Eldunari escrita por Valkiria


Capítulo 7
Revelação




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Seus olhos agora negros refletiam o vazio. No depósito podia-se sentir uma energia densa se espalhar. Pequenos fragmentos soltos do chão começaram a flutuar ao redor do corpo de Milena, ajoelhada com as mãos presas às costas, seu cabelo em uma trança desgrenhada, parte cobrindo-lhe o rosto.

Estranhamente uma chuva fraca começou a cair. O cenário parecia parado, enquanto as primeiras gotas de sereno pingavam no chão, passando pela abertura no teto do aposento, feita em apenas pouco tempo atrás quando os dois cavaleiros de dragão irromperam o local.

Alrish com sua espada em riste estava pronto para atingir o garoto diante de si.

Quando uma pequena gota de chuva caiu roçando na face da jovem ajoelhada, seus olhos de um negro profundo e interminável despertaram de sua sonolência. Sua pupila antes dilatada estreitou como os olhos astutos de uma águia. Neste instante uma forte onda de energia vibrou sobre a terra, causando um tremor inesperado, que sumiu tão repentinamente quanto apareceu.

A energia tinha vindo de Milena. Seus cabelos louros agora mudavam para uma tonalidade cobre e um calor anormal emanava da garota. Rachos passaram a se formar no chão debaixo dela e em instantes a terra desmoronou. Quase que imperceptível, podia-se notar suas mãos antes presas às costas por magia, se soltarem facilmente enquanto todo o chão sumia de seus pés, formando uma pequena cratera. Seu corpo flutuava inabalável em meio à nuvem de poeira que o abalo na terra havia causado. No centro da cratera se elevava o corpo da garota e de trás desta, surgiu a miragem de uma esplendorosa fênix dourada em todo seu louvor, esta soltou seu grito de liberdade para que todos pudessem ouvi-la e então sua imagem desapareceu no ar. Porém quando Milena ergueu seu olhar, ali se notava que a fênix estava mais presente do que nunca.

Notando Alrish adiante, se apoiando com um joelho no chão e se levantando com a espada ainda segura firme na mão. Dimitri não estava mais por perto, este correu para longe quando o chão começou a rachar. Os olhos da dama se estreitaram ao encontrar seu alvo. Com apenas o pensamento, uma forte lufada foi lançada em direção a ele, todas as janelas do aposento estouravam conforme o avanço da rajada, até que esta atingiu Alrish, lançando-o contra a parede, atravessando-a.

Uma saraivada de flechas disparou na direção da garota, vindo das lutadoras habilidosas, porém quando as flechas chegaram perto do corpo de Milena, todas pulverizaram no ar, formando um pó enigmático, suspenso no ar ao seu redor.

Um redemoinho de ventania forte começou a se formar ao redor da jovem e tudo em volta começou a voar; as caixas já lascadas anteriormente, agora voltavam a se deslocar e se desfazerem no ar. Todos tiveram que se abaixar e segurar-se para não serem levados pelo vendaval. Os olhos da garota pareciam ouro derretido, vivos, vibrantes...

Murtagh finalizando seu diálogo com Eragon, se aproximou com dificuldade de Mobilion e com o cenho franzindo, alternava o olhar de Milena para Mobilion com uma expressão interrogativa. Caleb começava a se desfazer de seu estado estático.

O feitiço de Mobilion estava enfraquecendo. Ele estivera na mente de Milena antes da fênix despertar. No entanto no momento em que essa acordou, o poder de Milena aumentou em um nível inestimável, expulsando Mobilion de sua mente no mesmo instante. Agora essa o encarava, sabendo exatamente quem estivera na mente da garota há poucos instantes e esmagava-o com a força de um poder forte de mais até mesmo para o feiticeiro, apesar desse, esboçar um sorriso deliciado com a dimensão do ataque.

– Milena... – Caleb balbuciou o nome, como se não se encaixasse com o que ele estava vendo. Estupefato ele olhava o corpo da jovem flutuar em meio ao redemoinho.

– Não. – Mobilion corrigiu Caleb. Sua face parecia extasiada ao sentir a preção do ataque da fênix. – Esta não é Milena... Milena é um corpo vazio, habitado por uma força muito maior nesse momento, ela não está ali. A mente de Milena está adormecida em algum lugar de sua consciência. Esta é a fênix! A criatura mais poderosa já conhecida! – seus olhos brilhavam ao dizer isso.

Murtagh que tinha escutado o diálogo voltou seu olhar para Milena. Ele não entendia o que estava acontecendo. Tinha visto essa garota há poucos instantes... Era a moça que o tinha abraçado. Ele ainda estava atordoado com isso. Por que ela tinha feito aquilo? Ela tinha enfatizado sobre ele poder fazer as próprias escolhas, sobre se libertar. Mas por que ela quis dizer isso justamente pra ele? Alguém que lutava do lado de Galbatorix, contra os Varden! De alguma forma ele tinha a sensação de que a conhecia, mas de onde? Seus pensamentos foram interrompidos quando escutou um berro esganiçado.

Mobilion curvava diante da força da fênix, sua mente estava sendo penetrada por ela. Os olhos da fênix focavam nele de modo cortante e por onde ela passava em sua mente, um rastro de lava parecia arder na consciência do mago. Sua mente estava sendo consumida por esse fogo. Murtagh observava sem saber o que fazer, quando viu Mobilion pegar uma flecha de prata na dobra da rouba, se endireitar com dificuldade e puxar um arco de trás da cadeira onde estivera sentado há pouco.

Murtagh soltou um arfar de surpresa, quando entendeu o que Mobilion ia fazer. Ele já tinha visto o velho usar aquilo antes, com Alrish.

– Não é exagerado usar isso com ela? – Murtagh se precipitou com um passo em direção do velho.

Um riso de escarnio escapou dos lábios do velho e este passou um rápido olhar por Murtagh.

– Nada é de mais quando se trata da fênix! Milena não morrerá com isso se souber ser prudente o bastante.

Ele posicionou a flecha no arco e puxou ao máximo ajeitando a mira.

Murtagh voltou a olhar para a garota, de alguma forma um aperto se formou em seu peito, ele não achava correto aquilo que Mobilion estava fazendo. Na verdade ele não concordava com qualquer coisa que viesse de Galbatorix ou de algum servente dele. Ele odiava ter que ele próprio servir aquele crápula, odiava ter que fazer o que não queria. De repente veio a sua cabeça as palavras de Milena quando ela lhe disse que ele tinha escolha, ele podia se libertar. Sim! Ele podia fazer as próprias escolhas, ele podia escrever o próprio destino.

Um ímpeto repentino surgiu nele e Murtagh decidiu que era isso que ele ia fazer agora, não importando quais seriam as consequências. Obedecendo aos próprios instintos, o Cavaleiro caminhou adiante e vendo o corpo da garota flutuar a poucos metros de distância, ele deu uma última olhada para trás pra ver quanto tempo ainda tinha antes que Mobilion atirasse a flecha. Pouco, mas ainda assim ia tentar. Ele tinha escutado quando Mobilion falou para o homem com a cicatriz no rosto, que Milena estava vazia, ali só tinha a fênix, mas e se de alguma forma ele conseguisse chamar a garota de volta a si? Talvez pudesse impedir que a ideia de Mobilion seguisse em frente. Encheu os pulmões e gritou o nome da jovem.

– Milenaaaaa!!!!!! – ele sabia que todos agora focavam a atenção nele e que as consequências de seu ato rebelde agora, viriam mais tarde. Mas não se deixou intimidar e continuou a chamar o nome da garota. Porém algo o fez parar. Quando a garota virou-se para ele e um sorriso demoníaco se formou no canto de sua boca.

– Eu não sou Milena! – ela inclinou a cabeça de modo despreocupado ao encará-lo, então a sua frente começou a se formar em pleno ar, flechas douradas de pura energia concentrada que saia da fênix.

Murtagh deu um passo pra trás alarmado, seu coração soltou um disparo quando as flechas lançaram em sua direção.

– Merda! – ele balançou a cabeça, resignado. – Não! Eu não vou sair daqui! Não tenho nada a perder. Ela tem que estar ali, eu sei que está! MILENAAAAAA!!!!

–----

Eu sentia o cheiro suave de tulipas inundarem o ar. Deitada em meio às flores, eu me sentia a pessoa mais feliz do mundo, nada me importava, nada poderia abalar essa paz que preenchia meu coração. O vento suave batia no meu rosto.

– Lena!

Ouvi a voz de um garoto me chamando e levantei com o sorriso no rosto, os cabelos louros caindo sobre os ombros.

– Lena... – o garoto me chamou novamente, covinhas se formavam em seu rosto quando ele abriu seu largo sorriso para mim. Ele corria em minha direção com seus cabelos castanhos claros desgrenhados e seus passinhos curtos. Devia ter seis anos mais ou menos. Levantei-me e corri em sua direção, quando olhei brevemente para mim mesma eu também estava pequena, um pouco mais nova do que o menino apenas. Eu usava um vestido amarelo, florido e enquanto eu corria, o garoto estendia suas mãozinhas para mim, esperando-me. Meus cabelos soltos balançavam ao sabor do vento enquanto eu corria para alcança-lo.

De repente escutei outra voz chamar por meu nome. Parei repentinamente, o sorriso sumindo de meu rosto. Tentei descobrir de onde vinha a voz desconhecida, olhando ao redor desorientada. A voz chamou novamente, dessa vez mais forte.

– Milena! – eu dava voltas em mim mesma, procurando saber onde estava quem me chamava. Dessa vez veio mais forte ainda. – MILENA! – meu mundo vibrou e começou a desmoronar ao meu redor, virei-me para olhar por uma última vez o garotinho que tinha me chamado antes. Estendi a mão tentando alcança-lo, mas um buraco negro se abriu aos meus pés e o garotinho foi ficando distante até desaparecer de minha vista.

–----

Senti um choque brusco quando voltei a mim. Demorei um segundo para me situar e finalmente encontrar a voz que havia me chamado de volta. Arfei surpresa quando foquei a minha frente Murtagh. Seus olhos pareceram brilhar brevemente ao me encarar de longe, como uma pessoa que se empolga em ver outra abrir os olhos novamente.

Notei de repente longas flechas douradas que avançavam em sua direção e com um susto percebi que eu mesma as lançara. Meu coração deu um salto... Não! Minha mente gritava. Ele também, não! Parem flechas, parem! Desejei com todas as minhas forças. Não sei como controlar esse poder, mas eu não quero machuca-lo! Não quero que essas flechas o atinjam! Meu coração parecia comprimir-se no peito angustiado. Por favor, parem! Por favor... por favor....! Nesse momento uma força desconhecida cresceu dentro de mim e eu de repente soube como fazer. Eu pensei, eu apenas desejei e todas as flechas se desfizeram no ar como pó a alguns milímetros antes de atingir Murtagh.

Um alívio se espalhou pelo meu corpo, amortecendo a tensão em cada músculo retesado. Levantei os olhos e nossos olhares se cruzaram por um único instante, quando sua face ficou alarmada de repente e no instante seguinte senti algo atravessar meu peito.

Uma corrente de choque invadiu meu corpo, curvei sob a dor da descarga elétrica e despenquei do alto, caindo com um baque forte no chão. Uma sensação estranha me invadiu, parecendo que eu ia me dividir em duas, como se parte de mim estivesse sendo expulsa do meu próprio corpo pela força desse choque. Rangi os dentes para não gritar. Senti-me pesada e densa, minha mente começou a ficar confusa como se algum tipo de droga estivesse em meu sangue. Meu estômago embrulhou com uma nova onda de sensação, dessa vez mais forte de separação. Eu quase pude ver claramente parte de mim fora de mim mesma e aquilo me deu náuseas.

Ouvi ao longe o grito de alguém, mas eu não soube distinguir de quem vinha nem o que tinha dito. A força do choque era esmagadora e eu já não estava mais aguentando. Ajoelhada no chão, pus as mãos na cabeça, aquilo era terrível, estava me matando lentamente, tinha que ter uma maneira de parar, tinha que haver...

A resposta me veio como um sussurro na mente, eu não sei o que foi, intuição, inspiração, intervenção, mas eu não me importava. Eu simplesmente soube que era preciso recolher de volta a outra entidade dentro de mim. Não sei como fiz isso, mas a fênix apenas voltou aos poucos e se acolheu em um cantinho guardado em meu interior novamente. Eu sabia que ela ainda estava ali, eu tinha essa sensação, mas de alguma forma, o fato dela ter retornado, acalmava o choque que eu sentia e esse foi diminuindo, até desaparecer.

Eu arfava loucamente como se tivesse acabado de correr uma maratona. Apoiei-me com as mãos no chão e senti um pequeno incômodo no peito. Ao me curvar, vi a fonte de todo o meu transtorno. Uma flecha... uma simples flecha tinha causado aquilo. Eu mesma tive dificuldade de acreditar. Mas tinha algo que eu ainda sentia correr em minhas veias, olhei para a flecha novamente e suspeitei do que era. Há... o que é isso? Uma emboscada de Mobilion? Ele quer me atiçar, mas ao mesmo tempo se assegurar de que nenhum mal ricocheteie nele... Quer que eu seja sua subordinada de qualquer jeito... Serpente!

Eu sabia que um veneno estava em meu corpo, o feitiço de choque que ele tinha colocado na flecha certamente serviu para “amansar o leão”, ou seja, fazer a fênix voltar a adormecer dentro de mim, mas ele se certificou de conseguir me dominar de qualquer jeito. A ponta da flecha estava envenenada, eu tinha certeza disso agora, e sem dúvida é um veneno do qual o antídoto só ele tem. Mobilion quer um tempo, uma pequena brecha para poder me pegar de guarda baixa e me puxar para o ninho de rato imundo dele.

Ele sabe que meu corpo contém um forte poder de regeneração, mesmo que esse veneno continue a progredir lentamente e me faça perder os sentidos, meu corpo fará o trabalho de eliminar ou amenizar o veneno, mesmo sem o antídoto, devido ao dom da fênix que habita em mim. Mas nesse caso, enquanto eu me recuperasse, Mobilion teria total acesso para fazer o que quisesse com meu corpo inconsciente. Com essa chance ele tentará descobrir meu nome verdadeiro para me aprisionar a ele.

Apenas a utilização de uma quantidade absurda de poder seria capaz de esgotar minhas forças, causando minha morte, impossibilitando assim qualquer oportunidade de Mobilion me usar. O que não foi o caso. Porém o que Mobilion não conta é que a fênix continua aqui... Acordada. Ela não voltou a adormecer dentro de mim como ele provavelmente planejava com seu ataque.

Tentei me levantar, mas minhas pernas tremiam violentamente. Fechei os olhos por um momento sentindo o calor confortável da fênix dentro de mim, acalmando aos poucos a respiração. Senti uma presença se aproximando e abri os olhos, Mobilion se aproximava com um sorriso vitorioso no rosto, porém surpreendendo ele e a mim também, Murtagh se pôs no caminho entre nós dois. Com a espada em riste ele parou Mobilion no lugar.

– Você vai se arrepender por essa rebeldia depois, Murtagh – sibilou Mobilion com um olhar de morte. Mas não tentou se opor ao Cavaleiro, apenas chamou. – Alrish!

Como um fantasma, o homem ressurgiu das sombras e veio em minha direção, sua roupa estava empoeirada e rasgada, mas ele estava intacto. Eu precisava reagir agora.

– Não permitirei que façam mais nenhum mal a ela! – ecoou a voz de Murtagh no galpão, me surpreendendo novamente. Ele parecia mudado! Obstinado! De qualquer forma eu não deixaria ele fazer todo o trabalho sujo por mim, eu não permitiria que mais ninguém pagasse caro por minha causa.

– Deixe-o vir! – falei alto, levantando-me. Minha voz saiu levemente rouca.

Murtagh virou-se para me encarar, surpreso. Alrish parou onde estava. Com certa dificuldade levantei e endireitei-me, ergui a mão e fechei-a sobre a haste da flecha. Ela estava fincada próximo ao coração e a ponta estava cravada na carne. Isso vai doer! Inspirei uma grande lufada de ar e apertei a haste da flecha.

– Não! – gritou Murtagh, dando um passo em minha direção, alarmado, com os olhos arregalados ao deduzir o que eu faria.

Eu puxei. A carne dilacerou por todo o rápido, porém doloroso percurso que a ponta da flecha fez. Curvei levemente arfando de dor, mas me recompus rapidamente. Eu não queria demonstrar fraqueza diante de Mobilion. Com a flecha na mão direita, peguei a outra ponta com a mão esquerda e curvei a flecha de prata no meio, jogando-a no chão como um pedaço de metal inútil.

– Vai precisar de mais do que isso para me parar, Mobilion. – falei encarando-o. A ferida aberta no peito.

– Não quero pará-la, quero-a para mim, obedientemente me servindo... – seus olhos brilharam e sua boca destorceu-se em um sorriso de escárnio.

– Eu nunca serei sua! – pronunciei cada palavra marcada como ferro derretido.

– É o que veremos! Porém você poderia ser um pouco mais agradecida já que você só é a melhor das guerreiras, por que eu a treinei, eu a tornei a melhor, Milena! Sem mim, você não seria nada!

– Sem você, minha vida não teria acabado! – retruquei alterando o tom de voz, com ódio. – Se você não tivesse surgido em minha vida, tudo seria perfeito, como era.

– Há, você chama aquilo de perfeito? Então você preferia viver os restos de seus dias medíocres naquela vilazinha do que ser o que você é hoje? Você nunca teria descoberto seu verdadeiro potencial, seria como um diamante jogado fora, um talento desperdiçado!

– Eu era feliz! Mas isso nunca importou pra você não é? É por isso que você é vazio Mobilion, oco, por que não existe mais nem um coração dentro de você! Você matou Nicolas só para conseguir o seu designo... você o matou!

– Não Milena, eu não o matei... quem o matou foi você, com suas próprias mãos, não se lembra? - ele levantou uma sobrancelha inquisitivamente, como se estivesse jogando a verdade cuspida e esgarrada na minha cara.

Meu coração acelerou, sua provocação tinha funcionado, eu estava com raiva, eu queria mata-lo mais que tudo, por tudo. Tudo que perdi foi por culpa desse velho desgraçado. Estendi o braço direito para o lado e meu machado que estava caído no chão ao longe voou direto para minha mão.

– Você vai pagar por tudo, maldito! Murtagh abaixe-se, agora! – Manipulei o machado em minha mão e cortei o ar a minha frente. De sua lâmina saiu um arco de fogo que atirei em direção de Mobilion. Seus olhos arregalaram por um instante e então Alrish apareceu em sua frente bloqueando meu ataque com sua enorme espada à frente. O fogo dissipou ao contato com a espada enfeitiçada.

Eu senti um calor forte me preencher por dentro. A imagem de uma imensa fênix tomou forma novamente atrás de mim. O ferimento em meu peito se regenerava sozinho. O machado em minha mão começou a mudar de forma, um fogo dourado passou a envolvê-lo e transforma-lo. Aos poucos o punho tomou o desenho de uma fênix, suas pernas apoiando-se em uma pedra de opala de fogo, suas asas curvavam-se sobre sua frente, onde a face estendia-se com o bico segurando a lâmina afiada do machado de duas pontas. Tão delicado e tão mortal...

Dei alguns passos para frente e estendi a mão pra Murtagh que permanecia abaixado.

– Vamos, saia daqui ou vai acabar se ferindo no meio dessa luta!

Ele hesitou por um momento, mas se apoiou em minha mão e levantou.

– Eu ficarei com você! – me olhou nos olhos decidido.

– Você é quem sabe. – dei de ombros. – mas essa luta não é sua. Você não devia se envolver nisso.

– É minha luta também, eu sei do que Mobilion é capaz, eu também já estive do mesmo lado que ele... mesmo que eu não quisesse. – ele desviou os olhos para o chão.

– E agora você não está mais do lado deles?

– Não! Eu não sei como... – ele olhou sobre os ombros para Thorn um pouco distante. – Mas estamos livres da manipulação de Galbatorix, agora. Alguma coisa mudou, porque não sinto mais o domínio dele sobre mim e Thorn. Então eu não perderei a chance de me vingar por todo esse tempo em que fui manipulado por aquele maldito. Estou com você!

– Tudo bem.

Mobilion murmurou algo sobre a flecha não ter funcionado como deveria e então deu alguma ordem à Alrish que acenou com a cabeça e se adiantou a nossa frente.

– Você não vai durar muito, vadia! – cuspiu Alrish.

– Humpf, esse veneno que Mobilion colocou na minha flecha não vai me parar antes que eu pare você!

– Veneno? – sussurrou Murtagh sem compreender.

– Você já está acabada! – Alrish deu alguns passos para trás e uma energia azulada passou a emanar de seu corpo, seus dentes afiaram minimamente e seu cabelo longo azulado passou a ficar arrepiado. Até que seu corpo todo ficou eriçado e a sombra de um imenso puma negra explodiu ao seu redor, soltando seu rangido ameaçador.

– Então você é mais uma cobaia do querido Mobi? Oh e parece que você não teve tanta sorte quanto eu, não é? Sinto muito por você ter se tornado escravo dele, ainda que você não enxergue isso da mesma forma que eu. – Dissimulei preocupação.

Alrish se agachou levemente ignorando meu comentário e por um momento ele pareceu um verdadeiro animal selvagem. Por um instante pensei onde estariam Caleb e Dimitri, eu não os estava vendo. Eu podia ouvir o som dos elfos lutando, lady Nasuada e alguns dos soldados restantes ainda lutavam também, mas parecia que o número de lutadoras habilidosas estava diminuindo finalmente.

– Eu fico com Mobilion. – disse Murtagh rapidamente, perto de mim.

– Não. – virei-me rapidamente. – Mobilion é um problema meu!

– Não antes de passar por mim, vadia. – interrompeu Alrish.

– Então vamos fazer isso logo. – Adiantei-me girando o machado na mão e desferi um ataque, mas ele desviou habilmente. Vi que aquilo iria levar um tempo. – Tudo bem Murtagh, vá. Eu vou me livrar desse aqui primeiro. - troquei um rápido olhar com o Cavaleiro entre um ataque e outro. Ele assentiu e seguiu em frente.

Durante um tempo razoavelmente longo a luta continuou. Alrish era muito rápido e mesmo que um de nós atingisse o outro, a regeneração era rápida, o que não permitia que nenhum de nós ficasse em desvantagem. Eu era mais forte, porém Alrish era mais ágil e eu estava ficando cansada. Ao mesmo tempo em que a fênix me concedia mais poder e segurava o progresso do veneno em meu sangue, tornando seu avanço mais lento; meu corpo estava dez vezes mais quente que o normal, o que fazia com que qualquer coisa em meu fluxo sanguíneo tivesse um avanço notório. Então não tinha como evitar que o veneno progredisse, por mais que o sistema de imunidade estivesse agindo ao máximo. Eu precisava terminar essa luta antes que eu acabasse sendo subjugada nesse duelo.

Durante minha luta eu vi de relance o dragão azul, Saphira com seu Cavaleiro Eragon se juntarem à Murtagh e Thorn contra Mobilion, mas não pude acompanhar mais nada. Alrish pulou sobre mim nesse instante jogando-me no chão e enfiou suas garras em minhas vísceras, estremeci e soltei um berro gutural. Meu machado caiu distante e eu cacei qualquer coisa que estivesse ao alcance das minhas mãos para usar contra ele. Por fim encontrei uma lasca de madeira e lancei na cabeça dele. Não teve efeito nenhum, a madeira despedaçou em vários pedaços e ele continuava sobre mim, aprofundando ainda mais o corte.

Virei a cabeça pro lado à procura de algo útil para usar e encontrei um montinho de pregos jogados de lado. Perfeito. Estiquei a mão ao máximo e consegui pegá-los. Encaixei rapidamente alguns entre os dedos e comecei a aquecê-los. Em poucos instantes estavam vermelhos como ferrete de marcar gado e então enfiei de uma só vez em seu quadril, ele voltou a cabeça para trás e soltou um urro. Nesse momento tomei impulso e o chutei no baço jogando-o longe. Levantei cambaleante e andei até o meu machado, o sangue escorria e se misturava com a água da chuva que agora caía mais forte, ensopando-me. O cabelo desgrenhado pingava encharcado.

Alrish voltou a se levantar, ele parecia um pouco mais cansado agora, arfando enquanto levantava sua espada e a girava no ar formando um pequeno redemoinho com a luz azulada intensa que saia do rastro da mesma. Quando ele lançou seu ataque, por pouco não fui atingida, desviando no último instante com o machado, no entanto quando o ataque foi desviado por minha arma, ricocheteou e atingiu alguém que estava no caminho, eu vi de relance uma pessoa sendo lançada contra a parede.

Voltando-me para Alrish, virei meu machado rasgando o ar e um rastro de luz avermelhada cortante atravessou o aposento em sua direção, porém quando este ia bloquear com sua espada, não teve tanta sorte e foi atingido. Alrish foi lançado um pouco mais longe e uma nuvem de poeira subiu de onde ele caiu. Aproveitei-me nesse instante para achar a pessoa que tinha sido atingida no meio do nosso combate. Quando dei um passo para o lado, porém, meu coração se contraiu e gemi com a dor. O veneno tinha chegado ao órgão e estava estourando aos poucos as veias menores, logo afetaria diretamente o coração. Eu não podia mais perder tempo.

Quando cheguei próximo à parede, a pessoa não estava mais lá, no entanto escutei leves murmúrios bem próximos dali e andei até encontrar um pequeno grupo de elfos rodeando a pessoa inconsciente. Ao vê-los ali, notei que não havia mais lutadoras habilidosas, deviam ter sido todas derrotadas. Talvez eu não devesse ter seguido em frente, ouvi muitas vezes que elfos são muito reservados e não gostam da intromissão de outras raças em seus assuntos. De qualquer forma eu continuei andando, afinal eu tinha de certa forma uma responsabilidade pela pessoa que eu tinha atingido. Na hora de desviar o ataque de Alrish, eu não medi a força, então não sei com que impacto meu ataque atingiu aquela pessoa.

Assim que cheguei perto o bastante do grupo, alguns se viraram para mim, outros simplesmente ignoraram-me, continuando a olhar diretamente para a pessoa desfalecida. Pude notar lágrimas escorrerem pela face dos elfos, seus rosto eram tão puros, chorando, as lágrimas cristalinas os faziam parecer ainda mais divinos. Quando desviei o olhar para a pessoa desacordada, percebi que era outro elfo, mas esse era diferente, seu corpo era coberto por uma pelagem azul-escuro. Por um instante paralisei... ele esta morto? Meu Deus, eu nunca serei perdoada se eu realmente matei um elfo.

De repente senti algo quente dentro de mim, o leve som do bater ritmado de um coração reconfortante. Eu entendi o que era; a fênix estava permitindo-me ouvir o coração do elfo.

– Ele não está morto! – Soltei as palavras em um sussurro para os outros elfos. – Se me permitirem, eu posso ajuda-lo. – Dei um passo hesitante para frente e um deles se levantou em posição de defesa. – Eu só quero ajudar. – Garanti. – Eu posso fazê-lo acordar novamente.

Alguns se entreolharam rapidamente, um deles então tocou sutilmente o que tinha levantado e fez um delicado movimento de assentimento. O outro demorou um momento onde estava e por fim virou para o lado, me olhando nos olhos. Era intimidador, ainda assim, segui em frente. Quando me aproximei do elfo inconsciente, agachei-me, resguardando o machado de lado e ouvi o bater fraco de seu coração em minha mente. Fechei os olhos e deixei que a fênix me guiasse.

Juntei as mãos em concha e então soprei suavemente dentro, quando abri os olhos e soltei as mãos, em seu interior havia um pó dourado que girava continuamente como um DNA e brilhava como pequenos fragmentos de ouro. Abaixei a mão e virei para baixo, penetrando o pó no peito do elfo deitado. No mesmo instante pude ouvir um batimento forte de seu coração, em seguida outra batida mais forte. Em seus lábios entreabertos ele sugou uma lufada de ar. Os outros elfos ao redor arfaram quase imperceptivelmente. Respirei aliviada e me levantei, virando-me rapidamente para voltar à luta.

– Ele acordará em breve. – Falei enquanto caminhava. Alguém segurou meu pulso, os dedos eram delicados e de pele sedosa. Virei-me parcialmente e encarei a face de uma elfa de cabelos brancos que se curvou levemente diante de mim e agradeceu na língua antiga. Eu fiquei sem jeito com tal gesto, só soube expressar meio sorriso e murmurar um “não foi nada”. Dei um passo adiante para retornar, mas parei abruptamente e me voltei para eles novamente. – Procurem sair daqui o mais rápido possível e evacuar as outras pessoas, esse lugar não vai resistir por muito tempo.

Quando eu estava voltando para o centro do galpão, Alrish virou-se rapidamente para mim, ele estava esperando em pé no meio do aposento, bem onde tinha a grande abertura no teto e caía a chuva livremente.

– Finalmente você apareceu, pensei que tivesse fugido. – ele escarniou.

Eu não me importei com sua provocação, eu estava ficando esgotada. O veneno em meu sangue traçava seu caminho para minha morte, eu não tinha mais forças para perder com provocações.

– Ei Alrish. – Me dirigi a ele, ainda distante. – O que você acha que é de Mobilion? O que você acha que ele tem por você? Afeto? Acredita mesmo que ele se preocuparia se você morresse nesse duelo comigo?

– Ele me deu poder, ele me respeita e me valoriza, coisa que ninguém nunca fez comigo! Você também conheceria isso se escolhesse servi-lo. – Ele falou vorazmente.

– Ah, não seja tolo. Mobilion não se preocupa com ninguém além dele mesmo. – Eu o encarava de longe. – Acorde Alrish! Mobilion não tem o mínimo de consideração por você. Não se engane achando que ele se preocupa. Ele nem se importa. Se você morresse agora, o máximo que ele pensaria é que perdeu um soldado fraco. Dê valor a si próprio Alrish, você tem escolha, você pode ser livre se quiser!

– Não venha com essa pra cima de mim. Eu NÃO quero perder tudo que tenho. Não pense que você pode me manipular, vadia, eu sei qual lado quero servir, não tente me puxar para seu buraco de coelho.

– Minha intenção não é fazer você mudar de lado Alrish, eu só quero que você enxergue que pode ser livre. Não precisa estar de lado algum, mas você devia dar mais importância a si e não ao poder que Mobilion despertou em você. Não se deixe dominar pela lavagem cerebral que ele te fez.

– Você não vai conseguir me manipular, desista!- ele cuspiu no chão de modo arrogante.

– Não, não tenho por que fazer isso, você já está sendo manipulado por Mobilion, só não percebeu ainda. Eu tenho pena de você Alrish, pena que você tenha escolhido ser tão cego para verdade.

– Cale a boca e lute! – Ele girou a espada na mão e lançou um raio ligeiro de energia na minha direção. Meus reflexos estavam lentos e eu não consegui desviar, dessa vez fui lançada sem piedade contra uma coluna do galpão. A forma de concreto rachou e despedaçou aonde houve o impacto. O ar escapou de meus pulmões e cai no chão, mole feito uma boneca de pano. Ouvi à distância os passos pesados de Alrish caminhando na minha direção. Meu peito doía, e eu tinha a forte sensação de que meu coração estava sendo dilacerado de dentro pra fora. Ao me levantar a visão falhou e tudo ficou preto por um instante aterrorizante, quando voltou, Alrish estava a poucos metros de distância.

– Oh, você ainda está viva? – Ele gozou. – Pensei que já estivesse acabada. Onde está todo seu poder, oh poderosa fênix? Venha me pulverizar se puder.

– Eu tentei evitar isso. – Sussurrei entre um arfar e outro. - Mas se é essa a sua escolha, então que seja! – Comecei a juntar energia na mão direita. Uma bola de luz totalmente branca começou a crescer e intensificar enquanto eu a alimentava com toda minha energia. O veneno em meu coração traçava seu caminho, rasgando e estourando as veias dolosamente.

Dei tudo de mim naquele globo de energia, aquele seria meu último ataque com certeza, com aquilo, nem mesmo o poder da fênix poderia reparar os danos. Eu não viveria após isso. O que significa que as esperanças de Mobilion de me ter como sua servente iriam falhar. Mas eu causaria danos antes de meu último ato. Uma leve tontura me tomou, mas continuei a alimentar a bola de energia. Só mais um pouco... Isso, agora! Andando devagar e então apertando o passo, eu corri para a direção de Alrish, ele continuou onde estava preparado para bloquear. Quando me aproximei o bastante, dei um salto e lancei a bola.

A imagem pareceu paralisar por alguns instantes. Eu empurrava a energia com força, enquanto Alrish tentava bloquear, mas sua barreira estava rachando, sua defesa não era mais tão forte. Com um último impulso meu, o escudo mágico quebrou e minha luz o tomou. Nesse instante meu coração deu um tranco. Uma grande explosão de luz dominou tudo quando meu ataque surtiu efeito, lançando-me longe. Eu não pude sentir claramente o que aconteceu, foi tudo muito rápido, mas fui lançada contra a parede e atravessada, pareceu que muito entulho voou junto comigo e então perdi a consciência.

Estava escuro... mas aos poucos fui tomada por uma sensação tranquila, como se meu corpo não pesasse mais, era gostoso e tranquilizante, nesse momento minha mente e corpo pareciam descansados. Notei algo estranho, passei a sentir como se eu estivesse deitada em um colchão d’água, era gostoso. Enquanto aos poucos fui tendo mais noção das sensações ao meu redor, passou a ficar mais claro. Bem distante eu pude ver uma luz suave se erguer a cima de mim. Quando percebi, eu estava afundando em uma água cristalina. Á distância eu via a luz oscilar. De repente me dei conta de toda a água ao meu redor e senti urgência em respirar, eu tinha que encher meus pulmões de ar, mas a luz estava tão distante.

Comecei a me sentir ansiosa, eu queria sair dali logo, meu peito doía com a vontade de respirar. Meus braços se agitavam em agonia, nadei para cima, fui o mais rápido que pude, no entanto eu parecia não sair do lugar. – Não! Eu quero sair. Preciso submergir. – Eu pensava agitada. Em minha ânsia de alcançar o alto, só me confundi ainda mais em meio aos movimentos apressados que formavam bolhas ao meu redor. No entanto a luz parecia mais próxima agora, eu podia alcança-la, eu só precisaria estender as mãos. Então estendi, com todo meu ardor, eu estiquei para a luz que eu via... e então eu submergi.

Quando abri os olhos, senti pingos gelados de chuva em meu rosto. A chuva caía forte e me ensopava cada vez mais, gelando meus ossos e amortecendo minha pele. Tentei me mexer, mas meu corpo não respondia, parecia morto, como se não fizesse parte de mim. Eu incrivelmente ainda sentia o traçado que o veneno fazia em meu coração, era doloroso. – Por que eu ainda estou viva? Droga, nem morrer eu consigo!

Tentei me mover de novo, dessa vez houve certa reação do meu corpo. Movimentei a perna direita dobrando e estendendo, uma forma sutil de tentar me distrair daquela dor terrível em meu peito. Quando tentei mover a perna esquerda, não consegui, parecia totalmente amortecida. Fiz um pequeno movimento de cabeça para tentar ver se tinha alguma coisa em cima dela, mas minha cabeça latejou e girou violentamente, ela parecia pesada demais para que eu a levantasse, então decidi ficar quieta.

Meu coração doía cada vez mais, ou eu que já não estava mais suportando aquela dor intensiva. – Por que eu não morro de uma vez? – Eu arranhava as unhas na terra molhada, sentindo como se meu corpo já não suportasse mais viver, mas algo dentro de mim ainda lutava pela vida. – Por que? Eu não tenho medo da morte, então por que essa não chega de uma vez? Por que tem que ser tão doloroso? – Rangi os dentes de tensão. – Só quero que isso acabe logo... – Minha mente vagou debilmente entre a realidade e a ilusão. Por oras eu estava afundando naquela água estranhamente tranquilizadora, mas de repente eu entreabria os olhos e via a chuva pesada, me empurrando. Ela parecia extremamente pesada, como se estivesse me enterrando viva junto com todos aqueles destroços ao meu redor.

Eu já não sabia mais o que era real, meus sentidos estavam confusos, mas em determinado momento em que eu estava afundando novamente no mar cristalino, escutei algo que me fez abrir os olhos. Parecia um grito. Em seguida uma pessoa surgiu na minha frente, ela tinha cabelos longos e brancos. O rosto me pareceu familiar, mas eu não conseguia raciocinar direito, nem lembrar quem era ou onde eu já tinha visto, quando tentava, no instante seguinte eu estava vagando novamente sem notar. Era trabalhoso demais pensar. Outros rostos surgiram na minha visão, seus lábios se mexiam, mas eu não entendia nada do que diziam. Por mais que eu tentasse, minha mente voltava a mergulhar no mar e vez ou outra retornava ao cenário da chuva.

Eu estava confusa e aquela dor no peito não passava, estava me sufocando. Comecei a me sentir nervosa de novo por não estar tendo controle sobre eu mesma. Eu mexia a perna e as mãos ansiosamente. Expressões sérias me encaravam, eu queria saber ao menos o que estava acontecendo, eu queria uma resposta, eu não estava mais com paciência para isso tudo. – Céus, faça isso passar logo, por misericórdia! – Implorei com todas as minhas forças e voltei a mergulhar nas águas profundas. Não sei quanto tempo passei nessa escuridão, mas em algum momento uma sensação quente e gostosa começou a me envolver, uma voz suave e profundamente tranquilizadora se pronunciou.

– Lena... Milena... escute-me. – Ela me envolvia e me dava paz, era como estar no ventre da minha mãe novamente, caloroso e cheio de amor. - Você precisa tomar uma decisão. – Ela disse delicadamente. – Você deseja viver ou morrer? – Esperei ela continuar sua explicação. – Eu sei suas razões para desistir da vida, mas se você desejar, eu posso salva-la. – Ela tocou meu rosto e eu pude vê-la.

Tão bela e majestosa, seus olhos de um castanho amarelado, mas extremamente vivos, pareciam mapas, me convidando a descobrir os mistérios de sua alma. Seus cabelos em chamas encaracolavam-se a cada doce movimento dela. Ela estava nua, mas ao mesmo tempo seu corpo parecia completamente vestido, era simplesmente normal. Como se não significasse nada, ela vestir algo ou não. Seus cachos eram tão longos que cobriam todo seu corpo. Em meio à escuridão só havia ela e eu. – Se você morrer, eu morrerei com você, mas essa não é uma decisão minha, a escolha é sua. Você decide dar uma chance ao seu futuro, ou voltar para os braços daquele que você sente tanta falta e tortura teu coração com sua ausência. Eu a apoiarei seja qual for a sua escolha.

Eu tentei pensar sobre minhas possibilidades. Por um lado eu não via a hora de me livrar do fardo de meu corpo pesado de carregar. Eu desejei todo esse tempo morrer para simplesmente me livrar do peso de carapaça que eu carregava em minhas costas. Mas agora que eu pensava no assunto tinha alguma coisa que ainda me prendia, que me fazia querer viver, fazia meu coração bater mais forte. Eu não desejava ficar por vingança. Mobilion não era nada pra mim, no máximo ele só se ferraria por não ter mais o “tesouro” precioso dele e pra mim estaria tudo bem. Não, realmente esse não era o motivo que me mantinha presa à vida, mas o que era então?

– Seria por essa pessoa? – A dama de cabelos dourados me mostrou a face de uma pessoa que apesar de conhecer a pouco tempo, me fazia me sentir estranhamente bem. Meu coração pareceu mais forte naquele instante e eu sorri sem pensar.

– Sim! – eu simplesmente respondi.

– Está bem! – ela sorriu também. – Por essa pessoa você deseja viver?

– Sim! – acenei com a cabeça.

– Então segure minha mão. – ela estendeu a mão delicada para mim e eu a peguei. – daqui pra frente nós duas estaremos mais ligadas. Você terá um longo sono, mas quando acordar, não se esqueça de que quando você quiser falar comigo novamente, basta me chamar que eu estarei aqui.

– Como posso chama-la?

– Me chame de Eruda! Chame do fundo de seu coração e eu irei atendê-la. Eu sou parte de você, assim como você o é de mim, Milena. Eu sou a fênix que habita em ti. – Ela então me acolheu em seus braços e uma sonolência aconchegante me tomou por completo me fazendo mergulhar no mais doce dos sonhos.


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Notas finais do capítulo

Ahhhh fazia tempo que eu estava querendo escrever esse capítulo, mas tava enrolando, também pudera, tá enorme haha

Espero que gostem, eu viajei bastante eu sei, mas eu achei que ficou legal.

Mas eu quero saber a opinião dos leitores, comentem plis ^^

Ps: Eu sei que o nome Alrish pode lembrar o personagem Albriech do Ciclo da Herança, mas um personagem não tem nada haver com o outro, apesar de eu ter me espelhado no nome de um para criar o do outro, mas Alrish é original meu ^^