CAPÍTULO 56

TERRA – ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE

POV's Annabeth

Eu me revirava inquieta na cama. O chalé de Atena estava silencioso, mas não era aquele silêncio reconfortante que nos envolvia toda noite, era um silêncio tenso e sufocante no qual eu me afogava em meus medos.

Na verdade, a noite não estava exatamente silenciosa, o silêncio era mais uma sensação do quê a real ausência de som. O som de respirações, minha e dos meus irmãos, preenchiam o ar, se misturando com os barulhos normais da noite e com o som de ocasionais passos e corridas dos garotos que estavam fazendo a patrulha.

Sim, nós estávamos tendo patrulhas, porque a guerra tinha chegado ao Acampamento mais cedo do que esperávamos e nós temíamos que nossas defesas fossem rompidas. O Velocino estava sendo vigiado por Peleus e por alguns campistas, enquanto outros estavam espalhados por toda a fronteira do Acampamento, inclusive a da praia e a orla da floresta.

Eu não conseguia dormir, apesar de meu corpo implorar por uma noite de sono depois da batalha. Eu não tinha ferimentos graves, só um corte na perna que insistia em latejar dolorosamente enquanto o sangue pulsava em minhas veias. Eu poderia ter tomado néctar ou comido ambrosia, mas decidimos que só usaríamos nos casos mais extremos, pois nossas reservas não eram infinitas.

Na primeira batalha não perdemos ninguém, mas tivemos muitos feridos.

Eu tentei me obrigar a dormir, mas toda vez que tentava, a lembrança do meu último momento de paz invadia minha mente.

FLASHBACK ON

“Percy, não posso ficar aqui” murmurei, enquanto ele me abraçava, me levando para o chalé de Poseidon. Eu estava de costas para ele, o que era uma sorte, já que meu rosto devia estar muito vermelho. Percy beijava meu pescoço e mordiscava minha orelha, causando arrepios que desciam pela minha coluna. “É proibido” tentei protestar quando ele me fez ficar de frente para ele, mas me perdi naquelas piscinas verdes maravilhosas. Em algum lugar no fundo de minha mente, senti minhas costas baterem em algo, provavelmente a parede, mas aqueles olhos me desconcertavam, tirando toda a razão de mim.

“Quem liga para regras?” ele se inclinou e beijou o canto de minha boca. “Regras são para os manés” e então, o restinho de sanidade que me alertava que aquilo era errado se esvaiu quando os lábios dele atacaram os meus.

Meus braços, que antes estavam cautelosamente ao lado de meu corpo, estavam nos cabelos castanhos escuros quase negros, puxando Percy para mim, minha boca, que antes protestava contra a aproximação, se unia à dele numa dança completamente paradoxal, onde a voracidade e a doçura travavam uma batalha e ao mesmo tempo se uniam como aliadas. Em um minuto, meus pés tinham deixado o chão e minhas pernas estavam entrelaçadas na cintura de Percy. Nossas bocas se separaram quando o oxigênio faltou, mas depois de respirarmos arfantes por alguns segundos, nossas línguas se moviam em sincronia.

Escutei algum barulho, mas não liguei muito para ele, até que uma voz conhecida me despertou.

“Deuses! Eu não preciso ver isso!” assim que a voz de Nico gritou, eu me separei de Percy ofegando e corei tanto que senti meu rosto esquentar quando vi a imagem dele no meio do chalé.

“Quando você está se agarrando com alguma garota eu não te interrompo” resmungou Percy. Nico riu.

“Pode apostar que você interrompe” falou ele, ainda rindo. Mas ele logo ficou sério. “Temos problemas”

“Mais?” Percy alterou a voz, irritado.

“Stella teve uma visão”

“Stella? Você encontrou ela?” perguntei.

“Longa história” ele falou. “Olha, não temos muito tempo. Não sei quando vou conseguir mandar outra MI, aqui parece que só funciona às vezes. Vão atacar o Acampamento, é melhor vocês começarem a se preparar para a batalha, vou para aí o mais rápido que puder.”

“Obrigada por avisar.” falei, já começando a organizar uma estratégia.

“Não há de que” respondeu Nico. “Ah,...” ele ia falar alguma coisa, mas logo sua imagem desapareceu, sem deixar vestígios.

FLASHBACK OFF

Eu ainda me preocupava, tentando adivinhar o que Nico queria dizer quando a mensagem foi interrompida. Me virei de novo e senti o lençol se enroscou no meu corte e eu reprimi um gemido. Fechei meus olhos e me concentrei em não pensar, mas só consegui dormir depois do que pareceram horas .

Eu devo estar muito nostálgica porque meu sonho era outra lembrança. A lembrança da última noite em que minha irmãzinha esteve comigo. Era um tempo tão próximo, mas parecia tão distante que mesmo dormindo eu senti meu coração se apertar e se contorcer dolorosamente em meu peito.

Em meu sonho/lembrança, era noite e eu estava contemplando as estralas, sentada nos degraus do chalé 6, enrolada numa manta. Minha mente estava vagando livremente, procurando por respostas às novas complicações que explodiam à minha volta.

Meus pensamentos preocupados foram interrompidos pelo barulho da porta do chalé abrindo e fechando suavemente. Me virei e vi Mary andando até onde eu estava e se sentando ao meu lado.

“Sem sono?” perguntei.

“Não exatamente.” ela deu um bocejo. “Eu quero muito dormir, mas simplesmente não consigo”

“Entendo” e então nós ficamos em silêncio, cada uma perdida em seus próprios pensamentos.

Depois de alguns minutos, eu percebi que ela estava se abraçando e a puxei para perto, de forma que ela também fosse envolvida pela manta.

“Annie, por que você não me deixou lutar hoje mais cedo?” ela perguntou, depois de mais algum tempo.

“Você é muito jovem.” respondi. Isso não era mentira, mas também não era a verdade completa. A verdade é que eu não queria que nenhum daqueles que eu amo lutasse nessa guerra e a idade de Mary era só uma desculpa. “Eu me sentiria culpada se alguma coisa acontecesse com você”

“Então eu quero crescer logo” ela resmungou me fazendo sorrir.

“Não queira isso, é muito ruim” falei, ainda sorrindo. Depois de mais alguns minutos em silêncio eu falei novamente. “Será que você dorme se eu cantar para você?”

“Vamos testar” ela sorriu.

Never Grow Up

Taylor Swift

Your little hands wrapped around my finger
And it's so quiet in the world tonight
Your little eyelids flutter cause you're dreaming
So I tuck you in and turn on your favorite nightlight

(Suas mãozinhas agarrando o meu dedo
E o mundo está tão tranquilo esta noite
Suas pálpebras estão trêmulas porque você está sonhando
Então eu te escondo e ligo sua luz noturna preferida)

To you, everything's funny
You got nothing to regret
I'd give all I have, honey
If you could stay like that

(Para você, tudo é engraçado
Você não tem nada a lamentar
Eu daria tudo que eu tenho, querida
Se você pudesse ficar assim)

(Chorus:)
Oh darling don't you ever grow up, don't you ever grow up
Just stay this little
Oh darling don't you ever grow up, don't you ever grow up
It could stay this simple
I won't let nobody hurt you
Won't let no one break your heart
No one will desert you
Just try to never grow up
Never grow up

(Oh querida, não cresça, não ouse crescer
Fique pequeninho assim
Oh querido, não cresça, não ouse crescer
Poderia ficar simples assim
Eu não vou deixar ninguém te machucar
Não vou deixar ninguém partir seu coração
Ninguém jamais vai te abandonar
Apenas tente nunca crescer
Nunca crescer)

You're in the car on the way to the movies
And you're mortified your mama's dropping you off
At 14, there's just so much you can't do
And you can't wait to move out
Someday and call your own shots

(Você está no carro a caminho do cinema
E você está mortificado por sua mãe te deixar
Aos 14 anos, há tanta coisa que você não pode fazer
E você mal pode esperar para sair
Um dia e tomar suas próprias decisões)

But don't make her drop you off around the block
Remember she's getting older too
And don't lose the way that you dance around in your
PJs getting ready for school

(Mas não faça-a te deixar do outro lado do quarteirão
Lembre-se que ela está envelhecendo também
E não perca o jeito que você dança de pijama
Se preparando para a escola )

(Chorus:)
Oh darling don't you ever grow up, don't you ever grow up
Just stay this little
Oh darling don't you ever grow up, don't you ever grow up
It could stay this simple
No one's ever burned you
Nothing's ever left you scared
Even though you want to, just try to never grow up

(Oh querida, não cresça, não ouse crescer
Fique pequeninha assim
Oh querida, não cresça, não ouse crescer
Poderia ficar simples assim
Ninguém nunca queimou
Nada nunca te deixou assustado
Mesmo que você queira, basta tentar nunca crescer)

Take pictures in your mind of your childhood room
Memorize what is sounded like what your dad gets home
Remember the footsteps, remember the words said
And all your little brother's favorite songs
I just realized everything I had is someday gonna be gone

(Tire fotos em sua mente de seu quarto de infância
Memorize o som do seu pai chegando em casa
Lembre-se dos passos, lembre-se das palavras ditas
E todas as suas canções favoritas do seu irmão mais novo
Eu acabei de perceber que tudo que eu tenho, um dia vai passar )

So here I am in my new apartment
In a big city, they just dropped me off
It's so much colder than I thought it would be
So I tuck myself in and turn my nightlight on

(Então aqui estou eu no meu novo apartamento
Em uma cidade grande, eles me largaram
É muito mais frio do que eu pensei que seria
Então eu escondo-me e ligo minha luz noturna)

Wish I'd never grown up
I wish I'd never grown up
Oh I don't wanna grow up
Wish I'd never grown up
Could still be little
Oh I don't wanna grow up
Wish I'd never grown up
It could still be simple

(Eu queria nunca ter crescido
Eu queria nunca ter crescido
Oh, eu não quero crescer
Eu queria nunca ter crescido
Poderia ainda ser pequena
Oh, eu não quero crescer
Eu queria nunca ter crescido
Poderia ainda ser simples)

(Chorus:)
Oh darling don't you ever grow up, don't you ever grow up
Just stay this little
Oh darling don't you ever grow up, don't you ever grow up
It could stay this simple
Won't let nobody hurt you
Won't let no one break your heart
And even though you want to, please try to never grow up
Don't you ever grow up
Just never grow up

(Oh querida, não cresça, não ouse crescer
Fique pequeninha assim
Oh querido, não cresça, não ouse crescer
Poderia ficar simples assim
Eu não vou deixar ninguém te machucar
Não vou deixar ninguém partir seu coração
Ninguém jamais vai te abandonar
Apenas tente nunca crescer
Nunca crescer)

Só olhei novamente para Mary quando terminei a música. Ela dormia, sua respiração estava lenta e uniforme, parecia ainda mais nova dormindo.

Sorri e tentei me levantei com ela nos braços, mas meus movimentos a acordaram. Ela piscou e coçou os olhos, me fazendo sorrir novamente.

“Annie...” ela chamou numa voz infantil e sonolenta. “Posso dormir com você hoje?”

“Claro” respondi colocando ela no chão e segurando a mãozinha dentro da minha.

E então eu acordei por causa dos gritos que vinham do lado de fora.

“Meios-sangues às armas!” gritou uma voz muito conhecida. Era Clarisse. Eu me levantei, sem me importar em olhar o que estava vestido, peguei minha adaga que estava embaixo do travesseiro (meio perigoso, admito, mas realmente necessário) e o boné da invisibilidade que estava no mesmo lugar. Prendi meus cabelos num nó, coloquei o boné e corri para fora, sem nem me importar se meus irmãos tinham ou não notado que havia problemas no lado de fora.

Invisível eu podia surpreender os monstros mais tinha que ter cuidado redobrado para não ser atingida por armas dos meus companheiros que não estavam me vendo.

Em algum momento, eu ia atacar um monstros que estava quase vencendo de uma garota do chalé de Afrodite quando alguém o fez antes de mim.

Assim que o monstro se desfez em poeira, eu vi Nico correndo em busca de outro inimigo.

Não deixei minha mente refletir na aparição repentina do filho de Hades, agora era hora de agir rapidamente e entrar no modo de batalha, e foi isso que eu fiz.

Eu corri na direção oposta a de Nico, tentado ajudar a todos e me manter inteira ao mesmo tempo, uma coisa que ao meu ver era praticamente impossível.

Em algum momento eu vi o manticore atacando Percy e aquilo me deixou com mais raiva dele do que antes. Eu corri até eles me desviando das outras lutas que aconteciam enquanto minha visão parecia excluir tudo que estava em minha volta tendo a luta deles como meu foco. Eu quase fui atingida por espadas, adagas, flechas, lanças e muitas outras armas além das defesas naturais dos monstros, mas nada disso estava sendo registrado com tanta importância quanto a cena que se desenrolava diante de meus olhos.

Sendo sincera, eu estava com medo. O manticore não era o monstro mais perigoso, isso eu sabia, havia muitos piores que eles, mas meu subconsciente ainda estava profundamente marcado com o trauma da primeira vez que lutamos com um e eu acabei tendo que segurar o céu no lugar de Atlas.

Mesmo com todo o medo, a parte mais racional de minha mente me dizia que eu tinha que enfrentá-lo agora ou ficaria limitada por esse medo idiota para sempre. Mas na realidade, o que me fez correr para lá não foi a racionalidade, muito pelo contrário, foi a coisa mais irracional do mundo: o amor que eu sentia por Percy. Eu nunca poderia ficar paralisada pelo medo vendo ele morrer na minha frente.

Quando dei por mim, eu estava pulando sobre um tronco no chão e subindo agilmente pelo corpo de leão, me esquecendo da parte escorpião atirador de projéteis até que um deles passou zunindo por meu ouvido e por pouco não acertou Percy, que pulou para o chão, o que pareceu uma boa ideia no começo, mas que logo o tornou vulnerável às outras investidas do manticore. Eu me abaixei me agarrando ao corpo do dr. Espinheiro quando senti sua cauda se mover. Senti meu boné cair quando um espinho passou muito perto de minha cabeça. E então a cena pareceu estar em câmera lenta. Os olhos de Percy se arregalaram quando ele me viu, justo no momento que ele parecia estar se recuperando da queda brusca. O espinho que só tocara em meu boné reapareceu em meu campo de visão e antes que eu pudesse falar qualquer coisa que fizesse Percy voltar sua atenção para ele, o espinho já estava colidindo com a perna de Percy. Meu grito já estava pronto quando o espinho caiu no chão. Senti meu coração desacelerar, por um momento eu tinha realmente esquecido que Percy era invulnerável.

Vendo que não podia fazer nada com Percy, o dr. Espinheiro voltou sua atenção para mim, começando a se mover para me derrubar. Enquanto tentava me manter firme com uma só mão, eu enfiei minha adaga nas costas peludas, mas não pareceu adiantar de nada. O monstro soltou uma gargalhada. Eu arranquei a adaga e enfiei de novo. O corpo enorme se contorceu embaixo de mim, mas não deu nenhum sinal de que estava gravemente ferido. Eu estava tão surpresa por não ter matado aquele desgraçado que me descuidei por um segundo, o que foi tempo suficiente para que eu fosse arremessada por alguns metros, só parando quando minhas costas atingiram uma árvore com força.

“ANNABETH!” escutei alguém gritar, mas estava tão confusa que não reconheci a voz. Senti meus visão escurecer e se encher de pontos brilhante. Por um momento, pensei que ia desmaiar. Eu consegui visualizar os olhos verde-mar que eu tanto amava. Me concentrei neles, ignorando a dor.

“Você está bem?” ele perguntou, com uma expressão muito fofa de preocupação.

“Acho que sim” sussurrei, enquanto ele me ajudava a levantar, ainda olhando em meus olhos. “Quando eu colocar você em algum lugar seguro, eu vou matar esse desgraçado” ele falou, com tanta raiva que era possível sentir o ódio escorrendo de cada palavra que saia dos lábios dele. Eu ri, mas isso fez minhas costelas protestarem e eu me perguntei se era possível ter quebrado algumas delas.

“Consegue andar?”

“Sim” respondi e ele passou o braço por minhas costas, fazendo com que eu me encolhesse quando ele encostou em mim.

“Desculpe” ele falou e retirou o braço de mim. Eu cambaleei e ele me segurou de novo, dessa vez com mais cuidado. “Não está muito machucada, está?”

“Vou ficar bem”

Nós andamos alguns metros e minha visão foi voltando ao normal. Eu podia ver um outro projétil vindo em nossa direção, mas dessa vez, Percy estava na mira e suas costas estavam completamente vulneráveis, se aquele espinho atingisse o “calcanhar de Aquiles” dele, estaria tudo acabado.

Então eu reuni todas as minhas forças e de algum jeito estranho consegui ficar entre Percy e o espinho, que logo perfurou algum lugar perto de meu estômago.

Além da dor normal de ter sido atingida, senti o veneno do manticore se espalhando de forma tão dolorosa que seria impossível descrever. Meus joelhos fraquejaram e foram de encontro ao chão. Senti minhas mãos se agarrarem à grama com tanta força que arranquei as pequenas folhas. O veneno estava se espalhando mais o que fazia a dor aumentar. Minhas mãos encostaram no espinho e minha visão explodiu em pontos brancos e pretos, brilhantes e opacos, ignorei a dor por um segundo e me forcei a puxar o espinho com toda minha força. O sangue jorrou de mim e eu fiquei tonta por alguns instantes.

Durante todo esse tempo, eu conseguia escutar os barulhos das lutas, mas nada disso importava, nem armas colidindo, nem gritos de vitória e de dor. Tudo isso só servia de pano de fundo para os gritos quase histéricos que Percy soltava ao meu lado.

“Calma, Cabeça de Algas, vai ficar tudo bem” consegui dizer numa voz entrecortada e baixa, entre as dolorosas arfadas e ofegadas que tinha se tornado minha respiração. “Não chore, meu amor, vai ficar tudo bem” ergui minha mão trêmula e enxuguei uma lágrima que escorria pelo rosto bronzeado, depois afaguei os cabelos castanhos.

“Era para eu estar te consolando” ele falou, numa voz embargada, me fazendo soltar uma risada que fez todo meu corpo doer.

“É a lógica, esqueceu? Você não segue a lógica, é um Cabeça de Algas bobo que eu amo tanto. Eu já estava pronta para fazer algo estúpido quando comecei a gostar de você” assim que terminei de falar, meu corpo estremeceu e minhas pálpebras ficaram muito pesadas de repente.

“Annie! Annie, não dorme, por favor. Fala comigo” Percy implorou.

“Tá doendo” choraminguei. “Faz parar!”

“Vai passar, é só você conversar comigo”

“Mas eu quero dormir” eu estava me sentindo como uma criancinha, mas a minha mente estava tomada por uma névoa de sonolência que me deixava assim.

“Daqui a pouco você dorme”

“Deixa eu deitar em seu colo?”

“Vou te levar para a enfermaria” e então o chão desapareceu de baixo de mim e eu só sentia os braços de Percy em meu corpo, atravessando a dor. Apesar da dor e do balanço do movimento, meus olhos insistiam em fechar.

“Annabeth, não durma!” ele pediu de novo. “O que eu faço para você não dormir?”

“Eu gosto de música”

POV's Percy

“Annabeth!” eu gritava sem parar, enquanto ela caia no chão atrás de mim. Eu já estava me movendo para ela quando o dr. Espinheiro chegou até nós. “Seu desgraçado! Você vai pagar!” girei minha espada e investi contra ele. Os espinhos voavam para mim de forma ameaçadora, mas eu cortava eles com Contracorrente.

Nós ficamos assim por algum tempo até que eu consegui ficar na ofensiva. Eu estava quase conseguindo matá-lo quando escutei um grito que eu reconheceria em qualquer lugar. Senti uma mão em meu ombro e me virei, encontrando uma figura completamente vestida de preto.

“É melhor você cuidar dela” ele falou numa voz incrivelmente séria e preocupada, enquanto nós dois investíamos contra o manticore.

“Primeiro eu vou matar esse idiota” falei entredentes, cortando um espinho ao meio.

“Percy... você pode se arrepender depois” ele me censurou, parando de lutar e me olhando nos olhos. E pelo tom de voz dele e pelo olhar angustiado, eu percebi que ele se arrependia de alguma coisa. Assenti e corri para perto de minha Sabidinha.

Eu estava gritando o nome dela, mas ela não parecia me ouvir. Suas mãos estavam ensaguentadas e uma mancha de sangue se espalhava pela blusa branca que ela usava. Uma de suas mãos agarrava um espinho com força. Eu me agachei em frente a ela e finalmente ela pareceu me ouvir. Sua respiração estava entrecortada e fraquejava, ela estremecia a cada inspiração.

“Calma, Cabeça de Algas, vai ficar tudo bem. Não chore, meu amor, vai ficar tudo bem” eu só percebi que estava chorando quando ela falou. A voz fraca parecia exigir um esforço descomunal e isso fez com que mais lágrimas caíssem de meus olhos. A mão dela, pequena e delicada, coberta de seu próprio sangue, se ergueu em direção ao meu rosto. Enxugando uma lágrima e depois acariciando meus cabelos.

“Era para eu estar te consolando” protestei, fazendo ela soltar uma risada tão fraca e entrecortada quando a voz e a respiração.

“É a lógica, esqueceu? Você não segue a lógica, é um Cabeça de Algas bobo que eu amo tanto. Eu já estava pronta para fazer algo estúpido quando comecei a gostar de você” ela estremeceu mais forte e seus olhos começaram a fechar.

“Annie! Annie, não dorme, por favor. Fala comigo” eu podia senti minha garganta fechando. Se ela morresse, a culpa seria totalmente minha. Ela era traumatizada com esse monstro e só tinha ido lutar com ele por minha causa. Se eu não tivesse me abaixado, não teria ficado tão vulnerável, então ela não teria distraído o manticore para me dar mais tempo, ele não teria percebido a ameaça que ela apresentava, então não teria jogado ela naquela árvore, nós não teríamos andado tão devagar e ela não teria se atirado na frente daquele espinho para me salvar.

“Tá doendo” ela choramingou como uma criança, o que teria me feito rir, se não estivesse tão preocupado “Faz parar!”

“Vai passar, é só você conversar comigo”

“Mas eu quero dormir”

“Daqui a pouco você dorme”

“Deixa eu deitar em seu colo?”

“Vou te levar para a enfermaria” Peguei ela no colo e comecei a andar para a enfermaria. “Annabeth, não durma!” pedi, me desesperando ao vez os olhos cinzentos quase completamente fechados “O que eu faço para você não dormir?”

“Eu gosto de música” ela abriu um pouco os olhos de uma forma sonolenta e fofa, mas o que ela falou não parecia exatamente uma resposta à minha pergunta, era mais como um comentário desconectado de qualquer conversa.

“Okay, então vamos falar sobre música”

“Eu não quero falar, quero dormir.”

“Você não pode dormir.” nós já tínhamos chegado à enfermaria, mas esta estava vazia. Coloquei Annabeth numa maca e fiquei me perguntando se ficava lá com ela ou se saia para procurar alguém que entendesse de medicina, como algum filho de Apolo.

Nesses segundos que eu levei tentando chegar a uma decisão, os olhos de Annabeth se fecharam.

“Annabeth! Acorde” falei desesperado.

“Não estou dormindo” ela resmungou ainda de olhos fechados.

“Então abre os olhos”

“Você está muito mandão” ela abriu os olhos e fez um biquinho causando uma onda de risadas meio histéricas em mim.

“Qual a sua música preferida?” perguntei, tentando fazer ela se distrair.

“Não tenho uma música preferida” ela falou.

“Então uma que você goste muito” ela pareceu pensar um pouco antes de responder.

“Acho que no momento eu estou gostando muito de Never Grow Up de Taylor Swift”

“É mesmo? Nunca ouvi essa música”

“É muito legal”

“E por que é a sua preferida?”

“Já disse que não tenho música preferida. Eu gosto porque é muito fofa. Parece uma música de ninar. Eu cantei para Mary antes dela ir embora” ela pareceu um pouco mais lúcida. “Quando eu morrer, promete que vai cuidar da Mary?”

“Você não vai morrer, eu não vou deixar”

“Você promete?” ela insistiu. “Não posso deixar ela sozinha. Por favor, Percy, prometa”

“Eu prometo. Mas você não vai morrer” dizendo isso eu me levantei e comecei a rezar para Atena.

Depois de alguns segundos me virei de volta para Annabeth e segurei sua mão gélida.

“Fale alguma coisa, eu gosto de sua voz” a voz dela estava ainda mais baixa. “Canta para mim?”

“O que se canta nessas horas?” perguntei mais para mim mesmo que para ela. “Já sei, mas você tem que ficar acordada, combinado?”

“Combinado”

The Heart Never Lies

McFly

Some people laugh
Some people cry
Some people live
Some people die

(Algumas pessoas riem

Algumas pessoas choram

Algumas pessoas vivem

Algumas pessoas morrem)

Some people run
Right into the fire
Some people hide
Their every desire

(Algumas pessoas correm

Direto para o fogo

Algumas pessoas escondem

todos os seus desejos)

But we are the lovers
If you don't believe me
Then just look into my eyes
'cause the heart never lies

(Mas nós somos os amantes

Se você não acredita em mim

Então olhe dentro de meus olhos

Porque o coração nunca mente)

Some people fight
Some people fall
Others pretend
They don't care at all

(Algumas pessoas lutam

Algumas pessoas caem

Outras fingem

Que não ligam nem um pouco)

If you want to fight
I'll stand right beside you
The day that you fall
I'll be right behind you

(Se você quer lutar,

Eu ficarei bem ao se lado

No dia que você cair

Eu estarei bem atrás de você)

To pick up the pieces
If you don't believe me
Just look into my eyes
'cause the heart never lies

(Para recolher os pedaços

Se você não acredita em mim

Apenas olhe dentro de meus olhos

Porque o coração nunca mente)

Whoa x2

Another year over
And we're still together
It's not always easy
But I'm here forever

(Um outro ano acaba

E nós continuamos juntos

Nem sempre é fácil

Mas eu estou aqui para sempre)

Yeah we are the lovers
I know you believe me
When you look into my eyes
Because the heart never lies
'cause the heart never lies
Because the heart never lies

(Yeah, nós somos os amantes

Eu sei que você acredita em mim

Quando olha em meus olhos

Porque o coração nunca mente

Porque o coração nunca mente

Porque o coração nunca mente)

“Eu te amo...” ela sussurrou enquanto os olhos cinzas se fechavam novamente.

“Annie, por favor não dorme” pedi apertando a mão dela. Ela deu um leve aperto de volta e reabriu os olhos, que estavam nublados de lágrimas que logo escorreram pelo rosto pálido.

“Eu te amo...” ela falou de novo. “Fique comigo...”

“Para sempre” minha voz quebrou no final da frase.

Annabeth deu um grito agonizante e apertou minha mão com tanta força que chegou a machucar, mas depois de alguns segundos sua mão parou de apertar a minha e seus olhos se fecharam.

“Não me deixe” pedi para o vazio que havia se tornado o corpo dela. “Por favor, Annie”

Senti uma mão apertar meu ombro e quando olhei para cima, encontrei a pessoa que menos esperava encontrar.

“Ela não está morta, filho de Poseidon” falou Hades. Sim, eu estou tão surpreso quanto você.

“H-hades? Mas...”

“Agradeça a Nico por isso” ele falou, me olhando com seriedade. “Não sou um deus da cura, e não costumo fazer isso, mas vou tentar curá-la como um favor a você e um pedido de meu filho.”

“O senhor vai mesmo fazer isso?”

“Não fique tão esperançoso. Eu posso ser o senhor da morte, mas as Parcas cuidam dessa parte. Se elas estiverem dispostas a cortar o fio da vida da filha de Atena, eu não poderei fazer nada por ela.” Apesar das palavras dele, a esperança brotou em mim e eu consegui sorrir. “Agora deixe-me sozinho com ela”

“Não posso ficar?” o olhar que ele lançou para mim me deu a resposta de uma forma bem clara. “Já estou saindo”

Do lado de fora, encontrei Nico escorado na parede, encarando o horizonte. A batalha já tinha acabado e o Acampamento estava devastado. Eu me perguntei como o tempo tinha passado tão rápido.

“Obrigado” falei para ele, ficando ao seu lado. Ele assentiu, sem olhar para mim.

“Faria o mesmo por mim” ele respondeu em voz baixa.

“Sim, eu faria. Você é meu irmãozinho.” dei uma risada. Ele se virou para mim, com uma cara de irritação.

“Tá pensando o quê? Tenho idade para ser seu avó!”

“Tempo no Cassino Lótus não conta, Niquinho” caçoei.

“Meus deuses, você é hilário. Estou morrendo de rir aqui. Ha-ha-ha”

“Idiota” murmurei.

Ficamos em silêncio até que eu falei novamente, dessa vez de forma muito mais séria.

“Como você está?” perguntei.

“Bem” ele falou indiferente. Ergui uma sobrancelha descrente.

“Acha mesmo que vai conseguir me enganar com essa história de estar bem?”

“Não estou tentando enganar ninguém”

“Sério? Você acha mesmo que eu vou cair nessa? Não sou tão burro assim”

Ele suspirou e se virou para mim.

“Eu já disse que estou bem” ele disse com ferocidade por entre os dentes trincados.

“Mas eu sei que não está” rebati.

“Que droga! Primeiro Quíron, depois Rachel e um bando de gente e até Clarisse e o sr. D e agora até você?” ele jogou os braços para cima e ficou de frente para mim. “Como você acha que eu estou? Ela deve estar furiosa comigo! Tivemos uma briga antes de eu vir para cá Eu a deixei furiosa e preocupada e pode ter sido a última vez que eu olhei naqueles olhos. Não foi nada bom ter eles me encarando furiosamente. Eu a deixei vulnerável e sozinha, se alguma coisa acontecer com ela eu vou me culpar eternamente e a culpa realmente vai ser completamente e exclusivamente minha” ele falava alto, quase gritando, interrompendo a quietude em que o Acampamento tinha mergulhado depois da batalha. “Se alguém me perguntar se eu estou bem mais uma vez, eu mato. Eu mato mesmo!”

“Desculpe” murmurei, meio envergonhado. Ele ficou em silêncio por algum tempo antes de falar de novo, em voz baixa e contida dessa vez.

“Tudo bem, eu também não devia ter explodido dessa forma. Foi mal.” ficamos mais algum tempo em silêncio até ele falar de novo. “Eu só queria que a minha vida fosse menos louca... será que é pedir demais?”

“Acredite, eu me pergunto isso o tempo todo.” e com isso nós conseguimos trocar sorrisos verdadeiros.

Leiam as notas finais!!