Memórias de Bellatrix Lestrange escrita por Shanda Cavich


Capítulo 3
Hogwarts




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Quando completei onze anos fui levada para a maior escola de Magia e Bruxaria da Grã-Bretanha. Surpreendi-me no dia em que comprei minha varinha. Nunca esqueci como Olivaras a descreveu. ''Nogueira, fibra cardíaca de dragão. Muito rígida! Combina com você, mocinha''. Apreciei-a por vários minutos. Naquele dia tive a certeza de que ela seria minha melhor amiga.

Em Hogwarts tive meus melhores e piores momentos. Certamente entrei para a Sonserina, assim como toda a minha família. Mas algo me fez sentir nojo e repugnância naquela escola. Havia alunos sangues-ruins e mestiços por toda a parte! Era como entrar num beco sem saída cheio de ratos e baratas impregnando sua imundice por onde passavam. Uma praga! Não havia como se livrar deles.

No quinto ano fui convidada a participar do Clube do Slugue. O velho professor Horácio Slughorn apreciava a minha incrível habilidade em Oclumência e Duelos. Fiz questão em derrotar todos a minha volta. Foi então que eu conheci Lúcio. Ele estava no segundo ano e também pertencia ao clube. Tinha facilidade com feitiços da mente, e vinha de uma das famílias mais ricas e influentes da Europa. Mais tarde se tornaria um especialista na maldição Imperius e manipularia metade do Ministério da Magia.

Estudei até onde pude. Passei em todas as N.O.M.S. e não me lembro de meu pai ter me mandado uma carta demonstrando-se orgulhoso. Mas no fundo, compreendi. Era simplesmente obrigação de um Black ser o melhor. Assim fui ensinada.

Andrômeda começara a demonstrar um certo interesse por um nascido trouxa, Ted Tonks. Devia ter me livrado dele quando tive a chance! O maldito se casou com ela um ano depois de se formarem em Hogwarts. Por que ela tinha de ser tão diferente de mim e de Ciça? Por que ela teve de se tornar uma traidora do sangue, do meu próprio sangue? Ordinária! A partir do dia em que ela mandou uma carta nos contando sobre a sua traição, decidi que ela não era mais minha irmã. Meus sentidos não se enganam. Sabia que ela seria diferente, desde que nasceu.

Eu, sendo quem era, mantinha amizade apenas com aqueles que de algum modo valiam a pena. Durante os meus anos em Hogwarts conheci os irmãos Lestrange. Rodolfo, o mais velho, era incrivelmente perverso e engenhoso. Foram incontáveis as vezes em que nós conversamos em plena madrugada no salão comunal. Ele me compreendia. Ele me desejava. Eu podia ver isso no modo como ele falava. Uma vez me disse como eu era bonita. Naquela noite, eu senti algo peculiar. Não o amava. Nunca o amei. Mas tive a impressão de que ele teria um futuro ao meu lado. Minha família o adorava. "Que garoto esperto!" – minha mãe dizia, – "Não deixe ele escapar, Bella. É um ótimo partido." Ah sim, Rodolfo era forte. Ele sabia o que ter sangue puro significava. Nossos pais eram amigos de infância. Nossas famílias tinham antigas relações.

Rabastan Lestrange, o irmão mais novo, tinha a idade de Ciça. Assim como muitos dos rapazes em Hogwarts, ele a admirava por sua majestosa beleza e fragilidade. Eu teria confiado Narcisa a ele. Mas Lúcio Malfoy veio primeiro. Ciça o conquistou assim como ele conquistou a ela. Os dois formavam um casal confino. Meu pai ficara felicíssimo pelo casamento dos dois, assim como quando eu me casei com Rodolfo Lestrange. ''Unir as famílias puro-sangue é essencial!'', meu pai me disse.

O meu quarto ano em Hogwarts foi inesquecível. Durante uma tarde os alunos puderam visitar o povoado de Hogsmeade. Ciça não pôde ir porque estava de castigo. Perdeu uma luta para um mestiço no Clube dos Duelos. Ela tinha apenas onze anos. No feriado de páscoa mamãe fez com que ela duelasse com Andrômeda durante horas, até aprender direito. Depois a consolei lhe ensinando uma maldição. Imperius, era chamada. Na verdade, Ciça nunca precisaria dela para manipular os outros. Mas fiz com que ela se sentisse confiante.

Quando cheguei a Hogsmeade, os alunos se espalharam entrando nas lojas de doces e livrarias antigas. Eu fui até o bosque, na esperança de poder praticar um novo feitiço, que mais tarde descobriria ser o meu favorito. Havia neve naquela época do ano. O frio congelava os meus longos cachos castanhos, a quem Rodolfo tanto elogiava.

Então eu vi um coelho branco. Tamanho médio, muito inofensivo. Desviei meu olhar para o outro lado e notei um alce, grande e avermelhado, que bebia água da poça gelada. Apontei minha varinha para ele e disse:

''Crucio!'' – então o animal foi ao chão, tremendo de agonia. Na hora me senti poderosa. Eu não havia feito esforço algum. Apenas apontei minha varinha e toda a minha raiva foi descontada em uma só palavra.

''Sou uma bruxa. Eu posso'', pensei.

Naquele momento me imaginei fazendo aquilo com pessoas de quem eu não gostava. Imaginei o rosto daquele animal se tornando o de todos os meus inimigos. Um de cada vez. Apontei minha varinha novamente e disse com ainda mais vontade:

''Crucio!''

''Crucio!''

''Crucio!''

O alce ficou imóvel. Pude ver lágrimas escorrerem de seus olhos negros e amendoados. Não me comovi. Era só um animal. Um animal que me fora muito útil. Ajudou-me a descobrir meu mais trágico e belo talento.

Uma voz levemente aguçada e sibilante me fez tremer:

''Usando uma maldição imperdoável... Desde tão moça!''

Eu me virei e vi um homem alto de rosto pálido, ofídico. Os olhos azuis me estreitavam avaliadores. Senti medo. Nunca o tinha visto antes.

''Quem é você?'' – perguntei, segurando minha varinha com tanta força que chegou a doer.

''Tom. '' – ele se aproximou, encarando-me nos olhos. – ''Alguns já me conhecem por Lord Voldemort. ''

''Eu sou Bellatrix Rosier Black. '' – disse com firmeza, tentando demonstrar alguma superioridade. Tom chegara a dar um risinho.

''Puro-sangue, estou certo?'' – Tom deu alguns passos e chegou até o animal quase morto no gramado. ''Venha cá, menina''.

Eu fui. Assim que cheguei perto dele, ele segurou minha mão – a que estava com a varinha – e apontou-a para o alce.

''Diga claramente: Avada Kedrava.'' – Tom silvou em meus ouvidos.

Minha mão estava tremendo. Ele, percebendo isso, segurou-a com mais força. Seus olhos me observaram, esperando que eu obedecesse ao seu comando.

''Avada Kedrava'' – eu disse, em minha voz um pouco baixa. No mesmo instante um jato de luz verde saiu de minha varinha e o animal caíra morto. Tom sorriu, como se estivesse orgulhoso pelo que eu fiz. Eu, com apenas quatorze anos, me senti realizada. A única vez em que eu vi um bruxo amaldiçoar alguém com a morte, foi quando meu tio, Astaroth Rosier, matou um trouxa malfeitor que tentara invadir a nossa casa de campo.

''Ainda vai me conhecer, Bellatrix.'' – Tom deu as costas e foi em direção ao castelo. No início fiquei um pouco assustada, temendo que ele contasse alguma coisa ao diretor Dumbledore. Mas depois fiquei sabendo que ele foi até Hogwarts pedir o cargo de professor de Defesa Contra a Arte das Trevas. Fiquei triste ao saber que Tom não conseguiu o cargo. Mas pude vê-lo indo embora. Uma expressão assassina enfeitava o seu rosto. Naquele dia conheci aquele que eu amaria mais do que tudo. Lord Voldemort.


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