CAPÍTULO 53

POV's Stella

Adormeci na varanda mesmo e só acordei quando alguém me cutucou suavemente. Abri os olhos e notei que a noite ainda não tinha dado espaço total ao dia, os tons escuros da noite se misturavam com os tons róseos e alaranjados da aurora. Eu amava ver o céu assim, como se estivesse numa trégua. Os únicos momentos em que a pálida lua aparecia ao mesmo tempo do sol brilhante, a aurora e o crepúsculo, meus horários preferidos.

“Ah, aí está você” primeiramente eu não reconheci a voz, pois apesar de toda a analise do céu, eu ainda estava confusa por ter acabado de acordar. “Nos deu um baita susto” virei minha cabeça em direção à voz e vi vovó ao lado de minha mãe. Vovó sorria e tinha um olhar de diversão. Mamãe parecia aliviada, mas me lançava um olhar de censura.

“Por que não foi jantar?” ela perguntou numa voz gentil e reprovadora. “Ficamos muito preocupados quando você sumiu. O pobre Brandon parecia desolado, ele está se sentindo culpado pelo seu sumiço”

“Nem me fale dele” resmunguei, desviando o olhar para o céu e contemplando os primeiros raios de sol da manhã.

“Querida, sei que está com raiva dele por não ter falado com você mas ele está muito arrependido, devia lhe dar uma chance”

“Não”

“Mas você gostava tanto dele, por que não aproveita para ficar com alguém que gosta?”

“Mamãe, ele não é a pessoa certa para mim. Acredite eu sei que não é” falei, olhando para ela novamente “Ele pode ser meu amigo, mas o que tivemos não vai voltar. Nunca mais.”

“Mas...” ela ia insistir de novo, mas vovó a interrompeu.

“Selenne, querida, por que não avisa aos outros que achamos Stella?”

“Claro, mamãe” ela falou e depois me deu um beijo na testa. “Sinto muito por estar passando por isso, filha” e por algum motivo, eu acreditei nela, mas não consegui falar nada, só pude dar um sorriso triste.

Então ela saiu do quarto me deixando à sós com minha avó, que me encarava com um sorriso maternal.

“Então, pequena, o que aconteceu ontem à noite?” a voz dela era curiosa. Em geral vovó não conseguia esconder suas emoções, nem sua curiosidade de mim. Sorri com esse pensamento.

“Bem, eu saí para falar com Brandon no jardim. Então ele me beijou e eu corri para o bosque. E fiquei lá por um tempo. Depois voltei para cá. Não queria deixar vocês preocupados” falei, omitindo a parte de Nico.

“Isso tem alguma coisa haver com um certo garoto?” ela perguntou, me fazendo corar.

“N-não” gaguejei. Ela riu. “Vó” gemi, escondendo meu rosto vermelho em minhas mãos.

“Querida, isso é perfeitamente normal, se apaixonar.” ela fez um carinho em meus cabelos e se sentou na cadeira em frente para mim. Levantei o rosto e olhei em seus olhos.

“Não estou apaixonada...” ela deu um sorriso. Ninguém entendia quando eu dizia que estava apaixonada. Eu não estava apaixonada, eu estava amando. Para mim essas duas coisas eram muito diferentes. Estar apaixonada acontece todo o tempo, mas eu acreditava que havia uma pessoa certa para cada um e com essa pessoa não haveria somente paixão, haveria amor.

Paixões são efêmeras, volúveis. São intensas, mas não duradoras. Amores são o contrário. Às vezes podem ser menos intensos que as paixões, mas são mais perenes, duram mais do que as paixões, podem até tornarem-se eternos. Paixões são irregulares e amores são ininterruptos.

Muitos acham que eu sou louca por acreditar nisso, mas eu não ligo.
“Tudo bem, pequena. Não quer falar para a vovó, tudo bem” ela fez uma cara de falsa decepção. Eu ri e abracei ela. “Agora tente descaçar, sim?” assenti e ela me deu um último sorriso antes de sair.

Voltei para dentro e entrei debaixo dos lençóis, adormecendo logo em seguida.

Me arrependi de deitar assim que o sonho começou. Não, definitivamente não era um simples sonho. Era um pesadelo horrível.

Nico, o meu Nico, estava numa espécie de calabouço ou algo assim. Seus pulsos estavam amarrados à correntes, ele estava sentado. Seus os olhos estavam semifechados e sua cabeça pendia molemente sobre um dos ombros. Ele estava sem camisa e cada parte de seu corpo que eu podia ver estava com hematomas ou ferimentos, alguns deles pareciam inflamados. O lugar era mal iluminado e me dava arrepios. Não havia nenhuma janela nem abertura para a entrada de ar, exceto uma porta de ferro com uma espécie de janela com barras da grossura de meu braço.

A porta se abriu e uma pessoa encapuzada entrou, parando em frente a ele.

“Olá, Niquinho” eu reconheci aquela voz irritante. Jane, a filha de Éris que beijou o Nico. Senti uma imensa vontade de esganá-la até a morte, mas quando avancei para ela, simplesmente a atravessei. Nico levantou a cabeça num movimento mínimo, mas que parecia exigir um grande esforço. Ela abaixou o capuz e eu vi aquelas mechas vermelho sangue em seu cabelo escuro. “Então, você não vai me dizer onde está a garota?” ela tirou uma faca de bronze celestial com um estranho brilho esverdeado de dentro do manto e a girou distraidamente. Ele desviou o olhar. “Eu odeio fazer isso, mas você está pedindo” a voz dela estava levemente irritada. “Vamos, lá, amorzinho.” ele permaneceu calado. Ela se sentou de frente para ele, sem se importar com o chão imundo. “Diga para mim”

“Nunca” a voz que saiu dos lábios dele era fraca mas completamente obstinada. Um lampejo de fúria cruzou os olhos da garota que ergueu a faca e fez um talho profundo no braço de Nico. Ele deixou uma exclamação de dor escapar.

Ela continuou a torturá-lo, mas nenhum outro som saiu dos lábios de Nico. Ao contrário dele, eu gritava todo o tempo.

Ela só parou quando ele desmaiou devido à perda de sangue e à dor.

“Você vai mudar de ideia alguma hora” ela falou sorrindo docemente, e então se inclinou e beijou os lábios dele, saindo em seguida e fechando a porta.

E então eu acordei, chorando. Eu ainda podia ver ele sendo ferido por ela toda vez que fechava os olhos.

Eu tenho que falar sobre esse sonho com ele. Tenho que achá-lo antes que minha visão se realize.

Respirei fundo algumas vezes para conter o choro e procurei a bolsa de pano com os dracmas. Fui até o banheiro e liguei a torneira, criando um pequeno raio de luz para formar um arco-íris.

“Ó deusa, aceite minha oferenda.” falei, com a voz mais firme que consegui, e joguei um dracma no arco-íris. Para minha total surpresa, a moeda não desapareceu no ar, ela caiu do outro lado da água. Tentei de novo, mas obtive o mesmo resultado.

Por algum motivo Íris não estava aceitando fazer a conexão. Ou quem sabe ela podia estar presa junto com as outras deusas. Ou Mensagens de Íris não funcionam em Sollaria. De qualquer forma, eu não poderia falar com Nico naquele momento e o desespero começou a voltar para mim.

Não, eu tenho que ficar calma, pensei com ferocidade. Tenho que dar outro jeito de achar ele.

Quem sabe eu não consigo mandar uma MI mais tarde quando Íris estiver com um humor melhor?

Escutei alguém batendo na porta.

“Stella?” era Dani.

“Sim?” respondi ainda no banheiro, guardando os dracmas que tinham sido rejeitados de volta na bolsa.

“O café da manhã já vai ser servido”

Saí do banheiro e fui até o closet.

“Então, o que eu devo vestir?” perguntei, analisando os meus vestidos. Dani caminhou ate´onde eu estava. “Escolhe alguns para mim enquanto eu tomo um banho?”

“Claro” ela sorriu.

Eu já tinha ligado o chuveiro quando ela falou de novo.

“Parece que vai ter treino hoje” ela comentou, distraidamente.

“Um...” resmunguei revirando os olhos. Fala sério, eles tinham mesmo que ficar se exibindo por aí? Eram uns idiotas.

Se bem que tem uns de quem eu gosto. Tipo o Andrew, ele era muito fofo. Foi um dos meus primeiros namorados. Ele era sobrinho do duque de Fidelis e ainda era meu amigo. E, diferente da maioria, ele parecia realmente desconfortável com todo aquela besteira de casamento arranjado.

“Então... quais são minhas opções?” perguntei, quando saí do banho, e andei até a cama, enrolada com uma toalha branca.

“O que acha deste?” ela me mostrou um vestido branco. Eu sorri.

“Ótimo”

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Alguns minutos depois eu estava entrando na sala de jantar.

“Ah, Stella, essa é Clarie, irmã de Brandon” falou Layla, me apresentando à garota que estava sentada de frente para mim. Eu não acredito que é ela.

“Prazer em conhecê-la” falei, dando uma sorriso, apesar de estar desconfortável.

“O prazer é meu, princesa” ela sorriu para mim.

O motivo de eu estar desconfortável? Simples. A suposta irmã desaparecida de Brandon era uma caçadora de Ártemis. Para ser mais exata uma que estava na clareira quando eu e Annabeth pegamos a bandeira na primeira vez que o Acampamento venceu as Caçadoras em ninguém sabe quanto tempo.

O que me deixou mais confusa não foi o fato dela estar em Sollaria ou ser irmã de Brandon, na verdade foi o motivo dela estar lá. Por que ela resolveu voltar para a Dimensão Mágica assim do nada? Bem, depois eu vou descobrir.

O resto do café da manhã eu fiquei fingindo prestar atenção ao que falavam enquanto só sorria e soltava algumas exclamações quando na verdade minha cabeça estava cheia de preocupações.

Ver alguém tão intimamente ligado com minha vida de meio-sangue me fez lembrar do sonho e eu precisava de grande parte de minha concentração só para não sair correndo para procurar Nico ou para não matar a filha nojenta de Éris.

Em segundo lugar, tinha a minha situação com Brandon. Eu não estava nada confortável com o beijo de ontem e, embora não parecesse nada legal, eu tinha que falar com ele sobre isso, antes que essa coisa acabasse nos quebrando ainda mais.

Depois ainda tinha essa droga de casamento que estava me fazendo endoidar. Eu queria saber quem criou essa lei idiota. Deve ter sido alguém muito sádico ou louco ou os dois. Ninguém em santa consciência e com o mínimo de bom-senso inventaria uma maluquice dessa.

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Enquanto eu tinha algum tempo livre antes do almoço, eu consegui me livrar das meninas e fugir para meu quarto com a desculpa de estar com dor de cabeça. Recusei a companhia de todos, mas lancei um olhar discreto para Claire antes de sair.

Entrei no quarto e me joguei na cama, ficando de olhos fechados enquanto esperava Claire.

Depois de alguns minutos insuportavelmente longos, escutei batidas leves e ritmadas na porta. Pedi para a pessoa entrar e me sentei.

“Acho que temos algumas coisas para explicar” falou Claire entrando no quarto e sendo seguida por Dani.

“Dani?” perguntei confusa, me erguendo da cama. Ela deu um sorriso amarelo.

“Parece que não sou a única aqui que faz parte dessa dimensão e do mundo grego. Não passamos de lendas humanas. Lendas completas” Claire sorriu das próprias palavras.

“Dani, você é...”

“Filha de Íris” ela deu um sorriso tocando no cabelo. “Por isso estão sempre mudando. Loiros, pretos... agora são ruivos. Não sei por quanto tempo.” ela falava mais para si mesma do que para nós. “Você também é meio-sangue? Ou é Caçadora?”

“Filha de Apolo” falei.

“Ah. Combina”

“Então, vocês se conhecem de onde?” perguntei, porque estava óbvio que Claire já sabia que Dani era meio-sangue e que Dani sabia que Claire era caçadora e cada uma delas sabia de uma parte minha.

“Ah, decepção amorosa” comentou Claire, abanando a mão como se fosse uma coisa banal. “Ártemis apareceu e nos chamou para que nos juntássemos à Caçada. Então ela falou que Dani era filha de Íris e que ela era uma deusa. Nós piramos, claro.”

“Depois que nos acalmamos, nós pensamos melhor na proposta. Claire aceitou e eu não. Mesmo assim, Ártemis me levou para o Acampamento, dizendo que eu precisava de treinamento, porque mesmo que os monstros gregos não viessem para cá, era bom eu aprender a me defender por via das dúvidas.”

Depois disso ficamos conversando por um tempo e eu descobri que quem tinha magoado Dani foi Andrew. Bem, ele não fez isso diretamente, mas eles foram amigos por um tempo e enquanto ela ainda estava perdidamente apaixonada ela não a via como mais que uma amiga. Claire tinha sido traída pelo noivo e depois abandonada por ele. Eu contei sobre Nico a elas, mas não tudo só o básico. Fiquei um pouco triste por não contar para as outras meninas e resolvi que falaria com elas hoje mesmo. Eu contaria tudo para elas fora a parte de ser meio-sangue.

“Stella, quase que eu me esquecia de falar, o Festival do Sol começa hoje” falou Dani. Senti um sorriso cruzar meu rosto e uma ideia começou a brotar na minha cabeça.

“Festival do Sol?” perguntou Claire, franzindo as sobrancelhas.

“Sim.” falou Dani e depois ela deu uma pausa, pensando que eu ia falar, mas eu estava ocupada pensando no meu novo plano. “É uma espécie de festa para comemorar o dom que recebemos com a luz. Tem de tudo, comida, música, alguns jogos. É muito legal. Geralmente dura uma semana, mas às vezes é prolongado. Ah, e também tem alguns concursos de...”

“Gente, eu tive uma ideia!” exclamei interrompendo Dani. Elas me olharam como se eu fosse louca. “Vocês cantam?”

“Ãhn?” ela me olharam confusas. “Para quê você quer saber isso?”

“Só respondam. Sim ou não?”

“Não sei” Dani corou.

“Um pouco” Claire fez uma careta. “Eu era obrigada a fazer aulas de canto. Qual é o objetivo dessa pergunta?”

“Sabem, a música é um ótimo jeito de extravasar as emoções” elas continuaram a me olhar sem entender. Revirei os olhos e continuei. “Eu sei uma música linda que combina com o momento em que estamos. Não ficaria perfeita se eu cantasse sozinha, nem se uma de vocês cantasse sozinha, mas se fizermos juntas...” deixei a frase suspensa, olhando elas com um sorriso enorme no rosto.

“Não!” falou Dani.

“Absolutamente não!” concordou Claire.

“Por favor” pedi fazendo cara de anjinho.

“Não” elas falaram energicamente em uníssono.

“Ah! Qual é! Não tem nada demais. É só uma música. Se vocês não forem por bem, eu vou perturbar vocês até aceitarem” dei um sorriso maléfico.

“Tá” resmungou Dani.

“Tudo bem.” Claire falou depois de um suspiro cansado.

“Okay, então vamos ensaiar.”

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POV's Narradora

“Para com isso, Dani” a garota de cabelos castanhos e olhos verdes repreendeu a ruiva de olhos caramelo.

“Desculpa, é que eu estou nervosa” respondeu a ruiva soltando a ponta do vestido que enrolava sem parar em suas delicadas mãos.

“Eu também” admitiu a morena, olhando para os os lados e passando as mãos no cabelo solto com cachos cuidadosamente feitos.

“Para você também, Claire.” reclamou a loira de olhos verdes amendoados. “Eu passei não passei tanto tempo fazendo o seu cabelo para você destruí-lo em cinco segundos”

“Você não está nervosa?” perguntou Dani.

“Na verdade, estou” Stella falou. “Mas não fico descontando no pobre vestido ou no meu cabelo”

Elas andavam no Festival, procurando o lugar para fazer suas inscrições no show de talentos que havia ali.

“Stella!” automaticamente Stella se virou na direção da voz que a chamara. Era Bloom, que estava sendo seguida pelas outras. “Wow, você está incrível” ela sorriu para a amiga. “E vocês também” acrescentou ao notar Claire e Dani.

“Obrigada” as três responderam em coro.

“Vocês também estão maravilhosas” falou Stella às outras amigas.

“O que vocês estão fazendo?” perguntou Musa.

“Procurando o lugar de inscrições para o show de talentos” Stella respondeu, ficando nas pontas dos pés e esticando o pescoço na tentativa de ver sobre a multidão.

“Vai ter um show de talentos?” perguntou musa num tom interessado.

“Sim. Toda noite tem” respondeu Claire. “Stella, isso não vai adiantar de nada. Você é muito baixa” comentou se virando para a loira, que em resposta mostrou a língua.

“Olha, é a Princesa Stella!” uma voz desconhecida sobressaiu ao barulho da multidão e logo Stella estava sendo engolfada por várias pessoas.

As meninas viram o olhar suplicante que Stella lançava a elas pedindo ajuda para fugir da multidão, mas ignoraram e se afastaram deixando a amiga com seus deveres de princesa.

As garotas andaram até uma parte mais afastada e tranquila do grande parque onde ocorria o festival. Bloom se largou num balanço, dando impulso com as pernas, fazendo com que o vento agitasse levemente os cabelos ruivos soltos e escovados.

“Vocês vão participar também ou só a Stella vai?” perguntou, continuando seu balanço ritmado.

“Ela nos chantageou para participar junto com ela” respondeu Dani, sentando no outro balanço.

“Estranho, ela não falou nada conosco” comentou Tecna, desconfiada da atitude de Stella.

“Estranho ou não, pelo menos escapamos dessa” falou Layla.

“Graças à Deus” murmurou Flora.

“Ah, mas até que seria legal participar desse Show de Talentos” os olhos de Musa brilharam quando ela falou. “Imagina, a gente podia cantar juntas!”

“Nem vem que não tem” Flora resmungou. “Já escapei de uma por muito pouco, vocês sabem que eu tenho vergonha”

“De quê?” rebateu Layla, que estava começando a gostar da ideia. “Dessa voz linda e angelical?”

Flora corou com o comentário. “Eu concordo com Musa, seria extraordinário. Poderíamos usar isso para passar mais tempo juntas.”

“Não sei não, eu acho que não estou preparada para isso” Bloom falou.

“Ah, vai! Nós precisamos de mais tempo para nós e Stella sempre diz que a música é uma ótima forma de expressar sentimentos.” sorriu Tecna, para surpresa todas e alegria de Musa e Layla, que tinham sorrisos enormes por saber que era só uma questão de tempo para as meninas aceitarem.

“Não dá tempo de ensaiar” Flora deu um sorriso discreto e quase imperceptível.

“Claro que dá!” Layla falou, hesitada com a ideia. “Olha, nós podemos tentar fazer uma coreografia legal e nós nos apresentamos...” ela hesitou. “Até que dia vai o Festival?”

“Que dia é hoje?” perguntou Dani.

“Sábado”

“Teoricamente duraria uma semana... mas sempre prolongam.”

“Okay, então nós podemos nos apresentar na terça ou algo assim” falou Musa sorrindo.

“Quem disse que eu aceitei?” Bloom ergueu uma sobrancelha. “Tá bom, eu vou” resmungou irritada depois de ser encarada pelas amigas.

“E você Flora?”

“Tudo bem, eu vou”

“Legal. E vocês?” Tecna perguntou se virando para Dani e Claire que quase não estavam falando.

“Por mim tudo bem, já estou passando vergonha mesmo” Claire deu de ombros, mas sorria.

“Se Flora pode fazer isso, eu também vou.” Dani falou e elas trocaram sorrisos cúmplices.

“Fazendo festinha sem mim?” a voz de Stella soou e apesar das palavras, seu tom era alegre, tão alegre que mesmo sem vê-la as meninas sabiam que ela estava sorrindo.

“Parece que você acabou de vir de uma festa, uma festa realmente boa.” falou Layla se virando para a loira. “Por que você está toda saltitante?”

“Vou abrir o Show de Talentos hoje!” Stella gritou dando pulinhos e batendo palmas. “Não é o máximo?”

As outras se entreolharam, tentando prender o riso, mas não deu certo e logo elas estavam rindo muito, deixando uma Stella emburrada de braços cruzados.

“Desfaz essa careta, Stella. Nós temos boas notícias” falou Tecna sorrindo.

“Que notícias?” a curiosidade de Stella era praticamente irreprimível e ela esqueceu-se de fingir irritação por um instante. As amigas trocaram olhares com sorrisos.

“Nós vamos participar do Show de Talentos!” exclamaram em uníssono.

“É o quê?” Stella piscou surpresa. “Vocês vão mesmo?”

“Yeah, todas nós. Juntas. E aí, topa?” perguntou Bloom sorrindo.

“Claro! Nós temos muito há fazer. Temos que pensar na música, roupas, cabelo, maquiagem...” ela ia continuar tagarelando, mas foi interrompida.

“Princesa, Sua majestade requisitou sua presença” falou um mensageiro, se curvando para ela.

“Ah, estou indo. Obrigada” ela curvou levemente a cabeça num movimento gracioso. “Vejo vocês depois” acrescentou para as amigas, já indo ao encontro dos pais.

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POV's Stella

“Stella, venha sentar-se conosco” chamou meu pai sorrindo.

Ele estava ao lado de minha mãe, sentado numa pequena arquibancada elegante embaixo de um toldo branco com franjas douradas. Era uma espécie de camarote. Junto a eles estavam todos os nobres e integrantes da Alta Cúpula com alguns acompanhantes.

Eu não queria, mas a etiqueta me fez sentar no lugar vazio ao lado de minha mãe.

“Olha, eu não sei o que eu fiz de errado. Sério mesmo. Eu sorrio, não falo muito, sou praticamente perfeitamente educada, o que mais vocês querem que eu faça?” sussurrei para ela, sem conseguir esconder o ressentimento. “Eu não vou ficar aqui o tempo inteiro, vou abrir o Show de Talentos”

“Eu sei, querida” mamãe sussurrou de volta. “Escute, eu quero que se divirta, mas tente conhecer um dos garotos, seu prazo está se esgotando e se não tiver escolhido um pretendente até o seu Baile, eles vão escolhê-lo por você”

“Eu sei. E já disse que não quero um estúpido baile.”

“Mas querida, é a tradição. Desde que toda Dimensão começou a achar que a dinastia del Solle se acabaria pela falta de herdeiros meu e de seu pai e quando você nasceu semanas antes do Festival do Sol nós comemoramos seu aniversário junto com o encerramento desse Festival. Toda princesa tem um baile de aniversário, especialmente quando está tão perto de noivar”

Não respondi nada, só encarei fixamente o vazio à minha frente.

Depois de alguns instantes eu percebi que alguém sentou-se ao meu lado.

“Oi, Andrew” falei, me virando para ele com um sorriso discreto.

“Oi” ele sorriu de volta. “Será que podemos dar uma volta?”

Não sei não, da última vez que aceitei “dar uma volta” acabei sendo beijada contra minha vontade e depois o amor da minha vida me abandonou.

“Tudo bem, mas não vamos demorar.”

Então nós saímos do camarote e andamos pelo meio das pessoas tentando não chamar muita atenção, o que não funcionava muito na minha opinião. Pelo que percebi, as pessoas estavam achando que eu tinha alguma coisa com Drew (é o apelido dele) e que ele seria o próximo rei de Sollaria.

“Então, o que você queria falar comigo?”

“Nossa, você é bem direta” ele riu. Eu dei um sorriso. “Ahn, eu sei que você não está nada feliz com toda essa situação, mas eu realmente queria que você me desse uma chance. Eu acho...” ele deu uma pausa como se estivesse tomando coragem para fazer uma coisa muito difícil “Eu acho que estou me apaixonando por você.”

“Ah, Drew” suspirei triste. “Olha, você é um doce e eu gosto muito de você. Mas é que conheço uma pessoa que gosta muito de você. Você nem percebe mais ela está ao seu lado o tempo inteiro.” ela abaixou a cabeça.

“Tudo bem, eu entendo” a voz dele estava completamente desanimada. Afaguei o rosto dele com carinho.

“Ei, não fique triste.” sussurrei. “Eu estou quebrada por dentro, nunca daria certo. Com ninguém que eu possa ter.”

“Você... ainda gosta do Brandon?”

“Sim.” ele assentiu como se entendesse tudo. “Mas gosto dele do mesmo jeito que gosto de você”

“Então, quem?”

“Não gosto de falar nisso” murmurei, abaixando a cabeça. “Pensa no que eu te falei, okay? Ela realmente te faria um bem enorme, vocês seriam perfeitos juntos.” ele me deu um sorriso triste. Dei um sorriso de desculpas e comecei a andar para o palco do Show de Talentos, já que estava quase na hora da abertura.

“Stella” ele chamou. Me virei para ele “Quem é ela?”

“Não posso falar. Eu prometi” então eu corri, deixando ele com uma expressão confusa.

Cheguei ofegante ao pequeno espaço reservado para os participantes do show. Dani e Claire estavam lá e continuavam descontando o nervosismo no vestido e no cabelo, respectivamente. Andei até elas.

“Parem já com isso!” reclamei. Elas me olharam confusas. “Dani, solte o vestido, vai ficar todo amarrotado se continuar apertando o coitado desse jeito” ela corou suavemente e soltou o vestido. “E você!” me virei para Claire que não parava de passar a mão nos cabelos. “Para de mexer no cabelo, vai estragar o que eu tive tanto trabalho de arrumar!”

Claire ia rebater, mas um rapaz com uma prancheta na mão apareceu me chamando para fazer a abertura. Me despedi delas e fui até o palco.

Alguém falou alguma coisa que não ouvi direito. A multidão sussurrava agitada e eu sentia a corrente leve de excitação percorrer eu corpo.

“Boa noite!” falei ao microfone, sentando no banquinho do piano de calda negro que estava numa espécie de plataforma no meio do palco. “Bem, para iniciar nosso Festival do Sol, eu tenho duas música para os apaixonados” escutei alguns gritinhos e ri. “Principalmente para os que estão distantes do amado ou da amada” Especialmente para mim, pensei com melancolia.

Meus dedos começaram a percorrer as teclas do piano, enquanto eu deixava todos os meus sentimentos expostos para quem soubesse discerni-los na canção. Estava tudo ali, a minha saudade, a tristeza de ficar longe dele, a esperança de encontrá-lo mas uma vez...

Talking To The Moon

(Bruno Mars)

I know you're somewhere out there
Somewhere far away
I want you back
I want you back
My neighbours think I'm crazy
But they don't understand
You're all I have
You're all I have

(Eu sei que você está em algum lugar lá fora
Em algum lugar longe
Eu quero você de volta
Eu quero você de volta
Meus vizinhos pensam que eu sou louco
Mas eles não entendem
Você é tudo que eu tenho
Você é tudo que eu tenho)

At night when the stars light up my room
I sit by myself
Talking to the Moon
Try to get to you
In hopes you're on the other side
Talking to me too
Or am I a fool who sits alone
Talking to the moon?

(À noite quando as estrelas iluminam meu quarto
Eu sento sozinho
Falando com a Lua
Tento chegar até você
Na esperança de que você esteja do outro lado
Falando comigo também
Ou será que sou um tolo que senta sozinho
Conversando com a lua?)

I'm feeling like I'm famous
The talk of the town
They say I've gone mad
Yeah, I've gone mad
But they don't know what I know
Cause when the sun goes down
Someone's talking back
Yeah, they're talking back

(Estou me sentindo como se eu fosse famoso
Dizem pela cidade
Dizem que fiquei louco
Sim, eu fiquei louco
Mas eles não sabem o que eu sei
Porque quando o sol se põe
Alguém está falando de volta
Sim, eles estão falando de volta)

At night when the stars light up my room
I sit by myself
Talking to the Moon
Try to get to you
In hopes you're on the other side
Talking to me too
Or am I a fool who sits alone
Talking to the moon?

(À noite quando as estrelas iluminam meu quarto
Eu sento sozinho
Falando com a Lua
Tento chegar até você
Na esperança de que você esteja do outro lado
Falando comigo também
Ou será que sou um tolo que senta sozinho
Conversando com a lua?)

Ahh... Ahh... Ahh...
Do you ever hear me calling?
(Ahh... Ahh... Ahh...)
Oh oh ooh oooh

(Ahh... Ahh... Ahh...
Você já me ouviu chamando?
(Ahhh... Ahh.. Ahh..)
Oh oh ooh oooh)

'Cause every night
I'm talking to the Moon
Still try to get to you
In hopes you're on the other side
Talking to me too
Or am I a fool who sits alone
Talking to the moon?

(Porque todas as noites
Eu fico falando com a Lua
Ainda tento chegar até você
Na esperança de que você esteja do outro lado
Falando comigo também
Ou será que sou um tolo que senta sozinho
Conversando com a lua?)

Ohoooo...

I know you're somewhere out there
Somewhere far away

(Eu sei que você está em algum lugar lá fora
Em algum lugar longe)

Algumas lágrimas escaparam de meus olhos, mas eu consegui me controlar antes que elas atrapalhassem meu desempenho.

O som da última nota se misturou com o dos aplausos e eu sorri. Deixei meus dedos passearem pelo teclado de olhos fechados, enquanto começava a outra canção.

POV's Narradora

O som do piano era suave e doce, mas carregava uma melancolia infindável. Todas as pessoas que ouviam a música tocada pela princesa de Sollaria sentia um leve aperto no coração, mas era um aperto tão suave que alguns nem percebiam. Era uma dor quase imperceptível para qualquer ouvinte pois a dor não era deles. A dor era dela, mas alguns confundiam o sentimento de Stella com uma perfeita atuação.

Não ele. Ele era diferente de todos os outros, ele não era um telespectador passivo. Ele compartilhava a dor dela, ele era o outro lado da dor dela. Nicolas di Angelo observava sua princesa iluminada pelas luzes do palco, aos olhos dele, ela parecia um anjo. Um anjo triste. O coração de gelo dele se derretia com cada nota que ela tocava, com cada suspiro que saia daqueles lábios doces, com cada lágrima que ele via descer pelo rosto delicado.

Ela estava sofrendo e ele também, porque eles não eram seres separados. Naquele momento, Nico percebeu o que ela já sabia há muito tempo. Sim, ele já sabia que a amava, mas nunca tinha percebido que a partir do momento que eles perceberam aquele sentimento eles deixaram de ser dois indivíduos e passaram a ser um só. Um só coração, uma só vida.

Ele queria subir naquele palco e consolá-la, mas ela estava tão perfeita que ele tinha medo de estragar a perfeição daquele momento, e alguma coisa o prendia àquela cadeira.

Os nobres estavam maravilhados com a performance da jovem princesa. Ninguém nunca tinha tido o privilégio de ouvir Stella tocar ou cantar, só seus pais e avós. Nem os mais próximos do rei puderam ouvi-la. Ouvir Stella pela primeira vez deixava qualquer um encantado. A música parecia mágica, era hipnotizante.

Então, quando a primeira canção terminou, ninguém hesitou em aplaudir, mas Stella logo começou outra canção. Uma linda melodia, triste e doce.

Rainy Day

(Janel Parrish)

I wake up in the morning

Remember that you're gonne

I wondered where the sun went

The rain is falling now

(Eu acordo de manhã

Lembro que você se foi

Me pergunto para onde o sol foi

A chuva está caindo agora)

And I'm awake on this rainy day

And I'm watching as my tears

Fall down the window pane, yeah, yeah

Didn't I, baby, treat you right?

And I watch the rain, it makes us pure again

Yeah, yeah, yeah

(E eu estou acorda nesse dia chuvoso

E eu estou observando como minhas lágrimas

Escorrem pelo vidro da janela, yeah, yeah

Eu não, baby, te tratei direito?

E eu observo a chuva, ela nos torna puros de novo

Yeah, yeah, yeah)

I tried to come and see you

But you won't let me in

I know we've had our moments

But can we star again?

(Eu tentei vim e vê-lo

Mas você não me deixa entrar

Eu sei que tivemos nossos momentos

Mas podemos começar de novo?)

Cuz I'm awake on this rainy day

And I'm watching as my tears

Fall down the window pane, yeah, yeah

Didn't I, baby, treat you right?

And I watch the rain, it makes us pure again

Yeah, yeah, yeah

(Porque eu estou acorda nesse dia chuvoso

E eu estou observando como minhas lágrimas

Escorrem pelo vidro da janela, yeah, yeah

Eu não, baby, te tratei direito?

E eu observo a chuva, ela nos torna puros de novo

Yeah, yeah, yeah)

And tell me how I'm gonna live without you

Feel like my world is falling apart

I watch the rain falling again

Wash away, wash away

(E me diga como eu vou viver sem você?

Parece que meu mundo está desabando

Eu observo a chuva cair de novo

Arrastando, arrastando)

I'm awake on this rainy day

And I'm watching as my tears

Fall down the window pane, yeah, yeah

Didn't I, baby, treat you right?

And I watch the rain, it makes us pure again

Yeah, yeah, yeah

Yeah, yeah, oh, oh

(Eu estou acorda nesse dia chuvoso

E eu estou observando como minhas lágrimas

Escorrem pelo vidro da janela, yeah, yeah

Eu não, baby, te tratei direito?

E eu observo a chuva, ela nos torna puros de novo

Yeah, yeah, yeah

Yeah, yeah, oh, oh)

Sim, definitivamente essa música era mais melancólica, ninguém podia ter dúvida disso. A voz da Stella estava carregada de tristeza, uma tristeza que chegava a ser sufocante, mas mesmo assim era linda.

Nico sentiu os olhos queimarem. Stella cantava com a alma, sempre fora assim. Se ela estava cantando aquela música, a culpa era toda dele e ele não queria ser a causa do sofrimento dela. Ele queria enxugar as lágrimas de Stella, não fazê-las cair.