CAPÍTULO 44

POV's Stella

Eu estava realmente preocupada com tudo aquilo. Tão preocupada que me esqueci dos meus problemas com a outra dimensão. Djins, se eu entendi direito, eram criaturas da cultura árabe muçulmana ou algo assim. Eles eram espíritos do fogo e do ar, ou da terra e do ar, não tínhamos certeza. Eles podiam assumir formas diferentes, então nunca saberíamos ao certo se estávamos lidando com um deles. Além disso, eles podiam muito bem mexer com magia. Magia desconhecida por mim. Mas isso não era ruim o bastante, pensei com sarcasmo, eles tinham que ser praticamente indestrutíveis. Só podiam ser mortos se sua essência vital fosse destruída. E a essência vital deles estava com Céos. Cerrei os punhos. Ultimamente tudo parecia ficar potencialmente pior.

“Mudando de assunto, encontramos Apolo” falou Percy. Aquilo chamou minha atenção.

“Como?” perguntou Nico enquanto eu fala: “Quando?”

“Encontramos ele no dia em que encontramos seus amigos” Annabeth se dirigiu a mim.

“Não é proibido interferir em missões?” perguntei confusa, me lembrando de alguém que tinha falado que deuses não podiam ajudar nas missões, principalmente em relação à seus filhos meios-sangues.

“É” confirmou Percy. “Mas ele já fez isso antes. Quando Ártemis sumiu ele nos ajudou, disfarçado claro, mas ajudou.”

“Disfarçado?” perguntei. Nico parecia conhecer a história.

“É, ele se disfarçou de mendigo e pediu que o chamássemos de Fred” Percy soltou uma risada. “Ele apareceu de novo, na mesma forma e nos deu algo. Ele disse que é uma coisa que nos levará a um fruto proibido, mas não disse como funcionava ou qual era o fruto proibido.”

“Mais enigmas...” Nico suspirou.

“Sim, mais enigmas” Percy se juntou ao mau humor dele.

“Tem alguma coisa que não se encaixa” murmurei tão baixo que ninguém ouviu.

“Tem mais uma coisa...” Nico falou. Ele me olhou como se avaliasse se deveria ou não falar alguma coisa ou como se estivesse pedindo permissão para fazê-lo. Instantaneamente percebi que ele ia falar sobre aquela tarde. Assenti de leve. Eu não queria que a missão fosse prejudicada por minha causa. “Enquanto vocês encontravam com Apolo, eu me encontrei com a gêmea dele” Senti meus olhos se arregalarem, porque eu sabia que era alguém poderoso, mas não sabia que era minha própria tia.

“Como assim?” perguntou Annabeth, se inclinando para frente de hesitação. “Ela não tinha sumido?”

“Ela meio que... ahn... ela...” percebi que ele não ia conseguir explicar se minha ajuda.

“Entrou em minha cabeça, falou através de mim” terminei a frase por ele.

“Ela o quê?” as vozes de Annie e de Percy soaram juntas.

“Ela meio que me possuiu por um instante, mas eu expulsei ela, não sabia que era ela. Não sei o que ela disse, foi como se eu estivesse em outro lugar... um lugar vazio sem nada além do branco”

“O que ela falou?” perguntou Percy, parecendo quase tão intrigado quanto Annabeth.

“Ela disse para libertarmos ela, ou a civilização ocidental acabaria.” falou Nico.

“Isso a gente já sabia” Percy revirou os olhos.

“E também disse para seguir para o sudoeste. Ela ia falar mais alguma coisa, mas não conseguiu terminar a frase. E o lugar que eu achei fica a sudoeste”

“Estamos no caminho certo, mas ainda acho que alguma coisa não se encaixa” falou Annie.

“Ou tem alguma coisa faltando” completei.

“Não podemos ficar parados” falou Percy, girando contracorrente (em forma de caneta) nos dedos.

“Concordo com o Percy. Já sabemos onde acontecem as 'tempestades', devemos presenciar uma” falou Nico.

“Sim... Esse lugar... ele fica muito longe?” perguntou Annie.

“Sei lá, nem prestei atenção no tempo” eu e Annie nos entreolhamos e reviramos os olhos para a resposta dele.

“Okay, nós vamos amanhã.” falou Annie. “Stella, você acha que pode vir conosco?”

“Acho que sim” falei.

“Ótimo. Vem Percy, vamos treinar” então ela saiu da sala, sendo seguida por Percy que revirou os olhos e bufou, ao sair da cozinha.

“Você está bem?” perguntei a Nico, notando as olheiras que ele tinha.

“Claro. Só estou meio dolorido” levantei uma sobrancelha.

“Ah é? E por quê?”

“Uhm, é que eu cheguei exausto e praticamente desmaiei nos degraus lá de fora” quando ele falou isso, não consegui conter uma risada. “Ei! Não tem graça”

“Desculpe” falei, soltando outra risada, mas logo conseguir me controlar. “Acho melhor você descansar.”

“Não precisa, acho que vou treinar com Percy” mas ele mal terminou a frase e soltou um bocejo.

“Tem certeza?” perguntei, rindo.

“Okay, você venceu, mas se Annabeth me matar a culpa vai ser toda sua.”

“Eu assumo esse risco. Vem logo” puxei ele até o quarto onde eu estava quando acordei pela primeira vez naquela casa.

Ele tirou a camisa e se deitou na cama e eu não pude me conter, fiquei parada igual a uma retardada observando aqueles músculos. Ele notou e soltou uma risada, me fazendo corar.

“Deita comigo” ele deu um tapinha na cama e eu me deitei ao seu lado, acariciando os cabelos negros até ele cair no sono.

Escutei um som do lado de fora do quarto. Pessoas normais teriam ignorado o som e ficado onde estavam, especialmente se tivessem com feridas em processo de cura. Mas quem eu definitivamente não sou normal, então fiz o contrário do que devia, ignorando toda a prudência. Me desvencilhei de Nico o mais suavemente que consegui, com medo de acordá-lo. Ele se remexeu e murmurou alguma coisa, mas não acordou. Andei até a pequena varanda de onde o som parecia vir. Com uma mão, abri a porta enquanto a outra estava no colar em meu pescoço.

Tinha alguém na varanda, mas eu não podia acreditar no que meus olhos me mostravam.

“Vó?!” perguntei incrédula e minha voz saiu um pouco mais alta do que pretendia. “O que a senhora está fazendo aqui” baixei minha voz até que virasse um sussurro.

“Stella, minha pequena!” ela ignorou minha pergunta e me envolveu num abraço caloroso. Eu tinha sentido tanta falta dela. Senti algo molhar meu rosto enquanto eu retribuia o abraço e logo meu corpo estava sendo assaltado por leves soluços. “Shi... tudo bem, pequena... não há motivo pra chorar...” a voz dela era cheia de amor, me confortava e me lembrava de casa.

“Senti tanta falta da senhora” falei, em meio ao choro.

“Também senti sua falta, minha Estrela” vovó me chamava assim desde sempre... Stella significa estrela e ela adotou esse apelido para mim... como eu era filha do Sol e da Lua, então ela não achava apropriado me nomear como qualquer um desses dois, eu era ambos... eu era a estrela de Sollaria. Era o que ela sempre me dizia quando eu chorava ou ficava chateada... ela sempre me confortava. Eu a amava muito. “Quer me contar porque fugiu?”

“Uma outra hora” outra pessoa provavelmente ficaria ofendida com minha resposta, mas ela era muito compreensiva comigo.

“Tudo bem” ela acariciou meus cabelos. “Você está bem, querida?” ela parecia preocupada.

“Estou, vovó” respondi, ainda abraçada a ela. “Estou bem melhor do que estava quando cheguei”

“Isso é bom” ela parecia sincera. “Mas, minha Estrela, temo que isso não vai durar muito. O Conselho já está aqui... pretendem usar a Pedra do Sol ainda hoje”

“Não podem! Não, não... eles não podem fazer isso comigo. A senhora não vai deixar! Por favor, vovó! Não deixa eles estragarem tudo de novo! Por favor” minha voz aumentou de tom consideravelmente e eu me senti como uma criança de cinco anos.

“Calma querida, eu vou tentar... não posso pará-los para sempre, mas posso atrasá-los”

“Vovó, como...” não consegui terminar a frase pois fui interrompida por uma voz sonolenta.

“Stella? Quem está aí?” Nico estava de pé, ainda sem camisa, coçando os olhos meio fechados.

“Ninguém, pode descansar... está tudo bem” falei, sorrindo. Ele pareceu meio desconfiado por um instante, mas logo voltou para dentro do quarto. Soltei um suspiro involuntário. Ele era tão fofo.

“Quem era?” a voz de minha vó era curiosa. Corei.

“Um amigo” falei. Eu queria dizer a verdade, mas não consegui. Vovó me olhou desconfiada e depois deu aquele sorriso que os mais velhos sempre dão quando acham que sabem mais do que nós mesmos sobre alguma coisa que não falamos. Não quis continuar naquele assunto, então continuei a pergunta que tinha sido interrompida pelo meu namorado quase sonâmbulo. “Como a senhora me achou?”

“Minha criança, não devia usar seus poderes de fada, só está ajudando a criar uma trilha até você” corei, eu tinha levado ela até a mim, isso significa que mamãe também pode me achar, ou qualquer outra pessoa que saiba rastrear. “Aliás, qual foi o motivo de usá-los?”

“Tive uns probleminhas com monstros” falei, sem entrar em mais detalhes. Ela fez uma cara séria e preocupada e eu quase contei sobre meus ferimentos de batalha. Quase.

“Bem, eu tenho que ir, Estrela” ela falou, me abraçando. Só teve um pequeno problema: ela tocou exatamente no lugar onde aquela desgraçada havia me cortado. Arfei. “O que houve?”

“Não é nada” falei.

“Stella...” a voz dela tinha um tom de aviso que eu aprendi a temer.

“Tudo bem vovó. Eu me machuquei” admiti.

“Deixe-me ver isso” eu mostrei a ela o corte das costas. Ela não me perguntou como eu tinha conseguido ele, Simplesmente colocou a mão na ferida e recitou um antigo cântico de magia curativa. Eu sabia alguns, mas não podia fazê-los em mim mesma. Essa é a base da magia de cura, é algo tão puro que não pode ser usado para fins egoístas. Quando ela terminou, senti que não só aquele corte tinha sumido, eu estava perfeita, como se nunca tivesse lutado, estava novinha em folha.

“Obrigada, vovó”

“Não há de que, meu amor. Da próxima vez tome mais cuidado.” ela falou. “Nem vou perguntar como você fez aquilo...” ela falou mais pra si mesma do que para mim. Soltei uma risada. Ela me abraçou e beijou meus cabelos. “Adeus, pequena Stella”

“Tchau, vovó. Obrigada” ela deu um último sorriso e desapareceu, com um clarão suave.

Suspirei e senti uma lágrima cair pelo meu rosto. Depois mais lágrimas caíram e enquanto eu tentava enxugá-las outras se seguiam. Ainda chorando, eu fui até o pequeno banheiro do quarto e encarei meus olhos vermelho e inchados. Respirei fundo e enxuguei lavei o rosto, parando de chorar. Voltei para o quarto e me sentei na ponta da cama, acariciando o cabelo de Nico. Ele se mexeu e abriu os olhos preguiçosamente, dando um sorriso de lado.

“Oi” ele falou e depois deu um bocejo.

“Oi” respondi, sorrindo. “Não queria te acordar”

“Tudo bem, já estou bem melhor.” ele se sentou e analisou meu rosto. “Com quem estava falando?”

“Ninguém” falei rápido. Aparentemente foi rápido demais. Ele levantou uma sobrancelha e depois balançou a cabeça, como se estivesse se rendendo.

“Estava chorando?” desviei o olhar. Ele segurou meu rosto entre as mãos e me obrigou a encará-lo. “Stella o que houve?”

“Estou com saudades de casa, mas tenho medo de voltar” sussurrei. Não era mentira.

“Vai ficar tudo bem... Eu estou aqui” então eu não consegui me segurar. Joguei meus braços ao redor do pescoço dele e o abracei com força, enterrando meu rosto em seu peito forte. Senti seus braços me envolverem, cheios de amor.