A Última Palavra. escrita por thammy-chan


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Eu realmente tenho problemas com prazos. Pela milésima vez, me desculpem por não postar na data prevista. A partir de hoje não combino mais datas. '-' O fato é que eu resolvi ficar ruiva "natural", estava com o cabelo vermelho-fogo, e pra passar pro alaranjado foi um problema, descoloração, decapagem, hidratação e o medo de ficar careca, rs.
O fato é que fiquei umas boas semanas com milhões de coisas na cabeça e esqueci de postar.
Ah, e a fic passou dos 100 reviews! *-* Muito obrigada a todas vocês que deixam review!
Sem mais delongas, espero que gostem do capítulo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/133097/chapter/9


____________________________________________________________




—Kurt. –sussurrou Max entredentes. —Será que você poderia fazer um favor à nossa pequena Liesel?


.

Liesel olhou desconfiada enquanto Kurt assentia.


.

—Bom. –continuou ele. —Ela está tendo dificuldades para atuar de acordo com a personagem, então eu pensei: Será que você poderia dar umas aulas para ela? Sabe, com um professor tão talentoso quanto você acredito que ela se sairá melhor nas próximas atuações.


.

—Claro. –disse Kurt. Ele passou os braços pelo ombro de Liesel e beijou o topo de sua cabeça. Sorriu ao ver as bochechas da menina enrubescerem. —Eu adorarei ensiná-la, será um prazer.


.

Max achou que seu rosto iria se desfazer em chamas, então resolveu sair dali deixando uma garotinha triste e cabisbaixa para traz.


.

—E então? –o rosto sedutor de Kurt contrastava com a voz brincalhona. —Na minha casa ou na sua?


.

Liesel limitou-se a revirar os olhos.



.

• • •

.

—Vocês sabem o que é mais engraçado? –perguntou o prefeito.


.

Liesel e Ilsa trocaram rápidos olhares, nenhuma das duas respondeu.


.

—Eu perguntei o que vocês acham que é engraçado, Saumenchs! –Ele agarrou os cabelos loiros da menina com crueldade. —Você tem certeza de que não quer me responder?


.

—Não sei! –Liesel deixou escapar por entre os dentes. —Não sei, senhor Hermann, o que é?


.

Ele afrouxou o aperto.


.

—É claro que não sabe, menina estúpida! Você passa o dia todo com aquele judeu, não é mesmo? Jesus, Maria e José, o que diabos ele poderia ensinar para você, Meminger? Nada que preste! Você está querendo acabar com a minha carreira, sua comunistazinha?


.

Ilsa tinha uma expressão de pânico no rosto, mas não se atreveu a dizer nada.


.

—Se descobrirem que o pedaço de lixo que eu abriguei em casa e a quem estou fornecendo água e comida, –continuou ele. —Está traindo o nome da minha família por causa de um judeu...! –Ele deu um tapa em Liesel. —Um judeu imundo assim como você! –outro tapa. —Eles v-


.

A campainha soou pela casa, atrapalhando o discurso do prefeito. Aterrorizada, Liesel foi atender assim que ele a soltou.


.

Com o cabelo completamente desgrenhado e as bochechas vermelhas, lentamente abriu a porta, tentando engolir o choro.



.

•DO OUTRO LADO DA PORTA ESTAVA KURT•
E a sensação de alívio que Liesel teve, foi inexplicável.
Apesar de mal o conhecer,
a garota tinha vontade de pular em seu pescoço
e abraçá-lo com força.
Mas o que fez, foi expulsá-lo de lá.

.

O prefeito estava realmente furioso. Apesar de tudo, Liesel não queria que Kurt visse a cena que provavelmente aconteceria a seguir:

Heinz gritaria com Liesel novamente, e daria mais tapas em seu rosto, até a garota prometer que nunca mais veria Max.

.

—Kurt, eu sei que nós combinamos de ensaiar hoje, mas agora realmente não é uma boa hora para-


.

—O que aconteceu com você? –Kurt interrompeu Liesel, tocando levemente suas bochechas coradas.


.

Ao perceber a expressão de dor que ela fez, afastou as mãos rapidamente.


.

—Não se preocupe. –disse ele. —Eu falo com o seu pai.



.

•PAI•
Automaticamente,
veio a mente de Liesel a imagem de Hanz Hubermann.
Sempre sorrindo, ele carregava um cigarro
na boca, e seu fiel escudeiro – o acordeão – nas mãos.

.

—Pai... – repetiu Liesel, observando como a palavra soava engraçada agora.


.

Despertando de seu pequeno sonho, ela olhou em volta para impedir Kurt de falar com o prefeito. Não o achou.


.

Ouviu vozes e risos vindos da cozinha, então decidiu ir lá ver.


.

Quando seus pés adentraram o local, Liesel mal podia acreditar no que seus olhos estavam vendo.


.

Kurt estava sentado em uma cadeira, tagarelava em um tom alegre algo que Liesel não prestara atenção, mas matinha um sorriso encantador estampado no rosto.


.

Do outro lado da mesa, em frente à Kurt, o prefeito mantinha-se falante e também sorrindo. Uma imagem que causava náuseas em Liesel.


.

—Oh, Meminger. –O tom de voz do prefeito era alegre. Totalmente diferente do tom que usara para falar com ela minutos atrás. —Você não nos contou que estava fazendo uma peça de teatro com o brilhante ator Kurt na escola. Sua pestinha, planejava esconder de nós? –Ele riu, dando um ar de brincadeira à frase, mas Liesel sentia o fundo de verdade presente nela.


.

—Tenho certeza de que essa não foi a intenção, senhor. –comentou Kurt. —Com tantos preparativos, acredito que Liesel tenha esquecido.


.

Ilsa lançou um olhar à Liesel, que entendeu na hora: Deveria confirmar o que Kurt dizia.


.

—Sim, sim, prefeito. Foi isso mesmo. –Ela assentiu. —Ando com a cabeça nas nuvens ultimamente, me desculpe.


.

Desculpe, desculpe.–Heinz imitou a voz de Liesel. —Bom, se é com o Kurt você pode ir ensaiar lá encima. –continuou o prefeito, como se não tivesse sido interrompido. —Mas da próxima vez que combinar algo aqui, quero que me avise com antecedência, entendeu? Afinal, a casa continua sendo minha, até a última vez que eu chequei.


.

—Entendi. – foi tudo o que ela disse antes de subir. Com sua visão periférica, pode ver que Kurt estava logo atrás.



.

• • •

.

No outro lado dessa mesma cidadezinha alemã, havia um judeu inquieto.


.

No dia anterior, três homens do antigo partido nazista bateram à sua porta.


.

“ —O que vocês querem de mim? –Max exigiu saber. —Hitler está morto. Não há nada que impeça um judeu como eu de caminhar livremente pelas ruas.


.

—Acredito que você esteja certo até certo ponto, Sr. Vandenburg. –respondeu um dos homens. Seu bigode enorme se mexia a cada palavra, fazendo Max perguntar-se se ele poderia esconder algum bicho ali.


.

—Hitler está morto. –continuou, ignorando os olhares de Max para seu estranho bigode. —Mas há alguém que seguia seus ideais e continua conosco nesse mundo. Essa pessoa tem muito poder, e sua vontade tem de ser feita. Nesse momento, ele quer que você, senhor Vandenburg, afaste-se da garota que mora na casa do prefeito, Liesel Meminger. Isso afetaria a campanha política do prefeito, pois além de tudo, é ano de eleição.


.

—Não vejo o motivo pelo qual minha presença atrapalharia. –comentou Max. —Me recuso a afastar-me dela.


.

—Pois eu lhe explico. –o mais alto dos homens pôs-se a frente para falar. Suas expressões eram severas, o que dava um ar de melancolia para seu rosto. —Quem votaria em um homem que promete proteger a cidade, mas deixa sua menina sob as garras de um judeu? Eu respondo, ninguém. –ele agarrou Max pelo colarinho da camisa, puxando-o para cima. —Por isso, Vandenburg, ou você se afasta com suas próprias pernas, ou nós teremos de quebrá-las para você. –disse entredentes. —E não pense que hesitaremos um segundo sequer em fazer isso.”




.

•DEPOIS DAS AMIGÁVEIS PALAVRAS•
Os três homens deixaram a casa de Max.
Saíram batendo a porta atrás de si, deixando um aviso silencioso,
que não havia sido dito, mas estava lá:
Voltaremos.

.

Debaixo das cobertas, Max não conseguia dormir. Cada vez que fechava seus olhos, via o rosto pequenino de Liesel formar-se diante da escuridão.


.

—Isso é um pouco contraditório, não acha? –dizia ela. —Não querer falar comigo, mas ao mesmo tempo se preocupa.


.

Ele tentava responder, mas suas cordas vocais não o obedeciam.


.

Liesel se virava de costas e de repente tudo ficava iluminado. Estava em uma rua agora, rua que a garota atravessava correndo, pois do outro lado Kurt esperava por ela.


.

Mais uma vez, Max tentava impedir. Gritava, mas não saia som algum de sua boca. Suas pernas travaram e ao tentar correr, o máximo que conseguiu foi cair no chão.


.

Ouvia passos agora, e uma voz suave em seu ouvido:


.

—Só não se esqueça, –dizia Kurt —de que foi você quem pediu por isso.


.

Acordou suando.


Olhou no relógio que marcava 7:35. Estava atrasado.


.

Correu para tomar um banho rápido e se arrumar, a imagem de três homens de preto insistia em impregnar sua mente.


.

O que ele faria? Abandonaria Liesel nas garras do prefeito? Não, não era o certo a se fazer.


.

Talvez até fosse o melhor pra ela, pensou. Mas o judeu era egoísta demais para se afastar definitivamente. O plano inicial era apenas deixá-la viver sua vida, mas quando se viu obrigado a fazer isso, as coisas pareceram muito diferentes.


.

Particularmente, eu acho a raça humana uma coisa muito engraçada. Vocês tomam uma decisão e esperam a hora certa para colocá-la em prática, mas quando se veem obrigados a fazer algo, por mais que já tenham pensado nisso, entram em pânico.



.

Chegando à escola, tinha um homem à espera de Max, que o reconheceu imediatamente.


.

Não era o diretor, aluno e nem algum funcionário da escola. Era um dos homens que a dois dias foram importuná-lo para deixar Liesel. O único dos três que não havia dito nada.


.

Max estava no auge de toda a sua irritação, puxou o homem para o canto e disse com a voz baixa, porém firme:


.

—Vocês já foram até a minha casa me ameaçar, mas não tem o direito de estar no meu trabalho. Dê o fora daqui!


.

—Eu quero te ajudar. –sussurrou o homem, que olhava para os lados freneticamente, como se tivesse medo de ser ouvido. —Sei um modo de você ficar perto da sua menina, fazer o que quiser e ainda ter poder sob Heinz Hermann.


.

Max ponderou a proposta um instante.


.

—E por que repentinamente você resolveu me ajudar? –indagou ele. —Eu sequer sei seu nome.


.

—Richard. –ele esticou a mão, mas Max recuou. —E resolvi te ajudar porque sei como o prefeito trata suas crias. Apesar de não ser filha dele, uma menina tão dócil não deve ser tratada assim sob hipótese alguma. –ele estremeceu com o pensamento. —Tenho filhas, Max, três garotinhas adoráveis. Só Deus sabe o quanto eu me irritaria se elas fossem tratadas dessa maneira.


.

Max não respondeu, estava imaginando se Richard estava mesmo disposto a ajudar ou se era um truque do extinto partido Nazista.


.

Tentou encontrar alguma expressão falsa, uma falha no tom de voz, uma gesticulação agitada, qualquer coisa que afirmasse que Richard mentira. Não encontrou nada.


.

—Tudo bem então. –dessa vez foi Max quem estendeu a mão. —Fico feliz que esteja disposto a ajudar. Qual é o plano?


.

—Você já deve saber que estamos em ano de eleições. –o tom de voz de Richard era suave, ainda baixo. —O fato é que as pessoas são falsas. São poucas as que gostam do prefeito, mas na frente dele vivem sorrindo e acenando. Ninguém tem coragem de se candidatar à prefeitura pois o temem, acham que ele jogará sujo para conseguir manter seu cargo. E realmente irá.


.

Max apenas observou enquanto Richard continuava explicando com muita paciência, como se Max fosse aluno e não professor:


.

—Você é um judeu, mas é claro que você já sabe disso. –deu de ombros. —Uma pessoa que sofreu pela injustiça do nosso país, pelos padrões impostos por um ditador lunático. As pessoas se identificam com isso, Max. Elas não querem ver uma pessoa rica e mesquinha no poder, que apenas abafará os problemas e não deixará que eles cheguem ao ouvido da população. As pessoas querem alguém que passou por problemas, que irá favorecer não só os ricos, mas os pobres, independente de raça, cor ou religião. As pessoas querem alguém como você no poder.


.

—Seja mais direto, o que você está sugerindo, Richard?


.

—Exerça sua coragem sobre Heinz. Faça-o temê-lo, mostre que você tem mais poder que ele, pois o povo ficará ao seu lado. Max, candidate-se à prefeitura.


.

• • •



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram, odiaram, mudariam algo? Deixem review!
Beijos.