Férias Frustradas escrita por Nunah


Capítulo 38
37 - explicações e acidentes




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A deusa se aninhou no peito de Poseidon, instintivamente. Claro que ainda não tinha entendido o que havia acontecido, ainda estava completamente confusa – ou nem tanto.

Ele a abraçou, e a deixou se deitar.

- Bom... Por onde começar?... – ele sussurrou para o nada, sem esperar por alguma resposta.

- Talvez possa explicar porque ela me perguntou se pretendíamos ter filhos, hm? – Athena murmurou distraidamente, desenhando círculos com as pontas dos dedos no abdome de Poseidon, por cima da camisa.

Ele riu baixinho, fechando os olhos. Não era impressão - apesar de saber que ela ainda pensaria muito sobre o que aconteceu e de que ele estava sujeito a ser rejeitado - eles estavam bem.

- Bem. Primeiro tenho que te dizer aonde os conheci, o que não é grande coisa. Um dia, eu estava andando no mundo mortal, sabe? Eu não tinha nada para fazer, então o conheci. Ele já era casado com Ariana. Eles pareciam ser ótimas pessoas, tinham bons corações mesmo, e estavam completamente apaixonados. Nós conversamos e acabamos ficando amigos e-

- Você descobriu que ele era alguém do Olimpo? – ela o interrompeu, com os olhos brilhando. Adorava ouvir histórias, principalmente as verdadeiras. – Ou o transformou?

O deus riu novamente, lembrando-se de como Athena ficava empolgada quando eles andavam na areia da praia, porque sabia que se ela pedisse, ele contaria qualquer aventura sua.

- Eu o transformei em um deus menor depois de ficarmos amigos por dois motivos. Primeiro não é todo dia que vemos pessoas com corações tão puros, até mesmo para imortais. E segundo, mesmo sendo mortal na época, Valentino foi um dos poucos que realmente ganhou minha amizade. E claro, eu não poderia deixá-lo sem Ariana, seria maldade.

Athena franziu os lábios. Era uma história de amor, por um lado. Não de Poseidon e Valentino, claro que não! Mas... Ariana. Eles se amavam. Ela e o marido. Era uma coisa tão bonita de se ouvir, a história deles. Apesar de com certeza não ser a ‘história de amor deles’, bem, mas ainda assim é bonita.

- Isso foi muito legal, Poseidon – disse ela, com o cenho franzido. Como pensara anteriormente, Poseidon não era uma má pessoa, e esse era seu medo. A verdade era que a deusa cometera o erro de vê-lo como um ser irracional e totalmente infantil. E agora, ela estava pagando por isso, tendo de admitir que a errada na história era ela, por todo o tempo. – Verdade. E o que aconteceu depois?

Aquelas palavras fizeram o ego do deus inflar ainda mais.

- Como seria meio estranho os dois conviverem aqui comigo, eu cedi uma parte do meu reino para eles, porque sabia que estaria em boas mãos e qualquer coisa eu poderia pedir conselhos ou outros tipos de favores... Ele saberia o que fazer, entende? Bem, não seria a primeira vez que eu transformaria um mortal... Kate e Sebastian... Eles-

- Eu sei. E você realmente sabe ver quem tem coração puro. Eles são extraordinários, Poseidon, sério. Isso deve ser um dom sabe... Poder ver a natureza das pessoas. Você tem sorte.

O deus percebeu que sua voz estava rouca e fraquinha, e seus olhos quase se fechando. Era tão ruim vê-la assim, lutando contra o sono.

- Athena, você está dormindo direito? Sabe, aqui não é o Olimpo, você pode não se acostumar... Quer se deitar?...

A deusa se remexeu, lutando contra a vontade de dormir.

- Não. Não, eu estou bem... A história já terminou? – disse ela, levantando os olhos. Poseidon sorriu.

- Quase.

Athena suspirou e se aconchegou um pouco mais perto dele, ignorando sua consciência que dizia para a deusa lutar completamente contra suas estranhas vontades.

- Então, vamos lá, continue. Prometo que não vou cair no sono – ela sussurrou, fechando os olhos.

- Athena, você está com sono, não fique assim por minha causa, posso te contar tudo depois.

Instantaneamente, os dedos finos da deusa se fecharam em volta de seu braço forte.

 - Nem pensar, agora. Fale agora – depois de alguns segundos, vendo que ele não disse nada, ela relaxou a mão. – Por favor, Poseidon, já esconderam coisas de mim antes e...

O deus suspirou.

- Tudo bem, eu entendo. Você quer saber o porquê de eles estarem aqui, não é? – ela assentiu. – Bem. Apesar de parecer uma brincadeira, eu nunca fui muito de falar da minha vida pessoal – ela riu, mas logo se calou ao lembrar-se do quão cafajeste ele era com as mulheres, várias mulheres. – E nunca contei sobre Anfitrite. Além das pessoas daqui e do Olimpo, ninguém mais sabia sobre a guerra, apesar de Valentino tomar conta de grande parte do meu reino no Oriente.

Ela arqueou as sobrancelhas, pensativa. Por que eles estariam ali se não tinha nada a ver com a guerra?

- Então...?

Ele se empertigou, incomodado.

- Aí é que está a pior parte. Parte das pessoas que ele governa se rebelaram e começaram a querer ser uma parcela livre, com seu próprio governante. Eles queriam cortar relações com Atlântida. Isso já vinha acontecendo há algum tempo, claro, mas eu não podia deixar o reino, então, há alguns dias, tentaram assassiná-lo, e Valentino achou melhor vir direto para cá e me avisar pessoalmente da situação... Só que... Bem, Ariana sempre foi bastante feminista e já deixou bem claro que se eu ou o reino não estivéssemos dentro dos padrões, ela começaria a apoiar o movimento de independência. Resumindo, eu estou na mão deles.

A deusa engoliu em seco. Então fora por aquilo que ele a apresentou como esposa. Ninguém sabia da existência de Anfitrite e, devido aos princípios feministas de Ariana, Poseidon precisaria de uma mulher ao seu lado para governar.

Esse foi o motivo de tantas perguntas... Droga. Será que eu fiz mal? Será que Ariana não me achou boa o bastante? Se Poseidon perder o apoio daqueles dois a culpa será exclusivamente minha e eu não vou me perdoar por isso!

- Mas e a guerra? Não contou a eles que é uma hora ruim? Talvez se eles aceitassem negociar depois você teria mais tempo para estabilizar o reino novamente... E encontrar uma esposa de verdade.

Poseidon percorreu distraidamente o braço de Athena com os dedos, fazendo-a se arrepiar. Parecia pensativo.

- Se eu falasse de Anfitrite agora poderia acabar com tudo. Não, eu apenas disse que um velho inimigo meu resolveu ressurgir das cinzas. Valentino está travando a própria guerra, Ariana parece que não vai declarar sua posição tão cedo... Estou sozinho, Athena. É isso o que um rei deve fazer; lidar com seus mais diversos e distintos problemas sem se afetar. Acredito que, se eu conseguir esse feito, possa ganhar a confiança dos outros, e só aí poderei declarar paz novamente.

Ele afagou sua cabeça. Era reconfortante ficar ali, em seu porto seguro. Pelo menos no meio de tanta confusão e batalhas, ele tinha um.

- Você não está sozinho, Poseidon – sussurrou ela, apoiando a cabeça em seu ombro e se direcionando inocentemente ao seu ouvido. – Você tem a mim... Sebastian, Kate... Você não está sozinho. Eu lhe sou grata por tudo o que você fez e está fazendo por mim. O único jeito de retribuir é ajudando... Nessa hora de dor e... Desespero. Poseidon, eu vou te ajudar no que eu puder, até mesmo... – a deusa fechou os olhos. – Até mesmo se isso significar fingir ser sua esposa.

O deus se virou para ela, sorrindo com lágrimas nos olhos. Athena sorriu, inclinando a cabeça para o lado.

- O que foi? – perguntou ela.

- Obrigado. Por tudo, Athena. Quem diria que um dia minha esposa viraria minha inimiga e minha inimiga viraria minha esposa, não é?

- Hmmm. Acho que Afrodite diria.

Ele riu, fazendo aparecer ruguinhas em volta dos olhos. Ele é tão bonito e... Carinhoso. Por que sempre brigamos?

- É. Ela diria mesmo, como pude esquecê-la?

- Ei, e como está indo a guerra?

- O mesmo. Ganhei mais alguns cortes, mas nada de mais. Vou tentar capturar Dóris* essa noite, mas não sei se vai dar certo, não posso abandonar os soldados no meio da batalha.

- Sei. Isso é bom, sabe. Tenho certeza que você vai conseguir. Sempre consegue.

Poseidon sorriu, passando o dedo em sua bochecha, descendo para os lábios, o queixo e o pescoço.

A deusa desviou o olhar, corando.

- Sabia que... Você fica linda desse jeito? – ele perguntou, aproximando-se.

- Hm? – disse ela, olhando-o novamente.

- Não que você não seja linda, você é linda, muito linda, mas... – quando ele percebeu o que falara, já era tarde demais. Athena estava ainda mais vermelha. – Mas fica ainda mais linda assim.

- Poseidon.

- Ahm. Me desculpe, eu não deveria ter feito isso, sério, me desculpe – ele disse, começando a se afastar.

- Não! – Athena exclamou, segurando-o. – Por favor, eu-

Mas não deu tempo de terminar, porque ele a interrompeu – o que já estava se tornando um hábito. Não, oh não, Poseidon não a beijou, claro que não, isso seria abusar da sorte. Ele apenas mordeu o nariz da deusa como costumava fazer antigamente e saiu correndo.

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Depois de a deusa acordar do transe, ela saiu correndo atrás dele, claro. Não iria deixar aquilo barato. Mas, graças à Afrodite, aquele salto enroscou no pé de uma das estantes, fazendo-a tropeçar e cair.

Ou melhor, quase cair.

Porque, no último instante, Poseidon apareceu e a segurou, levantando-a e a segurando no colo.

Acabaram por rir um da cara do outro quando se encararam.

- Aah, deuses! Obrigada, iria ser um tombo feio – ela disse, enlaçando os braços em volta do pescoço do deus.

- Feio?! Seria muito feio, isso sim! Imagina só... Mas iria ser muito engraçado também, é.

- É... Ei! Se eu caísse você iria rir de mim?! – ela perguntou, fazendo-se de ofendida, mas logo depois sorrindo. – Ah, tudo bem, se você caísse, eu também riria.

Ele não respondeu, pulando no sofá sem soltá-la, fazendo-a gritar e depois rir novamente.

- Nós vamos acabar nos matando desse jeito, Poseidon! – ela sorriu, passando a mão pelos cabelos dele.

Athena estava deitada no sofá, virada um pouco para o lado. Seus cabelos estavam espalhados e a saia do vestido havia subido novamente. O deus havia se ajoelhado ao seu lado, um pouco deitado também, sem querer repousando a mão na perna dela.

- Ai, ai – suspirou ela, parando de rir subitamente e o encarando, como acontece na maioria das vezes depois que as pessoas têm ataques de riso.

- É.

- Poseidon?

- O que? – ele perguntou, tirando sua mão rapidamente dali.

- Por que você me beijou? – perguntou ela, franzindo os lábios, apoiando-se nos cotovelos e fazendo seus cabelos caírem para o lado, deixando seu colo à mostra.

- Não seria mais certo perguntar por que nós nos beijamos? – ela corou. – Sim, porque eu te beijei e você não pediu para eu parar.

A deusa engoliu em seco.

- Aah, mas...

- Por que quer saber isso? – perguntou ele, subitamente interessado no assunto, passando uma perna do outro lado do corpo da deusa e se aproximando.

- Aah, e-eu só... Só perguntei porque... Bom, porque... – Athena encarou os lábios do deus tão perto e suspirou. – Porque nós somos inimigos. Não somos?

- Inimigos não se beijam, Athena. Ou melhor, sim, até inimigos podem se beijar se não deixarem isso interferir em nada – ele murmurou, mordendo o lábio e chegando mais perto.

- Então, eu sou só mais uma pra você? – ela perguntou, com a voz fraquinha.

Ela realmente se importa com isso? Ok. Um ponto pra Poseidon!

- Você nunca vai ser só mais uma pra mim – dizendo isso, ele a beijou pela segunda vez naquele dia. E ela retribuiu.

Ao contrário de antes, aquele beijo foi muito mais turbulento.

Não era sua culpa ter deixado o vestido subir acidentalmente quando caiu no sofá. Não era sua culpa Poseidon ter mãos experientes e lábios que fariam qualquer uma subir pelas paredes.

E também, não era culpa do deus Athena ser inocentemente sexy e delicada. Nem de ter um corpo escultural ou de conseguir excitá-lo com o menor dos movimentos, ou até de ter uma cintura aonde suas mãos se encaixavam perfeitamente.

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*Dóris: Segundo as minhas fontes, esse era o nome da mãe de Anfitrite, certo?


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