CAPÌTULO 43

POV's Nico

Eu estava mortalmente entediado. Estava feliz por Stella estar bem, mas isso não estava conseguindo diminuir o tédio. Sério, eu pensei que nunca mais ia ver aqueles olhos lindos quando a vi sangrando no chão da rua. Graças aos deuses eu consegui (pela primeira vez na vida) cuidar de alguém com ferimentos daquela gravidade. Meus pensamentos sem pé nem cabeça foram interrompidos quando eu escutei um barulho na sala.

Me levantei e ativei minha espada de ferro estígio. Fui até o lugar de onde o barulho vinha, tentando fazer o mínimo de barulho possível e temendo por deixar Stella sozinha. As luzes estavam apagadas e já era noite, então eu não podia ver quase nada. Senti um movimento ao meu lado e virei a lâmina para o autor dele.

“Abaixa essa espada, psicopata, sou eu” escutei a voz de Percy resmungar, mas podia ser um monstro (ciclopes são muito bons em imitar vozes) então mantive minha posição até que Annabeth acendeu a luz e eu estava encarando um Percy com uma expressão aborrecida e minha espada estava muito próxima do pescoço dele.

“Ah, são vocês” transformei minha espada de volta em anel.

“É, somos nós” Percy ainda parecia chateado por eu não ter acreditado nele, mas, hey, quando se é meio-sangue não é bom confiar nas coisas logo de cara. Aprendi isso da pior forma possível quando confiei em Midas.

“Cadê ela?” perguntou Annie.

“Lá em cima” apontei para as escadas, de onde tinha vindo. Ela assentiu.

“Vocês vão fazer uma patrulha pelas redondezas” ela falou em uma voz autoritária. “Tentem fazer algum tipo de armadilha, sei lá. Se virem, eu vou ficar com a Stella”

“E porque você mesma não faz isso?” perguntei junto com Percy. Annie nos lançou um olhar assustador e por dentro eu estremeci.

“Porque não. Agora vão logo” ela nem esperou nossa resposta, se virou e subiu as escadas. Olhei para Percy e levantei uma sobrancelha, ele se limitou a dar de ombros.

“Ela me dá medo” falou e começou a andar para fora da casa. Eu fui com ele.

Nós saímos da casa para o ar frio da noite. Eu e Percy andamos por um tempo indefinido, até que resolvemos que era mais útil nos separarmos. Andei, andei e andei, até que encontrei uma coisa que ajudaria a cumprir nosso objetivo. Quero dizer, não era bem uma coisa. Na verdade era um lugar. O lugar do meu sonho. Isso era uma coisa boa, eu espero. O vento era brando ao contrário do sonho, onde ele praticamente arrancava meus cabelos e minha pele. A areia se estendia até aonde minha visão alcançava. Resolvi que era hora de voltar e estava quase voltando quando vi uma coisa chamou minha atenção. A pessoa ou coisa que tinha “possuído” Stella tinha falado algo sobre ir para Sudoeste... para libertá-la... olhos prateados, donzela. Ártemis! Deuses, como eu sou burro! Eu até pensei em Thalia e nas Caçadoras e nem me toquei.

Voltei correndo para a casa, depois de um tempo minhas pernas estavam queimando de tanto correr e eu estava empapado de suor. Quando finalmente cheguei na casa, o céu já estava se tingindo com a aurora. De algum jeito, esse momento onde a noite e o dia se encontravam me lembrava da Stella. Parei com as mãos nos joelho, respirando pesadamente.

Escutei passos pesados e apressados e me virei na direção do som, rezando para que não fosse um inimigo, eu estava muito cansado para lutar. Por um milagre, a sorte estava do meu lado e era só Percy.

Ele estava tão ruim quanto eu.

“Encontrou alguma coisa?” falei, entre as arfadas.

“Não” ele falou, também ofegando e deixou-se cair pesadamente nos degraus da entrada. “E você?” me sentei ao lado dele.

“Encontrei... o... lugar... do meu... sonho” falei, as palavras intercaladas com as respirações pesadas.

“Ah...” ele falou alguma coisa depois disso, mas eu não entendi porque foi no meio de um bocejo. Percy parecia desinteressado, o que foi bom, porque eu não estava nem um pouco afim de explicar nada. Eu só queria dormir um pouco. Não consegui obrigar meu corpo a levantar nem com a possibilidade de um banho e de uma cama confortável, então desisti de lutar contra o sono e me deixei levar para o reino de Morfeu.

Acordei com o sol no meu rosto. Cobri meus olhos com o braço, mas estava muito claro e eu não consegui voltar a dormir. Me levantei e me espreguicei. Meu corpo estava todo dolorido por ter dormido nos degraus. Percy estava lá também. Pelo visto eu não fui o único a dormir mal. Ele acordou com meu movimento, levando a mão para contracorrente, seus olhos mal estavam abertos.

“Ah, é você” ele relaxou e se levantou devagar, experimentando os músculos. “Cara, eu mal posso me mexer”

“Eu estou todo dolorido” resmunguei, reprimindo um bocejo. A barriga de Percy roncou.

“Preciso de comida”

“Eu também” falei, só então percebendo o quão faminto eu estava. Nos entreolhamos e então corremos pra dentro. Chegamos na porta da cozinha ao mesmo tempo e nos entreolhamos de novo. Eu estava com tanta fome que tentei passar pela porta antes dele, mas ele fez o mesmo e acabamos parecendo duas crianças tentando passar ao mesmo tempo por uma porta estreita demais para as duas.

“Sai, Nico!” ele rosnou.

“Se eu conseguisse eu sairia” rebati. Legal, estávamos emperrados. Nos encaramos por um segundo e explodimos juntos.

“ISSO É TUDO CULPA SUA!!” gritamos. Escutei risadas. Pela primeira vez eu notei que não éramos os únicos na cozinha. Annabeth e Stella estavam sentadas rindo. Senti meu rosto ficar vermelho. Contorci meu corpo até que consegui me desvencilhar de Percy e da porta.

“Não tem graça” ele resmungou.

“Tem sim” Stella riu.

“Comida” exclamei feliz, ignorando tudo a não ser a comida. A mesa estava lotada de comida. Me joguei numa cadeira e inclinei meu corpo para pegar a primeira coisa que vi na minha frente sem nem mesmo ver o que era.

“Perseu Jackson e Nicolas di Angelo! Vão tomar um banho, vocês estão imundos!” escutei Annabeth falando naquele tom de quem fala com crianças travessas.

“Mas estamos com fome!” falei junto com Percy. Mas ela deu um olhar que faria até Ares sair gritando pela mamãe, então eu não me apressei em fazer o que ela mandara.

“Tá!” resmunguei saindo da cozinha.

“Sim, mamãe” falou Percy me seguindo.

“Ela age como se fossemos crianças!” reclamei em voz baixa.

“Eu sei! É irritante!” Percy falou.

“Eu ouvi isso!” Annabeth gritou.

“Eu ouvi isso!” Percy falou, imitando muito mal a voz de Annabeth e ri.

“PERCEU JACKSON! POR ACASO ESTÁ ZOMBANDO DE MIM?” Annie gritou.

“Claro que não, Annie! Eu só falei que é uma boa hora pra tomar banho!” ele gritou.

“É, com certeza!” continue e olhei pra Percy. Decidimos em silêncio que era melhor correr antes que Annabeth resolvesse aparecer.

Corri pra um quarto, tomei um banho rápido. Coloquei uma roupa qualquer e desci pra cozinha.

Quando cheguei lá, Stella estava sozinha, olhando distraidamente pela porta dos fundos.

Ela estava muito melhor do que antes. Seus olhos estavam brilhantes mais uma vez e sua pele estava menos pálida. Ela estava com um short branco curto e uma camiseta azul clara, mas mesmo com a roupa simples, ela tinha um ar de angelical de princesa, seus cabelos loiros reluziam e pareciam feitos de ouro, caindo delicadamente em uma longa trança sobre o ombro.

Ficamos nos olhando por uns segundos

“Ai, ai, ai, ai!!” era Percy reclamando. “ Me larga, Annie! Tá doendo!” e então Annabeth apareceu, puxando Percy pela orelha. Eu e Stella nos entreolhamos e caímos na gargalhada. Annie soltou a orelha de Percy e se sentou em frente a Stella. Percy se sentou do lado de Annie, massageando a orelha. “Parem de rir, vocês dois!” ele reclamou. “ Não é nada engraçado!” eu tentei me controlar, mas não consegui, Stella, ao contrário de mim, já tinha se recuperado e olhou pro Percy com simpatia.

“Desculpa, não pude resistir” ela falou. “Nico, para de rir.” eu finalmente me controlei e parei de rir. “O que aconteceu?” ela se virou pra Percy e Annabeth, com um olhar levemente curioso.

“Como eu disse pra você, Percy pode demorar muito tempo no banho” ela lançou um olhar mal-humorado pro Percy.

“Ah, dá um tempo” ele revirou os olhos e pegou uma pilha de torradas, bacon e ovos, começando a comer. Eu peguei o mesmo que Percy e um copo de suco de laranja. Nossa, eu estava completamente faminto, e o Percy também porque comemos quase toda a comida (e não era pouca!) Quando terminei percebi que Stella nos olhava com interesse.

“Nunca vou me acostumar com isso. Como eles conseguem comer tanto?” ela perguntou a Annie, que soltou uma risada.

“É uma ótima pergunta” ela falou.

“Se eu comece assim, passaria quase uma semana pra eu ter fome de novo” ela falou rindo, junto com Annabeth.

“Não comemos tanto assim” Percy falou e eu concordei com a cabeça.

“Não, claro que não!” Stella falou com sarcasmo.

“Vocês que são muito exageradas” eu falei

“Hum-um, sei!” Annie falou, se levantando e recolhendo os pratos com ajuda de Stella. Eu e Percy limpamos a mesa enquanto elas cuidavam da lousa. Quando terminamos, nós nos sentamos de novo, para compartilhar nossas descobertas e pensar num jeito de cumprir nossa missão e salvar a civilização ocidental.

“Então... o que vocês descobriram?” perguntou Annie.

“Eu achei o lugar do sonho” falei.

“Achou?”

“Sim. Bom, eu acho que sim. Mas era meio diferente. No sonho, parecia mais perigoso, como se alguma coisa estivesse errada com ele e quando eu fui lá, parecia completamente calmo.” mas ambas as visões tinham uma coisa em comum, uma grande nuvem em forma de castelo. Claro que eu não disse isso. Stella pareceu notar que eu estava escondendo alguma coisa e ergueu uma sobrancelha. Desviei o olhar e voltei-o para Annie.

“Isso pode ser normal, a presença de Céos deve ficar mais forte quando abrem o portal ou seja lá o que for que causa essas tempestades.” ela meditou, com a mão no queixo. “Mas é só um deserto? Não há nada mai lá?”

“Não” falei.

“Estamos deixando alguma coisa escapar. Esses portais deviam ir para o lugar onde estão as deusas e segundo o sonho de Stella, é bem grande.”

“Pode ser que seja como minha bolsa” Stella falou. “Parece normal por fora, mas cabe muita coisa dentro dela”

“Pode ser... os djins...”

“Que diabos é um djim?” Percy interrompeu.

“Bem... eu não sei explicar muito bem... fiz umas pesquisas, são meio contraditórias, como quase tudo que é relacionado à mitologia... esperem, volto em um instante.” dizendo isso, ela saiu correndo, nos deixando confusos.

Alguns minutos depois ela voltou com um livro na mão. O título era O Castelo no Ar (N/A: é um bom livro na minha humilde opinião).

“Está vendo esse livro? Ele fala sobre djins.” vendo nossa cara confusa ela continuou. “Ele diz que djins são criaturas com grandes poderes sobre a terra e o ar. Tem uma descrição que encaixa perfeitamente no que a Stella falou sobre o sonho. Mas eu vi em outro lugar que djins são espíritos de fogo e de ar e ter aversão à terra.”

“Tem alguma coisa em que todos concordem?” Stella perguntou.

“Eles podem mudar de forma. E voam.” Annie pareceu pensar mais um pouco. “Ah, quase esquecia. Só há um jeito de matá-los. Você tem que destruir a vida deles.”

“Isso é meio óbvio” falei, revirando os olhos. Annabeth me lançou um olhar irritado.

“Não é assim tão simples, você não me deixou terminar.” então ela continuou. “Por isso, os djins escondem a vida deles num lugar ou objeto.” Tudo bem, era mais complicado do que eu gostaria que fosse. Ainda teríamos que procurar vidas de djins? Ninguém merce.

“Então como Céos pode os controlar se eles...” Stella parou no meio da frase, trocando um olhar com Annie. “Não me diga que...”

“Temo que sim” falou Annabeth.

“Droga, é pior do que eu imaginava”

“Querem fazer o favor de explicar o que está acontecendo aqui?” pela primeira vez Percy se manifestou.

“Eu tenho uma teoria sobre como Céos controla eles” falou Annie. “E não é muito bom para nós.”

“Que teoria?” perguntei, temeroso.

“Céos roubou a vida deles e agora eles servem ele incondicionalmente, a troco de recebê-las de volta quando a guerra acabar e ele tiver nos derrotado” que falou foi Stella e realmente era bem pior do que eu imaginava. Se esses espíritos, ou seja lá o que fossem, estavam do lado do inimigo e não podiam ser mortos... bem, digamos que isso seria um problema muito sério.

“Temos que avisar aos deuses” falei, franzindo a testa.

“Acho que Quíron já fez isso, mas é melhor nós contarmos o que descobrimos” Annabeth estava assumindo a liderança, pronta para armar uma estratégia e eu já sabia que meu sonho estava prestes a se realizar.

Mas. Mesmo com nossa nova descoberta, eu sentia que estava deixando alguma coisa escapar e o livro só ajudou a reforçar essa ideia. Eu estava tão preocupado com a possibilidade de guerreiros imortais que nem me lembrei de falar sobre a dica de Ártemis.