CAPÍTULO 46

POV's Nico

Eu podia escutar a voz furiosa de Stella no andar de baixo. Eu, Percy e Annabeth estávamos no corredor do andar de cima e trocávamos olhares preocupados e confusos. De uma coisa eu tinha certeza, aqueles eram os pais da Stella, ou melhor a mãe e o pai de criação. Mas uma coisa me deixava confuso: ela não era parecida só com a mulher, também com o homem, o que escapava totalmente da lógica. Mas pensando bem, eles eram reis e bem, pelo menos na Terra na época de reis, havia casamentos entre parentes. Então talvez os atuais reis de Sollaria fossem primos ou algo assim, apesar de não me lembrar da Stella ter falado nada do tipo.

Eu já estava prestes a interromper a “discussão real” que acontecia e só o que me impedia de fazê-lo era o olhar de Annabeth e o pedido da Stella. “Podem nos deixar à sós?”, ela tinha falado.

Suspirei. Ela não gostava que eu interferisse nas suas coisas. Me lembro da primeira quase-briga dela no Acampamento. O olhar que ela me lançou quando eu estava quase levantando para dar uma bela surra naquele canalha filho de Ares. Eu entendi a mensagem perfeitamente. Me deixe resolver isso sozinha, ainda não é hora de interferir, era isso que aqueles olhos me disseram naquele momento.

“ENTÃO TALVEZ EU NÃO QUEIRA SER PRINCESA!” esse grito foi o mais furioso que Stella deu durante toda a conversa. Segundos depois escutei o barulho da porta da cozinha batendo. Andei em direção às escadas ignorando os chamados de Annabeth e Percy dizendo para ela me deixar ir. Desci de dois em dois degraus.

Quando cheguei a sala, Stella não estava mais lá e seus pais encaravam o corredor da cozinha. Eu comecei a seguir pelo corredor, mas uma voz me chamou.

“Você tirou minha filha de mim” era a voz triste da sra. del Solle.

“Não sei do que estão falando. Ela fugiu antes de me conhecer” falei, numa voz indiferente.

Fiquei encarado os dois soberanos na minha frente e eles me encaravam de volta. Tenho certeza que minha expressão é totalmente indiferente e não traia minhas emoções conturbadas., mas eles não tinham sucesso em permanecer impassíveis como eu. A mãe de Stella parecia desolada e o pai dela estava furioso.

“Quem é você afinal?” perguntou o homem, depois de abrir a boca várias vezes sem emitir som.

“Só um amigo” dizer essas palavras me doeu, mas eu não queria dar mais motivo para eles arrastarem ela para longe de mim.

“Se é mesmo amigo dela” começou ele, “então deveria saber que o melhor para ela é ir conosco”

“Ela é quem deveria decidir o que é melhor para ela” ou quem, completei mentalmente.

“Ela não está segura aqui. Você pode não entender, mas ela é muito preciosa de onde vem e isso faz com que seja alvo de muitos ataques... Ela precisa voltar para onde fica segura”

“Ela está segura” falei entredentes.

“Por enquanto que ainda não sabem onde ela está, mas logo que descobrirem, vão atacá-la sem descanso e você não poderá defendê-la, garoto” rangi os dentes com as palavras dele, mas no fundo ele tinha razão. A prova eram aquelas marcas que Stella agora tinha. A culpa era toda minha, eu não consegui protegê-la e ela quase tinha morrido por isso. Mesmo sabendo disso, eu me recusava a deixar ela ir.

“Saiam, agora. Já fizeram o suficiente” então eu saí para os fundos da casa, sem esperar uma reação do casal.

Eu procurei pela Stella, mas ela não tinha deixado pista de por onde tinha seguido. O sol estava se pondo e eu temia não encontrá-la na escuridão. Continuei chamando o nome dela, mas não recebi resposta. Estava chovendo quando eu finalmente a encontrei. Ela tinha entrado no meio do bosque e nessa área as árvores eram mais juntas que no resto, mas mesmo assim não as gotas de chuva caiam como em campo aberto. Ela estava encolhida com as costas numa árvore, abraçando os joelhos com uma expressão de cortar o coração, mas mesmo assim seus olhos não tinham lágrimas, o que eu achei muito estranho.

Levantei ela do chão com muito cuidado e ela se encolheu em meus braços. Voltei para casa o mais rápido que consegui e levei-a até a nossa suíte. Pousei ela no chão, mas só a soltei quando tive certeza que ela não cairia.

“Eu estou aqui fora, qualquer coisa é só chamar, tá?” ela estava me deixando preocupado. Seu rosto era impassível, mas a tristeza que aqueles olhos refletiam era inimaginável. Ela não falou, só deu um aceno rígido, mas ainda gracioso.

Fechei a porta e escorreguei pela parede. Ela estava péssima. Me levantei, vendo que ela precisava de mim mais do que nunca. Procurei uma muda de roupa nas coisas dela, me surpreendendo com quanta coisa cabia naquela simples mochila.

Quando ela finalmente abriu a porta, estava mais apresentável, mas a tristeza ainda dominava seus lindos olhos verdes amendoados que estavam quase sem brilho. Entreguei as roupas para ela, que fechou a porta mais uma vez. Quando ela abriu de novo, estava tão frágil que eu pensei que fosse se desfazer em pedaços com a mais leve brisa. Tomei-a em meus braços e a levei até a cama.

Eu não conseguia falar nada. O máximo que pude fazer foi escovar os cabelos molhados. Ela adorava cuidar do cabelo e vê-lo totalmente descuidado de algum jeito fazia tudo parecer pior, então dei o melhor de mim em tentar fazê-lo ficar apresentável.

Quando terminei, ficamos deitados, eu abraçando ela e beijando seus cabelos enquanto ela permanecia quieta sem falar uma só palavra.

O rosto dela estava enterrado no meu peito e seus dedos agarravam minha camisa como se fosse o fim do mundo. Depois de algum tempo, senti o aperto dela se afrouxar.

“Está dormindo?” perguntei na voz mais baixa que consegui.

“Não...” ela sussurrou, numa voz sonolenta.

“Acho que já é hora de dizer boa noite” falei, acariciando o rosto dela.

“Não quero dizer boa noite” eu ri com o que ela falou.

“Sabe, isso me lembra de uma música” comentei.

“Qual?” ela perguntou e pude sentir seu humor mudar.

“Just a Kiss, de Lady Antebellum”

“Adoro essa música.” ela falou. “Canta para mim?”

“Ah, não”

“Por favor?” ela pediu se sentando e mesmo no escuro eu pude ver sua expressão pidona iluminada levemente pela luz da lua e das estrelas.

“Não”

“Por favor?” ela pediu de novo, dessa vez se inclinando e sussurrando em meu ouvido. Senti um arrepio.

“Golpe baixo!” reclamei e ela riu, já sabendo que tinha ganhado a batalha. “Mas você canta junto”

“Tudo bem” um pequeno clarão dourado se seguiu às palavras dela e depois dele meu violão estava no colo dela. “Sabe tocar?”

“Sim”

Just a Kiss

(Lady Antebellum)

Lyin' here with you so close to me
It's hard to fight these feelings
When it feels so hard to breathe
I'm caught up in this moment
Caught up in your smile

(Ficar aqui com você tão perto de mim
É difícil lutar contra esses sentimentos
Quando parece tão difícil de respirar
Estou presa neste momento
Presa no seu sorriso)

I've never opened up to anyone
So hard to hold back when I'm holding you in my arms
We don't need to rush this
Let's just take it slow

(Eu nunca me abri para ninguém
Tão difícil me segurar quando estou com você em meus braços
Nós não precisamos nos apressar
Vamos devagar)

Just a kiss on your lips in the moonlight
Just a touch in the fire burning so bright
And I don't want to mess this thing up
I don't want to push too far
Just a shot in the dark that you just might
Be the one I've been waiting for my whole life
So baby I'm alright, with just a kiss goodnight

(Apenas um beijo em seus lábios ao luar
Apenas um toque do fogo tão ardente
Eu não quero bagunçar as coisas
Eu não quero forçar a barra
Apenas um tiro no escuro que você poderia
Ser quem eu estive esperando a minha vida toda
Então, baby, eu estou bem, com apenas um beijo de boa noite)

I know that if we give this a little time
It will only bring us closer to the love we wanna find
It's never felt so real
No, it's never felt so right

(Eu sei que se dermos tempo ao tempo
Só iremos nos aproximar do amor que queremos encontrar
Nunca foi tão real
Não, nunca me pareceu tão certo)

Just a kiss on your lips in the moonlight
Just a touch in the fire burning so bright
And I don't want to mess this thing up
I don't wanna push too far
Just a shot in the dark that you just might
Be the one I've been waiting for my whole life
So baby I'm alright, with just a kiss goodnight

(Apenas um beijo em seus lábios ao luar
Apenas um toque do fogo tão ardente
Eu não quero bagunçar as coisas
Eu não quero forçar a barra
Apenas um tiro no escuro que você poderia
Ser quem eu estive esperando a minha vida toda
Então, baby, eu estou bem, com apenas um beijo de boa noite)

No, I don't wanna say goodnight
I know it's time to leave
But you'll be in my dreams
Tonight
Tonight
Tonight

(Não, eu não quero dar boa noite
Eu sei que é hora de partir
Mas você estará nos meus sonhos
Hoje à noite
Hoje à noite
Hoje à noite)

Just a kiss on your lips in the moonlight
Just a touch in the fire burning so bright
And I don't want to mess this thing up
I don't wanna push too far
Just a shot in the dark that you just might
Be the one I've been waiting for my whole life
So baby I'm alright

(Apenas um beijo em seus lábios ao luar
Apenas um toque do fogo tão ardente
Eu não quero bagunçar as coisas
Eu não quero forçar a barra
Apenas um tiro no escuro e você poderia
Ser quem eu estive esperando a minha vida toda
Então, baby, eu estou bem)

Oh, let's do this right
With just a kiss goodnight
With a kiss goodnight
Kiss goodnight

(Vamos fazer isso direito
Com apenas um beijo de boa noite
Com um beijo de boa noite
Um beijo de boa noite)

Eu cantei só pra ela e ela cantou para mim. Meus olhos não deixaram os delas nem sequer por um milésimo de segundo.

Antes do último refrão os olhos de Stella estavam cheios de lágrimas. A música era muito boa, mas acho que como eu ela teve a sensação de que aquele realmente era um adeus. “Eu sei que é hora de partir”, foi especificamente nessa parte que uma lágrima solitária caiu de seus olhos.

Assim que o último acorde soou, eu não consegui me segurar e em um segundo o violão jazia esquecido ao meu lado e eu estava beijando os doces lábios de minha amada.

Meus pulmões idiotas estavam gritando por oxigênio e nós tivemos que nos separar. Eu dei vários selinhos nela. Ficamos nos encarando por alguns segundos e logo já estávamos presos em outro beijo, mais voraz que o primeiro.

“Ainda não quero dizer boa noite” ela sussurrou, algum tempo depois, quando tínhamos nos abraçado do mesmo jeito de antes, mas dessa vez num clima mais feliz.

“Então não diga” sussurrei de volta. “Só me beije” Ela sorriu e seu rosto se aproximou do meu. Senti sua respiração se misturar com a minha e então seus lábios se juntaram aos meus e eu pude sentir aquele gosto perfeito de canela e cereja. Quando nossos lábios se separaram eu sorria igual a um bobo apaixonado e ela também sorria, aquele lindo sorriso que eu tanto amava. “Te amo” falei.

“Eu te amo mais”

“Duvido” e então meus lábios estavam nos dela de novo.

Depois desse beijo, finalmente dormimos, abraçados e felizes, mas uma parte de mim ainda tinha aquele sentimento horrível de uma separação que parecia cada vez mais próxima.