Memórias de Bellatrix Lestrange escrita por Shanda Cavich


Capítulo 2
As três irmãs




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"As páginas de uma mente tão cobiçosa tendem a ser perfeitas... Minha Bella, minha doce e querida Bella..." – Lord Voldemort

 

Eu tinha apenas quatro anos quando ela nasceu. Andrômeda, pequena como era, puxava minhas mãos e guiava-me até o quarto de nossa mãe para irmos conhecer nossa nova irmãzinha, a quem papai dera o nome de Narcisa. Era uma criança linda. Tinha uma beleza um tanto diferente de toda a nossa família. Loira, olhos azuis como o céu. A partir daquele dia decidi que a amava, simplesmente. Peguei-a no colo com dificuldade, e ela deleitou-se ao meu olhar. Meus tios e tias encararam-me desconfiados, quase temerosos, como se por algum motivo achassem que eu faria mal ao bebê.

Andrômeda sentira ciúmes. Não a deixaram segurar Narcisa por ser jovem demais. Ela gritou enfurecida quando a empurrei para fora do quarto. E eu disse a ela que Narcisa era só minha, fazendo com que Andie começasse a chorar. Papai deu-lhe um tapa e uma praga.

A irmã do meio não chorou mais.

Cinco anos se passaram. Nós éramos três irmãs da aristocrática família Black. Nós éramos sangue puro, éramos melhores. Meu pai sempre me alertava sobre importância do nosso sobrenome. E eu, com nove anos de idade, aprendi que não bastava ter uma varinha nas mãos para ser um bruxo. Era necessário ter honra. Uma honra que só era concedida aqueles cujas famílias sempre foram mágicas.

Morávamos próximos a Largo Grimmauld. A casa era grande, muito sombria. Havia noites em que eu podia ouvir o choro de Narcisa ecoar pelos corredores, que às vezes duravam a noite toda. Houve a vez em que Andrômeda tentou ir ao quarto dela na intenção de acalmá-la. Tive que impedir. Mulheres da Mui Nobre e Antiga Casa dos Black não tinham permissão para chorar ou sentir medo. Jamais esqueci disso. Mesmo quando vi mamãe chorar. Não pude sentir pena dela. Não pude confortá-la. Ela era fraca.

No ano seguinte minha avó morreu. Papai estava no velório, sério como nunca, com um olhar seco e magoado. Nós três estávamos sentadas no mesmo sofá negro, o caixão dela em nossa frente. A única emoção que pude sentir foi o infortúnio. Todos aqueles olhares direcionados a um só cadáver me deixavam entediada. Já os olhos de Andrômeda brilhavam de tristeza, disfarçando um choro com agonia. Narcisa segurava em minha mão, com receio de que papai visse uma lágrima escorrer pelo seu rosto pálido. Irma Crabbe Black morrera. Não havia nada que pudesse ser feito para mudar isso.

''Você é uma Black, Bellatrix. E por este motivo deve ser forte. Não chore! Lágrimas trazem vergonha à nossa família. '', disse meu pai, Cygnus Black, encarando-me nos olhos quando chorei pela primeira vez em sua frente. Recebi um aperto em minha face devido a minha insolência. Ele me apontava sua varinha como forma de ameaça. A partir deste ato percebi que varinhas são feitas para lutar. E eu lutaria muito quando tivesse a minha.

A irmã mais velha não chorou mais.

Todos à minha volta falavam de mim pelas costas. Aprendi da pior forma como lidar com a magia. Meus pais odiavam trouxas mais do que tudo, e principalmente os que interferiam em nosso mundo. ''Malditos sangues-ruins!'', eles diziam todos os dias, até que a lição fosse penetrada em nossas mentes. E foi o que aconteceu comigo. Tornei-me uma Black de corpo e alma. Impetuosa, dura e imutável.

Minha irmã Andrômeda era fraca e ingênua. Se tivesse usado o seu talento da maneira certa tudo teria sido diferente. Ela tinha um dom que eu não tinha. Consertava o que eu destruía e consolava os que eu fazia sofrer. Como era cuidadosa, quase sempre se salvava de minhas armadilhas. Dizia que eu não era uma pessoa digna, e que o único bem que eu seria capaz de fazer à humanidade seria morrer. Uma tola! Se meus pais soubessem de seu futuro a teriam matado antes de permitirem que a tragédia se realizasse.

O coração de Andrômeda era como o fogo. Contagiava a todos com sua aptidão e conquistava o amor dos outros a sua volta por ter um gênio tão gentil e solidário. Eu a via como uma bruxa medrosa quando não devia ser. Emotiva quando não precisava.

Ainda assim era Andie, a irmã do talento.

Com Narcisa era de outro modo. Ela me obedecia, e por isso eu a amava tanto. Tão bonita, porém tão simples. Tão somente preciosa como seus brincos de cristal. Herdou por inteiro a vaidade de mamãe, o que as tornava ainda mais unidas, sempre conversando pelos cantos com tia Walburga, para falarem mal da escória trouxa ou sobre sapatos. Ensinei a Narcisa como as coisas funcionavam. Confesso que tive de ser dura com ela. Mas garanti que ela fosse uma verdadeira Black. Quando chorou, repeti a ela o que papai me disse.

A irmã mais nova não chorou mais.

Quando completara quinze anos, nossa mãe faleceu. Por mais que Druella e Narcisa fossem unha e carne, minha irmã permaneceu silenciosa durante toda a cerimônia. Nunca mais demonstrou tristeza. Tristeza era sinônimo de fracasso. Então eu mesma apressei seu casamento com o nobre e puro-sangue Lúcio Malfoy, a quem ela conhecera e se apaixonara nos anos em que estudou em Hogwarts. Foi meu grande amigo. Assim como eu, ele tinha uma tendência à Arte das Trevas e ideais puristas assim como os Black. Ele não sendo para mim, era perfeito para minha irmã.

O coração de Narcisa era como o gelo. Friamente lúcido, esbanjando graça sem sentimento. Era como uma rosa gélida sem seus espinhos a mostra, esperando para enganar aquele que a tocar. Mente calma e concentrada. Voz frígida e adocicada como a de um espírito. Maldosa para o seu próprio bem.

Ainda assim era Ciça, a irmã da beleza.

Eu sou Bellatrix. Sempre fui a perigosa. Sou esperta e digna de meu sangue. Desde muito pequena já tomava coragem para enfrentar o mundo e desde então o faço trabalhar ao meu favor. Manipulo com precisão meus aliados e aniquilo os inimigos com a mesma facilidade que eles tiveram em me aborrecer. Respeito aqueles que merecem e aprendo com aqueles que me derrotam.

Aprecio as vantagens mais do que a vida. O poder é mais válido do que o afeto. Riquezas? Já as possuo! Inteligência? Tenho sobrando. A família Black teria uma herdeira que jamais seria esquecida. Eu estava disposta a fazer de tudo para atingir o objetivo das famílias de bruxos puro-sangue. Ou então morreria tentando.

''Meu coração é como a pedra. Gelado e ao mesmo tempo violento. Pesado como meus martírios de infância e resistente como a minha voz. Vigoroso como a minha risada triunfante, e prestigioso como o sangue que corre em minhas veias. Impenetrável até o último momento. Ainda assim sou Bella, a irmã da força. ''.


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