Anos se passaram desde que parti com meus companheiros, os piratas Rumbar, para desbravar a Grand Line. Naquela época, não havia ainda o One Piece. Logo não procurávamos a fama dada aos que o encontrassem. Procurávamos levar aos outros o nosso modo de vida.. pois se cantássemos faríamos uma criança parar de chorar.

E se no meio do percurso encontrássemos algum tesouro... bom para nós. Afinal, mesmo levando pelos oceanos a nossa canção, ainda assim éramos piratas. Não queríamos fama, mas o dinheiro é sempre bem vindo.

Em nossas idas pelos mares desse mundo encontramos nakamas que nos apegamos de tal modo que tornava difícil a separação, quando ela fosse necessária.

E nesses mares, o que mais fizemos foi dizer adeus. Um por um, começando pelo aparentemente menos importante membro do nosso bando... Laboon.

Deixamos nosso amado companheiro na entrada da Grand Line. Sozinho. A espera de nosso retorno. Porém nunca voltamos. Perecemos em meio a nossa viagem. Cada um de nós deixou a promessa para trás, na esperança que eu, com a minha Akuma no Mi, pudesse fazer valer o último esforço dos poucos que haviam sobrado de pé ante um ataque inimigo.

E pra ser sincero, eu tentei. Acreditei que pudesse cumprir não a minha, mas a nossa promessa. A promessa de toda a tripulação. Mas eu não consegui. Em meio a um nevoeiro, eu vaguei perdido por longos cinquenta anos. Sem notícias. Igualmente sozinho. Apenas pensando no dia que eu poderia sair dali e ir cumprir meu juramento.

Demorou mesmo muito tempo para que eu saísse de lá. Imaginei que pudesse recuperar mais uma coisa perdida por mim sozinho. Mas logo vi que não seria possível. E então eu tive ajuda.

Sem essa ajuda eu com certeza estaria vagando sozinho e perdido em meio aquele nevoeiro, sem sombra e sem amigos. Mas quando resolvi aceitar a ajuda que me era dada tão desinteressadamente, recebi bem mais que minha sombra. Recebi nakamas.

Com eles voltei a ser um pirata. Deixei meu passado de solidão para ingressar num navio de muitas esperanças. E novamente viver muitas aventuras. Mas nunca esquecendo aquele companheiro deixado para trás nos Cabos Gêmeos.

E hoje, quanto tempo se passou? Hoje, após cruzarmos toda a Grand Line e encontrarmos o tesouro no fim do mar... quanto tempo passou desde que me uni a tripulação do Luffy?

Não sei. O tempo, para mim, não funciona mais quando contado por dias, meses e anos. O tempo para mim é contado pela força que a saudade exerce sobre meu coração. E como ele é contado dessa forma, sinto que se passou tempo demais.

Tempo demais já se passou para lamentar a ausência.

Tempo demais já se passou para chorar a lembrança daqueles que se foram.

Desde que virei um Pirata Chapéu de Palha, minha vida ganhou novamente sentido. Porque eu voltei a ser um pirata.

Mas agora, todas essas coisas que o tempo contou, o tesouro que encontramos, os nakamas que conhecemos... nada disso importa mais.

Porque agora eu vejo, mesmo estando tão longe, a entrada da Grand Line. E eu sei, tenho certeza dentro do meu coração.. mesmo não tendo um coração para ter certeza, que você está lá. Nós dois iremos cumprir a nossa promessa.

Cada vez que o Sunny me leva para mais perto dos Cabos Gêmeos, mais sinto paz inundando a minha alma. Sei que se me vir agora, Laboon, você pode não me reconhecer. Sei também, pelo que meus nakamas contaram, que o navio que atracou aí não é o mesmo que regressa. De longe você provavelmente estranhará ver a bandeira dos Piratas Chapéu de Palha tremulando num navio diferente.

– Acho que não tem outro jeito, capitão.

– Então o que está esperando? Canta logo Brook – Luffy dizia quase arrancando das minhas mãos o violino.

Ajeitei-me como pude, me posicionando na popa do Sunny. Segurei firme o violino. Depositei sobre o grande Sol o Tone Dial com a canção dos companheiros convalescentes. Todos agora se colocavam atrás de mim... esperando que eu começasse a canção. Aquela canção.

Para falar a verdade, ensaiei esse momento em minha mente tantas vezes e em todas elas, ele ocorria de uma forma diferente. Agora que a ocasião chegava, já não sabia como seriam as reações dali para frente.

Mas sei que serei ouvido e compreendido.

– Yo ho ho ho, yo ho ho ho ♫