Férias Frustradas escrita por Nunah


Capítulo 16
16 - frustração, respostas e crises




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Como ela poderia ser tão estúpida? É, estúpida. Isso que ela estava se achando.

Porque, por incrível que pareça, ela ainda não sabia o que se passava, e ninguém parecia se importar em deixá-la no escuro. Justo ela, alguém que realmente poderia ajudar.

Frustrada, ela socou o espelho do banheiro, só depois se dando conta do que tinha feito.

Athena suspirou, acalmando-se, tentando não fazer alarde.

Rezava para que aquilo não tivesse acordado ninguém. Mas, afinal, eles são deuses, claro que não iriam acordar por algo tão ridículo.

As bordas do espelho estavam trincadas, diferente do centro, que estava totalmente destruído.

A deusa olhou os próprios dedos com receio, vendo vários cortes – alguns profundos – que iriam se inflamar rapidamente se não fossem cuidados.

- Droga – ela murmurou, restaurando o espelho com um mínimo movimento.

- Isso não vai te ajudar, não é? Descontar sua fúria em um pobre espelho, tsc tsc tsc.

Ela se virou lentamente, praguejando mentalmente, sabendo que era quem ela menos queria ver naquele momento, depois de tudo.

- O que você quer aqui?

- Ora, Athena. Você não quer respostas? Eu tenho suas respostas. Todas as respostas – Afrodite disse, com um sorriso que mesclava o travesso e o diabólico.

- O que quer dizer?

- Puf. Deuses, Athena, você não é burra – ela disse. Os olhos de Athena escureceram rapidamente – Sabe quais respostas você quer.

- Como pode saber?

- Eu sei de tudo.

- Tudo sobre a vida dos outros, isso sim – ela deu uma outra olhada nos dedos, que começavam a ficar vermelhos.

- Você quer ou não saber? Não estou afim de perder meu tempo aqui – Afrodite revirou os olhos – Vamos começar pelo começo, onde foi que surgiram suas primeiras dúvidas, mesmo? – ela perguntou, retoricamente, com um falso drama.

- Você disse que meu filho tem um pai de verdade – Athena disse, olhando-a como se fosse louca.

- Todos os filhos têm pais, dã.

- Você não tem.

- Hey, não fale assim, eu sou filha dos testículos de Urano com o mar, hã.

- Que coisa nojenta.

- É, eu sei – Afrodite suspirou – Mas, vamos continuar...

- Você sabe? Sabe mesmo? – Athena perguntou, com os olhos semicerrados, como se soubesse que Afrodite poderia ler sua mente.

- É claro que eu sei – ela respondeu, meio que cantando.

- Então diga logo, Afrodite, por que está enrolando tanto? – ela perguntou, começando a se irritar.

Afrodite a olhou, triste, como se pedisse desculpas. Estava com a mesma expressão de quando os avisou de que precisariam voltar, e, também, de quando tocou naquele assunto delicado.

Após se jogar na cama, ficou encarando o teto fixamente.

- Afrodite? – Athena perguntou, sentando-se ao seu lado.

- Quando... Quando eu disse que tinha meus motivos... Bem, eu tinha mesmo. Era porque queria que você e Poseidon ficassem juntos, entende?...

- O quê?! – exclamou a outra, indignada – Ele é o meu tio! Irmão do meu pai! Afrodite, nós nos odiamos, pelos deuses, o que você tem na cabeça?!

- Ele é o pai do seu filho – Afrodite disse com os dentes cerrados, tão baixo que a própria Athena teve que se esforçar para entender, o que não adiantou, já que entrou em choque logo em seguida.

- C-c-como é que é?

- Você me ouviu bem – a outra continuou, arrogante – Achei que se trancasse vocês juntos, iriam se envolver, e achei que se soubessem a verdade... Bem, achei que iria atrapalhar o processo. Mas chegou aquelazinha filha de uma mãe surtando dizendo que-

- Calma, calma, calma. Devagar, Afrodite, por favor. Sei como fica quando se irrita e não quero meu palácio indo pelos ares.

- Muito bem – ela respirou fundo, tomando fôlego – Vocês iriam se envolver, eu sei disso, tá legal? – Athena revirou os olhos – Mas Anfitrite, aquela coisa ignorante, voltou correndo e armou uma confusão das grandes. Nós discutimos, ela queria o marido dela bem longe de você, ela o queria de volta, então eu disse que eles não estavam mais juntos e, que se dependesse de mim, e depende, nunca mais ficariam.

- Aonde quer chegar?

- Ela se revoltou, louca por vingança. Então, hoje de manhã, ela invadiu Atlântida e tentou tomá-la para si – Afrodite batia impaciente o salto do sapato no mármore, fazendo o som ecoar – Mas não conseguiu. Então, ela se auto-declarou rainha novamente, sei lá como. Zeus tentou intervir sem muita vontade, por que, quando ele gostaria de comprar uma briga de Poseidon? Puf puf. A questão é: Anfitrite está conseguindo controlar a maior parte do reino, e, por pior que pareça, começando a impôr escravidão.

- Mas o quê?!

Athena não sabia o que fazer, nem o que pensar.

E, por mais que negasse, ela queria mesmo ajudar. E isso não a animava muito.

Poseidon tinha simplesmente evaporado – literalmente – e ninguém mais o tinha visto. Ela não tinha notícias dele, e não podia falar pelos outros, já que ninguém se importava em lhe contar as coisas.

- Escravidão? Mas como? Isso acabou há milhares de anos! Não pode ser possível! E ela se auto-declarou rainha? Pensei que a única pessoa que pudesse escolher essas coisas era Poseidon.

- Você sabe que várias pessoas impõem suas vontades com ameaças, torturas e esse tipo de coisa. Talvez, não sei, talvez ela tenha ameaçado fazer algo, do jeito que é maluca.

- Por que ninguém me contou?

- Porque estavam ocupados e preocupados. Eles esqueceram, pois estavam sobrecarregados, não os culpe.

Athena suspirou aliviada, vendo que não era um ser ignorado.

- Isso parece um pesadelo.

- E é. É um pesadelo que se tornou realidade para muitos. Eu queria ajudar mas, bem, quem confiaria algo tão grande assim para uma mera deusa do amor? – ela disse, com desgosto. Porque, afinal, mesmo que dissessem que o único modo de combater o ódio é com amor, as pessoas nunca colocavam fé em Afrodite.

- Não podemos fazer nada? Sério? – Athena perguntou, centrando seus pensamentos naquela crise pois, sobre a sua crise pessoal, ela refletiria mais tarde.

Afrodite bufou, levantando-se com tudo.

- Acho melhor cuidar desses dedos – quando Athena levantou os olhos novamente, Afrodite já tinha evaporado, deixando o perfume de rosas pairando no ar.

A deusa encarou os dedos, que estavam vermelhos e um pouco inchados.

- Argh.


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Notas finais do capítulo

Coisas óbvias, sempre.