CAPÍTULO 57

SOLLARIA

POV's Stella

Suspirei. Nico não estava mais comigo. Ele tinha voltado para a Terra para lutar.

Algumas batidas na porta me tiraram dos meus devaneios.

“Pode entrar” falei, deixando a carta ao meu lado.

“Stella? Está na hora do almoço” falou Dani, entrando no quarto.

“Eu não vou voltar para lá” falei, sem me levantar.

“Stella...”

“Dani, eu não posso. Eles estão me enlouquecendo. Será que eles não percebem que também podem ser felizes se não ficarem tão obcecados por me dizer o que fazer?” não dei tempo para ela falar. “Além disso, ainda tem esses pretendentes idiotas, meus deuses, será que eles não pensam nas garotas que realmente gostam deles? Quero dizer, Matthew tinha uma namorada. Um prima minha, bem distante, mas costumávamos conversar um pouco. Ela ainda é louquinha por ele. E o Andrew... você gosta tanto dele. Se ele desse uma chance... Posso não ser filha de Afrodite, mas aposto que vocês seriam um lindo casal.”

“Não há nada que você possa fazer por isso, Stella.” ela falou, meio triste.

“Será mesmo?” dei um sorriso.

“Que cara é essa? Ah, não. Para de fazer essa cara, sempre que fazia isso quando éramos crianças algum problema chegava logo logo.” tentei conter o sorriso, mas não consegui. “No que você está pensando?” perguntou Dani.

“Eu vou almoçar” falei, sem me importar em responder a pergunta dela. “Vem, Mary”

“Eu vou levá-la para almoçar na cozinha.” falou Dani.

“Por quê? Ela é minha convidada, almoça comigo”

“Não, Stella, tudo bem, eu não quero ficar perto de tanta gente” Mary falou alguma coisa pela primeira vez desde que Dani tinha entrado no quarto.

“Então tá. Dani, depois você vai me ajudar a fazer uma coisa, é muito importante.” e dizendo isso, eu saí do quarto, andando distraidamente até a sala de jantar.

Assim que me sentei, a comida foi servida, pois eu fui a última pessoa a chegar, coisa que estava se tornando muito comum.

“O que foi aquilo no café da manhã?” Andrew, que estava sentado ao meu lado, perguntou num sussurro quase inaudível.

“Por favor, não me lembre disso” respondi num gemido, me lembrando dos gritos que troquei com Nico apenas um dia depois de fazermos as pazes.

“Tudo bem, mas qualquer coisa que estiver te incomodando sabe que pode contar comigo, né?”

“Own, você é muito fofo... É um grande amigo, sabia?”dei um leve sorriso para ele, que me deu um sorriso triste de volta.

“É... só um amigo” repetiu tristonho. “Precisamos conversar sobre o que me disse no festival, longe deles e de tudo isso”

“Sim, nós realmente precisamos. Hoje a noite, depois de todos irem dormir, me encontre perto do lago.” sussurrei de volta.

“O que vocês dois tanto cochicham?” me perguntou Brandon, se inclinando sobre o prato, também falando em voz baixa, mas ainda assim conseguindo chamar a atenção de quase todas as pessoas sentadas à mesa.

“Nada importante” falei num tom evasivo, dando um sorriso.

“Desculpe perguntar, mas o que foi aquilo hoje de manhã?” adivinha quem perguntou? Quem sempre consegue achar um jeito de me irritar ou envergonhar? Lorde Navarro.

“Problemas. Aquilo foram problemas que eu poderia ajudar a resolver se não estivesse aqui” falei, em voz baixa, mas mesmo assim clara.

“E que tipo de problema seria?” alguém que não me dei ao trabalho de descobrir quem tinha me perguntado.

“Esses problemas não tem nada a ver com a princesa Stella e consequentemente não tem nada a ver com vocês” falei, começando realmente a me irritar.

“Filha, não seja rude” repreendeu minha mãe.

“Me desculpem. Só estou preocupada com...” consegui fechar minha boca antes de falar mais besteira. Balancei a cabeça e voltei minha atenção para meu prato.

“Então, hoje iremos novamente ao festival...” falou minha avó, tentando mudar o rumo da conversa, o que funcionou muito bem para todos, exceto para mim.

“Eu estou tonta...” murmurei, recostando minha cabeça no encosto da cadeira e fechando meus olhos de forma cansada. Depois fiz meu corpo se inclinar em direção à mesa, sabendo que Andrew iria me segurar antes que eu atingisse a mesa.

“Stella!” varias vozes me chamavam, mas eu não abri os olhos, continuei fingindo nos braços de Andrew. Enquanto ele me levava ao meu quarto, sendo acompanhado por várias pessoas, deixei minha mente vagar se ser preenchida por pensamentos confusos e preocupados, sem me importar com a dor que eles me causavam e me arrependendo de ter brigado com Nico. Não foi bem uma briga, mas considerando as circunstancias... Não, me repreendi, não vou pensar nessa possibilidade.

Senti meu corpo tocar a cama e os travesseiros e deixei que ele relaxasse contra maciez e o conforto da colcha bordada.

“Obrigada, querido” escutei minha mãe falar para alguém, provavelmente Andrew. “Pode voltar para o café, eu cuido dela.”

“Sim, Majestade” e eu praticamente pude ver a reverência elegante que ele certamente fez para ela, antes de sair do quarto.

Senti a presença de minha mãe ao meu lado quando ela sentou-se na cama.

“Ah, querida. O que está acontecendo com você?” ela se lamentou. Senti um aperto no coração por deixá-la preocupada sem necessidade, mas eu não suportaria ficar naquela sala por nem mais um segundo. Fingir um desmaio foi a maneira mais diplomática em que eu consegui pensar no momento e se eu demorasse mais, eu sabia que ia fazer algo de que me arrependeria depois.

Aguardei mais alguns segundos e abri os olhos, piscando lentamente. Senti minha mãe me abraçar apertado e dei uma leve risada com a reação dela.

“Mamãe, acalme-se.” pedi, sorrindo, quando ela finalmente me soltou e me olhou com os olhos marejados. Me sentei “O que aconteceu?”

“Você teve uma tontura e desmaiou. Querida, o que está acontecendo?” ela me olhava nos olhos, de uma forma muito preocupada. Os matizes verdes de seus olhos me prendiam neles, tentando extrair toda a verdade que eu me esforçava em esconder meticulosamente. Desviei o olhar para minhas mãos que estavam em meu colo.

“Não quero falar sobre isso”

“Querida...”

“Por favor, mamãe. Por favor, não me faça falar sobre isso” e sem perceber eu estava chorando de novo. “Dói.” murmurei, apertando o tecido que estava em minhas mãos com toda força que possuía. “Eu não posso falar sobre isso...” balancei a cabeça. “Não posso...”

“Tudo bem, querida. Mas depois falaremos sobre isso.” ela falou, num tom maternal e consolador. “Agora descanse para ficar mais calma para o festival.”

“Não vou.” resmunguei, me deitando e cobrindo a cabeça com a colcha.

“Não vai o quê?” perguntou minha mãe com uma voz que me fez ter certeza que ela estava prendendo o riso.

“Não vou para esse festival idiota” minha voz estava abafada pelo tecido.

“Querida, mas é claro que você vai” ela puxou a colcha do meu rosto, bagunçando meu cabelo “Você tem que abrir o show, como faz todo ano há muito tempo, e eu sei que você gosta muito do festival.”

“Mas eu não estou no clima para festinhas”

“Querida, ela já acordou?” era a voz de meu pai, que estava com o rosto para dentro do quarto nos olhando através da porta entreaberta.

“Ah, entre, papai” a palavra arranhou em minha garganta, porque apesar de sempre tê-lo chamado assim, eu me sentia suja e estranha chamando ele desse jeito. Ele sempre tinha cuidado de mim, eu o amava e não achava justo minha mãe tê-lo traído. Senti minha respiração ficar presa e quase solucei, mas consegui disfarçar sem que eles notassem.

“Está melhor, meu Raio de Sol?” ele me perguntou, sentando na mesma cadeira que tinha sido ocupada por Nico. Pensar nele só fez minha dor aumentar e eu não consegui encontrar minha voz, só acenei positivamente com a cabeça.

“Sim, ela já se sente melhor” falou minha mãe, passando a mão em meu cabelo. “Mas está com uma recente onda de rebeldia” ela repreendeu. Eu gemi e puxei de novo a coberta por sobre minha cabeça.

“Não acredito que vai insistir nisso” gemi novamente, com a voz abafada.

“Pode acreditar, eu vou insistir nisso, Stella del Solle!” ralhou mamãe.

“Insistir em quê?” perguntou meu... pai de criação, e eu nem precisava olhar para seu rosto para saber que ele estava com uma expressão completamente perdida e confusa. Eu poderia rir, se não estivesse com um humor tão ruim. Eu tinha que ver a expressão dele, então tirei a colcha da cabeça e vi o que eu tinha certeza que veria. O grande rei Stefan estava completamente desinformado e não estava nem um pouco contente com isso. Contorci minha boca, tentando esconder um sorriso.

“Essa menina está me deixando louca!” mamãe jogou os braços para cima, fazendo uma expressão de raiva que em nada combinava com ela. A reação dele fez com que meu pai também contorcesse a boca, de um jeito muito engraçado, que era até meio parecido com meu jeito de fazê-lo, o que por um instante me fez pensar se eu realmente não poderia ser filha dele. Nós dois éramos parecidos em vários aspectos, até em alguns físicos e definitivamente se minha mãe e ele fossem parentes seria de um grau tão distante que isso nem importaria geneticamente. Eu fiquei momentaneamente confusa, como eu poderia parecer tanto com ele sendo que não era sua filha? Mas eu não pude pensar muito nisso porque mamãe estava apontando o dedo para mim. “Você, está me envergonhando. O que foi aquilo no café da manhã? Uma garotinha que por sinal nem está aqui agora aparece do nada e você larga todos os seus convidados sem nem ao menos pedir licença. Depois fica dando respostas nada educadas no almoço e ainda me vem com essa de não ir para o Festival que é realizado por sua causa.”

“Stella, você está se recusando a ir ao Festival?” agora papai parecia estar entendendo a raiva de mamãe e ele estava começando a ficar irritado também, mas eu o ignorei e fiquei de pé. Eles não eram os únicos que estavam com raiva.

“Em primeiro lugar: aqueles não são meus convidados. Só meus amigos o são, e talvez Andrew, se não estivéssemos nessa situação! Aquela garotinha, ela ficou com medo da possibilidade de me causar problemas e preferiu almoçar na cozinha. Ela não apareceu do nada. Ela é tão nobre ou até mais do que muitos dos que estão lá embaixo. Sabe a idade dela? Ela só tem dez anos e meio, mas ela queria ficar com seus irmãos e lutar. Lutar numa guerra de verdade. A irmã dela, uma amiga muito preciosa para mim, a obrigou a ir para algum lugar seguro e trouxeram ela para cá. Eu sabia que se ela estava aqui os problemas tinham piorado exponencialmente e quer saber? Eu estava certa. E não, eu não vou a essa porcaria de Festival idiota. Que façam ele sem mim.”

Acho que eles não escutaram metade do que eu disse, porque eu falei tão rápido que as palavras se embolavam em minha língua, mas isso não me importava porque eu estava irritada. Eu tinha até me esquecido do plano que eu estava bolando hoje mais cedo.

“Stella del Solle!” meu pai quase gritou. “Não erga o tom de voz para sua mãe, ou para mim! Somos os seus pais e você nos deve respeito! Nós te criamos para ser uma dama, não uma qualquer, portanto comporte-se como tal. Nós te demos nosso amor e em troca é isso que você tem para nos dar?”

“Mentiras!” gritei, me descontrolando ainda mais. “Mentiras! Isso tudo é uma grande farsa! Eu fui criada apenas para me casar e ficar fingindo enquanto alguém controlava tudo ao meu redor. Stella, você não pode brincar com as outras crianças, deve ficar aqui dentro se arrumando para o jantar com o duque sei-lá-das-quantas. Stella, você não pode correr, vai estragar o seu vestido e seu penteado. Uma dama não deve interromper as conversas dos seus superiores, mesmo que eles sejam um bando de bajuladores e seu pai e ela só tivesse sete anos e só queria um pouco da atenção do homem com que mais se importava em no mundo inteiro!” Eu sentia meu rosto queimar de raiva, eu devo estar muito vermelha nesse momento. Minha mãe e o homem que eu acreditei ser meu pai durante toda minha vida empalideceram com minhas palavras. Eu estava arfando como se tivesse corrido uma distância gigantesca no calor de meio dia.

“Do que você está falando, criança insolente?” o rei me perguntou. “Nós sempre...”

“Eu não quero mais mentiras! Eu sou só um prêmio a ser disputado por seus convidados. Eu não passo de um objeto a ser vendido! É só isso que eu sou: uma coisa a ser mostrada para os outros como uma joia cara que vocês obtiveram na esperança de fazer inveja aos outros, para mostrar a sua superioridade. Vejam, é a herdeira de Sollaria, olha só como ela é bonita, mas não é só isso, ela toca, dança e canta... tão bem.” meus olhos ardiam, mas eu não ia chorar na frente deles. “E os meus sentimentos? Como eu fico? Mas eu não posso pensar em mim eu devo pensar primeiro em meu povo, em minha família, em meus convidados... tudo vem antes de mim. Mas porque deveria ser diferente? Eu não sou nada... sou só uma garota que achava que histórias de princesa sempre tinham finais felizes, como nas histórias que contam às crianças da Terra.”

“Filha, não fale assim, você sabe que nós te amamos” falou minha mãe, com os olhos marejados.

“Sei? Ah, claro! Como eu sou idiota! Está óbvio o quanto vocês me amam!” falei com sarcasmo. “O suficiente para roubar minha felicidade me obrigando a casar com alguém que não amo. Como eu não percebi isso antes?” Minha mãe pareceu perder as palavras e começou a chorar em silêncio.

“Não fale assim com sua mãe, mocinha!” vociferou o rei Stefan. “A realeza deve fazer sacrifícios pelo seu povo. E você é a expressão máxima da realeza de Sollaria, depois de mim e de sua mãe, então seus sacrifícios devem ser maiores. Sollaria é a terra do Sol e da Lua, a junção dos nossos povos, a coroa de nosso reino pertence a você, e somente a você.”

“Essa coroa idiota não é minha! Você não é meu pai!” gritei, me arrependendo de ter falado aquelas palavras, porque apesar dos acontecimentos recentes, eu amava ele como um pai, do mesmo modo que amava Apolo.

“Mas o quê? O que você está insinuando? Quanta petulância! Você vai para este Festival, nem que eu tenha que amarrá-la e arrastá-la até lá. E você vai abrir o show, estamos entendidos?” a voz dele estava baixa e contida, quase calma, de forma que me assustou mais do que se ele gritasse em fúria.

“Ótimo!” gritei e corri para o banheiro, batendo a porta e escorregando por ela até o chão. Deixei os soluços reprimidos sacudirem meu corpo em ondas de dor. Minhas lágrimas pareciam rasgar minha pele, deixando rastros quentes. Abracei os joelhos e deitei minha cabeça neles.

Não sei por quanto tempo eu fiquei assim, mas escutei vozes me chamando do lado de fora da porta.

“Me deixe em paz!” grite, entre os soluços incessantes. “Será que eu não posso ficar sozinha com o que resta de mim?”

“Não, você não pode!” respondeu uma voz conhecida. Era Bloom.

“Anda, abre essa porta” a voz de Flora estava dura e séria, ao contrário da voz doce que era característica dela e foi a surpresa que me fez abrir a porta. Flora e Bloom não era as únicas que estavam do outro lado da porta. Todas as minhas amigas estavam e apesar de serem tão diferentes, apresentavam o mesmo olhar de preocupação e um pouco de pena. Eu estava sofrendo demais para me importar com a pena, mesmo odiando quando me davam esse olhar.

“O que vocês querem?” perguntei cruzando meus braços, depois de enxugar uma lágrima que percorria meu rosto de forma lenta e torturante.

“Você está péssima.” falou Claire. “Por isso que eu digo que homens são imprestáveis.” ela resmungou.

“Claire!” repreendeu Dani.

“Stella, o que está acontecendo?” perguntou Tecna gentilmente.

“Eu...” pela segunda vez desde que chegara, eu estava com vontade de contar toda a verdade para elas, mas eu tinha medo de que elas me achassem loucos. Olhei para Dani e Claire fazendo uma pergunta muda. Elas assentiram. Com a permissão delas, eu pude começar a contar o que realmente tinha acontecido durante todo o tempo que passei fora. “É melhor sentar” falei, e quase sorri, me lembrando que eu comecei a contar a Percy e Annabeth que era uma fada quase desse jeito.

Elas se entreolharam, com exceção de Claire e Dani, mas logo fizeram o que eu tinha pedido.

“Bem... tudo começou quando eu resolvi fugir. Eu estava completamente furiosa por me obrigarem a casar com alguém que eu não amava. E então eu arrumei minhas coisas e fugi, usando o cetro para me transportar para algum lugar longe, nem imaginei onde iria parar, ou quais seriam as consequências, simplesmente fui. Eu me meti em encrenca assim que pisei em solo terrestre, mas eu fui salva por Nico. O garoto que vocês encontraram no hotel comigo e que apareceu aqui ontem. Ele me acolheu e meio que cuidou de mim durante todo o tempo, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Então nós somos melhores amigos agora.” Nada do que eu falei era mentira, mas eu estava omitindo a parte em que eu e Nico nos amávamos perdidamente. Acredite, eu não queria esconder isso delas, mas não estava pronta para compartilhar isso, além de que se eu começasse a falar nele eu iria desmoronar de vez e elas me olhariam com um olhar de compreensão e empatia, mas sobretudo de pena e eu não queria aquilo definitivamente. Eu pude notar a desconfiança delas quando falei que éramos amigos, mas fingi que não tinha visto. “Um tempo depois, eu fui atacada por um bicho estranho que nunca tinha visto. Então Nico apareceu com uma espada, sério eu quase tive um treco. E eu tive que me transformar para poder lutar. E depois nos olhamos, com aquela expressão: precisamos conversar. Eu fiquei com medo de falar e ele me achar louca, então ele falou primeiro. Ele era um meio-sangue, ou semideus, tanto faz” elas me olharam descrentes. “Não me olhem assim! Meios-sangues existem!”

“Stella, só porque você viu o garoto com uma espada, isso não significa que ele é uma criatura mitológica.” Tecna revirou os olhos.

“Vai ver ele só estava te testando”

“Ele nunca faria isso comigo!” exclamei indignada. Respirei fundo, me preparando para o que viria a seguir. “E além disso, se semideuses não existem, como você explica a minha existência e a de Dani?” Senti elas prenderem a respiração.

“Stella...” Bloom me lançou um olhar preocupado, sendo acompanhada das outras, mas eu não deixei ela terminar de falar.

“Eu sabia que vocês não acreditariam em mim.” murmurei, meio magoada. “E o pior é que eu nem posso provar nada a vocês...”

“Como não pode provar? Se isso é mesmo verdade, você deveria ser capaz de mostrar” Musa se pronunciou pela primeira vez sobre esse assunto.

“Eu não posso provar porque sou filha de Apolo, meus poderes se confundem com os de fada”

“Mas eu posso provar” falou Dani, em voz baixa. Ela ergueu a mão e criou um pequeno arco-íris. “Minha mãe não é uma das deusas principais, mas eu também posso fazer algumas coisas” senti as outras arfarem.

“Agora será que dá para acreditar em mim?” perguntei. Elas concordaram com a cabeça.

“De quem você é filha?” Flora perguntou timidamente à Dani.

“Íris” ela sorriu.

“Claire, você não parece muito surpresa com tudo isso” observou Layla.

“E não estou. Eu também faço parte desse louco mundo de mitologia grega.” ela deu um meio sorriso. “Não, eu não sou meio-sangue. Eu era uma pessoa normal, para a nossa dimensão. E então meu noivo fugiu com outra, aquele imbecil.” ela cerrou os punhos. “Mas ele não me importa mais. Ártemis, a deusa da caça, apareceu para mim e para Dani, perguntando se não queríamos nos juntar à Caçada. Seríamos imortais, eternas donzelas, mas teríamos que abdicar da companhia de homens. Eu aceitei, Dani não.”

“Por isso você ficou sumida” as palavras de Flora eram uma afirmação, não uma pergunta.

“Mas então porque você voltou?” perguntou Musa.

“Bem... não foi por escolha própria. Me encontraram, não sei como.”

“Eu acho que sei.” falou Tecna, franzindo a testa. “Só encontramos Stella porque uma garota nos disse que ela estava na Terra e nos mostrou onde na Terra ela estava. Essa mesma pessoa deve ter feito o mesmo com você”

“Mas quem teria sido capaz disso?” perguntou Dani, franzindo a testa.

“Era uma garota mais ou menos da nossa idade, com cabelos escuros e mechas vermelhas.”

“Jane” eu cuspi, com raiva. “Aquela idiota”

“Stella, não vamos nos precipitar. Pode ter sido qualquer pessoa. Qualquer filha de Éris. Jane não é a única com mechas vermelhas” falou Claire.

“Eu sei que foi ela. Ela me odeia só porque venci ela numa luta boba.” falei entredentes, cerrando os punhos. “E porque Nico...” fechei minha boca antes de falar mais besteira, mas foi tarde demais, elas perceberam.

“Porque Nico o quê?” perguntaram Bloom, Flora, Layla, Tecna e Musa em uníssono. “Stella, sabemos que você está escondendo alguma coisa de nós” continuou Bloom, me olhando com aqueles olhos azuis penetrantes. “Ele não é seu melhor amigo, é?”

“Sim, ele é.” falei firmemente. “Mas ele não é só isso... É meu...” abaixei a cabeça e engoli em seco antes de continuar. “Meu namorado”

Assim que eu pronunciei a palavra, escutei algumas prendendo a respiração ao mesmo tempo que as outras arfavam. Meus olhos estavam abaixados, por isso não pude ver a expressão delas, mas sabia exatamente qual seria.

“Eu sinto muito” falou Flora, colocando a mão sobre meu ombro de forma delicada e gentil. Eu não consegui falar, só dá um aceno rígido com a cabeça, enquanto reprimia as lágrimas. Eu sou muito chorona, pensei e logo me repreendi por tê-lo feito, pois isso me despertou lembranças de quando Nico me consolava. Eu tinha uma pressentimento tão ruim dele estando lá naquele lugar. Era quase como se eu nunca mais fosse vê-lo. Esse pensamento fez as lágrimas reprimidas se soltarem como uma cacheira e eu chorei como um bebê no colo de Flora, que acariciava meus cabelos e dizia que tudo ficaria bem. Eu sabia que nada ficaria bem, mas não tinha coragem de falar isso. As outras se juntavam a ela, tentando me confortar enquanto eu me derretia em lágrimas quentes e salgadas.

“N-não. Não vai” solucei depois de muito tempo. “Nada vai ficar bem” eu me levantei. “Ele ficou comigo antes do café. E então Mary apareceu e eu percebi que as coisas tinha piorado... a guerra tinha começado. Por isso eu saí correndo daquele jeito. Eu precisava ficar sozinha com ela. Nico estava no quarto. Ele queria ir lutar, mas eu não queria que ele fosse sozinho. Nós ficamos furiosos um com outro. Bem, eu estava com mais raiva que ele. E então ele foi embora. E e não sei se vou vê-lo de novo! Então, nada está bem!” ela só olharam minha explosão sem interferir em nada. “Eu só queria poder ficar ao lado dele... como Annabeth sempre está ao lado de Percy” solucei de novo. Eu não pude descobrir qual seria a reação delas, porque alguém bateu na porta assim que eu acabei de falar. “Pode entrar” falei, de costas, enxugando as lágrimas e respirando fundo várias vezes, tentando me acalmar, mas meu coração insistia em bater fortemente contra minhas costelas, o que mostrava que eu não estava tendo sucesso.

“Princesa... está na hora de provar o vestido do baile” falou timidamente uma jovem que devia ter uns vinte e poucos anos.

“Eu estou indo em alguns instantes” respondi. Ela fez uma reverência e saiu. Eu andei até o banheiro, onde lavei o rosto e retoquei a maquiagem para esconder que tinha chorado, mas meus olhos estavam avermelhados e eu não pude fazer nada sobre isso. “Meninas, será que vocês podem fazer um favor para mim?” Dani me olhou, já sabendo que se tratava do meu plano. As outras assentiram. “Eu tenho uma prima, o nome dela é Ann Sophie. Ela deve estar na cidade, eu quero que vocês falem com ela e façam ela vim aqui ainda hoje, antes do Festival, tudo bem?”

“E como nós vamos fazer isso? Nem sabemos onde ela está!” reclamou Tecna. Eu dei um sorriso de canto.

“Dani sabe como encontrá-la.” falei e saí antes que elas pudessem falar outra coisa.

O meu vestido estava muito lindo e isso me irritou. Eu não queria uma droga de vestido perfeito e maravilhoso para a porcaria do baile no qual eu ficaria noiva de alguém que não era Nico. Eu passei todo o tempo emburrada, até que o estilista me perguntou se eu não tinha gostado do vestido.

“Eu gostei. Gostei muito.” respondi sem sorrir. Ele trocou um olhar confuso com suas assistentes e com minha mãe e minha vó.

“Então porque essa cara feia?” perguntou vovó.

“É perfeito. Lindo e perfeito. Esse é o problema” resmunguei.

“Queria um vestido feio?” perguntou uma das assistentes, que logo levou a mão à boca, com o olhar afiado que lhe lancei.

“Não. Eu queria uma mortalha” e a conversa acabou aí.

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Assim que voltei para o quarto encontrei minhas amigas, Mary e mais uma pessoa. Uma garota com os cabelos loiros platinados e olhos azuis.

“Ah, aí está você” resmungou Claire, encostada na parede de braços cruzados.

“Então, vai nos dizer por que estamos aqui?” perguntou Tecna, impaciente. Às vezes ela me lembrava Annabeth, com sua curiosidade.

“Claro. Olá, Sophie” sorri para minha prima. Tínhamos a mesma idade, ela era só alguns meses mais velha que eu. Se eu pudesse fazer uma comparação bem básica, eu diria que ela parecia mais com a lua e eu com o sol. Ambas tínhamos cabelos loiros, mas o dela era platinado, quase branco e o meu era dourado. Os olhos dela eram azul-claro e os meus verdes amendoados. Eu era bronzeada e era pálida, apenas suas bochechas tinha alguma cor. Ela sorriu para mim, um sorriso contido e delicado.

“Alteza” ela fez uma pequena mesura com a cabeça, o que fez com que eu revirasse os olhos.

“Ah, deixe de besteira. Somos primas e amigas.” puxei ela para um abraço que ela retribuiu. “Bem, vamos aos negócios” falei, quando nos separamos. Esperei se acomodarem para continuar. “Então, vocês já se apresentaram?” elas assentiram. “Okay, vamos continuar.”

Decidir o que faríamos foi bem fácil. Na verdade eu nunca tive um plano, era mais uma ideia boba para provocar os líderes da Alta Cúpula, meu pai e os meus queridos pretendente, mais especificamente dois deles. Mas boba ou não era a única coisa em que eu tinha pensado e eu tinha certeza que isso ia pelo menos irritar eles profundamente, mesmo sendo algo tão simples.