A noite chegou lentamente, a escuridão que reinou no quarto era como um manto negro a me sufocar. Não sabia a quanto tempo estava ali fitando o teto , me obriguei a sair da cama e tateei as paredes a procura do interruptor de luz, o encontrei próximo ao espelho. Um click  e a claridade fez meus olhos lacrimejarem, mirei meu reflexo no espelho, estava extremamente pálida e os meus cabelos mais pareciam uma vassoura “uma vassoura rosa e desgrenhada” pensei. Desviei meus olhos do espelho os fixando na única porta que havia naquele quarto, me encaminhei para ela, girei a maçaneta lentamente como se estivesse em um filme desgastantemente lento. Outro click e o ambiente iluminou-se  mas meus olhos não lacrimejaram, outra vez meu reflexo no espelho, não prestei atenção a ele e sim ao banheiro, não me sentia assustada no momento, meus olhos esquadrinharam todo o local mas minha mente não se fixava em nada a não ser naquela banheira que estranhamente me atraia.  Me deixei ficar ali enquanto a torneira a enchia, eu poderia dar um mergulho nela se quisesse,mas não, eu estava sentada no centro dela com queixo descansando sobre os joelhos, olhando a água me tocar com uma lentidão confortável e morna .

Não sei dizer  quanto tempo fiquei ali,  sentindo a água molhar cada parte do meu corpo até que a mesma me cobriu por completo , na realidade eu não me importava em ficar submersa mas meus pulmões sim, e eles reclamaram violentamente  por ar , os atendi em desespero. O torpor em que minha mente se encontrava desapareceu rapidamente e a realidade me atingiu como uma verdade que não queria ser vista. “Eu estava presa em lugar desconhecido , e não tinha a mínima idéia de como sair dali “. Ao constatar o obvio minhas mãos buscaram automaticamente uma toalha que até o momento eu não tinha percebido que estava ali. A enrolei desajeitadamente em meu corpo e saí apressada com o medo querendo dominar meus sentidos. Mas eu não deixaria ele me paralisar como um sacrifício sem expectativas de salvação, ao sair pela porta do banheiro eu estaquei e meus olhos se fixaram sobre a cama.

- Você pertence a ele. A voz de Ino ecoou em minha mente , e eu a ignorei sem constrangimento.

“Lindo”. Foi a primeira palavra que minha mente formou, a cautela e o instinto de sobrevivência deixaram de existir para mim naquele momento e eu me aproximei inconscientemente da cama , se aquele ser abrisse os olhos, me veria frente a ele.Minha mente gritava “lindo” e meus olhos não se desviavam da face dele por um segundo sequer, cabelos negros como a meia noite emolduravam um rosto sereno as sobrancelhas e os cílios eram iqualmente  negros o que com certeza o deixavam com a pele mais branca que eu já havia visto. Me lembrei da Grecia e seu deuses, se Apolo era os deus do sol com seus cabelos loiros e a pele dourada aquele ser diante de mim era o deus da Lua com seus cabelos negros e pele branca como a lua.

- Ele é um monstro...

- Monstro...

- Monstro... A voz de Ino voltou a ecoar como um CD arranhado, fechei meus olhos numa tentativa falha de faze-la desaparecer da minha mente, quando voltei a abri-los paralisei ao vê-lo me fitando com olhos cor de nanquim enigmáticos, e eu me vi presa e entregue aquele olhar. Meus olhos arderam “ eu precisava piscar” mas não queria, eu não poderia fechar meus olhos e deixar de vê-lo por medo que ele desaparecesse, mas pisquei ao ver um tronco nu em  minha frente. Dedos gelados tocaram meu queixo fazendo com que eu erguesse a cabeça lentamente e lá estava o rosto mais lindo que eu havia visto,  precisava toca-lo para saber se ele era real, minhas mão ergueram-se e eu toquei sua face não me importando com a temperatura fria que meus dedos sentiram, eu o acariciei mas ele não mostrou nenhuma reação ao meu toque.

- Humanos, tão facilmente seduzidos. - Uma voz sarcástica e cruel soou aos meus ouvidos eu já a  havia  escutado antes e isso fez com que desviasse a atenção do rosto dele e procurasse pela pessoa que a tinha pronunciado , mas não havia ninguém somente o ser e eu naquele quarto. Voltei a fita-lo nos olhos confusa, vi os olhos ônix ficarem escarlates e cruéis.

A fascinação que me atraía para ele se transformou em puro medo, e sentir todo meu corpo ser atacado por dores que me fizeram gemer em puro desespero, minhas pernas bambearam ante ao ataque eu me sentir  enlaçada pela cintura. Estava sobre algo macio,mas isso não importava, tudo que minha mente processava era a dor e aqueles olhos vermelhos que me mantinham cativa naquele tormento , a dor abrandou-se no meu corpo e foi redirecionada para minha cabeça “ a morte seria um alivio” era algo que eu conseguia pensar.

- Você pertence a mim. De novo a voz rouca e cruel em meus ouvidos. “ Quem é”? quem faz isso comigo? Eu queria gritar.

    - Uchiha Sasuke. Foi tudo que ouvir antes de sentir agulhas em brasa perfurando a carne do meu pescoço, me deixei levar exausta pela dor.