Friends By Fate escrita por Mandy-Jam


Capítulo 29
Caipiras do Texas


Notas iniciais do capítulo

Outro!



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- Texas... – Murmurou Rhamon pensativo – Mas... Como nós viemos para nesse trem? Digo... Estávamos em lugares totalmente diferentes.

- Bem... – Amanda estava passando a mão pelo seu calcanhar antes machucado. Não tinha mais nada ali, mas mesmo assim ela ainda olhava preocupada a minúscula marca que ficara no lugar. – Eu sei por que fomos nós. Sabem? Os que morreram.

- Nós não morremos droga. – Resmungou Rodrigo, porém ele queria saber o que Amanda tinha descoberto – Mas... Porque nós quatro?

- Porque nós fomos esquecidos. – Sorriu ela triste – Nossos pais... Eles não nos reclamaram, lembram? Por isso... A profecia estava se referindo á nós.

- Quer dizer... – Mateus estava sentado no chão do vagão. Ele mexia a perna inquieto por causa de sua hiperatividade, mas estava prestando atenção ao que seus amigos falavam. – Nós morremos por que nossos pais não falaram que eram... Nossos pais?

- Mas... Mas que droga. – Falou Rhamon. Ele estava sentado encostando-se contra a parede do vagão do jeito mais confortável possível. – Por que eles não falaram nada? Preferiram nos deixar morrer. Agora nunca saberemos quem eles são.

- Ahm... Talvez se... – Amanda queria continuar otimista, mas não via como seria possível conhecer seu pai ou mãe. Ela se ajeitou no monte de feno. Estava torcendo para que a cobra tivesse sumido e a deixasse em paz. – Eu... Não sei. Rodrigo... O que acontece quando as pessoas morrem?

- Como é que você quer que eu saiba? – Perguntou ele. Rodrigo estava sentado encima de uma caixa de madeira. Parecia um tipo de encomenda que talvez pudesse ser frágil, mas ele não estava nem aí. – Nunca morri!

- Não foi isso que eu quis dizer. – Falou Amanda tentando não rir – Quero saber se tem algum mito ou coisa parecida. Como o pessoal da Grécia explica isso?

Rodrigo entendeu. Ele olhou para Amanda pensativo, e depois acabou se lembrando dos mitos.

- Caronte. – Disse ele e todos o olharam sem entender – Caronte era o responsável por levar as pessoas mortas para o Mundo Inferior.

- Então... Será que vamos nos encontrar com ele? – Perguntou Amanda pensativa. Rodrigo estava pronto para gritar dizendo que eles não estavam mortos, mas ele acabou desistindo. Ele viu que discutir com eles seria inútil. – Mas... Rodrigo.

- Que foi? – Perguntou ele.

- Esse Caronte... Ele não era maligno ou coisa do tipo, né? – Quis saber Amanda – Por que se ele for um monstro, vai querer ferrar a nossa vida mais ainda.

- Ele... – Rodrigo parou para pensa naquilo. Era verdade. Se Caronte fosse maligno, eles estavam ferrados. – As pessoas quando morriam eram cremadas, ou enterradas com duas moedas nos olhos. Era o pagamento de Caronte, para que ele as levasse para o Mundo Inferior. Aí... Não haveria problemas nenhum, e a pessoa teria uma ida tranqüila.

- Ah, legal. Então ferrou, porque eu não tenho nenhuma moeda! – Exclamou Rhamon rindo da própria desgraça.

- Fuuu! – Fez Mateus – Eu nem sei se eu tenho alguma coisa!

- Olha, se alguém aqui tiver vai ter que me emprestar, entenderam? – Falou Rhamon apontando para todos – Eu não quero ficar... Espera. O que acontece com as pessoas que não tem dinheiro para pagar o Caronte?

- Sei lá, mas não parece ser nada bom. – Falou Amanda olhando para Rhamon – Olha... Eu vou arrumar essas moedas nem que para isso eu tenha que roubar um banco.

- Mas você morreu. Como vai roubar um banco? – Perguntou Mateus.

- Tá... Talvez não um banco, mas eu roubo vocês. – Falou Amanda com um olhar maligno, mas depois acabou rindo. – É brincadeira, gente. Eu não ia fazer isso.

- Parem com isso... – Falou Rodrigo – Nós não podemos estar mortos! Será que vocês não notam isso?

- Mas... Como nós poderíamos ter sobrevivido? – Perguntou Amanda para ele querendo realmente saber a resposta.

- Sei lá. Mas não estamos mortos. – Falou ele depois de alguns segundos de silêncio – E também... Se estivéssemos mortos... O Caronte apareceria e nos levaria para o Mundo Inferior de barco.

- Vai ver ao invés de um barco ele usa um trem agora. Isso faria bastante sentido. – Disse Amanda.

- Claro que não. – Falou Rodrigo, mas agora ele não tinha tanta segurança quanto antes. Ele desviou o olhar de Amanda um pouco. – Nós... Não estamos mortos. Não podemos estar. Simplesmente.

- Claro... – Rhamon revirou os olhos. Ele estava triste por seu parente Olimpiano ter deixado que tudo isso acontecesse com ele. Não queria admitir, é claro, mas também estava tenso para saber o que iria acontecer em seguida. Será que Caronte ia aterrorizá-los por causa das moedas? Ele esperava que não. – E quando esse trem parar?

- Ahm... Se estivermos mortos mesmo... O Caronte deve aparecer. – Refletiu Amanda mais para si mesma do que para os outros – Se não estivermos... O que eu realmente espero... Acho que só vamos parar no Texas sem dinheiro, nem lugar para ir.

- Que legal. – Comentou Mateus – De qualquer jeito... Estarmos ferrados.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos. Podiam ouvir o barulho do trem passando por cima dos trilhos. Deviam estar correndo bastante, embora eles não sentissem nada. Depois de um tempinho o trem começou a parar.

Os quatro olharam em volta no vagão. As paredes rangiam, e trincavam. Aquele trem devia ser bem velho. Aos poucos eles sentiram que estavam parando. A velocidade começou a diminuir, e por fim... Parou.

- Nós... Chegamos? – Perguntou Mateus olhando para a porta enorme do vagão. Ela estava fechada, pois eles provavelmente tinham parado no vagão de carga. E também porque as portas dos trens sempre ficam fechadas. Óbvio. – Isso é o inferno?

- Não é inferno, é Mundo Inferior seu animal. – Corrigiu Rodrigo – E, bem... Se isso for mesmo o Texas, sim. Nós estamos no inferno.

- Odeia tanto o Texas? – Perguntou Rhamon.

- Claro! Só tem um bando de caipiras babacas morando meio do mato! O que que tem de bom no Texas?! – Respondeu ele em seu tom de voz alto e habitual.

A porta do vagão começou a ranger, e eles pararam para olhar. Amanda pôs a mão encima do bolso da calça, bem onde o canivete de escoteiro ficava.

- Ei... – Sussurrou ela para os amigos – Se for o Caronte, nós temos que atacar. Não temos dinheiro, logo... Ele não vai facilitar para nós, não é?

- Sim. Vamos meter a porrada nesse desgraçado e pegar o barco dele. – Assentiu Rhamon segurando a sua foice ainda dentro da mochila.

- É isso aí! – Concordou Mateus pronto para pegar sua ferramenta.

Rodrigo fitava a porta, tenso. Ele não sabia como o Caronte era de verdade, mas já tinha visto algumas imagens dele em livros de história e não gostou nada. Ele não acreditava e nem queria acreditar que eles realmente estavam mortos, mas se estivessem... Ele não poderia deixar o Caronte piorar a situação deles.

Rodrigo segurou com força o seu punhal. Teisk estava deitado no chão. Ele olhou para o cão infernal e o chamou de preguiçoso. Ele levantou a cabeça e começou a encarar a porta também, ao ouvir isso.

A porta se abriu aos poucos revelando uma pessoa, mas antes que eles tivessem tempo de ver quem era...

- Morre diabo! – Berrou Rodrigo pulando encima da pessoa. Todos arregalaram os olhos para ele como se ele fosse louco. Amanda, Rhamon e Mateus saíram do vagão e viram que o lugar estava claro demais para ser o Mundo Inferior. Mesmo não estando lá... Dava para ter uma leve noção.

- Rodrigo...! – Amanda tentou chamar atenção dele, mas ele estava no chão dando socos em um garoto, que não parecia ser o Caronte.

- Toma, seu merda! Acha que pode me cobrar moedas?! Acha que eu tenho que pagar para morrer?! Vai ser ferrar! – Berrava ele. Amanda pensou que ele fosse matar o garoto, mas para a sua surpresa o garoto jogou Rodrigo para o lado com força. Ele começou a socar o estômago de Rodrigo.

- Vai se ferrar você, seu maluco! Quem você pensa que é para me bater, seu babaca?! – Berrava o garoto enquanto batia nele sem parar.

Rhamon e Mateus tiveram vontade de rir. Aquilo estava tão sem sentido e estranho que chegava á ser engraçado. Amanda também pensou em rir, mas achou melhor guardar isso para depois.

- Parem com isso! – Ela correu até eles, e com menos dificuldade que esperava conseguiu puxar o garoto para trás. Rodrigo se levantou curvado e provavelmente com dores no estômago. Ele correu na direção dele, mas Amanda empurrou-o para trás.

- Nem pense nisso, Rodrigo! – Alertou ela – Ele não é o Caronte! Para!

- Como é que você sabe?! – Perguntou ele estreitando os olhos para o garoto.

- Por que... Sei lá. Ele deveria ter nos atacado, né? – Sugeriu ela.

- Mas ele me atacou! Esse filho da mãe me acertou! – Reclamou ele.

- Porque você é um maluco psicopata! – Exclamou o garoto – Sempre faz isso?! Aparece e bate nas pessoas do nada?!

- E se eu fizer isso?! – Berrou ele – O que você vai fazer?!

- Para! – Exclamou Amanda. Rodrigo xingou e resmungou um pouco. Ele ia atacar o garoto novamente, mas Teisk pulou do vagão e começou a lamber Rodrigo. Isso deu tempo para a Amanda. Se ela agisse depressa, talvez pudesse evitar que o garoto chamasse a polícia. – Ahm... Oi. Desculpa por isso. Ele é completamente sem noção.

- Deu para notar. – Respondeu o garoto ajeitando a sua camisa. Rodrigo tinha deixado-a completamente bagunçada. – Como você agüenta?

- Seis anos de prática. – Riu Amanda – Mas... Meu nome é Amanda. O que te atacou foi o Rodrigo, aquele de óculos é o Rhamon e o com o pequeno topete é o Mateus.

Ele olhou para os outros. O garoto poderia jurar que nunca viu gente mais maluca que aquele Rodrigo.

- Seis anos de prática? Que inferno, hein Amanda? – Riu ele por fim – Meu nome é Marcos. Então... Vocês são do Acampamento Meio-Sangue?

Todos pararam e olharam para ele com cara de surpresa. Não esperavam por aquilo. Rodrigo empurrou Teisk para o lado e ajeitou a postura.

- Você... Como você sabe? – Perguntou ele.

- Talvez seja porque vocês estão com uma camisa laranja escrita “Acampamento Meio-Sangue”, sua anta! – Respondeu Marcos. Antes de Rodrigo mandar ele se ferrar, Marcos continuou a falar – Mas também... Eu sei que lugar é esse.

- Sério? – Perguntou Rhamon – Então você também é...?

- Um semideus? – Perguntou Marcos – É. Sou sim. Querem saber quem é a minha mãe?

- Não, seu babaca. – Cortou Rodrigo mal humorado – Não damos a mínima para a sua mãe. Quero mais que ela se ferre!

- Cala essa boca, Rodrigo! – Exclamou Amanda – Não precisa ser grosso!

- Deixa ele. – Falou Marcos mexendo os ombros em sinal de “não ligo” – Eu vou me lembrar disso... Rodrigo. Mas então... O que estavam fazendo no vagão de cargas?

- Nós... Não sabemos. Onde estamos? – Perguntou Mateus.

- Vocês estão na Austin Amtrak. Estação Austin Amtrak. – Contou Marcos ajeitando seu cabelo preto que estava completamente bagunçado. Ele era extremamente branco, e tinha olhos azuis. – Texas.

- Estado podre... – Resmungou Rodrigo.

- Nós pegamos a linha Missouri Pacific Railroad. – Disse Amanda distraída – Se seguirmos em frente vamos ter problemas. Esse trem vai direto para o México.

- Como você sabe disso? – Perguntou Rodrigo.

- Sei lá. Eu só... Sei. – Falou ela sem graça por ter dito aquilo em voz alta.

- Ela está certa. Para que vocês continuassem precisariam de um visto. Acho que não conseguiriam enganar os policiais e todo o resto da equipe de segurança. – Concordou Marcos – Mas... Para onde estão indo?

Eles pararam um minuto. Não tinham idéia.

- Sei lá. – Respondeu Mateus quebrando o silêncio.

- Espera aí... – Falou Marcos – Vocês... São o pessoal da profecia, certo? A do objeto perdido.

Rodrigo fez pose de “Fucke yeah, somos nós” e deu um passo á frente.

- Pois é... Somos nós. – Respondeu Rhamon achando ele maluco. – Como você sabe da profecia?

- É. Como os babacas caipiras do Texas sabem da profecia? – Perguntou Rodrigo.

- Os babacas do Texas sabem de mais coisas que você, indeterminado. – Disse Marcos estreitando os olhos – Agora... Precisam de alguma ajuda?

- Ah, sim. Nós...! – Amanda estava prestes a aceitar, mas ela foi interrompida por Rodrigo que puxou ela para trás. Ela parou ao lado de Rhamon e Mateus que não entenderam nada.

- Não precisamos da sua ajuda, seu merda! Vai se ferrar. Você e todo o resto dos caipiras babacas do Texas. – Falou Rodrigo desprezando a ajuda.

Seus amigos pensaram que Marcos ia começar a bater nele de novo, mas simplesmente deu de ombros novamente. A expressão dele dizia que não estava nem aí para a opinião de Rodrigo, muito menos para seus insultos. Rhamon sentiu que no futuro ainda ouviria falar de Marcos.

- Tá. Se você é tão bom assim, então se vira sozinho. – Falou Marcos. Rodrigo disse que ia se virar mesmo e começou a sair da estação seguido por Mateus e Rhamon, que reclamavam em seu ouvido. Amanda estava indo com eles, quando Marcos a chamou.

- Ei. – Ele olhou em volta como se estivesse esperando que algo ruim acontecesse a qualquer momento. Ou tenso esperando que alguém estivesse ouvindo aquilo. – O Texas é cheio de semideuses. Tente manter os seus amigos estranhos fora de problemas, certo?

Ele entregou para ela uma moeda. Um dracma de ouro.

- Ahm... Certo. Me desculpe pelo Rodrigo. – Falou Amanda sem jeito.

- Tranqüilo. Da próxima vez eu faço ele vomitar os pulmões. – Sorriu Marocs feliz com a idéia.

- É... Legal. – Disse Amanda.

Ela saiu correndo para chegar perto de seus amigos. Marcos tinha sido gentil com eles, mesmo depois de Rodrigo ter tentado matá-lo. Aquilo foi impressionante. Ele devia ser filho de algum Deus bem legal, pensou ela.

- Você é um otário! – Exclamava Rhamon – O cara podia ter nos ajudado, mas por causa dos seus problemas mentais a gente está no Texas sem direção, e sem dinheiro!

- Você quer a ajuda dele? – Perguntou Rodrigo de repente.

- Quero! – Respondeu Rhamon.

- Então se ferrou! Não vai ter! – Ele continuou andando, ignorando os palavrões e xingamentos que Rhamon estava falando.


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Notas finais do capítulo

Ai ai...Vocês não tem idéia de como eu ri escrevendo isso.Então... Para onde eles vão agora?Estão ferrados, é claro. Mas mesmo assim quero reviews!