A Última Palavra. escrita por thammy-chan


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez não demorei tanto, rs. Aproveitei o feriado para escrever. Sexta, sábado, domingo, segunda e terça em casa, não tinha desculpa, né? Rs.
Sem mais enrolações, espero que gostem.



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Sob o meu ponto de vista, essa pequena cidadezinha alemã nunca fora tão movimentada. Lá fui eu fazer o meu trabalho: Retirar as almas confusas dos respectivos corpos já sem vida espalhados pelo chão.



"Onde estou?" perguntavam os mais despercebidos. "Eu estava almoçando agora mesmo e... Jesus, Maria e José, sou eu deitado ali?" Já os conformados, os que viram o momento do assassinato, somente diziam algo tolo, como "Aquele Saumensch!"



E eu? Bom, eu bocejava entediada. Vez ou outra proferia algumas palavras de soliedariedade, algo do tipo "Ei, você está morto mas há muita coisa à fazer além de praguejar ao vento. Talvez você não tenha percebido, mas ele não te escuta." e então sentávamos pelo caminho e jogávamos conversa fora. Não por muito tempo, afinal como eu já disse, essa pequena cidadezinha alemã nunca fora tão movimentada.




TREZE
O número de pessoas assassinadas nesse dia.
Treze corpos ensanguentados sobre o chão frio.
Treze almas a menos no mundo.
Treze viúvas chorando, treze famílias de luto.
Treze homicídios aparentemente sem ligações, motivo ou pistas.
Somente um assassino.



Sim, eu vou explicar essa história melhor, tenha paciência. Mas antes, vamos voltar aos acontecimentos que levaram à essa terrível carnificina. Venha comigo, eu vou lhe contar uma história.




Uma sensação estranha percorreu o corpo de Liesel.

Medo? Não. Receio? Algo parecido. Insegurança? Isso, Liesel sentia-se insegura.

Sentia que deveria subir e fazer as malas como lhe foi ordenado, mas tantas coisas poderiam dar errado...
A roubadora de livros confiava no judeu - e como confiava. Mas havia muitas outras variáveis nessa complicada equação. Tinha muita coisa para dar errado.

Ilsa, o prefeito e até mesmo os eleitores, o que pensariam de um candidato que mantém em sua casa uma adolescente que sequer é sua parente? Suspeito, no mínimo.


A garota deixou a insegurança de lado e numa súbita explosão de coragem, subiu as escadas o mais rápido que suas pernas permitiam e jogou tudo de importante que encontrou pela frente dentro de uma espaçosa mochila.


Todas as suas roupas, - que não eram muitas - alguns sapatos, livros e objetos pessoais, agora estavam espremidos dentro da mochila lilás. Enquanto Liesel descia as escadas, Ilsa voltava da cozinha com uma xícara de chá.


Olhou para Liesel, para a mochila e por último encarou Max, que encontrava-se casualmente recostado no batente da porta. A xícara se espatifou no chão, ao mesmo tempo em que chá de boldo manchava o tapete da sala.


—Por favor, senhor Vandenburg, me diga que não levará a minha menina de mim.


Max e Liesel trocaram olhares. O judeu se aproximou de Ilsa e segurou firme seu ombro, um gesto de conforto.


—Senhora Hermann, por favor, deixe-me salvar Liesel. Eu jamais faria mal à ela como o seu marido fez.


Ilsa sentiu uma ardência no rosto como se tivesse sido estapeada, mas não deixou transparecer.


—Eu sei que você nunca a machucaria, Max. Te conheço a pouco tempo mas sinto como se conhecesse a anos. Desde que adotara Liesel, ouço falar de você. E muito bem, devo admitir. -Ilsa gentilmente tirou a mão de Max de seu ombro. —Porém, você sabe como é o temperamento do meu marido. Ele não vai gostar de saber que você levou Liesel, mesmo que ele não goste dela. Odeio admitir isso, senhor Vandenburg, mas ele é perigoso. Não posso permitir.


—Tenho conhecimento de que sacrifícios terão de ser feitos, senhora Hermann, mas estou disposto a renunciar o que for para proteger Liesel, e realmente espero que a senhora me apoie. Deve saber o quão sacrificante é para ela viver coberta pelo mesmo teto que o prefeito, sendo indesejada e espancada a todo o instante. Liesel já passou por muita coisa, estou lhe implorando, não deixe que mais nada de mal aconteça à ela. Por favor.


—Parem de falar como se eu não estivesse aqui. -A roubadora de livros revirou os olhos e um instante depois foi até Ilsa e ficou surpresa quando conseguiu abraçá-la sem dificuldades, sem nem mesmo precisar ficar na ponta dos pés. —Vai ser melhor assim. - sussurrou ao ouvido dela. —E não vamos deixar de nos ver, eu prometo.


As duas separaram-se do abraço e limparam suas lágrimas, cabisbaixas. Ilsa recuperou-se primeiro:

—Jesus, Maria e José. É melhor vocês irem antes do prefeito chegar. Andem, vão logo.


Como um belo rapaz de modos antigos, Max pegou a bolsa de Liesel em uma mão e segurou a mão dela com a outra, que tremia pelo contato, por menor que fosse.


Quando chegaram à esquina, depararam-se com a pessoa que menos queriam ver:Vamos lá, você sabe de quem estou falando.

Completamente bêbado e enfurecido, ao ver Max do lado de Liesel, o prefeito não pensou duas vezes:

Desferiu um soco no olho esquerdo de Max, que inchou na hora. Também tentou atingir Liesel, mas o judeu pôs-se na frente dela, e parou o golpe.


—O que é isso na sua mão, Saumensch? -disse o prefeito, depois de analisar a mochila na mão de Max. —Dê-me isso aqui, você pode até levar a menina, mas as coisas que foram compradas com o meu dinheiro, ficam comigo!


E esse, foi o iníco de uma longa noite.


Chegando na casa de Max, a primeira coisa que a garota fez foi deixar-se cair no sofá e respirar. Simplesmente respirar, coisa que não conseguiu fazer direito por alguns longos minutos.


—Está quase na hora do jantar. -suspirou o Judeu. —Vá tomar um banho e descançar um pouco, enquanto eu preparo algo para comermos.


—Mas... -começou Liesel, enrubrescida. —Eu não tenho mais roupas...


"Você não precisa de roupas" ecoava a mente de Max, mas o que diabos ele estava pensando? Eram os primeiros minutos de Liesel em sua casa e esse era o tipo de pensamento que invadia sua cabeça?


Não. Max prometera que não deixaria ninguém machucar Liesel, e isso incluia a sí mesmo. Passou a mão nos cabelos para afastar tal pensamento e voltou a realidade, percebendo que Liesel estava à espera de uma solução.


—Pegue uma das minhas blusas na segunda gaveta da cômoda. Acredito que sejam suficientemente longas para cobrir... Você. -pigarreou. —Amanhã comprarei algumas roupas para você antes que acorde. Só para ter o que vestir, depois iremos as compras juntos, combinado?


—Combinado. -assentiu Liesel sorrindo, que dirigiu-se imediatamente para o banho, depois de pegar a camisa.


Depois de fazer a janta, max jogou-se no sofá onde minutos antes tinha estado a garota.

Droga, tinha arrumado uma imensa briga. Como se tivesse acabado de lembrar, seu olho roxo voltou a latejar. Apertou-o e ficou assim durante algum tempo, até perceber o sofá afundar-se ao seu lado, onde Liesel estava sentando-se.


Ela tirou as mãos do judeu dos olhos, e colocou encima de seu olho esquerdo um bocado de gelo enrolado sob um pano.


—Max... -sussurrou a garota, com a voz mais triste do que o costume.


Max fitou-a. —Sim?


—Você se arrependeu de me trazer pra cá, não é? Quer que eu vá embora? Sabe, eu acho que se eu prometer não atrapalhar, talvez o prefeito me aceite de volta...


O riso aliviado do judeu ecoou pela sala. —É claro que não, pequena, de onde tirou essa idéia?


—É o que sempre acontece. -retrucou ela.


Max sentiu uma enorme vontade de reconfortá-la, mas a garota parecia tão frágil que ele tinha medo de que pudesse quebrar. Limitou-se a abraçá-la.


—Eu nunca te abandonarei. -prometeu. —Nunca.


Liesel assentiu, levantou-se e caminhou até a cozinha. Só a Max pode vê-la direito. A camisa de mangas longas ficara mais curto do que o previsto: estava no meio das coxas, deixando as pernas descobertas.


Correu até seu quarto e pegou uma bermuda, jogou-a para Liesel, que vestiu sem discutir, indo dormir logo depois, acabando com os pensamentos de Max, inapropriados para a ocasião.


—Eu não presto. -pensou Max em voz alta. —Jesus, Maria e José, eu realmente não presto.




Voltando ao dia de hoje, ele amanheceu chovendo.


No horário em que saia de casa todos os dias, o prefeito abriu seu guarda-chuva e foi caminhando tranquilamente pelas ruas.

SE VOCÊ PUDESSE LER A MENTE DO PREFEITO
Saberia que só uma coisa estava diferente nele hoje:Seus planos.
Ele não planejava trabalhar,
aliás, não antes de terminar o que planejava fazer.
Treze coisas.


Foi até a casa de Rolf Aldegund, o homem que estava como vice-prefeito na campanha de Max. Tocou a campainha, como se quisesse apenas fazer uma visita corriqueira.


Só que não queria. Quem abriu a porta foi a senhora Aldegund.


Sem pronunciar uma palavra, o prefeito empurrou-a e entrou na casa. No sofá da sala de estar, Rolf encontrava-se deitado.


Como se já tivesse feito isso mil vezes, o prefeito calmamente tirou do bolso um revólver preto reluzente, destravou a arma, apontou-a para Rolf e puxou o gatilho.

Depois do estrondo, saiu da casa, deixando para trás uma mulher gritando ensandecida e um homem estirado no chão, encima de uma poça de sangue.


Isso se repetiu doze vezes, com mais doze homens que não fizeram nada de errado na vida.

MAS DONA MORTE,
por que o prefeito as matou, se não eram homens ruins?
Oh, isso eu sei responder.
Esses homens tinham uma coisa em comum,
algo que irritava-o.
Algum dia, de alguma forma,
eles ajudaram Max.


Como eu estava dizendo, essa pequena cidadezinha alemã nunca fora tão movimentada.



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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo chegou ao fim. O que acharam? O que mudariam? Comentem.
Beijos e até o próximo capítulo!