Férias Frustradas escrita por Nunah


Capítulo 50
49 - o fim de um pesadelo


Notas iniciais do capítulo

Foi impossível não escrever isso ouvindo Bloody Mary.



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- Você é mesmo um idiota Poseidon!

- Cale a boca Anfitrite. Ah, como eu posso ter me casado com você?! Deuses!

- Como? Eu vou te dizer como! Você estava desesperado por uma rainha e quando me viu, caiu de amores! Afinal, você cai de amores por qualquer vadia que passa pela sua frente!

- Deve ter sido isso mesmo! Você é uma vadia não é? Nada mais do que o normal! Eu tenho pena de você.

[...]

- Deuses! Anfitrite, não faça uma besteira!

Athena encarou Sebastian e depois olhou para Ariana, que estava um pouco acordada, mas parecia perdida.

Há alguns minutos eles ouviram barulhos desastrosos, e logo depois Poseidon e Anfitrite estavam discutindo a plenos pulmões para quem quisesse ouvir. Então, a voz de Valentino se sobressaiu por entre as outras, que gritavam coisas como “Saia daqui, mulher!” ou “Faça algo, Poseidon!”.

E agora parecia que as coisas estavam piorando a cada minuto.

- Vá – Sebastian disse desesperado, indicando a porta com a cabeça. – Eu cuido dela.

Athena respirou fundo e se levantou, correndo até a porta. O corredor estava lotado, com pessoas correndo de um lado para o outro e com semblantes desesperados. Confusão; era nisso que se resumia o que acontecia naquele momento no palácio, dentro e fora dele.

- Só pode ser brincadeira – murmurou a deusa, amaldiçoando mentalmente cada ser que pisava no seu pé e lhe empurrava para trás. Ela andava seguindo as vozes, mas não tinha certeza se chegaria a tempo.

---

A visão que Athena teve quando chegou ao saguão do palácio foi o suficiente para fazê-la parar e pensar no que faria.

Poseidon estava de um lado, com vários cortes, segurando firmemente seu tridente com a mão direita e uma cara nada amigável.

Anfitrite estava no lugar oposto, bem na sua frente, com sua armadura verde costumeira, havia fúria em seus olhos, de sua boca saíam blasfêmias que faria Hera surtar.

Entre eles tinha uma distância considerável, mas se não fosse por Valentino ao lado de Poseidon, os dois com certeza já teriam se atacado.

- Santo Zeus – murmurou a deusa, sentindo a bochecha arder com um corte que ganhara.

- O que foi Poseidon? Não é homem o suficiente para defender seu palácio? – debochou Anfitrite, sorrindo de canto.

- É justamente porque sou homem que ainda não te matei, vadia.

Os olhos de Poseidon se escureceram ainda mais, cintilando. Os nós dos dedos ficaram brancos quando ele apertou seu tridente. Valentino segurou seu ombro, sussurrando algo. O deus pareceu relaxar.

- E você Valentino? O que houve? Perder sua mulher foi muito para você? Ou está abalado assim por que não tem coragem de vir até aqui? – Anfitrite continuou com suas provocações, mas, sabendo do plano dela, os outros continuavam imóveis, parecendo esperar por um milagre.

Athena engoliu em seco, teria de fazer algo. Decidida e não se importando com o olhar de “Filha de uma puta, quem você pensa que é?” que Anfitrite lhe mandou quando ela caminhou na direção de Poseidon, chamando a atenção de todos, Athena começava a traçar um plano de ataque contra Anfitrite; se ela conseguisse, talvez pudesse salvar toda uma nação.

- Você está bem? – sussurrou ela, chegando mais perto. Poseidon cerrou os dentes, furioso.

- Anfitrite não vai sair viva daqui Athena – disse ele, seus olhos faiscavam. Valentino a olhou apreensivo.

- Poseidon, por favor, não aja por impulso, está bem? Faça as coisas direito – disse ele.

- Eu só quero acabar com ela, mais nada – o deus trincou os dentes, encarando Athena.

A deusa semicerrou os olhos, pensativa.

- Poseidon, você já...? – sua frase se dissipou quando ele a encarou com mais intensidade, os músculos relaxando por um instante. Mas quem lhe respondeu foi Valentino, assentindo.

Athena sorriu maquiavelicamente. Depois de tantas provocações ela poderia se vingar. Afinal, ela não era mais a deusa certinha que age sempre guiada pela ética. Era apenas vingança que ela queria.

- Certo. Você está machucado e não poderá fazer muito se perder a cabeça. Deixe-me ir no seu lugar Poseidon – a deusa segurou seu braço, olhando-o fixamente. Nada poderia deixá-la mais feliz do que destruir aquela mulher.

O deus mordeu o lábio, repassando suas alternativas. Ele poderia negar, deixá-la a salvo, lutar contra Anfitrite e estar sujeito a perder devido aos ferimentos ou poderia deixar o orgulho para trás, ceder seu lugar para Athena, deixá-la arriscar a vida por ele e pelo reino e provar ser uma verdadeira rainha, mas isso o deixaria aflito.

- Athena, não posso deixar você se arriscar desse jeito...

- Eu não vou permitir que você lute com tantos ferimentos – disse ela firmemente. Oh sim, agora ele se lembrava do quão teimosa a deusa poderia ser.

- Athena...

- Poseidon! Pare de enrolar, estou falando sério.

Athena o encarou suplicante, com os olhos marejados.

- Eu não vou agüentar vê-la fazendo com que você... – uma lágrima solitária desceu por sua face. Aquilo pareceu derreter o coração de Poseidon. Ele suspirou.

- Tudo bem. Mas me prometa que não vai deixá-la ir muito longe.

- Aah! – Athena revirou os olhos. Sua mão, porém, havia se enroscado com a de Poseidon, como uma pequena despedida.

---

A deusa suspirou, prendendo o cabelo em um rabo. Ela apertou ainda mais as cordas que prendiam sua roupa no lugar, junto com placas metálicas imitando uma armadura, só que bem mais leves. Sua adaga ainda estava escondida na bota, havia uma espada pendendo de sua cintura e ela tinha dispensado sua lança.

Ela caminhou, com a mão apoiada no cabo da espada, até o centro do saguão. Todos a olhavam, sempre com aqueles murmúrios “Quem é essa?”, “Não pode ser ela!” e “Uma verdadeira rainha...”.

Anfitrite a olhava incrédula, pasma, como se alguém tivesse lhe dado um tapa na cara.

- O que você quer, bastarda? – perguntou-lhe ela.

Oh não. Athena não seria provocada. Não daquela maneira.

- O que foi? – Anfitrite sorriu. – Não gostou do apelido? Ah, mas é o que você é, certo? Você e todos aqueles outros... Tão ingênuos. Não sei como consegue ter orgulho do pai – ela riu. – E ainda vem se refugiar justo aqui, onde seu maior inimigo está? Realmente, o cargo de deusa da sabedoria não era pra ser seu...

- Você é um desastre Anfitrite – Athena riu com os nervos à flor da pele. – Se acha tão esperta... Mas no fundo você não é nada. Apenas mais uma traidora que só pensa em diversão e destruição. Você não sabe nem o que é ingenuidade, afinal você nunca poderia ter tido, não é? Tão fria...

Athena sentia tanta repugnância pela outra mulher que mal conseguia expressar.

Depois daquelas palavras, Anfitrite desembainhou a espada de metal esverdeado, furiosa. Athena, explodindo de felicidade por dentro, empunhou a própria arma de bronze celestial, pronta para o que estava por vir.

- Você vai se arrepender de ter nascido, garota – sussurrou Anfitrite, com os olhos faiscando.

Athena sorriu friamente, debochando da outra e fazendo sua raiva crescer consideravelmente.

Anfitrite, provavelmente desequilibrada e louca para acabar logo com aquilo, saiu correndo e saltou sobre a deusa, tentando acertá-la diretamente no peito. Athena, com sua experiência estratégica milenar, desviou sem sofrer nenhum arranhão.

---

- Aquelas duas nunca vão parar – murmurou Poseidon nervosamente. – Isso vai acabar em morte.

- Ué, e não é isso que você quer? – perguntou Valentino, fazendo uma careta quando Anfitrite conseguiu fazer um corte no braço de Athena.

- Quero Anfitrite sofrendo, não Athena morta – murmurou ele, distraído. – Não posso perder minha rainha novamente afinal.

Naquele momento, a espada de bronze celestial – a que Athena empunhava – fez um corte que ia desde a orelha de Anfitrite até sua clavícula, fazendo-a perder sangue e ar.

Athena arfou, afastando-se alguns passos. Anfitrite se apoiou em uma das colunas de mármore, com a mão livre sobre o ferimento. Ela não entendia, nem a água estava o curando, por quê?

Anfitrite franziu o cenho, imersa nos próprios pensamentos. Mas, aquilo não seria um empecilho. Ela tinha que vencer a outra, a qualquer custo. Era uma questão de honra.

Athena suspirou, novamente com a arma erguida, vendo Anfitrite se aproximar com passos lentos e cansados. A deusa a observou. Tirando o ferimento que tinha acabado de fazer, a outra ainda tinha cortes nos braços, unhas quebradas e filetes se sangue escorrendo pela face. Athena sabia bem que ela estava tentando esconder a dor e o medo, mas o ferimento na parte posterior da coxa não a deixava.

Apenas mais um golpe e tudo pode ter acabado, calculou Athena.

- Você é uma deusa sem coração – sussurrou Anfitrite, tossindo sangue.

- As coisas não são bem assim, querida – disse Athena, em voz baixa.

Anfitrite engoliu em seco e, pensando que iria pegar a outra de surpresa, levantou rapidamente a espada. Athena reagiu e antes mesmo de alguém conseguir piscar os olhos, ela já tinha desviado o ataque, jogado a outra arma longe, atingido o rosto de Anfitrite e, bem lentamente, atravessado a outra com a espada.

Anfitrite congelou, com a boca entreaberta e os olhos marejados, ela sentiu a lâmina cortando-a de um lado a outro. Athena, que quando queria era um ser sem escrúpulos assim como o pai, forçou até o final, ficando corpo a corpo com a outra.

- Você nunca conseguirá fazê-lo feliz – balbuciou Anfitrite.

- Não acredite que, só porque você não conseguiu, eu também tenho que ir pelo mesmo caminho – murmurou Athena, girando a lâmina, forçando-a a deixar lágrimas escaparem.

A deusa puxou a espada com força, o que fez a outra curvar-se sobre o próprio corpo e urrar de dor.

As duas pareciam estar dentro de uma atmosfera particular, de onde não poderiam sair. O clima parecia mais pesado e tenso, com todos as observando atentamente, sem nenhuma palavra.

Anfitrite aos poucos foi tombando no chão, cedendo ao próprio destino. O pesadelo, enfim, tinha acabado.


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