ele com a antiga formalidade. – Já descobri porque você me tratava com tanta estupidez na central de cobranças, era um teste, não é mesmo? Não sinto mais um ódio mortal pela sua pessoa, tudo já está esclarecido. Vou pedir demissão, porque vou me mudar... Com o meu noivo para uma cidade menor.

Tentei parecer bem flexível com as minhas palavras mentirosas. Porém eu não estava mentindo tão bem assim, com certeza eu já havia mentido melhor, mas ele estava acreditando em cada palavra.

Nos minutos seguintes, Sasuke pediu a conta e nós nos retiramos do Kong da pior maneira possível. Eu havia estragado a noite.

Quando saímos do prédio, a situação não poderia ficar pior. Demos de cara com a morena de olhos azuis que ele conhecia e as suas amigas prestes a entrarem em um taxi. A morena lançou um olhar sem emoção para mim, depois voltou a encarar o Uchiha.

–Como vai, Tayana? – a voz do Sasuke saiu tão sincera que por um momento eu fiquei com ciúme.

–Vou indo bem. – ela respondeu um pouco envergonhada.

–E os seus pais?

–Eles sentem falta dela, mas acho que um dia vão superar.

Percebi que Sasuke nunca tivera um caso amoroso com aquela garota. Olhando para ela agora tão perto, ela parecia tão jovem e angelical, não parecia ter mais que dezoito anos. Só o que a tornava mais velha era o semblante triste.

Suas amigas gritaram de dentro do taxi.

–Tome cuidado com as amizades. – disse Sasuke gesticulando para as garotas no carro. Ele caminhou até o taxi e abriu a porta para a Tayana. – Boa noite.

–Sinto muito pelo que a minha irmã fez a você, Sasuke-san. – disse ela antes de entrar.

Sasuke fechou a porta e o taxi deu a partida.

~*~*~*~

–Aquela garota era irmã da sua esposa? – eu não me contive e perguntei, enquanto caminhávamos até o hotel onde eu estava hospedada.

–Ex-esposa. Um de muitos erros que já cometi na vida.

Sasuke tinha uma expressão dura desde que saímos do Kong. Sua voz era igualmente dura, assim como ele falava comigo na central de cobranças. Ele estava mais calado, só dizia alguma coisa quando eu perguntava.

–Se não errarmos, não aprendemos. Isso é a vida. – comentei sem me importar com a sua mudança de humor.

Ele continuou calado, até chegarmos ao hotel. Sasuke me acompanhou até o meu andar, até a porta da suíte, ignorando a minha oposição.

–Bom... – eu parei de costas para a porta e o fitei. Sasuke tinha as mãos nos bolsos da calça, seus olhos estreitos desviados de mim. Ele estava me evitando. – Devo perguntar por que está tão irritado comigo?

Seus olhos vieram rapidamente de encontro aos meus.

–Não estou irritado com você. – disse ele ainda com aquele olhar estreito e mal humorado. – Estou irritado comigo mesmo.

–Por quê? – indaguei confusa.

–Não vem ao caso. – disse ele simplesmente, desviando o olhar novamente.

–Tudo bem. A noite não terminou muito agradável para você, mas eu estou satisfeita. – forcei um sorriso.

–Muito bom saber. – disse ele com um sorriso irônico.

–Se eu fechar a porta na sua cara você vai se sentir melhor? – perguntei um tanto irritada pelo modo como ele estava agindo.

Ele me fitou por um momento depois suspirou com os olhos fechados.

–Me desculpe. – ele se aproximou com um passo. – Foi uma ótima noite, devo admitir.

–É verdade, apesar dos pontos negativos. Devo me conformar que nada é perfeito.

–Realmente, nada é perfeito. Acredita que existe algo perfeito?

–Não, mas nem sempre estou certa. – ele ainda estava sério, seus olhos intensos e estreitos. – Assim como Sasuke Uchiha pode errar de vez em quando.

Seus lábios se estenderam em um leve sorriso.

–Desculpe, você já deve saber que a minha boca me ultrapassa sempre que falo alguma coisa. – soltei uma leve risada enquanto ele ainda sorria. Seus olhos estavam de volta com aquele brilho intenso que me deixava inerte.

Ele deu mais um passo, seus braços me cercaram e me vi presa entre eles com as costas encostadas na porta da suíte.

–Não... – ele sussurrou, seus lábios roçando nos meus. Meu pulso estava acelerado, minha mente em branco. – A sua boca está é me deixando louco.

Eu não conseguia me mover, o calor do seu corpo me envolveu como uma onda, o seu cheiro me deixou inebriada e eu sabia que não conseguiria me livrar daquele contato tão intenso.

Seus lábios se moveram nos meus lentamente e eu me entreguei, embora estivesse dizendo há muito tempo que aquilo não aconteceria. Fechei os olhos e senti seus braços me apertarem contra ele, seus lábios ficarem mais urgentes, sua língua invadir a minha boca sem permissão, me fazendo gemer instintivamente. Envolvi sua nuca com uma das mãos, entrelaçando meus dedos aos fios negros. Sasuke desceu uma de suas mãos pelas minhas costas, fazendo-me arrepiar por completo.

Uma sensação tão forte tomou conta de mim que eu não tinha mais consciência do que estava acontecendo. Eu não pensava mais em controle, eu não sabia o que essa palavra significava.

Parecia que o mundo havia deixado de existir e nada mais importava.

Eu só desejava que a realidade não voltasse mais.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Agradecimentos especiais a *kunoichi_Uchiha* e *bellaharuno21* que recomendaram a fic! ♥.♥Agradeço a todos pelo carinho e pelos reviws! Quando tiver um tempinho sobrando vou responder todo mundo, não se afobem! XDE agora que eles se beijaram? Será que o Sasuke engoliu essa do casamento? o_OBjs e até o next!=Denny