- Olha só o que temos aqui... Uma pequena excursão? – Perguntou Medusa com uma voz calma – Não sabia que os Deuses se rebaixaram a tanto.

- Olhe a sua língua. – Alertou Hermes em um tom severo – Não vou admitir que fale assim comigo.

- Para a minha sorte... Eu não preciso falar, Hermes. – Sorriu a Medusa de um jeito que eles não podiam identificar se era um sorriso doce ou maligno – Eu uso métodos diferentes.

A Medusa usava um turbante na cabeça e óculos escuros. Natália quis saber se por baixo daquilo ela realmente tinha cabelos de cobra, mas achou melhor não arriscar.

- Filha de Poseidon. – A Medusa sorriu para Natália – Posso sentir a sua curiosidade. Você não é a única.

Ela olhou para os garotos, que pareciam estar em uma espécie de transe. Eles olhavam para os óculos da Medusa sem nem mesmo piscar os olhos.

- Parem! – Exclamou Hermes – Vão cair no truque dela!

- Não pode culpá-los, Deus. – Sorriu a Medusa – Afinal... Ninguém resiste á olhar para mim. Querem dar uma espiadinha?

- Não! – Exclamou Natália de repente.

Ela sabia que não acordaria seus amigos a tempo, por isso empurrou os dois para o chão. Rodrigo e Rhamon caíram de cara no chão, o que ajudou bastante. A Medusa tirou o turbante revelando seu cabelo sibilante formado por várias serpentes.

- Fechem os olhos! – Gritou Hermes alertando-os – Não olhem em nenhuma circunstância!

- Teisk! Não olhe! – Alertou Rodrigo.

O cão infernal desviou o olhar no mesmo instante. Até ele sabia que não poderia olhar para a Medusa. Natália, Rodrigo e Rhamon se levantaram tateando as estátuas de jardim. Não abriram os olhos de jeito nenhum.

- Vamos lá, queridos! – Medusa parecia sorrir – Só uma olhadinha.

Ela chegou perto de Rodrigo e ele pode sentir suas serpentes encostando em seu rosto, e sibilando em seu ouvido. Eles eram muitas. Ele ficou imaginando se alguma delas seria venenosa ou coisa do tipo.

A voz da Medusa era tão doce que quase fazia com que ele quisesse abrir os olhos. Ele lembrou de como gostava de mitologia, e foi tomado por curiosidade. Será que ela seria como nas imagens do livro?

- Será que eu sou assim? – Perguntou ela em seu ouvido – Quer ver o meu cabelo? Eu sei que você gosta de mitologia. Ia adorar me ver, não é?

- Não... – Murmurou ele fechando seus olhos com toda a sua força.

A Medusa segurou o seu queixo e o virou (provavelmente) para a direção de seus olhos.

- Sabe que não pode resistir a mim. Ninguém pode. – Sussurrou ela – Abra... O olho. Você pode fazer parte da minha coleção. Sabe muito bem que a missão de vocês não vale a pena. Deixe os Deuses lutarem as suas próprias batalhas.

- Não ouça ela! – Berrou Hermes.

Rodrigo ficou em silêncio. Ele estava morrendo de vontade de abrir os olhos, mas então fez outra coisa. Ele pegou o seu punhal e cortou algo na sua frente. Estava de olhos fechados, por isso não tinha como saber se era ela, mas ele esperava que tivesse atingido a Medusa.

- Sai daqui sua bruxa! Fica longe de mim! – Berrou ele.

A Medusa se esquivou no último momento. O punhal cortou o ar bem na sua frente. Alguns segundos e ela seria cortada ao meio. Mas também não teve tanta sorte. Teisk estava atrás dela, pois sabia exatamente o que Rodrigo ia fazer.

Medusa tropeçou em Teisk e caiu no chão.

- Corram! – Exclamou Natália.

Ela foi para a direita, enquanto Rodrigo e Rhamon (de olhos fechados) deram de cara um com o outro. Hermes, que também não ousava abrir os olhos, pegou a mão de Natália e começou a puxá-la.

- Vamos para o carro! – Exclamou ele – Venham!

Natália foi com ele, enquanto Rhamon e Rodrigo tentavam se levantar.

- Porra, seu babaca! A gente vai morrer por culpa sua! – Reclamou Rodrigo tateando as estátuas para manter o equilíbrio.

- Culpa minha?! Você que veio para o mesmo lado que eu! – Protestou Rhamon.

Os dois pararam de discutir quando ouviram o som das cobras. Estavam se aproximando e Rhamon podia sentir isso.

- Corra para a direita. Lembre-se disso! – Exclamou Rhamon.

Ele virou-se junto com Rodrigo e os dois começaram a correr, mas a Medusa foi mais rápida.

- Aonda pensam que vão, heróis? – Praticamente sibilou.

Algo passou por baixo dos pés deles e os puxou para trás. Eles caíram novamente. Podiam sentir o chão de cascalho arranhando seus rostos.

- Não tornem isso complicado. – Falou a Medusa como se estivesse pedindo para que eles lhe emprestassem uma xícara de açúcar, e não para que abrissem os olhos e virassem estátuas de jardim – Abram os olhos, e me poupem do trabalho de forçá-los á isso.

- Saí para lá! – Prostestou Rhamon chutando o que quer que estivesse segurando os pés deles – Nós não vamos virar estátuas!

Ele acertou o pescoço da Medusa (da alguma forma) e ela cambaleou para trás.

- Ah! – Exclamou ela irritada – Quando os titãs se erguerem novamente, eu vou entregar as suas estátuas para servirem de tiro ao alvo!

- E quanto eu pegar você vou te dar um novo corte de cabelo! – Exclamou Rodrigo ajudando Rhamon a se levantar.

Teisk começou a latir indicando o caminho para que eles corressem. Rodrigo e Rhamon seguiram, atrapalhados, o som de seu latido. Teisk podia não estar de olhos abertos, mas sentia o cheiro das coisas.

Ele entrou cada vez mais no Empório de estátuas de jardim deixando a Medusa para trás. Rodrigo abriu os olhos devagar. Eles estavam no meio de um círculo de terra cercados de estátuas.

- O que vamos fazer? Ela vai acabar com a gente! – Rhamon tirou da sua mochila a sua foice e fitou o chão preparado para cortar qualquer coisa que aparecesse na sua frente.

- Vai nada! – Rodrigo tentou parecer seguro – Nós só temos que sair correndo e entrar na droga do carro roubado de Hermes. Só isso.

- É... E torcer para não virarmos estátuas de jardim! – Completou Rhamon – Bem fácil.

- Aí estão vocês. – A Medusa parecia sorrir.

- Olha para o chão! – Exclamou Rodrigo – Ela está bem na nossa frente!

Rhamon não queria conferir. Ele seguiu o conselho de Rodrigo e fechou os olhos com força. Em suas mãos a foice estava pronta para cortar algo. Ele só esperava que não fosse o Rodrigo...

- Teisk... Corre. – Falou Rodrigo.

- Você... Você quer que ele se salve, Rodrigo? – Perguntou Rhamons sem acreditar na bondade dele.

- É claro que não! Corre para cima dela! Não queria vir comigo?! Então sirva como arma, droga! – Exclamou Rodrigo.

Teisk parou na frente dos dois, pronto para morder a Medusa se ela desse um passo. Ela fez uma careta para ele.

- Argh! Um cão infernal. – Suas cobras sibilaram agressivas, e Teisk mostrou seus dentes afiados – Não importa. Você não vai me impedir. Se você ficar comportado eu posso até de por na coleção também.

Teisk latiu. Rodrigo preparou seu punhal na mão e apontou para frente. Rhamon não sabia o que fazer com a sua foice. Tinha medo de cortar Rodrigo ou Teisk com um movimento brusco.   

- Chega disso! Caí dentro e vamos ver do que você é capaz! – Desafiou Rodrigo irritado, e a Medusa pareceu sorrir.

- Com prazer, herói. – Ela avançou na direção deles.

Depois disso eles não puderam dizer ao certo o que aconteceu. A Medusa deve ter lançado Teisk encima deles, ou o cão deve ter pulado... De qualquer jeito, eles foram lançados para trás. Teisk acertou o estômago dos dois, e eles bateram de cabeça contra uma estátua de jardim.

Nesse momento, eles vacilaram.

Por causa do susto nenhum dos dois se lembrou de manter os olhos fechados. Eles piscavam várias vezes, pois a visão estava completamente turva. Rhamon tinha certeza de que ele devia estar sangrando ou algo parecido. Rodrigo estava atordoado demais para pensar em qualquer coisa.

Quase que no mesmo instante, seus olhos viram os pés da Medusa. Ela foi bem rápida. Aproveitou que eles ainda estavam desorientados e puxou o rosto deles para cima. Teisk rugiu. O chão tremeu.

- Não! – Gritaram Rodrigo e Rhamon ao mesmo tempo.

- Como vamos saber se eles estão bem?! – Perguntou Natália nervosa.

- Eles vão conseguir. Só podemos esperar. – Falou Hermes tenso.

Natália ia dizer mais alguma coisa, mas então... Ela se calou. Os dois sentiram o chão tremer. Estava de noite, o que dificultava um pouco eles enxergarem o que havia acontecido, mas eles conseguiram ver.

O teto, as estátuas, as paredes... Tudo desabou levantando poeira. Hermes e Natália fitaram chocados com a cena.

- Rodrigo! Rhamon! – Berrou ela.

Hermes respirou fundo, e olhou para ela movendo a cabeça em um sinal negativo. Natália congelou.

- Não. Não! Eles... Eles estão lá! Vamos ajudá-los! – Exclamou Natália tirando o cinto de segurança e tentando sair do carro, mas Hermes segurou-a.

- Eles... Não estão mais aqui. – Falou em um tom pesado e ressentido.

- Co-Como você pode saber?! – Perguntou ela sentindo que ia chorar – Você não sabia que a Medusa...!

- Ela não estava lá quando chegamos. – Falou Hermes tentando ficar calmo – Algo de errado aconteceu... Mas... Eu posso sentir. Eles não estão aqui. E... Nem ela. Não mais.

Aquelas palavras acertaram a Natália como se fossem facas. Ela podia discutir com Hermes, podia sair correndo do carro e tentar procurar nos destroços, mas ela não fe nada disso. Simplesmente começou a chorar.

Hermes não dirigiu. Ele resolveu parar um pouco e respirar. Mesmo que Rodrigo e ele não se dessem bem, ele se sentiu extremamente mal com aquilo. Quanto ao Rhamon... Bem, Hermes achava ele um garoto bem simpático. Não era o seu filho, mas mesmo assim... Ele resolveu parar de pensar naquilo. Não podia simplesmente começar a chorar. Tinha que se manter forte, senão Natália não agüentaria.

Ele pôs a mão sobre seu ombro.

- Está tudo bem. Vai ficar tudo bem... – Murmurou Hermes tentando passar o máximo de confiança para ela.

Eles ficaram ali por uns minutos só ouvindo o som do choro da Natália.

O grupo de Afrodite parou a limusine quando era exatamente oito horas. Estavam todos mais que cansados, mesmo que aquele veículo fosse melhor do que todos os hotéis em que eles já dormiram.

- Queridos! – Cantou Afrodite – Acordem!

Eles piscaram os olhos. Rita estava dormindo sobre o ombro de Mateus, e ele estava apoiando a cabeça na dela. Vinícius estava com o rosto encostado no vidro e babando, o que não fez a Deusa do amor muito feliz.

Eles desceram do carro depois de Afrodite reclamar um pouco com Vinícius, e pararam na calçada. O que eles viram os deixou de boca aberta.

Estava de noite, mas eles podiam ver o brilho de Hollywood inteira. Limusines eram as coisas mais comuns ali (embora a de Afrodite ainda superasse qualquer outra). Eles estavam na frente de um estúdio de filmagem enorme. Tinha uma cancela com um segurança na entrada. Afrodite sorriu para eles.

- Então... Nós vamos passar a noite ali. – Sorriu ela apontando para o lugar – Tem um camarim per-fei-to e você têm que ver Rita.

- Ahm... Mãe. Como vamos entrar? – Perguntou ela olhando para o segurança enorme e musculoso na porta.

- Ah... Sim. Ele. – Afrodite notou – Droga.

- Acho que eu consigo dar um jeito. – Murmurou Rita andando até ele.

Mateus e Vinícius se entreolharam. Mateus apostou que Rita conseguiria, e Vinícius que não. Depois de alguns minutos esperando, Rita conseguiu convencer o segurança. Ele sorriu feliz para eles, e abriu passagem.

- O que... Você fez? – Perguntou Vinícius para ela.

Rita sorriu e mostrou para Vinícius o colar que sua mãe tinha lhe dado de presente. O coração rosa começou a brilhar, e Vinícius desviou o olhar rapidamente.

- Não aponte isso para mim. Magia do amor faz mal para a saúde. – Vinícius teve uma idéia para uma piada – Deve dar problemas cardíacos. Sacou? Sacou? Problemas cardíacos!

Rita e Mateus olharam para ele sem rir.

- Não. – Falaram juntos – Não mesmo.

- Ninguém nunca ri das minhas piadas! – Choramingou Vinícius.

- Eu nem considero isso uma piada. – Falou Mateus.

Eles entraram no estúdio e fecharam a porta. Aquela hora já não tinha mais ninguém lá.

- Tarããm! – Fez Afrodite rodopiando e estendendo os braços – Aqui estamos nós. O melhor estúdio de toda Hollywood.

- É... Incível. – Sorriu Rita.

- É... Demais! – Concordou Mateus.

- É... Tanto faz. – Vinícius revirou os olhos.