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• UM PEQUENO ESCLARECIMENTO •
Desde que nascemos, já estamos mortos.
O fim já está lá, antes mesmo de tudo começar.

Novamente, Liesel sonhara com Hans Hubermann essa noite.

Nos outros sonhos, Hans nunca falava nada. Liesel chamava "Papai" e ele apenas encarava-a com aquele olhar desapontado que tanto a machucava. Novamente "Papai" e nenhuma resposta.
Apenas no sonho da noite passada, Hans respondeu-a...

—Por que, Liesel? –Perguntou Hans. —Por que não me chamou para ler no porão aquele dia? Por que me deixou morrer?

—Eu não sabia que isso iria acontecer, papai. Eu juro. Não queria que ninguém morresse.

Algumas lágrimas já escorriam pelo rosto de Liesel, Mas Hans continuou.

—Eu estou morto por causa do seu egoísmo, Liesel. Se você tivesse me chamado para o porão, nada disso teria acontecido.

Liesel queria dizer que sentia muito, que se pudesse voltar atrás, teria abrigado todos no porão. Ou teria morrido junto com eles. Mas era tarde demais: Hans já havia ido embora.

—Pesadelos, querida? –Ilsa Hermann apareceu à porta do quarto de Liesel.

Havia se passado um ano desde o terrível bombardeio na rua Himmel. Desde então, Liesel tinha sonhos com as pessoas que morreram, dizendo que era sua culpa.

Ela sabia que essas pessoas nunca diriam isso, mas seu subconsciente sentia-se culpado. E consequentemente, seus sonhos reproduziam isso.

—Já está tudo bem. –disse Liesel, com as batidas do coração voltando ao ritmo normal. —Está tudo bem. -repetiu.

Ilsa já estava se retirando do quarto quando foi surpreendida por uma pergunta.

—Você acha que Max pode estar vivo? –perguntou Liesel.

•ALGUNS ANTIGOS FATOS•
Adolf Hitler morrera cinco meses atrás, dando fim ao regime Nazista. Acompanhada por IIsa Hermann, Liesel saiu várias e várias vezes em busca de Max. Mas não o encontrou.

—Todos estão vivos, Liesel. –Ilsa caminhou até ficar do lado de Liesel, e abraçou-a. —Seja na terra ou em seu coração, todos estão vivos.

Mais uma vez, Liesel assentiu. Tinha certeza de que um dia encontraria de novo seu amigo Judeu.

—Hoje é o primeiro dia letivo do ano. –disse Ilsa, mudando de assunto. —Vá tomar banho, se arrumar você já está atrasada para a escola.

E assim Liesel fez. Depois do banho, repartiu seu cabelo no meio e deixou-o solto. Vestiu seu uniforme (que nada mais era do que uma blusa branca, gravata e uma saia xadrez que ia até os joelhos.) e calçou seu tênis o mais rápido possível. Em poucos minutos, já estava pronta para ir.

• • •

Chegando à escola. Liesel perguntou a uma das irmãs onde ficava sua sala. Foi direcionada para a sala “C” do terceiro andar e chegando lá, percebeu que todos os alunos já haviam chegado.

•UMA PEQUENA OBSERVAÇÃO•
Liesel se lembraria desse momento pelo resto da sua vida,
mas ainda não sabia disso.

O professor estava de costas.

—Com licença. –disse Liesel na porta. —Eu posso entrar?

—Pode. –respondeu o professor virando-se. —Mas não chegue atrasada de novo ou terá de voltar para a casa.

Quando Liesel viu seu rosto, ficou imóvel. Um estúpido sorriso ousou surgir no canto de seus lábios.

—M-Max?