CAPÍTULO 55

POV's Stella

Assim que acordei, ainda de olhos fechados, minha mente foi invadida por lembranças dele no meu quarto momentos antes de eu adormecer.

Me virei na cama, procurando ele, mas só senti o vazio frio no lugar em que antes encontraria os braços acolhedores. Pode parecer bobagem, mas um sentimento de pavor sufocante começou a fechar minha garganta, dificultando minha respiração, quando eu pensei na possibilidade dele ter me deixado de novo, ou de tudo aquilo ser apenas um sonho. Me sentei rápido, arfando enquanto meus olhos prescrutavam o quarto em busca dele.

Eu estava tão nervosa que por duas vezes meus olhos passaram pela figura adormecida na cadeira sem notá-lo. Suspirei de alívio, me deleitando com a imagem adormecida de meu anjo sombrio.

Não consegui ficar longe por muito tempo porque para mim, naquele momento, observá-lo não era suficiente. Eu tinha que sentir a pele fria, tocar na maciez dos cabelos negros. Me levantei, sentindo o chão frio sob meus pés descalços. O céu estava começando a se tingir com as cores da manhã e a luz do sol nascente incidia sobre as montanhas ao longe, timidamente se erguendo para iluminar um novo dia e trazendo consigo uma atmosfera familiar e reconfortante. Fechei o curto espaço entre minha cama e a cadeira dele em passos contidos, com medo de fazer barulho e acordá-lo. A cabeça dele estava caída para um lado, quase tocando o ombro, e eu podia ver o peito dele subindo e descendo no ritmo calmo de sua respiração. Levei minha mão trêmula aos cabelos escuros quase sem tocá-los, depois deixei ela escorregar por ele até alcançar a pele pálida e lisa do rosto de Nico, que eu acariciei com carinho.

Um sorriso surgiu nos lábios dele, o que fez com que eu sorrisse também.

Sentei no braço da cadeira, pousando minha cabeça na curva do pescoço dele. Ele se aconchegou mais em mim, fazendo com que meu sorriso se alargasse.

“Eu podia acordar assim todo dia” ele murmurou em meu cabelo.

“Oh, me desculpe, eu não queria te acordar” falei, corando e me levantando. Ele me puxou de volta, me fazendo sentar no colo dele.

“Ei, quem disse que você podia sair?” a voz dele tinha um tom falso de reprimenda.

“Bobo” ri, deitando minha cabeça no ombro dele.

“Linda” eu pude sentir o sorriso na voz dele. Saí do colo dele e fiquei de frente para ele. “Que foi?” o sorriso dele morreu. “Eu fiz alguma coisa?” neguei com a cabeça, sem mudar minha expressão, que não transmitia nenhum sentimento, mas por dentro eu estava rindo.

“Por que você faz isso comigo?” perguntei, colocando as mãos na cintura.

“Isso o quê?” ele estava completamente confuso o que me deixava com mais vontade de rir.

“Isso o quê?!” eu fiz a cara mais séria que pude. “Você sabe muito bem o que é, Nicolas di Angelo!” me aproximei dele e me ajoelhei nas pernas dele. “Você me deixa assim...” sussurrei, me inclinado até a orelha dele. “E eu não consigo ficar longe por nem mais um minuto...”

“Eu não quero que fique longe...” a voz rouca me causou arrepios. “Te quero aqui, bem perto de mim”

E então estávamos nos beijando quase com desespero. Correção, realmente estávamos desesperados. Eu estava faminta pela sensação dos lábios de Nico nos meus e ele parecia sentir o mesmo com relação aos meus lábios nos dele.

Quando finalmente nos separamos, ambos respirávamos pesadamente. Eu continuei encarando os olhos negros insondáveis e quando dei por mim, meus lábios estavam colados nos deles e nossas línguas dançavam num ritmo suave e apaixonado, muito mais calmo que o beijo anterior, mas com o mesmo desejo mal contido.

“Eu te amo.” falei quando nos separamos.

“Eu também te amo” ele respondeu beijando meus cabelos. Deixei que os braços fortes dele me abraçasse e deitei minha cabeça no peitoral musculoso dele. Eu acreditava nele, mas uma insegurança vinha beirando meus pensamentos há algum tempo. Ele me amava tanto quanto eu o amava? Ele sentia a diferença entre amor e paixão? Essas perguntas e mais outras ficaram rondando minha cabeça enquanto o quarto estava mergulhado em quietude, nossas respirações e as batidas dos nossos corações, o meu meio acelerado e o dele calmo e constante, eram os únicos sons que chegavam aos meus ouvidos além do canto ocasional dos pássaros.

“Você... Nico, você vai me amar até a minha morte?” a pergunta escapou de meus lábios antes que eu me desse conta e a minha voz vacilou, quebrando no final. O silêncio se tornou mais pesado, enquanto nós dois estávamos surpresos e confusos demais com minha pergunta.

“Não” meu coração falhou uma batida, se contraindo dolorosamente em meu peito. “Eu vou te amar muito além disso” um sorriso mínimo brotou em meus lábios, que sem notar eu estivera mordendo desde que fiz a pergunta. Meu coração recuperou as batidas, tornando-se quase tão uniforme quanto o de Nico. “Por que me perguntou isso?” ele pareceu curioso, mas eu consegui notar um centelha de mágoa no seu tom de voz. Ele levantou meu queixo, para poder encarar meu rosto “Eu já disse que te amo, já disse que sou seu para sempre”

“Eu... não sei” confessei, o sorriso se apagando. “Sou uma boba...”

“Tem razão, mas é minha boba” eu sorri com as palavras dele. “Sabe, você é a melhor coisa que já me aconteceu...”

“Você é a melhor coisa que me aconteceu” corrigi, sorrindo.

“Já que estamos fazendo perguntas bobas... o que você viu em mim?” ele não me deu chance de responder. “Por que você gosta de mim?”

“Eu não gosto de você, eu amo você.”

“Eu sei, eu só não queria parecer presunçoso” ele riu e eu dei um tapa no braço dele, o que fez ele rir mais ainda. “Tá bom, já parei. Agora, sério, por que você me ama?”

“Bem... acho que tem um jeito melhor de expressar isso.” falei, uma ideia surgindo em minha mente. “Vem comigo?” perguntei me levantando e estendendo uma mão para ele.

“Claro, mas para onde exatamente nós estamos indo?”

“Para meu refúgio”

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“Uau, quantos instrumentos” Nico olhava para minha coleção de instrumentos musicais espalhados pela ampla e arejada sala com parede revestidas quase inteiramente por espelhos.

Eu adorava aquele lugar que tinha sido projetado especialmente para mim. O chão era de madeira clara colocada de forma tão uniforme que você nem sentiria as divisões entre elas, ele era assim exatamente para quando eu quisesse dançar. Havia barras de ballet (N/A: não gosto da palavra aportuguesada) em uma das paredes. Desde que me entendo por gente eu tinha uma paixão inexplicável por música e dança, agora que já fui reclamada por Apolo essa paixão é facilmente justificada.

Um piano de calda estava em um tablado e foi para lá que eu puxei Nico pela mão, enquanto deixava a atmosfera familiar da sala me envolver, como nos velhos tempos.

“Você toca piano?” ele perguntou, sentando ao meu lado no banco negro lustroso. Assenti, sorrindo.

“Eu toco várias coisas...” falei em voz baixa, tentando me lembrar das notas. Fechei meus olhos para me concentrar melhor, mas eu podia sentir os olhos dele em meu rosto e isso e fez meu rosto esquentar. Escutei uma risada quase inaudível, mas a ignorei. A melodia estava se esboçando em minha mente, e eu abri meus olhos lentamente, encontrando a negritude dos de Nico que me observavam com curiosidade. Dei um meio sorriso e deixei que meus dedos pressionassem as teclas formando as notas da música que dava a resposta à pergunta que ele fizera.

Never Knew I Needed

(Ne-yo)

[N/A: o que tiver em negrito são os dois juntos; o sublinhado é Nico e o normal é Stella]

(ooh)
For the way you changed my plans
For being the perfect distraction
For the way you took the idea that I have
Of everything that I wanted to have
And made me see there was something missing
(oh yeah)

[Pela maneira como você mudou os meus planos
Por ser a distração perfeita
Pela maneira como você levou a minha ideia
De tudo que eu sempre quis ter
E me fez ver que tinha algo faltando
(oh yeah)]

For the ending of my first begin
(ooh yeah yeah)(ooh yeah yeah)
And for the rare and unexpected friend
(ooh yeah yeah)(ooh yeah yeah)
For the way you're something that I never choose
But at the same time something I don't wanna lose
And never wanna be without ever again (oh oh)

[Pelo final do meu primeiro começo
(ooh yeah yeah) (ooh yeah yeah)
E pelo raro e inesperado amigo
(ooh yeah yeah) (ooh yeah yeah)
Pela maneira como você é algo que eu nunca escolhi
Mas ao mesmo tempo algo que eu não quero perder
E sem a qual não quero ficar jamais (oh oh)]

You're the best thing I never knew I needed
So when you were here I had no idea
You're the best thing I never knew I needed
So now it's so clear I need you here always

[Você é a melhor coisa que eu nunca soube que precisava
Então quando você estava aqui eu não fazia ideia
Você é a melhor coisa que eu nunca soube que precisava
Então agora está claro que preciso de você aqui sempre]

My accidental happily (ever after oh oh oh)
The way you smile and how you comfort me
(with your laughter)
I must admit you were not a part of my book
But now if you open it up and take a look
You're the beginning and the end of every chapter (oh oh)

[O meu acidental feliz (para sempre oh oh oh)
O seu sorriso e o seu modo de me confortar
(com a sua risada)
Devo admitir que você não fazia parte do meu livro
Mas agora se você abrir e der uma olhada
Você é o começo e o fim de todos os capítulos (oh oh)]

You're the best thing I never knew I needed (oh)
So when you were here I had no idea
You're the best thing I never knew I needed
(that I needed)
So now it's so clear I need you here always

[Você é a melhor coisa que eu nunca soube que precisava
Então quando você estava aqui eu não fazia ideia
Você é a melhor coisa que eu nunca soube que precisava
(que eu precisava)
Então agora está claro que preciso de você aqui sempre]

Who'd knew that I'd be here?
(who'd knew that I'd be here? oh oh)
So unexpectedly
(So unexpectedly oh oh)
Undeniably happy (hey)

[Quem imaginaria que eu estaria aqui?
(quem imaginaria que eu estaria aqui? oh oh)
Tão inesperadamente
Tão inesperadamente oh oh
Inegavelmente feliz (ei)]

Said with you right here, right here next to me (oh)
Girl you're the...

[Disse que com você aqui, bem aqui ao meu lado (oh)
Garota, você é a...]

You're the best thing I never knew I needed
(said I needed oh oh)
So when you were here I had no idea
You're the best thing I never knew I needed (needed oh)
So now it's so clear I need you here always
Baby baby
Now it's so clear I need you here always

[Você é a melhor coisa que eu nunca soube que precisava
(disse que precisava oh oh)
Então quando você estava aqui eu não fazia ideia
Você é a melhor coisa que eu nunca soube que precisava (precisava oh)
Então agora está claro que preciso de você aqui sempre
Baby baby
Agora está claro que preciso de você aqui para sempre]

“Eu nunca pensei que você soubesse essa música” falei sorrindo.

“Hey! Só porque sou filho de Hades não quer dizer que não posso ouvir esse tipo de música” ela disse, fazendo cara de ofendido.

“É que não parece muito seu estilo”

“Como assim não parece meu estilo?” ele perguntou olhando para si mesmo. “Okay, você me pegou”

“Rá! Eu venci!”

“Tá, tá”

“Own, não fica tristonho” puxei ele para um selinho que logo se tornou num beijo longo e carinhoso.

Quando nos separamos eu fiquei olhando nos olhos dele pelo que podia ter sido um segundo ou um ano. A luz do sol tornava a paisagem tão colorida que eu não pude deixar de notar o contraste dela com o preto das roupas de Nico e com sua pele branca. Peraí...

“Di Immortales! Já está muito tarde!” exclamei, quebrando o encanto do momento. “Tenho que me arrumar para o café da manhã” me levantei e comecei a andar com pressa antes de notar que Nico estava me olhando com uma expressão que misturava curiosidade com diversão.

“Onde é o incêndio?” ele perguntou, retorcendo os lábios no que me pareceu uma tentativa frustrada de ficar sério.

“Muito engraçadinho.” fiz uma careta. “Eu vou me atrasar, vem logo” continuei andando, olhei por cima do ombro, vendo ele se aproximar de mim.

POV's Nico

Quando entramos no quarto dela, Stella andou até o banheiro, falando comigo por cima do ombro.

“Nico, faz um favor pra mim?”

“Claro”

“Olha, eu to superatrasada, será que você pode escolher um vestido para mim?”

“É o quê?” perguntei descrente erguendo as duas sobrancelhas, completamente incrédulo. Uma garota, especialmente essa garota, pedindo para eu escolher uma roupa para ela?

“É só olhar dentro do closet” ela continuou, tirando os sapatos e os largando no chão. “Escolhe um qualquer.”

“Qualquer um?”

“É” ela parecia impaciente. “Eu vou tomar banho, e você fique aqui. Depois eu trago comida para você”

“Tudo bem” ela entrou no banheiro e fechou a porta. Eu andei até o closet enorme. Sério, para que alguém precisa de tanta roupa? Imagina se ela fosse filha de Afrodite.

Eu estava mexendo nos vestidos, quando escutei a voz de Stella me chamar. Saí do closet e vi que ela estava com a cabeça para fora da porta meio fechada. Tentei não pensar em como ela estaria por trás daquela porta, mas não funcionou muito bem. Ela pareceu não notar meu olhar, graças aos deuses.

“Você já escolheu o vestido?” neguei com a cabeça. “É que eu esqueci de falar que tem que ser um dos longos...”

“Por quê?” a pergunta escapou em tom de lamento. Não me culpe, ela tem pernas lindas e eu não queria que elas ficassem escondidas.

Ela não respondeu minha pergunta, só deu um sorriso e fechou a porta.

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“Quanto tempo uma pessoa precisa para tomar banho?” me perguntei num resmungo murmurado. Eu estava deitado na cama de Stella, encarando o teto, enquanto era abraçado pelo cheiro que ela deixara nos lençóis e travesseiros.

Eu já tinha mandado uma MI para Percy falando da visão de Stella sobre o ataque, então o acampamento já estava se preparando para a batalha.

E eu estava quase morrendo de tédio.

Já chega, pensei, me sentando rapidamente e jogando minhas pernas para fora da grande cama.

Eles não iam me manter longe dela. Eu já tinha enfrentado os três grandes por ela, por que não enfrentaria simples mortais?

Eu não podia estragar nosso disfarce de amigos, porque só iria dificultar as coisas, mas isso não quer dizer que eu tenho que ficar aqui no tédio, eu vou ficar com ela pelo máximo de tempo que conseguir.

“Nico?” a voz de Stella chamou meu nome num sussurro.

“Aqui” falei, sem me mexer. Ela se aproximou da cama e deu uma daquelas risadas que parecia com o tilintar suave de cristal.

Eu me senti na cama e ela estendeu a pequena mão delicada para mim. Eu fechei o espaço entre nós, me levantando, e segurei a mão dela contra meu peito, puxando ela para mim e beijando os cabelos loiros. Stella pareceu surpresa com minha reação. Eu sorri, ainda com os lábios nos cabelos dela.

“Eu não posso ficar me escondendo deles para sempre” murmurei.

“Eu sei, mas se você aparecer assim... vão te arrancar de mim de novo”

“Não se eu for seu amigo, ou vai deixar que eles controlem até isso?” minha voz saiu mais dura do que eu pretendia e eu senti a respiração dela parar. “Desculpe” falei, beijando os cabelos dela de novo. “Eu não queria dizer isso. Não quero brigar com você de novo”

“Tudo bem” ela falou, com uma voz frágil que não disfarçava a mágoa. “Eu estou atrasada”

“Só te deixo sair depois que ver um sorriso seu. Me perdoa, eu sei que não é sua culpa”

“Já disse que está tudo bem” ela falou, se virando para sair, mas eu continuei segurando sua mão, fazendo com que ela parasse.

“Mas eu sei que não está” falei. “Eu te magoei de novo. Sou um imbecil” resmunguei. “Eu devia ir embora antes que piore as coisas” murmurei.

“NÃO!” ela gritou, se jogando contra meu peito e envolvendo meu pescoço com os braços. “Não” ela repetiu, dessa vez sem gritar. Eu enrijeci com a proximidade repentina “Não me deixe... não me deixe” a voz dela mostrava medo e desespero. “Não...”

“Acho que eu não poderia... eu sou muito egoísta para deixá-la” falei, sentindo a verdade das palavras.

“Por favor, continue sendo” eu pude sentir o sorriso dela com essas palavras.

Meus lábios famintos procuravam avidamente os lábios delicados dela e por fim puderam se saciar com um beijo longo e carinhoso. Quando nos separamos, estávamos ofegantes e sorridentes. Stella acariciou minha bochecha com a mão e saiu do quarto sem dizer mais nada.

POV's Stella

Assim que cheguei à sala de jantar, onde costumávamos fazer todas as refeições normais, encontrei-a vazia. Por um momento cogitei a possibilidade de ter me atrasado muito mais do que pensava, mas logo a descartei quando Martha, uma mulher gentil que trabalhava há muitos anos no castelo, chamou meu nome.

“O desjejum está sendo servido no jardim à beira do lago, Alteza.”

“Ah, obrigada” dei um sorriso e comecei a me andar para longe dela. Depois de alguns passos, me voltei para ela. “A senhora poderia levar comida para meu quarto?”

“Claro alteza. Mas... me perdoe a intromissão, mas por que a senhorita deseja que leve comida se está indo comer?”

“Ah,” tenho certeza que corei. “Uhmm... pode guardar um segredo?” ela assentiu. “É para uma pessoa, um amigo. Ele está esperando lá”

Ela deu um sorriso que me fez corar mais ainda.

“Não se preocupe, seu segredo está seguro comigo”

“Obrigada” dei um meio sorriso e continuei andando.

Assim que fiquei sozinha de novo, a preocupação com o Acampamento me atingiu, me distraindo tanto que eu mal notei os corredores, pátios e todo o resto do caminho que levava até o lago.

“Desculpem o atraso” falei, assim que me aproximei da mesa o suficiente para que não precisasse gritar para ser ouvida.

“Estás deslumbrante, Alteza” falou o conde de Navarro com aquele tom de voz bajulador que me deixava doente. Dei o melhor sorriso que eu pode só por causa da etiqueta.

“Obrigada” tive vontade de dizer que o vestido tinha sido escolhido por um garoto que não era da nobreza que tinha dormido no mesmo quarto que eu, mas consegui segurar minha língua.

A refeição se passou lentamente, enquanto falávamos de assuntos fúteis, quando eu queria estar avisando o Acampamento da ameaça de Céos.

“Stella!” me sobressaltei e virei minha cabeça na direção da voz. Era Sky, que me chamava.

“Sim?”

“Estamos te chamando há séculos” Riven reclamou. Revirei os olhos.

“Desculpe, estou meio distraída essa manhã. O que estavam dizendo?”

“Perguntaram quem era o garoto de ontem”

“Por que o interesse nele?” perguntei.

“Apenas curiosidade” respondeu alguém que nem me dei ao trabalho de ver quem era.

Quase que eu falava que a curiosidade matou o gato.

“Ele não te machucou, machucou?” perguntou Brandon, e eu notei uma certa raiva na voz dele.

“Ele é meu amigo” respondi dando de ombros, com a garganta queimando com a vontade de dizer que Nicolas di Angelo é e sempre será o amor da minha vida. Era sempre assim, eu sempre queria falar alguma coisa, mas para manter meu papel de princesa eu engolia todas as minhas palavras. Era como se eu criasse um personagem e me trancasse no fundo da minha mente. Mas a Stella trancada sempre conseguia uma brecha para atormentar meu personagem e isso me machucava profundamente. “Ele nunca me machucaria... Anjos da guarda não machucam seus protegidos” murmurei a última parte, depois de um instante de hesitação em que a Stella real conseguiu se desvencilhar das correntes que a prendiam e inconscientemente levei minha mão ao ombro onde o mantícore tinha lançado um espinho na noite em que eu perdoei Nico, me lembrando do jeito que ele cuidou de mim desde de quando me encontrou naquele beco e nós éramos desconhecidos.

“Alteza” uma voz me tirou das minhas lembranças. Virei minha cabeça na direção da pessoa que me chamou. Era uma criada que andava rapidamente em minha direção e depois de fazer uma mesura para todos os presentes, ela se virou para mim. “Princesa, um rapaz me pediu para entregar isso para a senhorita, disse que era muito importante que recebesse imediatamente” ela me estendeu uma caixa de veludo e um envelope. “E também deixou alguém” Só então notei a garotinha ao lado dela. Os cachos loiros presos em um rabo-de-cavalo, os olhos cinzas nublados de lágrimas que já tinham secado, a camisa laranja do Acampamento, aquela era Maryanne, irmã de Annabeth, e se ela estava lá, isso significa que as coisas pioraram mais depressa do que eu esperava. Ao mesmo tempo que notava isso, minha mente processou o restante das informações. Um rapaz... Nico. Ele foi ajudar no Acampamento e trouxeram Mary por ela ser muito jovem para lutar.

“Mary...” falei deixando a mesa e me agachando de frente para ela. “O que houve?” eu já sabia a resposta, mas estava me agarrando com tudo que podia na esperança de estar errada. Uma esperança que desvaneceu quando lágrimas brotaram em cascata dos olhos cinzentos. Senti meus olhos se nublando, mas tentei não chorar, ela precisava de alguém que parecesse mais forte. Deixei que ela me abraçasse e retribui o abraço. Eu queria falar alguma coisa para consolá-la, mas nós duas sabíamos que qualquer palavra que saísse de minha boca para fazê-lo não passaria de uma mentira. “Quem te trouxe?” perguntei quando ela parou de chorar.

“Lord Apolo” ela sussurrou.

“Sabe algo de Nico?” ela negou. “As coisas estão muito ruins, né?”

“Eles estão quase quebrando nossas barreiras, Stella. Annie reuniu o Conselho, mas nossa estratégia ainda nem estava pronta quando o ataque começou. Então no meio de todo o caos, eles simplesmente foram embora. Annabeth acha que foi um tipo de aviso, sabe.” eu assenti. “Então Lorde Apolo apareceu e ela me obrigou a vir com ele. Eu não queria. Queria ficar e lutar ao lado dos meus irmãos. Não é justo eles ficarem lá e eu ficar protegida...”

POV's Flora

A conversa de Stella e da garotinha estava se tornando cada vez mais estranha. Elas falavam como se não existisse ninguém além delas.

“Mary, você é muito pequena pra lutar numa guerra” Stella falou em um tom maternal. Guerra? Essa palavra aguçou a curiosidade de todos nós. Alguns murmúrios surgiram na mesa e isso fez a cabeça de Stella se virar para nós. Ela finalmente se lembrou da nossa existência e se afastou da mesa sem falar nada, levando a garotinha pela mão e desaparecendo no jardim.

“Onde estão os modos dessa menina?” escutei a voz da rainha murmurar.

Deixei meus olhos percorrerem a mesa, tentando descobrir o que se passava na mente dos outros, já que não conseguia entender a minha. Não tinha ido muito longe na minha observação quando percebi que a irmã de Brandon olhava o caminho que Stella tinha percorrido. A testa dela estava franzida com preocupação, que também podia ser vista em seus olhos.

“Com licença” ela se levantou e saiu da mesa praticamente correndo.

Troquei um olhar preocupado com as meninas numa pergunta muda que nenhuma de nós soube responder.

Passamos o resto do café da manhã num silêncio desconfortável que ocasionalmente era interrompido com uma tentativa frustrada de fazer a conversar amena recomeçar.

Assim que acabamos a refeição, eu e as meninas fomos para o quarto de Stella, onde encontramos ela penteando os cabelos da garotinha loira. A irmã de Brandon, Claire, andava de um lado para outro, parecendo muito nervosa.

“Eu tenho que voltar” elas falaram ao mesmo tempo.

“Vocês não podem” a garotinha falou, repreendendo as mais velhas. “Não é sábio. Annabeth disse que é importante que vocês fiquem aqui.”

“Como ela sabe?” a voz de Claire estava carregada com ameaça.

“Mamãe conseguiu mandar um aviso por sonho, se vocês voltarem agora vai ser pior. Ela disse que não ia mais conseguir se comunicar, gastou muita energia para mandar a mensagem.”

“Stella, o que está acontecendo?” perguntei.

POV's Stella

“Você não vai lutar, vai, Stella?” Mary perguntou quando nós já tínhamos chegado no meu quarto.

“Eu vou” falei numa voz decidida.

“Não, você não vai” eu conhecia essa voz muito bem. Meus olhos vagaram à procura de Nico. Ele estava encostado na parede, com os braços cruzados e apesar de seu rosto não mostrar absolutamente nada, eu consegui ver a raiva nos olhos negros.

“É óbvio que eu vou” rebati, irritada.

“Não, você não vai. Será que é tão difícil entender que eu não vou deixar você se machucar?”

“Será que é tão difícil você entender que é uma escolha minha?” nossas vozes estavam se elevando rapidamente.

“Não é sua escolha.” ele andou a passos largos e prendeu meus ombros num aperto férreo. “Acho que você não está entendo.” ele falou devagar. “Você. Não. Vai.” eu consegui sair do aperto dele e estava abrindo minha boca para responder à altura quando a voz de Mary me interrompeu.

“Não briguem!” ela pediu. “Não podemos criar guerras entre nós. Stella, você não pode ir, por causa da profecia. Nico, você também não devia ir”

“Desculpe, pequena, mas eu tenho que ajudar o Acampamento. Nós perdemos muitos campistas, se eu for talvez consiga evitar que percamos mais.” a voz de Nico assumiu um tom que chegava a ser paternal. Eu poderia sorrir se não estivesse tão preocupada com tudo isso.

“Ah, e você pode morrer?!” eu sabia que estava ficando histérica, mas não consegui evitar.

“Stella, seja racional...” eu não deixei ele terminar de falar.

“Eu não posso te perder” ele abriu a boca, mas eu falei antes dele de novo. “Será que você não entende?!” essas palavras já tinham sido repetidas nessa conversa, mas eu não pude evitar.

“Me perdoe, mas eu tenho que fazer isso” ele acariciou meu rosto e me deu um selinho, e antes que eu pudesse impedi-lo, ele já estava desaparecendo nas sombras.

Eu não pude aguentar mais aquela perda. Eu sabia que devia ser forte para Mary, mas não consegui me segurar. Senti meus joelhos baterem contra o chão e minhas lágrimas pareceram adagas cortando meu rosto.

Senti o abraço de Mary, mas não consegui olhar para ela. Depois senti uma mão diferente tocar meu ombro. Através das lágrimas, reconheci o rosto de Claire e deixei que ela me conduzisse para minha cama.

Elas não tentaram me falar nenhuma palavra de consolo porque, como eu sabia que não faria bem confortar Mary mais cedo, elas sabiam que não adiantaria de nada tentar amenizar minha dor com mentiras.

Me obriguei a parar de de chorar, mas não consegui fingir nenhum mísero sorriso. Fiquei encarando a parede até que Mary me entregou uma escova pedindo que eu penteasse os cabelos molhados. Eu estava tão presa na dor que nem notei que ela tinha tomado banho.

“Eu tenho que voltar” falei ao mesmo tempo que Claire.

“Vocês não podem” Mary nos censurou “Não é sábio. Annabeth disse que é importante que vocês fiquem aqui.”

“Como ela sabe?” Claire estava irritada por não estar ajudando as Caçadoras.

“Mamãe conseguiu mandar um aviso por sonho, se vocês voltarem agora vai ser pior.” eu abri minha boca para perguntar como Atena tinha conseguido falar com Annabeth, mas Mary falou antes que eu fizesse a pergunta. “Ela disse que não ia mais conseguir se comunicar, gastou muita energia para mandar a mensagem.”

“Stella, o que está acontecendo?” virei minha cabeça na direção da voz. As meninas estavam perto da porta e me encaravam com curiosidade e preocupação. Uma parte de mim queria contar tudo a elas, mas a parte mais racional gritava que não era o certo. Eu fiquei olhando para elas, tentando decidir se contava ou não sobre a minha parte semideusa. Por fim Bloom tomou a palavra.

“Não precisa falar agora, toma um banho e se acalme, okay?” eu assenti e me levantei, cambaleando até o banheiro.

Assim que liguei o chuveiro deixei que todas as minhas lágrimas escapassem, enquanto meus soluços eram encobertos pelo som da água caindo.

Eu não queria pensar nisso, mas eu tinha uma certeza incrivelmente assustadora de que ia perdê-lo. Tentei tirar esse pensamento de minha cabeça pensando nas palavras de Mary. Havia uma profecia... O papel que tinham deixado comigo veio junto com Mary, então foi Apolo que mandou... Eu tinha que ler a profecia.

Quando saí do banho, não tinha mais ninguém em meu quarto a não ser Mary, que estava sentada no chão desenhado alguma coisa. Me aproximei dela e observei o desenho. Era a vista da janela do meu quarto. Eu sorri.

“Belo desenho” me sentei ao lado dela.

“Obrigada” as bochechas dela ficaram rosadas.

“Mary, qual é a profecia?”

“Ninguém sabe. Só Apolo. Rachel falou a profecia para ele, mas ela não se lembra de nada.”

“Então, como sabe que é sobre mim?”

“Lord Apolo disse que era sobre você na reunião dos líderes de chalé. Ele me contou no caminho para cá”

“Ele não deu nenhuma dica?”

“Não.” ela falou, fazendo mais alguns traços com uma precisão incrível. “Ele só falou que Nico devia ter entregado a profecia para você. Ele não te entregou nada?”

“Não” murmurei confusa. Ficamos em silêncio por mais alguns minutos.

“Você não vai abrir?” Mary gesticulou para a caixa de veludo e o envelope que estavam na minha cama. Me levantei e abri o envelope.

Dentro dele havia apenas uma folha em branco, com exceção de poucas palavras escritas de dourado na caligrafia de Apolo: A profecia só se revelará quando entender quem realmente é.

Deixei a folha em cima da cama e peguei a caixa. Quando a abri, senti meu rosto esquentar. Eu tinha esquecido da existência disso. Era o bracelete que Ártemis tinha me dado de presente de aniversário. Parecia ter sido há séculos atrás, num tempo mais feliz.

Junto com o bracelete tinha um papel com uma mensagem escrita por Apolo.

Bem, acho que nós dois sabemos que Ártemis não iria gostar de saber que você não usou o presente dela, então estou devolvendo o bracelete para você. Vai ser importante. Considere isso como um presente meu e de Hades .

Eu sei, pode parecer estranho, mas estamos tentando superar nossas diferenças por você e por Nico. Por falar nele, você deve estar superfeliz com a surpresinha que eu e Hades fizemos mandando o Gasparzinho para Sollaria.

Mudando de assunto, você deve estar se perguntando o porquê da outra carta. Infelizmente, eu não posso dizer, você tem que descobrir sem minha ajuda. Cuide-se (N/A: Garnier)

Apolo, o deus mais gato e legal do Olimpo.

Suspirei. Nico não estava mais comigo. Ele tinha voltado para a Terra para lutar.

Algumas batidas na porta me tiraram dos meus devaneios.