Férias Frustradas escrita por Nunah


Capítulo 11
11 - verdades trágicas e cômicas




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A cabeça deles doíam. Demais. Chegava a ser até uma dor meio surreal.

- Hello, vocês estão vivos, acordem! – exclamou aquela vozinha irritante. Só que estava mais perto que o normal. Muito mais perto.

Eles abriram os olhos lentamente, suas pálpebras pesavam; a cabeça explodindo. Estavam no sofá da sala, lado a lado. E na frente deles estava ninguém mais ninguém menos que a própria Afrodite, em carne e osso.

- Mas o que foi aquilo? – Athena murmurou, colocando a mão na cabeça.

- Aquilo foi a consequência que vocês tiveram por Poseidon não ter me obedecido. Ele quebrou o juramento. E como vocês não podem morrer- ela começou.

- O que está fazendo aqui? – Poseidon a cortou.

- Eu vim pessoalmente para garantir que vocês tenham uma conversa produtiva. E relaxem, não estamos no ar. – Afrodite disse sorrindo. – E têm que falar apenas a verdade, nada mais que a verdade.

- Não temos nada pra conversar. – disse Athena, fechando a cara.

- Ah tem. Há muito tempo, vocês têm. – ela disse, séria.

Os dois ficaram confusos, claro. Não era pra menos.

- O que você quis dizer com ‘erros’ aquele dia? – Poseidon perguntou, olhando-a.

- Por que quer saber?

- Porque foi a primeira coisa que me veio à cabeça.

- Não te interessa. – ela respondeu, rude.

- Interessa muito mais do que você pensa, Athena. Sério. Vocês têm mesmo o que conversar. – Afrodite disse, continuando séria. Aquilo chegava a assustá-los.

- Não, não temos. – disse ela, agressiva.

- Será que dá pra você baixar a guarda? Ãh? Só uma vez na vida, vamos ter uma conversa civilizada! – ele falou, com aquela autoridade de antes.

Afrodite se sentou na mesinha que tinha no meio da sala, suspirando. Aquilo iria demorar.

- Não temos assunto. Não temos sobre o que falar, Poseidon. O que você quer? Que eu conte minha vida toda? Como ela tem sido desde que você parou de agir como um tio pra mim?! – ela gritou, deixando-o estático; pelo jeito, ela sentia falta dele, querendo ou não, ela sentia falta dos velhos tempos. – Não, obrigada.

- Ele é mais do que um tio pra você, Athena. – Afrodite falou. – Você pode não se lembrar, mas eu lembro. Vocês têm uma ligação mais forte do que imaginam.

- Você não sabe o que está falando. – Athena respondeu, mas com um pouco de receio.

- Conte à ele.

- Nem pensar.

- Ele precisa saber. É praticamente seu anjo da guarda! – Afrodite exclamou.

- Era.

- Conte. – a deusa do amor continuou insistindo. – Você não pode conviver com isso para sempre.

- Eu tenho você. – disse Athena, algo que ela nunca pensaria falar da deusa do amor.

- Não importa. Ele que sempre te ajudou.

- ‘Sempre’ é uma palavra muito forte. – argumentou Athena, vendo que estava ficando em desvantagem. – Ele não tem nada a ver com isso.

- Ei, ei, vocês duas! Eu não sei se vocês sabem, mas ‘ele’ está aqui! – Poseidon falou, interferindo.

- Conte. – ela repetiu.

Athena suspirou, olhando para Poseidon.

Ele pensou que iria ver raiva, como antes. Mas seus olhos estavam marejados. Tristes.

E ele não entendeu essa súbita mudança que ela sofrera. O que estava acontecendo, afinal?

- Não sei no que isso pode ajudar. – Athena disse, baixinho.

- Isso tem algo a ver com seus erros? – ele perguntou, hesitante. Ela assentiu. Foi como uma bomba. Ela estava disposta a se abrir com ele.

- Eu era uma adolescente rebelde... Você sabe, você estava lá. – ela começou. – Eu tinha só dezesseis anos.

Ele automaticamente se lembrou daquela foto, mas lá ela tinha quinze.

- Uma coisa normal. Eu saía com você, e com Afrodite, mas nunca deixei de ser certinha. – ela admitiu, tímida. – Nós íamos em festas, e voltávamos de manhã. Meu pai ficava louco. Dizia que vocês estavam me corrompendo.

Poseidon abriu um sorriso.

Velhos e bons tempos.

- O que tem isso? – ele perguntou divertido. Já sabia disso tudo, mas não via o que tinha a ver com os tais ‘erros’.

- O que tem isso? – Athena repetiu, tensa. – Bem, digamos que... – uma pausa; ela precisava tomar bastante fôlego para contar algo tão... Delicado. – Acontece que... Bem... Eu tive um... Filho. – ele paralisou, abrindo a boca. – É. Chocante, talvez. O pai dele... Era... Um deus poderoso. Afrodite me ajudou, claro, a esconder o bebê. Mas quando ele nasceu... Tiraram-no de mim.

- Zeus?

- Não, não Zeus. Ele nem sabia. – ela respondeu. – Na verdade, roubaram-no. E o deram para uma família mortal, com o tempo... Ele virou um deles, e eu não pude fazer nada. Não sei quem foi, muito menos como e por quê. Algumas coisas estão meio nebulosas ainda... Não me lembro do pai, isso chega a ser frustrante.

Poseidon não sabia o que fazer, nem o que falar. Ela tinha só dezesseis anos. Athena tinha tido um bebê. Com um deus!

Como ele nunca soubera?

- É alguma pegadinha? – ele perguntou, chocado.

- E foi por isso que foi tão fácil retirar seu juramento Athena. – disse Afrodite, fazendo a outra olhá-la confusa. – Foi fácil pois ele não tinha valor algum. Sim Athena, a criança não foi concebida daquele jeito medonho que você está acostumada. Foi do jeito normal e prazeroso que as crianças, em geral, são feitas. Seu juramento foi, comicamente, quebrado antes mesmo de ser feito.

- M-m-mas isso não é possível.

- Você não se lembra... Tentou ir atrás do bebê, mas já era tarde. Desconsolada, você sofreu um grave acidente. E eu cuidei de você novamente. Conseguimos enganar Zeus quanto aos seus súbitos desaparecimentos e depois, nunca mais tocamos no assunto.

Athena suspirou. Sabia que Afrodite falava a verdade, porque eram raras as vezes que a deusa do amor ficava séria. Ela podia ser chata quando queria, mas era uma amiga maravilhosa. Não mentiria tão descaradamente assim. E não adiantava nada surtar agora. O que está feito, está feito. Não vale a pena falar sobre o acontecido.

- Que seja. Só que ele era especial. E muito, muito poderoso. Ele poderia ter sido a glória dos olimpianos. Ou a ruína. Claro que eu nunca me arrependi por tê-lo tido. Só que... Antes mesmo do juramento... Eu já pensava em pureza eterna. E por isso sim eu me arrependo. E é ainda pior, já que eu não posso saber quem era o deus. Eu só sei que... Ele também era poderoso. Demais. Às vezes eu ainda penso sentir aquela áurea de poder que emanava dele.

- Você o amava. – constatou Poseidon, surpreso com as próprias palavras.

- Eu não sei ao certo o que eu sentia em relação à ele. Mas era algo forte. Forte demais para ser esquecido.

- Por que nunca me contou? Naquela época nós ainda nos falávamos, não?

- Eu não queria te preocupar, titio-protetor. – ela zombou. – E não adiantaria nada.

- Bom, acho que por hoje basta, certo? – disse Afrodite. – Estou indo.

- Mas a história nem acabou! – exclamou Poseidon.

- Não, mas se eu terminar de contar vai perder a graça. – ela disse se levantando, fazendo Athena franzir os lábios. – O que é?

- Você sabe. Não sabe? – Athena perguntou, desconfiada.

Afrodite bufou.

- Sim, eu sei. Mas você não pode saber de tudo. Não ainda.

- Mas eu tenho o direito!

- Eu sei. – ela suspirou. – Eu sei. Mas... Eu tenho meus motivos, Athena. Desculpe.

E sumiu.

- Ela é louca ou o quê? – Poseidon murmurou.

- Ei, por que você tinha ficado tão bravo pelo que eu disse?

- Não sei. – ele disse sinceramente.

Uma pequena parte de Athena desconfiava que eles tinham voltado a ser como antes. Era estranho e inesperado, mas nada mais que a verdade.

Ali, ela viu seu tio protetor e simpático novamente.

E ele percebeu que sua garota estava de volta.

Isso até, é claro, eles discutirem de novo.

Num ato despercebido, ela recostou a cabeça em seu ombro, e ele estava distraído demais para reparar.

Ele ainda cogitava a possibilidade de Athena ter engravidado aos dezesseis anos à moda antiga de um deus superpoderoso. Claro que, se fosse Afrodite, ou até Ártemis, ele não ligaria. Mas Athena... Como ele não tinha reparado que ela sumira por uns tempos do Olimpo? Como não percebera nada de errado com sua menina?

- Obrigada. – ela murmurou, tímida.

- Pelo quê? – ele perguntou, surpreso.

Ela deu de ombros.

- Por me ouvir. Por voltar a ser o meu herói.

Porque era assim que ela o via: Um herói. Ele que sempre estivera com ela. E não seu pai. Ela sempre teve que fazer Zeus se orgulhar, se impressionar, com ele não tinha brincadeira.

Mas com Poseidon era diferente, ele sim era um pai para ela. Mas às vezes lhe parecia... Só parecia... Que tinha algo a mais.

Ela nunca o vira realmente só como um tio, um protetor, um amigo ou um anjo da guarda. Sempre teve algo diferente. Uma química. Uma faísca, talvez. Não era nada de muito grande (aham, sonha), mas que ela sabia que tinha, ela sabia. E muito bem.

Afrodite estava certa, eles tinham uma ligação mais forte do que ela imaginava.

Ali, junto dele, ela começou a forçar a memória. Porque ela queria saber a verdade. Ela tinha que saber a verdade.

Ela necessitava.

But you’ll always be my hero

Even though you’ve lost your mind.

Enquanto ela tentava lembrar de algo que realmente fizesse sentido, ele continuava confuso, achando que tudo aquilo era demais para ele. Porque receber e superar um baque daqueles em pouco tempo nem os deuses conseguiam. Mas ele sabia de uma coisa, não deixaria Athena sozinha naquela hora. Não de novo. Porque ele estava conseguindo enxergar aquela boa garota novamente.

A única coisa que ela ainda não tinha entendido realmente era o motivo de se sentir tão ‘tímida’ no banho; com ele. Se ela já tinha tido um contato tão íntimo com um homem, por que sentiu como se fosse a primeira vez, mesmo que não lembrasse de nada? Não era pra ela ter tido uma reação? Um estalo? Uma lembrança súbita? Mas não, parecera mesmo a primeira vez.

Que estranho.


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Notas finais do capítulo

É, tenso isso. Desculpem se pareceu corrido.