Castlecalibur ou Soulvania (reeditado) escrita por TriceSorel


Capítulo 9
Parte 9: eu sou o Dr. Ácula




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         Walter voltou para o castelo e ao entrar no saguão, encontrou Mathias parado em pé com os braços cruzados, emburrado.

         - Posso saber onde o senhor foi com a Soul Calibur do Siegfried?! – perguntou, irritado.

         - Ah, só fui dar uma voltinha...

         - Alguém podia ter te reconhecido! Você foi na forma de um morcegão, e com a espada do home, óbvio que qualquer ser com um neurônio solitário já teria deduzido que você é o vampiro que assola a região!

         - Que nada, eu tava de máscara, ninguém me reconheceu! – respondeu Walter, tirando a faixinha vermelha que usava nos olhos. – E depois, eu confirmei que Nightmare e Siegfried são a mesma pessoa.

         - Não me interesso por fofocas! Vou para o meu laboratório. – E Mathias subiu até seu escritório e se trancou lá dentro.

         Como contaria a Leon? Existia alguma maneira de ser fiel à verdade sem correr o risco de perder uma amizade que valia tanto para ele?

          - Pela luneta de Galileu, eu tentei! Eu tentei! Mas eu não consegui... não consegui dizer a Leon que eu sou o Drácula! Cada vez que essa palavra me vinha a boca, o destino me impedia. Como fazer para acabar com essa dúvida que me sufoca? – Mathias andava de um lado para o outro da peça, inquieto. – Já sei! Vou escrever em um pergaminho e deixar no quarto dele...

         Mathias puxou um pergaminho e escreveu com sangue as palavras “Eu sou o Drácula”, dobrou e foi até o quarto de Leon. Ele ainda não havia chegado. Passou o pergaminho pelo buraco da fechadura e depois foi embora, só então percebendo que por baixo da porta seria mais prático.

         “Ele vai reconhecer a minha letra, e vai entender que fui eu quem fez a revelação. E eu vou poder observar de longe a reação dele e decidir se fujo e nunca mais apareço na frente dele ou se... ele vai me aceitar como eu sou”, pensou Mathias consigo, indo para seu quarto e esperando o retorno de Leon.

         Olhando pela janela ele pode ver Rafael e Leon retornando ao castelo com o corpo desacordado de Siegfried na armadura de Nightmare. Ficou ouvindo os passos ecoarem pelos corredores e câmaras e só saiu do quarto quando teve certeza de que Leon entrara em seu próprio quarto.

         Aproximou-se sorrateiramente da porta de Leon e espiou por baixo da porta o que estava acontecendo lá dentro, sem dar-se conta que a visão seria melhor se olhasse pelo buraco da fechadura.

         Naquele momento Leon tirava a camisa, preparando-se para por o pijama. “Ó, não, eu não posso ver essa pouca vergonha!”, pensou Mathias, cheio de pudores. Mas sua curiosidade para saber a reação do humano ao ler sua declaração foi maior. Seguiu observando por debaixo da porta.

         Leon, então, tirou as botas, as meias, as calças gradativamente, jogando as peças de roupas no chão. Mathias já estava completamente envergonhado e rezando trinta ave-marias e cinco padres-nossos por tamanho pecado quando se deu conta que a fresta da porta só lhe permitia ver os dedões de Leon, não importando se ele estava com roupa ou sem elas.

         “Deviam fazer frestas maiores”, pensou consigo, lembrando que escutar também ajudaria. Colocou o ouvido na porta, ouvindo os passos de Leon lá dentro.

         - Ahn, o que é isso? – exclamou Leon, aproximando-se da porta.

         “Ó, não, fui descoberto!”, lamentou Mathias, assustadamente. Mas percebeu que os passos pararam bem próximos à porta e depois se afastaram.

         - Alguém esqueceu um pergaminho aqui... espera! Tá escrito “para o ex-barão, o Lorde Leon Belmont”... então deve ser pra mim! Vou abrir! – falou ele em voz alta, como fazem todos os personagens desavisados que não sabem que alguém está escutando por detrás da porta. – Ó, é a letra do Mat... vamos ver o que tá escrito e... POR TUPÃ!!! COMO MATHIAS PODE ME ESCONDER ISSO POR TANTO TEMPO?!! Preciso falar agora com ele!!!

         Mathias levantou-se e correu para o seu quarto o mais rápido que o seu desespero permitiu. Fechou a porta e pegou uma mala no seu armário e a jogou na cama, abrindo-a. Depois começou a puxar o maior número de roupas possíveis e jogar em cima da mala, apressado.

         - Preciso ir embora daqui! Leon me odeia! Ele vai tentar acabar comigo, e com aquele chicote mágico vai ser fácil... Ó, que desgraçada existência eterna é a minha! Meu melhor amigo... tentará me matar!

         Mathias não pode conter uma furtiva lágrima em seu olho esquerdo, mas tentou focar-se na mala e não pensar em mais nada. Foi quando alguém bateu na porta, pediu licença e já foi entrando.

         Leon havia se vestido muito rapidamente, colocando suas roupas de qualquer jeito na pressa de procurar o amigo. Trazia na mão o pergaminho amassado que Mathias o enviara e seu rosto estava uma indefinível expressão de surpresa.

         - Leo, eu...

         - Por que não me contou antes? – quis saber Leon. – Foi isso então que você fez durante os anos que ficamos afastados?

          - Eu... tentei contar, mas... eu...

         - Faculdade de Medicina!!

         - O quê?!

         - Você fez faculdade de Medicina e se formou sem nunca ter me contado nada!

         - Como assim?

         - Recebi sua cartinha dizendo que você é o Dr. Ácula! Você é um doutor e nem me falou! Eu sabia que esse seu ímpeto benevolente de ajudar as pessoas iam acabar de inclinando para uma profissão humanitária! Até está usando um pseudônimo para que ninguém o reconheça! Nada melhor do que fazer o bem anonimamente!

         Mathias pegou o pergaminho das mãos de Leon e o abriu. Estava muito amassado por ter sido enfiado pela fechadura. Foi então que percebeu que entre o DR e o ÁCULA havia um pequeno furinho que parecia um ponto, provavelmente fora feito no momento em que Mathias tentava enfiá-lo pela fachadura. O pontinho separando a palavra dava mesmo a sensação de que estava escrito “Eu sou o Dr. Ácula”.

         - É, sim... eu fiz faculdade de medicina. – mentiu Mathias descaradamente.

         - Mas... por que você estava fazendo as malas? Estava de mudança?

         - Malas? Não, eu não! Eu só estava... polindo as malas, é isso.

         - Com as roupas?

         - Sim! Roupas são muito mais eficientes para polir objetos do que flanelas, paninhos e espanadores... – inventou Mathias.

         - Se você diz... você é o gênio aqui! Mas me dá cá um abraço, amigão! A cada dia eu gosto mais de você! Vejo o quanto você é uma pessoa boa e honesta, incapaz de mentir ou fazer o mal para alguém... – e Leon precipitou-se para abraçar o amigo.

         - Eu... não... – tentou desvencilhar-se Mathias, mas não conseguiu.

         Leon deu um caloroso abraço em seu querido amigo, mas quando foi se afastar dele percebeu algo estranho em seu pescoço.

         - Mat... o que são esses dois furinhos em seu pescoço? Parece uma... mordida de dois dentes pontudos!

         - Ah... foi uma cobra que tentou morder meu tornozelo esses dias na Noite Eterna... mas eu defendi com a jugular.

         - Ah!! Mas ela pode ser venenosa! Você precisa ir para um hospital!

         - Não precisa, eu sou vacinado.

         - Ah, é, esqueci que você é médico! Bom... meus duplos parabéns! Por seu diploma de medicina e por seu título de Conde! Estou cada vez mais honrado de ser seu amigo, e nunca vou poder retribuir tamanha honra! A não ser matando o Drácula em sua homenagem...

         - Não! Você não precisa fazer isso! Não precisa pôr sua vida em risco em tal empreitada...

         - Não diga isso, meu caro amigo! Você já fez muito pelas pessoas, deixe-me fazer o bem à minha maneira!

         - Mas...

         - Não se preocupe! Quando eu trouxer a cabeça do Drácula em uma bandeja e mostrá-la para o povo de Valáquia, eu vou dizer que não teria conseguido nada sem você, meu caro amigo! Afinal, você me ensinou quase tudo que eu sei hoje, e você que comprovou a existência dessas vis criaturas que tanto nos tiram o sono!

         - Leon, eu... não sei o que dizer.

         - Não diga nada, amigo! Apenas durma o sono dos justos e sonhe com anjos... como eu também farei. Boa noite! – e Leon se retirou do quarto.

         “Bosta”, pensou Mathias, e foi para seu laboratório.


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