Férias Frustradas escrita por Nunah


Capítulo 2
2 - contratos e descobertas


Notas iniciais do capítulo

Tentei fazer um pouco melhor que o outro.



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Athena foi deixada em frente da porta da casa de tarde. Afrodite mandara Apolo levá-la no Carro Sol, então daqui há algum tempo ele já se esconderia no horizonte.

Ela subiu os pequenos lances de escada sem problema, pois suas malas já tinham sido levadas por alguém que ela não tinha a mínima ideia de quem era.

Antes de entrar, Athena observou a casa. Era como nos filmes: Grande, branca, moderna, dois ou três andares (não tinha como saber, essas casas parecem um labirinto), a maior parte era vidro. Ela não se incomodou, aquele lugar era encantado, ninguém a veria. Quando ia colocar a chave prateada na fechadura, algo fez seus músculos travarem.

Ela reconheceria aqueles barulhos em qualquer lugar. Ondas. O barulho das ondas quebrando. De repente aquele cheiro de brisa marinha a atingiu, deixando-a furiosa. Afrodite não falara nada sobre praias. Era pra ser um lugar relaxante. Mas como ela ficaria relaxada numa casa dentro do território inimigo? Será que ele nunca pararia de persegui-la?

Athena fechou os olhos, tentando se acalmar. Ela não poderia voltar atrás agora. Tinha prometido ajudar Hefesto. Aliás, isso era outra coisa que não deixaria ela dormir direito. Era um programa. Pelos deuses, aonde ela estava com a cabeça quando aceitara ficar na frente das câmeras da TV Hefesto? Ah sim, ela estava tentando fazer Afrodite ficar quieta.

E agora que a verdade vinha como um balde de água fria. Aquilo era como se fosse um Big Brother Brasil! Nah... Não se pode participar de um BBB sozinho. Então, quem mais estaria na casa? Afrodite não falara nada sobre outras pessoas, ela pensou, se arrependendo pela segunda vez.

Droga.

Respirando fundo e tentando entrar na batalha de cabeça erguida, Athena girou a maçaneta. A casa era impecável. Não era aristocrata nem antiga como ela gostava. Era moderna. Mas, toda casa tem um defeito. E o defeito que aquela casa moderna tinha era não ser totalmente moderna (não me digam pra traduzir, é a mente complexa de Athena). Não tinha computadores. Nem televisões. Na verdade, só tinha uma TV de LCD enorme da parede enorme daquela sala enorme.

Os sofás eram brancos com enormes bolas coloridas. Tinham puffs felpudos (brancos também, é claro) que davam alergia por toda a casa. A cozinha parecia aquelas de comercial de TV. As escadas, a maior parte das paredes e as janelas eram puro vidro. Athena andou mais um pouco e se surpreendeu. De novo. Ela já deveria esperar aquilo de Afrodite. Havia ainda uma outra parte da casa, que era toda feita de vidro, coisas brancas e espelhos. Espelhos! Pra que servia aquilo? Pra você acordar no meio da madrugada, levantar, lembrar de todos os filmes de terror possíveis e se assustar com o próprio reflexo. Que animador.

Na verdade, era uma casa normal, com coisas normais. A única coisa que não era normal ali era o tamanho e a quantidade de espelhos. Afrodite gostava mesmo de se ver.

No segundo andar tinha tudo o que ela queria: Uma biblioteca enormemente enorme (com uma casa daquelas uma biblioteca não faria nem cosquinha né) recheadas de livros enormementes enormes. O que a fez sorrir. Não seria tão mal. Além da biblioteca também tinha um banheiro enorme (não, jura?) e uma sacada com duas cadeiras de praia (confirmando que ela não seria a única ali) e um frigobar. No terceiro andar tinham duas suítes. As duas tinham portas brancas e a única diferença que ela notou foi que uma tinha a maçaneta dourada e a outra prateada um tanto puxada pro azul.

Adivinha? Ela foi na que tinha a maçaneta dourada.

E decididamente Afrodite só podia ter enlouquecido.

O chão e os móveis eram brancos, e por incrível que pareça, as paredes eram de verdade! A única coisa que ela estranhou ali é que os lençóis de seda, os tapetes felpudos, os puffs (que dessa vez não eram felpudos, eram lisos), as toalhas e mais um monte de objetos pequenos (que serviam como ‘detalhes’) eram de um vermelho sangue. E, ela odiava ter que admitir, era lindo. Mas aquilo parecia um quarto de motel. Ainda mais com aquelas luzes meio fracas e amareladas.

A cama era rústica (o que a surpreendeu) e ficava bem no meio do quarto, escostada na parede, no meio de duas portas que estavam abertas: Banheiro (onde tinha uma banheira redonda e várias velas que deixavam um aroma suave pairando no ar) e closet (onde estavam arrumadas suas roupas mais do que perfeitamente).

Não se importando muito com o resto do mundo, ela foi tomar um banho rápido pra depois ver o que tinha que fazer de fato.

.

.

.

Ele já tinha chegado na casa há muito mais tempo. Não era de enrolar pra fazer as malas. Jogou tudo dentro e foi. E o fato de ser uma casa de praia realmente o deixou surpreso. Poseidon desconfiava que podia ser algum truque só para ele aceitar o convite.

Ele tinha tentado olhar tudo mas achou que nem um século naquela casa o faria descobrir o que tanto tinha lá. Ok, um século não, talvez um ano ou dois.

Dramático? Ele? Imagine.

Poseidon tinha acabado de tomar banho. O quarto dele já era mais normal (sim, ele já tinha ido fuxicar o outro, mas como era mais... hm... feminino, ele resolveu ficar com esse mesmo), tinha uma cama de casal com lençóis azuis, os móveis eram feitos de metal, as paredes eram decoradas com afrescos e desenhos malucos em alto relevo na cor prateada e, assim como no outro quarto, tinha uma sacada. E não tinha nada daquele negócio de coisas felpudas. Então ele achou que aquele quarto era o dele mesmo.

Poseidon saiu no corredor largo e deu de cara com outra porta. A porta do outro quarto. Aquele quarto feminino que o fez pensar ser de uma mulher. As coisas estão começando bem. Quando fechou a porta do próprio quarto, um tridente apareceu esculpido nela, mas como o tonto que ele é, nem se deu ao trabalho de ver se aquilo era um detalhe importante.

Desceu as escadas transparentes percebendo que talvez aquilo teria alguma vantagem. Se uma mulher aparecesse ali, ele poderia olhá-la sem querer querendo.

Ele quase pulou de susto quando uma luzinha vermelha na parede se acendeu sozinha e a TV ligou. Estou vendo muitos filmes de terror...

Poseidon seguiu para a sala onde a TV estava ligada mostrando a imagem de uma Afrodite sorridente e se sentou no sofá.

“Finalmente eu consegui” Ela disse, sorrindo mais ainda.

Então, ele ouviu passos e realmente pensou estar ficando louco com tantos filmes de terror mas na hora que se virou, seu queixo caiu.

- O que você está fazendo aqui? – Athena perguntou paralisando no lugar ao mesmo tempo em que sua mente trabalhava a 100km/segundo considerando uma possibilidade nada animadora. Duas cadeiras de praia. Dois quartos. Casa-prisão. Praia. Mar. Brisa marinha. TV Hefesto. Afrodite. Plano diabólico da deusa do amor. Poseidon. Tudo se encaixava.

- O que você está fazendo aqui? – Poseidon retrucou, um pouco assustado. Athena o assustava. Athena com short, blusa regata e descalça o assustava. O cabelo cacheado meio bagunçado o assustava. Seu rosto sem maquiagem o assustava. Aquilo era algo novo de se ver. E tudo o que é novo nos assusta.

“Awn, que lindo. Bom, digam ‘oi’ para a pessoa que dividirá a casa com você pelas próximas semanas!” Afrodite falou pela TV, toda feliz.

- Como é que é?! – eles disseram em uníssono. Aquilo não podia estar acontecendo. Não, não podia.

“Não adianta reclamarem, agora estão aí e vão aparecer vinte e quatro horas ao vivo na TV Hefesto, aumentando a audiência! Não é perfeito?”

- Afrodite, não sei porque você acha que isso vai poder aumentar a audiência. Se era pra nos ver brigando, não precisava nos trancar numa casa – Athena disse, se sentando no outro sofá, ainda meio relutante.

“E quem disse que vocês vão brigar? Puf puf, poupem minha beleza! Vocês vão ter que conviver, esqueceram? E nenhuma convivência aguenta brigas, portanto vocês dois se comportem!” Ela falou, abrindo um sorriso malicioso depois. “A não ser que vocês queiram fazer coisas mais interessantes, aí têm a minha permissão, é óbvio.”

- Eu tenho medo de você – Poseidon disse, ainda olhando Athena pelo canto do olho.

- Afrodite, isso não vai te levar a nada! Nós não somos obrigados a interagir mesmo estando na mesma casa – Athena falou com aquela expressão de ‘já ganhei’. Mas Afrodite pensa em tudo honey.

“E é aí que você se engana again, Atheninha querida. Lembra aquele contrato que eu fiz vocês assinarem sem ler?” Eles assentiram. “Lá vocês concordavam fazer tudo o que eu mandasse, pelo Styx. Então maninha, se prepare.”

E é nesses momentos que você se lembra daquela frase: ‘Sempre leia as letras miúdas’.

- Eu não acredito – Athena falou, descrente. Como ela pudera dar um deslize desses?

- E quando nós vamos sair daqui?

“Quando eu quiser. Então... Que tal nunca?”

- Sua maluca, Zeus vai te matar por isso! – Poseidon exclamou, com medo.

“Não vai não, ele concordou. Desde que vocês não parem de exercer suas funções e blábláblá” Afrodite disse revirando os olhos. “Mas sim, é por um tempo indeterminado.”

Athena deu um gemido de frustração, afundando a cabeça numa almofada. Ela se arrependia cada vez mais do que tinha feito.

- E o que mais tinha naquele... Contrato? – perguntou Poseidon.

“Há câmeras em todos os lugares da casa ligadas vinte e quatro horas por dia, vocês estão nesse momento sendo assistidos pelo Olimpo todo e pelo jeito ninguém aqui vai querer dormir... Mas continuando, também estava escrito que eu posso punir vocês e-”

- Punições? Suas? Nem em sonho! – Athena disse, de repente acordando pra vida.

E como eu ia dizendo, vocês não vão poder ‘sair da casa’ tipo no BBB, é aí que vocês estão e é aí que vocês ficarão. Mas as vantagens são: Sem louça nem roupa pra lavar, sem casa pra limpar e mais algumas coisinhas que vocês podem deixar que eu mando Eros fazer.”

- É estranho pensar que as pessoas estão nos vendo ao vivo – Poseidon murmurou.

“Ah, e Athena, antes que eu me esqueça, eu dei uma ajeitada no seu guarda-roupa, sabe? Com uma ajudinha de Eros, admito.” Ela falou, piscando, antes da tela se apagar.

Athena sabia que essa ‘ajeitada’ de Afrodite não era uma mera ajeitada. Ela estava decididamente ferrada.


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