Férias Frustradas escrita por Nunah


Capítulo 13
13 - aceitação, frieza e desafio impossível


Notas iniciais do capítulo

A nossa querida Athena fria e sem sentimentos.



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Ela abriu os olhos lentamente, piscando.

O sol ainda estava forte e entrava pelas janelas.

Havia um peso desconhecido sobre ela. Poseidon.

Ela gritou.

Como eu pude?

- Sai, sai, sai de cima de mim!

Poseidon se levantou desnorteado, confuso.

- Mas Athena... O que...

- Não. Não. Desencosta. – ela falou, beirando o desespero.

Ele fechou a cara e se levantou bruscamente.

Ela se sentou devagar no sofá.

- O que houve agora? Nós...

- Nós não. Não existe um ‘nós’. – ela se levantou e olhou no fundo das orbes verdes. – Foi num momento de fragilidade.

- Ah não, você não pode chegar e falar pra eu esquecer. – ele disse, descrente.

- Aquilo... Não foi nada. Foi um erro. – ela disse sem muita convicção.

- Erro o caramba Athena, você está falando sério? – disse ele, se exaltando, ela não podia fazer aquilo com ele pra depois mandá-lo esquecer.

- Você é meu tio. E isso é errado. O que aconteceu foi uma consequência. Eu estava frágil, você não sabia o que fazer, e acabou que aconteceu... Mas foi um deslize. Não vai se repetir. – ela falou, dando as costas.

Ele sabia que ela já estava longe demais para ouvi-lo.

- Mas eu quero que se repita. – ele sussurrou para o nada.

Poseidon foi até a cozinha ver o que tinha para um almoço no meio da tarde.

Deixou a pizza no forno. Quando ela desceu, ele foi tomar banho.

Eles mal se olharam.

No soy mujer de las que creen

Que entienden lo que es sentirse bien o mal.

.

.

.

Aproveitou seus poucos minutos embaixo d’água para colocar as ideias em ordem.

Ela não pode estar falando sério.

Athena realmente parecia impassível, como se o que acontecera entre eles não a tivesse abalado nem um pouquinho.

Nem a deusa da sabedoria pode ser tão fria.

Aquilo não entrava em sua mente, junto com a ideia de ela ter tido um filho.

Ela já fez isso antes.

Ela não poderia se manter indiferente por muito mais tempo. Poderia?

E por que ele estava se preocupando se ela levaria aquilo em consideração? Tinha sido uma coisa irrelevante. Era pra ser uma coisa irrelevante, principalmente para ele.

Então, por que diabos ele estava incomodado com a indiferença dela?

Será que... Não, não pode ser.

Ele não poderia... Sabe, estar sentindo alguma coisa por ela não é?

É cedo demais pra isso.

Mas o problema é que aqueles dias estavam sendo apenas uma nostalgia.

Eles já tinham convivido em paz antes, há muito, muito tempo.

E se... Bom, se, só se ele estivesse cultivando aquele sentimento desde eras atrás? Não era meio... Impossível?

Ela é minha sobrinha.

Ele não acreditava realmente na possibilidade de estar gostando dela, mas inconscientemente sabia que aquilo poderia sim estar acontecendo.

Talvez... Se ele tivesse mesmo sentindo isso há tanto tempo... Talvez aquela convivência súbita com ela poderia ter trazido à tona tudo que ele escondia com mais precisão, algo que poderia até ter esquecido.

Talvez... Aquele sentimento não tivesse morrido com o tempo, desaparecido. Talvez estivesse só encoberto por anos de brigas e discussões.

E, talvez, agora, esse sentimento tinha resolvido se manifestar novamente, com algum intuito de ser correspondido.

Mas, claro, Poseidon não sabia disso, pelo menos, não queria saber, ou fingia não saber.

.

.

.

Como isso foi acontecer?

Ela ainda não acreditava, como deixara ele ir tão longe?

Poderia alegar que ele tinha se aproveitado num momento de fragilidade.

Mas ela sabia muito bem que era mentira, e ela não costumava mentir.

Não sempre.

Ela sabia que tinha gostado, e se culpava por aquilo, ainda mais tendo plena consciência que não estava arrependida.

Mas é tão confuso.

Ela deveria jogá-lo no fundo do Tártaro.

Mas, se fizesse isso, Zeus teria de arranjar uma desculpa, Percy e Annabeth ficariam uma fera, Afrodite iria querer mandá-la pra lá também (por motivos óbvios que talvez Athena não compreenda), o mundo se desequilibraria, e Hades ficaria feliz.

Enfim, tudo seria um caos.

Ela não podia conversar civilizadamente com ele, porque ele não conseguiria esse feito.

E ela não tinha pra onde fugir. Tinha que ficar lá, presa, até Afrodite resolver ser legal com ela pelo menos um dia na sua existência, e isso não tinha nada ver com o ‘legal’ de quando Afrodite a ajudou com o bebê.

Concluindo, ela queria sair dali por motivos diversos.

Senão, ela iria enlouquecer, e imagina só a personificação da razão aloucanada? Aí sim seria um verdadeiro caos.

Ela tirou a pizza do forno e colocou no meio da mesa. Sentou e ficou encarando seu reflexo num espelho que tinha por ali.

Os olhos, antes serenos e frios, agora se concentravam num cinza escuro tempestuoso, num misto de preocupação e algo que ela não conseguia definir... Só que, a frieza não estava mais lá.

Os lábios vermelhos rosados estavam franzidos, outro sinal de que ela estava intrigada.

Sua expressão era tensa, como se esperasse que a qualquer momento alguma coisa iria acontecer.

Ela parecia uma escultura. Uma escultura bem feita de uma mulher de ar superior, à qual qualquer um se curvaria. Principalmente os homens, que são atraídos pelo misterioso.

Ela sabia que não devia pensar no que havia acontecido, que só pioraria a situação dos dois. Mas, era impossível não lembrar. Ela ainda sentia as mãos ásperas acariciando suas costas, os lábios urgentes, o desejo nos olhos.

Sabia que se ficasse pensando naquilo acabaria se dando mal, mas era impossível. Mesmo que ele não tivesse sido carinhoso, ela não ligava, porque também não fora, eles estavam alterados, não era pra ser algo com amor, era fogo, puro fogo.

E agora aquilo estava mexendo com sua cabeça.

Por que isso?

“...pra você parece que tudo tem que ter regras a serem seguidas e ser tudo certinho...”, ele lhe dissera uma vez. E ela estava começando a repensar em seus princípios de querer achar uma explicação pra tudo.

Mas aquilo não deveria importar tanto assim!

Deveria?

Foi tirada de seus devaneios pelo som de uma cadeira sendo arrastada.

Poseidon tinha se sentado à mesa, e já pegava uma fatia de pizza, e ela se apressou pra fazer a mesma coisa.

Ele não a encarou uma só vez e ela não fez questão de lhe chamar a atenção.

E que recomece a guerra silenciosa.

Então, ele finalmente levantou os olhos, apenas por segundos, para ter um vislumbre de sua expressão confusa.

- Athena. – ele a chamou, baixo.

- Sim? – ela o encarou, seus olhos se fixaram, fosse o que fosse, ela não conseguiria mentir, aquelas orbes verdes-mar eram persuasivas e sedutoras, e estavam cheias de curiosidade e preocupação.

- Aquilo não importou de nada pra você, mesmo? – ele parecia receoso com a resposta.

- Importou pra você? – ela devolveu a pergunta, engolindo em seco, os olhos começando a se encherem de água por nenhum motivo aparente, mas ainda assim, fria.

- Muito mais do que parece. – disse ele, sério.

Ela abriu um sorriso torto, que fazia os outros tremerem, aquele seu sorriso gelado.

- Você finge que se importa que eu finjo que acredito.

- Athena, por que você...

- Porque, Poseidon, você tem qualquer uma que quiser aos seus pés, e nunca, nunca se importou com nenhuma, não tente consertar isso agora, não vai adiantar. Não precisa mentir, eu não vou acreditar.

- Não é mentira. – ele bateu o punho na mesa.

- Prove. – ela disse, ainda sorrindo.

- Não tenho como provar.

- E eu só acredito em coisas concretas, logo, eu não acredito no que você fala. – disse ela, adquirindo aquele semblante arrogante novamente.

Ela se levantou, colocando o prato na pia, saindo.

Nunca tendre las palabras que te digan cosas sin lastimarte

Sé que no es fácil hacer lo que quiero sin importarme

Puedes ser parte de mí, déjame ir o será muy tarde.

Mas, e agora, o que ele faria para mostrar que realmente se importava, mesmo que aquilo ferisse seu orgulho?

Ele não sabia. Então, estava decididamente ferrado com ela.

Como, pelo raio-mestre de Zeus, eu vou provar isso?, ele pensou, ignorando os trovões.

E, por mais que quisesse negar, ele sabia que se importava.


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Notas finais do capítulo

Poseidon direto.