Férias Frustradas escrita por Nunah


Capítulo 51
50 - o que não dá para colocar em palavras


Notas iniciais do capítulo

Como fazer isso? Bem, eu não sei como me despedir. Podem me matar, esse é o último capítulo. Eu estou chorando e não sei o que dizer. Obrigada pelo carinho e apoio de todos vocês, porque sem eles a história não teria chegado até aqui. Eu sei que não se pode agradar a todos, mas eu tentei fazer como sempre imaginei, ok? Não me culpem, por favor. Bem. Até mais então.



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A deusa entrou sorrindo, um pouco distraída, na cozinha do palácio, com seu vestido – um corpete dourado e com uma saia de cetim âmbar – e sua maquiagem em tons neutros impressionando a todos. Seu cabelo estava preso precariamente, com algumas mechas caindo sobre seu rosto, e sua maquiagem era em tons neutros.

O garoto de apenas quatro anos em seu colo brincava com um golfinho azul de pelúcia.

Poseidon, que estava escorado no balcão segurando uma menininha loira, sorriu calorosamente quando viu a esposa.

- Você está linda querida – sussurrou ele, beijando-a.

- Obrigada, meu amor. Será que pode segurar Pietro? – disse ela, estendendo-lhe o garoto, que sorriu para o pai. – Ainda tenho que colocar os sapatos.

- Claro.

 - Mama – disse a menina, Claire, de apenas dois anos, com a voz manhosa, estendendo as mãozinhas para a mãe.

- Oi bebê – disse Athena, beijando sua bochecha e sorrindo amavelmente. – Mamãe já volta.

Enquanto a deusa se sentava e calçava os sapatos, dois pares de olhos verdes e um par de olhos cinzentos a observavam curiosamente.

Poseidon a encarava, maravilhado, pensando na sorte que tivera. Nem parecia que tinham se passado cinco anos desde a guerra. Claro que, para deuses, aquilo não era nada, mas para Poseidon era o começo de uma nova vida.

Athena havia finalmente se entregado inteiramente a ele, como esposa e como rainha. Eles agora tinham dois lindos filhos, Pietro e Claire, que amavam. Eram uma família feliz, como esperado.

Ele desceu seu olhar pelo colo da esposa, para depois subir novamente, encontrando seus olhos. Eles continham diversão e malícia.

- Nem pense nisso Poseidon – disse ela, sorrindo de canto enquanto pegava a filha.

- Você é cruel – o deus apertou sua cintura enquanto os transportavam para o Olimpo.

---

O casal adentrou as ruelas da cidade, as crianças optaram por irem andando, às vezes saindo correndo para abraçar um ou outro deus que conheciam. Havia muito eles não iam até lá, ocupados demais com a própria vida.

No primeiro ano eles praticamente não tiveram descanso por causa da reforma do reino. Depois, Athena ficou grávida de Pietro. Foi mais um tempo para se adaptarem a vida com uma criança. Tempos depois veio Claire. Eles ficavam cada vez mais unidos e longe do resto da família, às vezes recebendo alguma visita inesperada.

Ariana, que no final tinha sido salva por Sebastian, tinha realmente se tornado uma ótima pessoa e, junto de Valentino, vivia mandando presentes às crianças e os visitando.

- Oh meus deuses! – exclamou Afrodite quando a viu, pulando no seu pescoço. – Athena, como é bom te ver, querida.

A deusa do amor sorriu, com os olhos marejados. Logo atrás veio Hera, a quem Athena abraçou ainda mais forte e se esforçou para conter as lágrimas. Pietro e Claire, tímidos no começo, acabaram dando altas risadas enquanto as duas brincavam com eles.

Poseidon olhou a esposa, que também o encarava. Seus olhos transmitiam amor, carinho e uma enorme felicidade. Ele não poderia estar se sentindo mais completo do que naquele momento.

‘Eu amo você’, foram as palavras silenciosas formadas por seus lábios. A deusa sentiu uma lágrima solitária escapar e escorrer por sua bochecha.

- Vão ficar parados ai? – Afrodite revirou os olhos, mexendo as mãos. – Vamos logo, até parecem que não sabem mais o caminho.

Athena sorriu com a impaciência da amiga. Ela nunca muda. Poseidon sorriu também, revirando os olhos. Os dois deram as mãos para os filhos e continuaram a caminhada até o palácio dos deuses.

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Ártemis e Apolo vieram ao encontro da irmã. Perséfone, que estava com um vestido azul claro cobrindo uma enorme barriga, sorriu, assim como Hades, que a abraçava e parecia mais feliz do que nunca. Não acredito que finalmente aqueles dois vão ter um filho!

- Oh querida, você está tão bonita! – disse Ártemis, com os olhos cintilando. – Deve ser o efeito da felicidade, não é mesmo?

Athena riu, sem graça.

- Pare com isso Ártemis.

- Ora, mas não é? Seus olhos não te deixam mentir. Eu sei que se sente feliz Athena, e não te culpo. Eu não me sinto traída por você ter deixado seus votos de lado, ok? – Ártemis sorriu, pela primeira vez olhando para os sobrinhos. – Awn, eles são tão lindos.

- Vou ensinar arco e flecha a esse garoto, ah eu vou – Apolo sorriu distraído, enquanto bagunçava os cabelos do garoto.

- Se você conseguir... Não creio que um filho de Poseidon se dê muito bem com isso, você sabe – Athena deu de ombros. – Desde que não o ensine como ser um cafajeste, tudo bem Apolo.

O irmão a encarou com a incredulidade estampada.

- Ei.

- Desculpe, mas é verdade – Athena franziu os lábios. – Por favor, não se sinta ofendido. Você conhece sua fama, não?

Apolo suspirou, colocando as mãos nos bolsos.

- É. Eu conheço, sim.

Athena deu de ombros e foi até Deméter, com quem ela não falava havia tempos.

- Tudo bem? – perguntou a deusa, vendo como a outra estava com o olhar perdido e triste. Deméter se sobressaltou e quase derrubou o vaso de flores ao seu lado.

- Ah. Sim, sim. Estou bem. Por quê? Como você está? – ela soltou tudo de uma vez, fazendo Athena arquear as sobrancelhas.

- Eu estou bem, sim. Mas você não. O que houve? – perguntou a deusa da sabedoria. – Parece triste.

Deméter engoliu em seco, olhando para baixo e suspirando. Ela fechou os olhos.

- Você acha que minha filha será feliz Athena? Com um dos Três Grandes? – ela olhou novamente Athena nos olhos, fazendo-a entender tudo. – Você sabe como eles são, se cansam facilmente. Eu sou a prova viva disso. Hera também. Mas e Hades? O que acontecerá? Tudo bem que ele e Perséfone estão super feliz porque estão esperando um bebê, tudo bem que ele a seqüestrou e tudo o mais. Mas como será depois? Daqui a mil anos quando as coisas parecerem monótonas demais?

Athena franziu os lábios, uma onda de receio a atingindo. A deusa se viu na mesma situação de Perséfone. Deméter estava certa, por um lado. Mas Hades sempre mostrara amar tanto a mulher que lhe parecia impossível ele fazer algo para machucá-la. Apesar da existência de Nico e de Bianca. E Poseidon? Apesar de Athena amá-lo, apesar dos filhos que tiveram, apesar de todos os momentos que passaram juntos na guerra, ele seria capaz de machucá-la desse modo?

A deusa na verdade nunca entendeu porque deuses super poderosos preferiam mortais a lindas e experientes deusas que existiam no Olimpo. Ela respirou fundo, fechando os olhos. Conseguira dar um nó nos pensamentos. Não conseguia mais definir onde começava a preocupação com Poseidon e onde terminava o receio de Deméter. Era basicamente tudo a mesma coisa.

Três Grandes. Zeus. Hades. Poseidon. Deméter. Hera. Perséfone. Sally. Maria. Thalia. Perseu. Nico. Bianca. Claire. Pietro. O filho que Perséfone esperava. Semideuses que ainda estavam por vir. Os outros deuses, praticamente todos descendentes de Zeus. As ninfas. Ela própria. Onde aquilo terminaria?

Não. Não terminaria. Era um ciclo sem fim, assim como a vida deles. Será que fora certo...?

- Athena! – Deméter estalou os dedos à sua frente. Ela parecia desesperada. – Você está aí?

- Ah, sim. Claro.

Mas só havia uma saída para aquilo tudo: apostar na sorte. Ela poderia se arrepender; ou não. Só o tempo diria.

- Sabe Deméter, eu acho que eles serão felizes, de verdade – Athena suspirou. – Mas se quer uma resposta melhor procure Afrodite, ok?

- Ok. Obrigada Athena querida.

Athena assentiu.

---

A deusa fez de tudo para esquecer aqueles pensamentos negativos enquanto caminhava lentamente por uma parte afastada do palácio. Ela havia acabado de se casar, para os padrões imortais, e tivera dois filhos com o homem que amava. Ele mudara seu jeito cafajeste e frio por ela. Eles tinham uma história. Athena tinha que dar créditos a ele, afinal ela nunca fora paranóica como Deméter. Não era porque seu pai era daquele jeito que Poseidon também seria. Seu marido tinha horror à idéia de se parecer com o irmão.

Não posso me basear no meu pai, ele não é nenhum exemplo. Poseidon é um ótimo rei, marido, pai e homem. Confio nele.

Naquele momento a deusa transcorreu o olhar pelo salão. Poseidon estava conversando animadamente com Hades, provavelmente sobre a nova vida que os dois estavam tendo. Perséfone conversava com Afrodite e Héstia, amor e família, tem algo melhor quando se está esperando um bebê?

Ártemis se esforçava para consolar Deméter e Apolo a ajudava. Esses dois estavam muito quietos. Mas, se até Poseidon e Athena conseguiram superar o ódio, por que Ártemis não seria capaz de gostar do irmão? Athena sorriu com aquele pensamento.

Mas o que a deixou incerta foi a cena que veio a seguir. No outro extremo do palácio, Zeus estava sentado no chão, descalço e sem o terno, brincando com Claire, que não deixava o sorriso desaparecer. Os olhos de seu pai brilhavam de lágrimas e Athena pôde ver que, apesar de tudo, ele se sentia feliz junto da neta. E o que apertou seu coração foi ver, no outro canto, Hera com Pietro no colo, dando-lhe doces.

E, naquele momento, ela entendeu tudo muito claramente. Hera realmente havia deixado Zeus e ele estava sentindo a falta da esposa. Anfitrite conseguira acabar de vez com o casamento que por milênios era sustentado apenas por uma corda bamba. Zeus parecia ter se reencontrado.

 Parece que ele finalmente caiu na real. Ele encontrou seu coração, a sensibilidade, o amor. Mas foi tarde demais, do mesmo jeito. Eu não culpo Hera por querer se afastar, ela tem o direito depois de tudo pelo que passou.

- Você está bem? – perguntou uma voz conhecida à suas costas. A deusa se virou, sorrindo tristemente.

- Ariana, que surpresa te ver por aqui – ela abraçou a amiga, suspirando.

- O que houve?

- Nada de mais. Eu... Não sei – ela franziu os lábios, lembrando-se de uma pessoa em especial de quem sentia falta. – Queria que minha mãe estivesse aqui.

Ariana sorriu compreensiva.

- Você sabe que ela está querida, em pensamento. Não consegue senti-la? – Athena suspirou, lembrando-se de quando contara a verdade sobre a mãe para Ariana. - Querendo ou não sua mãe ainda não se recuperou completamente. Consegue entender isso?

Athena sorriu, com os olhos marejados.

- Claro.

A deusa suspirou.

- Então, como vão as crianças?

- Ah! Você não vai acreditar no que Claire fez ontem...

---

Athena estava sozinha na sacada do quarto de seu templo. Já eram quase onze horas da noite e a deusa havia optado por descansar. Deixara Pietro e Claire brincando, viera tomar seu banho e espairecer.

Havia conversado com inúmeras pessoas e se sentia quebrada. Sua conclusão era que, em pouco tempo, conseguiria voltar a freqüentar o Olimpo como deusa da sabedoria. Ela só não tinha certeza se voltaria a falar com o pai tão cedo. Isso precisaria de tempo.

- Athena? – a voz rouca de Poseidon ecoou pelo quarto. Ela sentiu as mãos do marido segundos depois. – O que foi? Saiu de lá tão rápido que pensei que estivesse passando mal.

A deusa suspirou, sentindo uma brisa fraca afastar seus cabelos.

- Só estou cansada. Aconteceram tantas coisas hoje.

- Deméter está desesperada não é? – ele riu.

- Está.

Poseidon a abraçou por trás, fechando os olhos.

- Afrodite trouxe as crianças. Já estão dormindo.

Athena assentiu.

- Querida? – sussurrou ele, não querendo estragar o momento. – Você sabe que eu nunca faria o que Deméter acha que Hades vai fazer, não é? Isso é coisa de Zeus. Você não está preocupada, não é?

A deusa sorriu com o desespero do marido.

- Poseidon? – ela sussurrou. – Eu amo você.

E aquilo dissiparia todas as suas dúvidas. O deus sorriu, sentindo o corpo formigar.

- Quando você dormiu, sabe... Depois que discutiu com... Bem, você sabe. Foi traumático. Bom...

- O que foi?

- Você... disse que me amava. Enquanto dormia. Aquilo me fez o homem mais feliz do mundo.

Mesmo no escuro, Athena sabia que suas bochechas estavam vermelhas.

- Por que nunca me disse isso? – perguntou ela, sentindo um ressentimento repentino.

- Me desculpe se isso te magoou querida. Mas eu só... Eu só queria dizer isso primeiro, para que você soubesse que era verdadeiro o que eu sentia.

Athena suspirou, sentindo um calor confortável subir pelo corpo. Ela se virou sorrindo, com os olhos marejados.

- Eu amo você Poseidon. Ouviu? E nada me fará mudar isso.

Poseidon sorriu, beijando-a. Tentando transmitir todo o amor, a alegria e a satisfação que sentia no momento e que vinha sentindo desde que ela o aceitara. Não havia como colocar tudo aquilo em palavras, de qualquer jeito.


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