CAPÍTULO 38

POV's Nico

Stella estava apagada há quase meia hora. Eu estava ficando nervoso, alternando entre passos furiosos de um lado para o outro do quarto e encarar a Stella, tentando (inutilmente) descobrir quem falado comigo mais cedo, pela voz de Stella.

Eu sabia que estava perto da resposta, mas ela sempre parecia escapar, escorregando pelas pontas dos meus dedos.

“Olhos prateados” eu ficava murmurando. “Olhos prateados...”

Mais uma vez a resposta estava lá, eu podia senti-la, mas não conseguia alcançá-la. Eu forcei minha mente e não obtive nenhum sucesso, eu estava prestes a gritar de frustração, mas então eu escutei um suspiro suave e uma voz incrivelmente atraente.

“Ai, minha cabeça” Ela é a única pessoa que consegue ter um voz tão linda ao acordar.

“Stella, você acordou!” exclamei, indo para o lado dela. Ela sorriu com minha reação, mas logo seu rosto ficou sério de novo.

“O que houve?”

“Sinceramente, eu ainda estou tentando entender.” falei, mas contei tudo para ela. Ela escutou tudo concentrada, sem me interromper, mantendo uma expressão impassível, mas no fundo eu notei alguma coisa que a incomodava. Será que ela me culpava por deixar alguém ou alguma coisa tomar o controle de sua mente? Sinceramente, eu estava começando a me convencer de que tive minha parcela de culpa. Eu não gostava da ideia de alguém assaltando os meus preciosos momentos com minha fadinha, ou pior, fazendo ela se sentir incomodada.

“Nico, seu bobo!” ela deu um sorriso gentil, quando eu terminei de falar. E foi nessa hora que percebi que o que a incomodava era outra coisa. “Eu nunca diria uma coisa dessas! Eu te amo, nunca diria que nada aconteceu entre nós. Muita coisa aconteceu entre nós. Coisas maravilhosas! Eu não mudaria nada.”

“Eu sei, é que... eu não posso te perder...” confessei, e tive certeza que estava mais vermelho do que a coisa mais vermelha que você já viu. “E ouvir você, quer dizer, escutar aquilo com a sua voz...” ela não me deixou terminar e me puxou para seus lábios. Seus doces e delicados lábios. E eu me deixei levar. Quando faltou ar, nos separamos relutantes e eu aposto que tinha um sorrisinho muito idiota, ao contrário de Stella, que me dava um sorriso lindo, gentil e apaixonado.

“Como você foi se apaixonar por mim?” soltei sem pensar.

“Não me apaixonei, eu comecei a amar” ela respondeu, sorrindo e meu sorriso ficou ainda maior e surpreendentemente mais bobo.

“Di Immortales...” eu suspirei. “Eu te amo tanto...” e logo nós estávamos nos beijando de novo.

Toc, toc... as batidas na porta me disseram que alguém estava querendo muito entrar e eu tive vontade de mandar a pessoa pastar, mas pensei melhor e me separei da Stella que com um sorriso murmurou “Preciso de um banho” e apesar de discordar dela (ela cheirava absolutamente bem) eu deixei ela ir. Suspirei exasperado e fui abrir a porta, passando a mão nos cabelos que deviam estar bem bagunçados.

“Temos visitas” falou Percy, entrando assim que eu abri a porta.

“Oi, pra você também” resmunguei, enquanto dava passagem para Annabeth e mais algumas pessoas que eu não conhecia.

“Cadê a Stella” perguntou Annie.

“Banho” respondi, brevemente, mal-humorado pela interrupção que eles e todas aquelas pessoas causaram. Primeiramente, eu achei que nunca tinha visto aquelas pessoas, mas depois de olhar melhor, eu reconheci a ruiva do restaurante e loiro que distraiu ela. “O que eles estão fazendo aqui?” perguntei, sem me preocupar em parecer rude.

“Nico!” Annie me repreendeu e depois falou com os convidados. “Não liguem para ele. Ele não é muito sociável” Ai, essa doeu. Fechei a cara e fui tomar um pouco de ar fresco na varanda.

Senti alguém me seguindo e me virei para ver quem era.

“O que você quer?”

“Relaxa, Nico” Percy revirou os olhos. “Você devia se acalmar. Eles são apenas amigos de Stella, estão só tentando falar com ela.”

“Fácil para você falar... Se fosse Annabeth...”

“Tudo bem, cara, faça como você quiser” ele levantou as mãos num gesto de rendição. “Eu sou estou falando que ela iria ficar feliz de vê-los, ela deve estar com saudades”

“Desde quando você é tão perceptivo?” perguntei, ainda irritado, mas começando a ter vontade de rir. Ele corou.

“Na verdade, eu não tinha pensado nisso” ele admitiu envergonhado e eu me senti um pouco melhor, porque, por um momento, achei que ele sabia mais da minha Stella que eu. “Annabeth que me falou isso, no caminho para o quarto, eu também era contra deixá-los ver a Stella, mas ela entende melhor de mulheres que nós”

“É verdade” agora eu realmente estava sorrindo. “Eu ainda acho que deviam escrever uma enciclopédia sobre as mulheres”

“Mulheres: pensamentos e atitudes” eu ri, com o título que Percy inventou. “Bem que podiam escrever algo do tipo, ia ser de muita ajuda”.

“Vou dar um chance a eles, mas se tentarem alguma gracinha...”

“Eu já dei o aviso” Percy garantiu, um sorriso em seus olhos.

“Ótimo” com isso, nós voltamos ao quarto que estava pequeno para tanta gente.

“Ah, vocês voltaram” Annabeth nos cumprimentou com um leve aceno. “Esse é Nico di Angelo.”

Eu quase a corrigi, “para vocês é Nicolas di Angelo”, mas consegui me conter, dando um sorriso sem humor.

“Esses são Riven e Musa, Nabur e Layla, Sky e Bloom, Timmy e Tecna e Elliot e Flora” ela continuou as apresentações como se nada tivesse acontecido e eu dava um aceno a cada nome que ela falava.

“Prazer em conhecê-lo” eles falaram, quase em coro. Assustador.

“Prazer” falei, indiferente.

Passamos alguns minutos em silêncio, um silêncio que parecia gritar nos meus ouvidos (isso é impossível, mas tudo bem, é o que eu estava sentido), até que a porta do banheiro se abriu revelando a pessoa que eu mais amava nesse mundo... espera, retiro o que eu disse, a pessoa que eu mais amava independente da circunstância ou lugar.

Ela estava linda, com os cabelos presos em um rabo-de-cavalo alto, nossos corações no pescoço, junto com seu pingente de arco-e-flecha e um vestido. Quando ela andou, seus pés descalços mal pareciam tocar o chão, ela flutuava, como um brisa de verão.

“Di Immortales!” ela exclamou, sua voz delicada se tingindo de surpresa e alegria. Ela correu e se jogou nos braços de Riven, que cambaleou, a abraçando, e rodopiou com ela, a depositando suavemente no chão. Então ela saiu cumprimentando todos, parecendo muito surpresa e feliz. Eu não consegui evitar uma onda de ciúmes, que me atingiu com força total, enquanto ela abraçava cada garoto, rindo e dando beijos nas bochechas deles, beijos que eles retribuíam. São beijos de amigo, a parte boazinha de mim dizia. De amigo? Só se você for cego!, a parte má desdenhava. Enquanto eu estava nessa disputa interna, Stella ainda ria com os “amigos” e a minha parte má estava se alimentando de uma sensação desconhecida que ameaçava se apoderar de mim. Senti minha respiração acelerar e meus punhos se fecharem, prontos para socar alguém, mas então eu me lembrei dela mais cedo, antes deles chegarem, dos nossos beijos e de nossas palavras de amor. Lentamente, minha respiração voltava ao normal, mas os punhos mantinham-se cerrados.

Eu me sentei na cama de Percy, ao lado dele, controlando minha respiração com dificuldade.

“Nossa senti tanta falta de vocês” ela tinha um sorriso enorme.

“Stella, temos que conversar” uma garota morena, com cabelos e olhos castanho escuros, olhando discretamente para mim, Annie e Percy, como se nós devêssemos dar alguma privacidade a eles. “É importante”

“Vem, Percy, vamos dar um volta.” chamou Annie, entendendo o tom e o olhar da garota.

“Vocês não precisam sair” Stella falou, e eu achei que ela tinha um tom de súplica na voz.

“Vocês devem ter muita coisa para conversar” a voz de Annie era gentil e ela levou Percy em direção à porta. “Não vem, Nico?” ela perguntou, mas meu cérebro interpretou como É melhor você vir conosco, agora mesmo, mocinho. E então, como Annabeth zangada é uma das coisas mais assustadoras que já vi, eu a segui com uma careta.

“Nico, você... pode ficar?” a voz da Stella parecia normal, mas eu pude detectar uma pequena hesitação e uma nota de desespero na sua voz. Acho que só eu notei, mas eu tinha certeza absoluta do que significava. E tive mais certeza ainda, quando me lembrei do tom de suplica em sua voz. Ela não estava pronta para enfrentar aquilo, não agora, não sozinha.

“Claro”

Percy saiu do quarto e me lançou um sorriso que dizia para eu ficar de olho em tudo, eu respondi com um leve aceno. Annabeth me lançou um olhar de aviso, como se ela soubesse que eu poderia fazer alguma coisa errada e estivesse me dizendo para me controlar. Fingi que não vi o olhar, porque eu não queria admitir que havia alguma coisa me incomodando, e para falar a verdade eu não fazia ideia do que era.

Eu andei mecanicamente até a Stella, me sentando em nossa cama, de um lado dela, porque do outro estava Riven. Trinquei os dentes e meus punhos se apertaram mais.

Eles começaram a conversar mas eu não prestava atenção a nada, só ficava fitando o vazio, tentando me controlar para não estrangular o primeiro garoto que olhasse para Stella. As garotas que estavam com eles pareciam ser suas namoradas, mas isso não impediu que uma onda daquela raiva maluca me engolfasse e me sufocasse. Até que teve um momento que eu não pude mais aguentar e me levantei, atraindo todos os olhares para mim.

“Vou tomar um ar” escuto minha voz dizer, indiferente. Então eu ando para fora, antes que meu reduzido autocontrole se esvaia e eu acabe matando algum dos amigos de Stella, coisa que ela nunca perdoaria.

“Droga!” exclamei, enquanto me debruçava na amurada da varanda, tentando não pensar em como eu tinha deixado Stella sozinha, mesmo sabendo que ela não estava pronta para aquilo. Aquela raiva desconhecida ainda ardia em meu peito e eu sabia que tinha que ocupar minha mente com alguma outra coisa, porque meu autocontrole, como eu já tinha previsto, estava acabando mais rápido do que era seguro, porque agora havia outro tipo de raiva, uma que eu conhecia há muito tempo. Eu estava com raiva de mim mesmo. Como quando não estava lá para salvar Bianca.

“Você deixou ela sozinha, quando ela pediu para que ficasse, seu imbecil” eu murmurei com raiva. “Droga!” eu resmunguei. Vamos, di Angelo, volte para lá, me ordenei severamente, controle-se e volte para lá. Mas havia uma parte de mim que não concordava com isso. Vamos, deixe de ser burro, ela precisa de você. Então a outra parte rebatia.

Isso não estava me ajudando em nada, só estava ajudando a deteriorar meu fraco autocontrole mais rápido ainda. Eu estava enlouquecendo, minha sanidade estava sendo substituída por uma fúria incontrolável. Meus punhos estavam tão apertados que estavam ficando dormentes, minha respiração estava rápida e superficial.

Então eu escutei a porta se abrir, lentamente.

“Está tudo bem?” Senti a delicada mão dela pousar levemente em meu braço. Como ela podia ser tão gentil, mesmo quando eu a deixei daquele jeito? Isso me deu mais raiva de mim, eu fui rude e depois de tudo ela veio ver o que estava acontecendo comigo? Não consegui falar, só dei um aceno rígido com a cabeça.

“Eles vão sair para jantar... Percy e Annie vão também” ela falou em sua voz doce e gentil, que estava transbordando de carinho. “Você vem?” ela perguntou.

“Claro, por que não” respondi. Na verdade, eu não queria sair para lugar nenhum, muito menos com eles, mas pude sentir que ela realmente queria ir.

“Posso ficar com você se quiser” ela ainda estava gentil. Eu olhei para o rosto dela, me perdendo naqueles olhos verdes amendoados.

“De jeito nenhum” respondi, sorrindo de lado. “Está na cara que você está louca para ir. E eu vou para onde você for. Eu vou fazer tudo para ficar sempre a seu lado e que você esteja feliz, aconteça o que acontecer eu vou sempre te procurar. Mesmo que eu pudesse desistir, e eu não posso, eu te procuraria até meu último suspiro”

Ela sorriu, e eu sorri também, e depois de um segundo, nós estávamos nos beijando.