Masters encarou a imagem da garota no banco de traz pelo espelho retrovisor.

                Thalia usava um casaco de couro preto, com uma camiseta de uma banda qualquer por baixo. Um jeans escuro, coturnos também pretos.  Parecia uma perfeita punk, com essas roupas e o cabelo preto de mechas azuis. O que Masters não entendia, era porque ela usava aquela estranha tiara e o colar de couro, que fugiam totalmente do seu estilo.

                “É ali” ela afirmou, se inclinando para frente, e apontando para um grande hotel. Taub encostou o carro onde ela havia indicado. “Me esperem aqui.”

                “Como se fossemos ir embora depois desse trabalho todo” Masters murmurou, mas ela já havia saído do carro.

                Aquilo sim, era frustrante. Eles acham a garota, e tudo que ela diz é que precisava passar em um hotel antes. Não respondeu nenhuma das perguntas sobre onde ela havia conhecido o paciente, ou sequer sobre qual era o seu sobrenome.

                Taub se remexeu no banco ao seu lado, enquanto retirava a chave da ignição e murmurava algo inaudível. Eles observaram enquanto Thalia caminhava em direção ao hotel, mas ela acabou parando a alguns metros do carro. Ela procurou a sua volta, como se alguém tivesse chamado seu nome. Uma segunda garota apareceu, abraçando Thalia com força, e elas começaram a conversar sobre algo.

                Masters aproveitou para analisar a segunda garota. Ela era loira, e seu cabelo caia em cachos perfeitos sobre suas costas. Era magra, e tinha uma forma tão atlética quanto à da amiga. Usava uma calça jeans escura, com uma camiseta rosa estampada,  um all star preto e carregava uma bolsa azul escura. Parecia gesticular muito com Thalia, como se negasse alguma coisa.

                Quando a loira finalmente cedeu, ela e Thalia entraram pelas portas giratórias do hotel. Quando voltaram, Taub podia jurar ter visto a imagem de um arco oscilar nas costas de Thalia.

                “Essa é Annabeth. Ela vai conosco”  a garota punk anunciou enquanto entrava no carro, sem nem esperar um resposta. Annabeth, a garota loira, se sentou no espaço que Thalia havia aberto no banco.

                “Você tem algum parentesco com Percy?” Taub perguntou, após alguns minutos de silencio desconfortável.

                “Não, não” ela respondeu, balançando a cabeça, de forma que uma cascata de cachos cobriu se rosto. “Quer dizer, não exta-”

                “Os pombinhos estão namorando” a amiga interrompeu revirando os olhos.

                “Onde vocês se conheceram?” Masters perguntou, olhando para as garotas do banco de traz.

                “Em um a-” Thalia começou, mas foi interrompida por uma cotovelada furiosa da loira. “Na escola.” Ela concluiu cerrando os dentes.

                Annabeth prendeu o cabelo em um coque mal feito, evitando olhar para os médicos. No seu pescoço, havia o mesmo estranho colar de contas, apesar de o dela estar muito mais cheio do que o do namorado, ou o da amiga.

                “Porque vocês usam o mesmo colar?” Taub perguntou, sem tirar os olhos do retrovisor.

                “O que?” ela murmurou um pouco dispersa.

                “Estes colares de couro.” Masters forçou, também olhando pelo espelho retrovisor. “Percy tem um igual.”

                “Ah, isso.”  Concordou, apesar de estar olhando para Thalia como alguém que implora por ajuda. A amiga apenas deu de ombros, e ela se viu obrigada a continuar. “É uma longa história.”

                “Claro, talvez você a conte mais tarde.” Taub murmurou apesar de já ter dado aquele assunto com encerrado.

                “Então...” ela começou “o que exatamente aconteceu com Percy?”

                “Esse é o problema na verdade.” Taub respondeu, antes que Masters sequer abrisse a boca. “Nós não sabemos.”

                Masters se perguntou, mais uma vez, como aqueles adolescentes, talvez apenas alguns anos mais novos que ela, podiam ser tão misteriosos. Mas, depois de pensar um pouco, optou por ficar calada. Ela tentou analisar Thalia mais uma vez, buscando por qualquer semelhança que ela poderia ter com Percy.

                Seus olhos eram azuis, e apreciam soltar faíscas. Ela tinha um ar imponente, completamente diferente do jeito relaxado dele. Os cabelos tinham o mesmo tom de preto, mas a pele era clara. Tudo que eles podiam ter em comum, seriam aqueles colares de contas.

                “E vocês são...?” a garota perguntou, percebendo o olhar de Masters em si e se lembrando de que não sabia o nome dos dois médicos de jaleco.

                “Eu sou, Dr. Chris Taub e esta é Martha Masters.” Taub respondeu por ela.

                “Espera” Annabeth começou. “Você não e uma médica?”

                “Pretendo ser” Masters disse pensativa. “Mas, é, não. Por enquanto eu sou só uma estudante.”

                “Vocês são os médicos responsáveis por Percy.... certo?” Thalia perguntou pensativa.

                “Não exatamente.” Taub disse ao mesmo tempo em que mudava a marcha. “Nós... Trabalhamos para o médico que pegou o caso dele.”

                “Qual o nome dele?” a loira perguntou baixinho, como se não esperasse uma resposta.

                “Dr. Gregori  House”  Masters respondeu.

                “Eu li uma artigo sobre ele.” Ela falou, fazendo a amiga revirar os olhos. “Um gênio da medicina, não é?”

                “Não crie muitas expectativas.” Taub disse, parecendo concentrado no trânsito. “House não é um sujeito exatamente agradável.”

                “Chegamos.” Masters anunciou, ao mesmo tempo em que Dr. Taub desligava o carro.

                House começou a ir em direção a seu escritório, mas achou Foreman e Chase sentados em dois dos muitos bancos de um corredor. Ele se sentou ao lado de Chase, que segurava a ficha do paciente.

                “Conseguiram alguma coisa?” perguntou rabugento, apesar de estar mais do que feliz por ter saído da clínica.

                “Nada” Foreman disse, com uma expressão de derrota inconfundível.

                “Bom, eu quebrei duas agulhas e um bisturi.” Chase completou. “Parece que você não mentiu. O cara é o X-man. Com direito aos super-poderes e tudo.”

                “Ele tem seus encantos.” House observou apoiando sua cabeça na bengala. “Só não vá se apaixonar. Ele disse que já tem namorada.” Acrescentou irônico, mesmo sendo completamente ignorado por Chase. “Conseguiram mais alguma coisa?”

                “Pedi um exame de urina.” Foreman respondeu calmamente. “Não vai nos dizer tanto quanto um toxicológico... mas já é alguma coisa.”

                “Eu concordo com Masters.” Chase falou irritado. “Isso é inútil. Tudo que esse cara pode fazer é quebrar os equipamentos do hospital, deixar as enfermeiras distraídas e os seguranças irritados por terem que ficar vigiando sua porta.”

                “Amém.” O chefe disse com um sorriso diabólico. Por um segundo, Chase acreditou que aquele era objetivo, mas acabou lembrando que estava falando com House.

“Talvez nós conseguíssemos abaixar as defesas do corpo dele.” Foreman parecia esperançoso.

                “Não acho que drogas seriam uma boa solução.” Chase discordou. “Sequer sabemos se ele pode ter alguma reação alérgica.”

                “É minha melhor solução até agora.” Foreman respondeu dando de ombros.

                “Já fizeram uma tomografia?” House perguntou para ninguém em especial, totalmente alheio a discussão dos médicos.

                “Não.” Chase olhava para ficha do paciente. “Ele não este tão machucado assim. Sequer está doente, na verdade.”

                “Façam. Eu pedi uma ficha.” House repreendeu, parecendo rabugento de novo.

                “Isso seria totalmente ilógi-” Foreman começou, mas foi interrompido pelo toque de seu bip. “It’s Taub. Eles acharam a garota.”

                “Chamem o Mrs. Unknow.” O chefe disse ao mesmo tempo em que se levantava. “Nós nos encontramos lá em baixo.”

                As portas dos elevadores se abriram e House foi até o balcão.

                Masters e Taub estavam com uma expressão mil vezes mais vitoriosa do que Chase e Foreman. Atrás deles, havia duas garotas. Uma era alta e loira, e a outra era levemente mais baixa, morena e com varias mechas azuis no cabelo. Ele se aproximou dos quatro, franzindo o cenho.

                “Você sabe que eu só pedi uma Thalia, certo?” ele perguntou levemente confuso, mas totalmente irônico.

                “Claro. Esta é a Thalia.” Taub respondeu gesticulando para a garota morena. “E esta é a Annabeth” completou gesticulando para a loira. “A garota do bilhete, eu acho.”

                “Que bilhete?” Annabeth perguntou duvidosa.

                “Certo. Temos uma Princess Punk e uma Silver-fox. Alguém aí viu o X-man?” House perguntou ignorando-a completamente.  Thalia levantou uma sobrancelha com uma expressão engraçada, encarando House ameaçadoramente quando ele falou Princess Punk.

                “Annabeth!” uma voz exclamou atrás dele. Percy acabar de sair correndo do elevador, com Chase e Foreman ao seu encalço. Ele passou por House como se ele fosse invisível, abraçando a garota loira com força. Thalia revirou os olhos.

                “Isso acontece sempre?” House perguntou para ela, franzindo o cenho para o casal.

                “Com mais frequência do que você imagina” ela respondeu dando de ombros.

“CABEÇA -DE-ALGAS!” A amiga exclamou a sua esquerda, dando um tapa no namorado. “QUAL É O SEU PROBLEMA?”

                “Annie, shh...” ele disse olhando para os lados. Quase todos na recepção haviam parado e começado a olhar para os dois de uma forma estranha. Annabeth ficou vermelha, desviando os olhos para o chão.

                “Vamos logo com isso.”  Thalia disse irritadiça, revirando os olhos de novo. “Onde eu assino?”

                “Assinar... O que?”  Masters perguntou franzindo o cenho para a garota.

                “Para tirar esse idiota daqui” a garota punk justificou.

                “Você tem algum parentesco com meu paciente, Princess Punk?” House perguntou, sem nem olhar para ela.

                “Claro. Somos irmãos do coração” ela disse passando o braço pelo ombro de Percy em um abraço engraçado.

                “Você é maior de idade?” House perguntou, ainda sem olha para ela.

                “Tecnicamente... Sim” Thalia respondeu vagamente, parecendo pensativa.

                “Ótimo!” House exclamou com uma alegria falsa, finalmente olhando para ela. “Ele vai ficar exatamente onde está”

                “Nós não podemos o deixar ir. Não é seguro para sua saúde.” Masters justificou. “Além do mais, apenas membros da família maiores de idade e com comprovante de guarda pode retirar um paciente menor de idade do hospital.”

                “E se... Nós soubermos exatamente o que ele tem de errado?” Annabeth perguntou franzindo o cenho.

                “Vocês devem nos contar, nós o curamos, ele leva alta e pode sair.” Foreman respondeu calmamente.

                “Thalia, você não poderia... Você sabe...” Percy murmurou, parecendo extremamente sem jeito. Atrás de House, Chase franziu os olhos, encarando Annabeth fixamente.

                “É melhor você tirar os olhos dessa aí” Taub sussurrou em tom de censura para ele. “X-men parece fazer o tipo ciumento com ela.”

                “Não, é só que...” ele sussurrou de volta, sem tirar os olhos dela. “Ela me parece estranhamente familiar.”

                “Percy, você precisa realmente aprender a fazer isso...” Thalia disse irritadiça para seu irmão de coração. “Ou você acha que eu vou voltar para te salvar sempre que você precisar?”

                “Só faça.” Ele murmurou irritadiço em resposta.

                Thalia deu de ombros, voltando sua atenção para os médicos. Ela os analisou por um segundo, levantando a mão até o nível dos olhos e fazendo um estalo audível com os dedos. Em seguida, a recepção se movimentou com uma forte lufada de ventos que fez um bocado de papéis caírem no chão.

                “Percy está bem. Ele pode sair do hospital.” Ela disse quase em um sussurro, sem tirar os olhos de House.

                “E eu sou um gnomo mágico que adora dançar a macarena no lado escuro da lua.” Ele disse ironicamente. “Será que alguém não pode levar esses três de volta para o quarto?”

                “Não... Não funciona.” Thalia murmurou, estranhamente pálida, olhando para os lados como se tivesse medo de ser atacada no próximo minuto.

                “Claro que funciona. O truque do vento foi até bem legalzinho.” House disse impaciente, revirando os olhos.

                “Percy” Thalia disse em um quase sussurro se virando para o amigo e parecendo prestes a chorar. “A névoa não funciona.”