Férias Frustradas escrita por Nunah


Capítulo 36
35 - duque e duquesa


Notas iniciais do capítulo

Se ficou ruim, não me culpem porque... Bem, me culpem sim. Eu tinha feito um capítulo perfeitamente perfeito e cliquei no lugar errado na hora de fechar. Conclusão: Eu acabei não salvando, só fiquei com a parte inicial... Bom, o capítulo ficou maior do que estava antes, apesar de eu ainda achar que o outro estava melhor :s Tá, tá, estou enchendo o saco.



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A deusa saiu do banheiro enxugando o cabelo – ou pelo menos tentando.

Abriu a porta de seu guarda-roupa, indecisa. Ela estava em um daqueles dias quando não sabia o que colocar. Athena sempre usava roupas simples, recatadas e discretas, mas às vezes batia a vontade de colocar algo diferente.

E pelo jeito ela estava em uma daquelas vezes.

Suspirando, ela se rendeu, pegando um vestido tomara-que-caia. O corpete era branco de cetim, com um laço lateral da mesma cor, e uma saia rodada, florida, que ia até um palmo acima do joelho.

Depois de se vestir, a deusa prendeu uma parte do cabelo com uma flor vermelha e colocou um salto Jimmy Choo de 15 centímetros de tule francês, brilhantes, esmeraldas e com um fecho zíper banhado a ouro.

É, ela e Afrodite estavam convivendo por tempo demais.

Athena respirou fundo, olhando seu reflexo no espelho que tomava duas portas inteiras do guarda-roupa, e resolveu fazer um pouco mais do que estava acostumada.

Mesmo não sabendo o que tinha dado nela, a deusa pegou o estojo de maquiagem intocado e passou lápis e sombra pretos, e um batom vermelho.

Sinto como se estivesse brincando de boneca, e isso não é normal. Não mesmo.

Ela abriu a porta do quarto mordendo o lábio, com medo do que os outros poderiam pensar. Sebastian com certeza ia reparar, pelo que a deusa podia se lembrar da personalidade nada discreta do homem. E Kate... Bem, ela poderia falar algo, mas não seria tão espalhafatosa como ele.

Poseidon... Ah. Ela não queria nem se lembrar de que ele existia.

Depois de dar alguns passos, brincando distraidamente com a ponta das unhas – que, diga-se de passagem, também estavam vermelhas -, a deusa ouviu alguém a chamando.

Não era uma voz conhecida, não. Era musical e lembrava uma pessoa feliz, que costumava sorrir e quase nunca se alterava. Lembrava Afrodite, mas estava longe de ser a própria.

Athena parou no meio do corredor, virando-se assustada. Por que uma estranha se daria ao trabalho de sair disparada atrás dela?

Uma mulher se aproximou, arfando de um jeito que lhe revelava que havia percorrido grande distância, na verdade, parecia ter corrido grande distância.

Ela apoiou as mãos nos joelhos por um momento, suficiente para Athena reparar nos seus cabelos repicados vermelhos que mudavam de tonalidade conforme a cor e iam até sua cintura, sua pele morena clara e seus olhos que pareciam mudar constantemente de um azul vívido para o roxo.

Ela usava botas sem salto por cima da calça de montaria e uma regata azul petróleo, sobreposta por uma camisa branca de botões aberta, um pouco grande para sua silhueta.

Sua face tinha pouca maquiagem, o bastante para realçar suas feições. Suas unhas compridas estavam pintadas de rosa clarinho.

Ela lhe lembrava uma mulher do campo que costumava andar bastante a cavalo. Mas, na maioria das vezes, a aparência engana.

Nesse caso, talvez não engane tanto. Talvez.

- Aah, oi – a mulher disse, sorrindo, apressando-se em abraçar a deusa, que continuava paralisada no meio do corredor.

- Ahm... Quem é você? – Athena murmurou, com medo de parecer mal-educada. Não que ela estivesse fula da vida porque a mulher praticamente pulou nela, mas digamos que sua mente tinha ficado um pouco lenta por não reconhecer alguém que tinha lhe abraçado.

Eu a conheço?... Ou melhor, eu deveria reconhecê-la?

- Nossa, me desculpe mesmo! Eu deveria ter me apresentado antes! – a mulher sorriu mais ainda, confirmando o que Athena tinha pensado sobre ela. – Meu nome é Ariana*.

Santo Zeus, como eu posso não lembrar dessa mulher? Ela me chama, me abraça, se apresenta e eu ainda não sei quem é ela direito. Eu juro por mim mesma que nunca a vi na vida... Isso é possível? Uma deusa milenar não conhecer alguém?

- Eu... Ahm... Sou Athena, mas você já sabe disso, não é? – a deusa engoliu em seco, temendo. Quem era ela e por que tinha vindo até ali? Seria apenas para falar um ‘oi’?

- Ah, é, eu já sei disso mesmo – a mulher riu, começando a andar na mesma direção que Athena estava indo anteriormente. – Kate disse que você deveria estar indo tomar café e eu resolvi meio que te escoltar até lá, sabe, para fazer companhia. Ela disse que você parece se sentir sozinha aqui.

- Bom – Athena comentou, andando ao seu lado. – Na verdade acho que não tenho muito tempo para me sentir sozinha... Quando eu não estou dormindo, ou nas refeições, ou até conversando com Poseidon – ela estremeceu só de dizer o nome. -, fico na biblioteca.

- Hmmm, Poseidon... Você passa muito tempo com ele? – ela perguntou, sorrindo. Athena sentiu suas bochechas queimarem.

- C-como assim? Eu o ajudo a planejar as batalhas... Sabe...

Ariana parou, com as mãos na cintura, prendendo o riso.

- Você entendeu o que eu quis dizer!

Athena engoliu em seco, continuando a andar. Ela sabia muito bem sobre o que a outra estava perguntando e não estava com nenhum pouco de vontade de entrar naquele assunto.

Pode não ser Afrodite, mas tem uma personalidade idêntica à dela.

- Aah, vamos lá! Você não vai me contar nada? Nadinha mesmo?

A deusa fez algo que se pareceu um ‘umm-hm’, balançando a cabeça, não conseguindo proferir nada. Ela estava em choque e tinha medo de engasgar se abrisse a boca.

Ainda não estava certa quanto àquela mulher, apesar de ela parecer uma boa pessoa – e uma boa amiga. Ariana é o tipo que não te deixa ficar pra baixo e não tem medo de falar o que pensa, o que a deixava amedrontada, sendo que a deusa conviveu bastante com Afrodite para aprender a ficar de boca fechada em certas situações.

Afinal, aquela mulher ainda era uma estranha para ela, no fim das contas.

Céus... Será que é alguma pegadinha?

---

Após cumprimentarem os outros, as duas se sentaram à mesa, lado a lado, enquanto Kate colocava mais algumas coisas sobre ela, com um sorriso pequeno.

- Eles estão na biblioteca, não quiseram sair para tomar café – sussurrou a mulher, de modo que só Athena pudesse ouvi-la.

- Eles? – perguntou a deusa, confusa pela mulher ter usado o plural. Quem poderia ser o outro homem?

Kate apenas assentiu levemente, não querendo chamar a atenção dos outros dois.

- Lorde Poseidon pediu para os guardas colocarem Anfitrite para fora antes de chegar, para não incomodá-la mais.

A deusa refletiu um pouco sobre aquilo. Poseidon se preocupando com ela?... Suspeito.

Talvez seja só por causa de Ariana. Provavelmente está tentando causar uma boa impressão.

Athena continuou com a mente longe, ainda quebrando a cabeça para tentar descobrir o companheiro de Poseidon na biblioteca, enquanto pegava bolinhos recheados.

- A senhorita está muito bonita, milady. Deveria se vestir assim por mais vezes – Sebastian disse, distraído, trazendo torradas para o próprio prato e as melecando com algum tipo de geléia de coloração rosada, puxada para o laranja, provavelmente uma comida específica de Atlântida.

- Ele está certo, querida – disse Kate, inclinando a cabeça.

- Aah. Obrigada.

A deusa voltou seu foco para o prato, envergonhada, como sempre ficava quando elogiavam a sua aparência. Ela não estava acostumada, afinal nunca reparavam nisso. Nem mesmo ela ligava muito. Por sempre mexer mais com a administração, sempre estar ligada mais à parte executiva, nunca via motivo para ser um ícone de beleza – como Afrodite.

- Então Athena... Você gosta daqui? – perguntou Ariana, pegando-a de surpresa.

- Hm... C-claro. Aqui é muito mais bonito e relaxante do que no Olimpo... Mas em tempos de guerra como esse, muda bastante... E não dá muito tempo de aproveitar.

A deusa engoliu em seco, procurando comer e manter a boca ocupada à responder as perguntas da outra. Por que será que ela quer saber isso?

- Pretende ficar até quando?

Aquela pergunta fez várias lembranças desagradáveis voltarem à mente de Athena. Ela ainda não se sentia à vontade para falar daquele assunto. Era... Estranho. Sim, ela não se acostumara muito.

Por que será que ela está fazendo essas perguntas? Tem alguma coisa aí. Alguém está escondendo algo... Droga, por que todo mundo adora me deixar sem saber do que parece importante?... Olhe a confusão que deu da última vez que resolveram me deixar no escuro! Agora eu estou aqui, confinada! Sem ter pra onde ir...

- Bem... Zeus não me quer no Olimpo. Então, eu não tenho muitas opções, certo?... – a deusa disse, com um meio sorriso. Ela se sentia irônica. Sabia que estava descontando sua raiva pouco a pouco em pessoas que não mereciam, mas... É aquilo com certeza era mais forte que ela.

Tentava ao máximo conter as lágrimas que queriam cair.

Aquela resposta fora a melhor que conseguira arranjar. Não precisava sofrer enquanto descrevia sua briga com seu pai... Isso é algo particular. Ela não precisa saber da minha vida toda em detalhes. Do mesmo modo, ela não precisaria ficar dando explicações sobre algo de que não gostava nem de lembrar.

- Sei.

Poseidon ainda vai ter muito o que me explicar... E em detalhes!

Kate passou os olhos de Ariana para Athena e voltou-se para Ariana. Seu corpo estava rígido e ela retorcia as mãos nervosamente, provavelmente com medo de que a primeira fizesse Lady Athena se sentir ofendida, ou envergonhada demais.

- E... Você e Poseidon pretendem ter filhos? – Ariana perguntou, um pouco distraída, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Athena tossiu quando acabou se afogando com a água que resolvera tomar para tentar se acalmar. Tudo bem que ela estava ali, numa trégua, Poseidon a estava acolhendo em troca de ajuda... Não é possível. Ela não pode achar mesmo que nós temos algo. Primeiro, pergunta sobre aquilo e agora filhos! O que ela está pensando? Nós não temos nada! Definitivamente nada!

- Oh, esse suco de abacaxi está esplêndido, Kate! Não é mesmo, duquesa? – exclamou Sebastian, tentando dissipar o clima pesado que tinha se estabelecido pela sala. A mulher se sentiu na obrigação de concordar, como toda boa hóspede, perdendo o fio do raciocínio e deixando Athena em paz.

Duquesa? Ora! Que história é essa? Poseidon, Poseidon, nós vamos conversar nem que eu tenha que te colocar na cadeira elétrica... E isso foi sem trocadilhos*!

O resto do café se passou em silêncio. Uma vez ou outra, Sebastian dizia algo para quebrar o gelo, e Kate sorria amigavelmente, exercendo sua função.

No fim, eles não deixavam que a tensão tomasse conta de tudo por muito tempo.

Ariana, também em silêncio, mantinha seus olhos fixados na deusa, que cada vez ficava mais vermelha por causa da atenção excessiva que estava recebendo.

O que é? Eu me sinto uma atração de circo, credo!

---

A deusa se levantou, decidida. Iria até a biblioteca e faria Poseidon se explicar em detalhes para ela, sem esconder nada e dizer o motivo daquilo tudo.

Se tinha uma coisa que Athena não suportava, era ficar no escuro. Principalmente depois do último trauma que tinha sofrido... Primeiro, resolveram não contar nada à ela. Depois, seu pai ficou totalmente fora de si e a colocou Olimpo a fora, praticamente aos pontapés.

Eu não sou dramática, hunf. Isso é verdade, poxa! Ele foi tão... Ah! Nem tem como explicar.

O trauma que ela sofrera fora o mesmo trauma que uma garotinha pequena sofreria se visse os pais brigando – algo aparentemente insignificante ou até normal, mas para ela... Era mais mais do que um simples acontecimento.

Ela não iria mais aturar perguntas como aquelas na sua cabeça, nem Ariana pensando que eles estavam juntos e que teriam filhos... Ah, isso é tão ridículo.

A outra também se levantou, seguindo a deusa de perto, mas sem atormentá-la novamente, deixando-a imersa em seus próprios pensamentos.

Por que será que eles estão aqui? Pela guerra? Para ajudar?... Mas quem em sã consciência se importaria com coisas como aquelas no meio de uma guerra?! Mulher maluca... Argh! O que será que tá acontecendo?

---

Elas entraram na biblioteca e caminharam lentamente pelo espaço iluminado pela claridade pálida da manhã.

As duas pararam à porta da “salinha de Poseidon” e se entreolharam. Ariana parecia estar segurando o riso, com um brilho de diversão no olhar.

Nota mental: Inventar um nome que preste para esse cubículo onde Poseidon se esconde.

Depois de respirar fundo por duas vezes, a deusa colocou a mão sobre a maçaneta gelada e a girou, apreensiva com o que poderia encontrar lá dentro. Então, ela deixou que a porta se abrisse silenciosamente, sem atrair atenções.

E o que ela viu a deixou paralisada.

Não que Athena esperasse um ataque, uma emboscada, armadilha ou algo assim, não. Mas, bem, Poseidon estava apoiado na escrivaninha, rindo, acompanhado de um homem alguns centímetros mais baixo, de olhos negros e penetrantes*.

Assim que perceberam a presença das duas, eles pararam abruptamente e a encararam.

O homem – o de olhos negros e um pouco mais baixo que Poseidon – a analisou por alguns segundos, igualmente parecendo divertido. Ele tinha cabelos castanhos claros e usava roupas simples – uma calça cinza com camisa pólo.

Depois, seus olhos pousaram em Ariana, e ele sorriu mais.

- Estamos atrapalhando? – ela perguntou, caminhando até ele e o abraçando.

- Claro que não. Você nunca atrapalha, querida – disse o homem, passando os braços ao seu redor e beijando sua bochecha.

Querida?... Bem... Se ela é uma duquesa, ele deve ser o duque. Amigo de Poseidon.

Poseidon... Como dizer o que ele sentia? Desde que seus olhos espertos pousaram em Athena, ele havia congelado.

Ela estava tão linda... tão... diferente. Por que ela não se vestia assim sempre? Era muito melhor do que aquelas calças sem graça ou os vestidos longos.

Ele reparou nos seus sapatos altos, com pedrinhas que combinavam com seus olhos... Suas pernas que lhe pareciam incrivelmente sedosas à mostra... O corpete que chamava atenção para a parte de seus seios fartos que aparecia.

A flor vermelha presa nos fios dourados... Definitivamente lhe dava uma vontade de se aproximar, sem mais explicações. Oh sim, e também aquela maquiagem que realçava todos os traços delicados de sua face.

Ela fica muito bonita... Ah! Não. Ela fica linda, maravilhosamente sexy e ao mesmo tempo continua com seu brilho inocente. Como isso é possível?... Como ela pode ser tão atraente?

Poseidon estava ciente da atenção que seu amigo e Ariana atribuíam à eles e teria de fazer algo logo antes que Athena abrisse a boca e dissesse algo que estragaria todos os seus planos.

Então, forçando seu cérebro a voltar a funcionar direito e seu corpo a se mover, ele a puxou pela cintura, colando-a a ele.

Athena engoliu em seco, encarando-o confusa e desconfiada.

Poseidon sorriu, sentindo seu perfume e seu corpo tão perto do seu, e resolveu começar a fazer cena.

- Querida, esse é Valentino*, marido de Ariana, que você já deve ter conhecido. Eles são velhos conhecidos meus.

Ela franziu o cenho, dando um pequeno sorriso.

O deus se voltou para o amigo novamente, sorrindo ainda mais do que antes, de um jeito confiante.

- E essa – disse ele, apertando-a mais fortemente e trazendo-a para mais perto, para dar ênfase ao que falava (e claro, para senti-la perto de si enquanto tinha chance). – É Athena, minha esposa perfeita e rainha de Atlântida.

Valentino se apressou para beijar sua mão levemente, mas nunca desviando seus olhos.

- Ela é exatamente como você a descreveu. Você escolheu bem, meu amigo.

________

*Ariana: Eu amo esse nome. Na verdade, também foi uma homenagem à irmã do Dumbledore; espero que vocês não me matem por isso, sei lá, acho que tô mais viciada em Harry Potter do que o normal.

*trodadilhos: Aah. Eu não sei se deu pra entender, porque eu geralmente invento umas coisas que ninguém percebe de imediato. Então, o trocadilho foi com o fato de eletricidade ser mais a área de Zeus, sabe? E como todos sabem, os dois não tem lá uma relação que se pode chamar de amigável.

*olhos negros e penetrantes: Não, gente, ele não tem nenhuma coisa a ver com Hades, ok? Haha.

*Valentino: Esse cara já teve muitos nomes, verdade. Demorei séculos pra decidir. No fim, eu tinha pensado em Valentin, só que alguns dias atrás minha amiga me colocou pra assistir a primeira temporada de Gossip Girl e tem um episódio em que aparece um Valentino vermelho e tal, aí eu mudei. Então, vocês me perguntam “Mas que droga uma coisa tem a ver com a outra?!” e eu respondo “Cara, sério, eu não faço a mínima idéia!”.


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Notas finais do capítulo

E lá vou eu, voltar com o complexo de preto e vermelho, haha.