Eldunari escrita por Valkiria


Capítulo 6
Confronto!




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Quando invadimos a cidade, não tive tempo de ver nada claramente, apenas avancei com o machado seguro firmemente nas mãos atacando quem estivesse à frente; Após meia hora, o amontoado de gente já tinha se dispersado um pouco e pude me movimentar mais livremente. Rebatendo o ataque de um guarda a minha frente, este avançou até mim com a espada em riste, pronto para atacar meu ombro, quando virei o machado bem a tempo, bloqueando seu ataque. Empurrei com força sua espada e girei com agilidade sobre o eixo, me agachando e fincando meu machado em seu quadril, puxei-o rapidamente aprofundando ainda mais o corte no homem, este caiu do meu lado, morto.

Quando me levantei, vi de canto um movimento furtivo, virei-me para olhar diretamente e vi Caleb saindo do meio da multidão e correndo discretamente atrás de um vulto de capuz que se infiltrou rapidamente em um beco escuro. Aquilo despertou minha curiosidade de imediato.

Caleb era tão misterioso, pelo pouco que eu o conhecia não podia julgar, mas não pude deixar de desconfiar de sua lealdade para com os Varden. Decidi segui-lo, também saindo do meio das pessoas e resguardando uma distância segura para não ser notada. Após algum tempo seguindo-o por várias ruas, virei a esquina à direita e parei abruptamente, retornando para trás da parede espiando pelo canto. Adiante se encontrava um depósito de ferragens ao que parecia. Procurei Caleb e logo encontrei-o agachado atrás de várias caixas de papelão, escondido, seguindo com os olhos o vulto, provavelmente, pois este eu já não via mais. Caleb levantou e avançou. Corri agachada procurando não fazer ruído com os sapatos de encontro com os paralelepípedos.

Com pressa para não perdê-lo de vista nem parei para verificar se tinha alguém me vendo, continuando a ziguezaguear pelas caixas. Quando virei para outro acúmulo de caixas então trombando com Caleb, meu coração deu um pulo de susto, o ar me escapou e ele pôs a mão em minha boca me impedindo de emitir qualquer ruído – Shhh, fique calada! – ele me encarava com o cenho franzido, prendendo meus olhos nos seus. Após alguns instantes ele decidiu se pronunciar – Vai ficar quieta? – balancei a cabeça devagar respondendo que sim, então ele soltou-me. Fiquei alguns segundos paralisada, em dúvida sobre o que ele faria. Por fim ele falou.

– Achou mesmo que eu não a escutei me seguindo? Acha que sou tão burro de não tê-la notado? – ele bufou, depois continuou falando consigo – Mais essa! Uma “criança” para me atrapalhar!

Cerrei os dentes reprimido o impulso de insultá-lo por isso, quem ele achava que era? O tiozinho de barba e cabelo branco criador do universo?

Levantei e estava prestes a dar um passo à diante, quando sua mão segurou firme meu braço me impedido de seguir adiante.

– O que você está fazendo? Solte-me! – Elevei a voz, indignada.

– Calada! – ele me puxou rudemente para seu lado e continuou em sussurros – Quer que nos ouçam? Você me faria um grande favor se voltasse pelo caminho que veio e me deixasse em paz!

Encarei-o cerrando os olhos, eu estava ficando verdadeiramente com rancor dele. Respirei fundo, decidida a ignorar suas provocações.

– Por que você esta seguindo aquela pessoa, afinal?– Falei apontando com a cabeça para o depósito.

– Não é da sua conta! Apenas suma da minha frente!

– Está bem! – Levantei-me com um movimento repentino, soltando-me de seu aperto. – Se você não vai me contar o que está fazendo eu vou descobrir por mim mesma! – E disparei para o interior do depósito antes que ele pudesse me deter novamente.

Entrei furtivamente no galpão escuro, me escondendo atrás de uma grande fileira de caixas que se estendia pela lateral esquerda do local até onde a vista alcançava. Avancei cuidadosamente até meus olhos se adaptarem ao ambiente e senti a presença de Caleb quando este também entrou no galpão, seguindo atrás de mim.

Mas nesse momento eu não estava focada nele, minha atenção estava no vulto de capuz que caminhava vagarosamente em direção aos fundos do grande depósito, este então se curvou em reverência a algo ou alguém que eu não podia ver de onde eu estava. O vulto não baixou o capuz, mas falava aos sussurros com, ao que pareceu, uma pessoa diante dele. Tentei escutar algo, mas tudo o que ouvi foi o sibilar singelo das palavras saindo da boca do misterioso vulto.

Notei um movimento ao meu lado e dei de cara com Caleb. No momento quem estava querendo que ele fosse embora agora, era eu, mas este não disse nada quando parou ao meu lado, pois também estava focado na pessoa adiante. Ficamos alguns instantes assim, escondidos, apenas observando e tentando escutar algo do que o vulto falava, quando levantei o braço para aliviar uma comichão na mão e esbarrei em uma das caixas equilibrada perigosamente em um monte mal organizado. Esta caiu desequilibrando as outras, o que desencadeou o desabamento de tudo, revelando a mim e Caleb por traz das caixas.

Caleb me encarou rapidamente com um olhar de fúria de gelar a espinha, me encolhi com um sorriso amarelo estampado na cara. Quando voltei o olhar para frente o cenário era outro. A pessoa de capuz tinha recuado para ficar ao lado do que eu pude ver agora – sem a visão bloqueada pelas caixas – ser uma velha senhora, curva, coberta por um xale marrom de um tecido aparentemente áspero, sentada em uma cadeira tão velha quanto ela, porém cheia de adornos, entalhada em caprichosos desenhos místicos. Dos obscuros do galpão saiam várias moças com um visual punk, roupas de tons escuros, bota cano alto, os cabelos repicados e o mais variado armamento.

Vendo que estávamos sem saída, Caleb e eu descemos de trás das caixas restantes e andamos para o meio do galpão. Ele empunhou sua enorme espada e eu girei o cabo do machado em minhas mãos, me preparando para a luta que seguiria. De repente algo pequeno e fino disparou em minha direção, me desviei a tempo e meus olhos vasculharam onde tinha caído o objeto estranho. Quando focalizei o que era, engoli em seco ao notar que era um dardo. Desviei a visão para a direção de onde tinha vindo. Algumas das moças estavam com uma espécie de zarabatana na boca, prontas para disparar em nossa direção, arregalei os olhos ao pensar no que poderia conter aquele dardo.

Em um movimento rápido, cada uma das garotas disparou em nossa direção para uma luta direta, notei que algumas ainda ficaram meio distantes para disparar os dardos. Éramos dois contra mais de uma dúzia de jovens lutadoras, estávamos em desvantagem notória, aquilo não era nada bom!

Uma delas veio em minha direção manuseando um nunchaku. Seus movimentos eram rápidos, quase não pude acompanhar, senti uma das pontas da arma passar silvando bem próximo a minha orelha. Levantei o machado na minha frente a tempo de rebater outro ataque seu. O barulho do metal se chocando me sobressaltou, surpreendendo-me tal a velocidade que o segundo ataque foi feito. Me senti andando em câmera lenta, por mais que eu tentasse ganhar velocidade, meus movimentos estavam muito atrasados para os da minha adversária. Essas garotas não eram simples pessoas sem treinamento algum enviadas para serem facilmente descartadas, elas eram lutadoras natas.

Uma segunda lutadora veio à minha direção e dei um salto bem a tempo da lâmina afiada de uma naginata passar rasgando o ar debaixo de meus pés, por pouco não atingindo minhas pernas. Só tive tempo de olhar pra trás e ver Caleb lutando tão desnorteado quanto eu, tentando tenazmente acompanhar o ritmo da luta. Quase que imperceptivelmente, vi um objeto pequeno atravessar o ar e algo fino penetrou minha pele, no ombro direito. Droga! Era um dardo. Que efeito aquela porcaria tinha, afinal? Não tive mais tempo para pensar sobre isso, quando senti o músculo do braço direito se rasgar sobre a lâmina de uma kusarigama, nesse momento uma terceira jovem se juntava para me cercar. Trinquei os dentes ao sentir a dor e me agachei com dificuldade quando notei o brilho do metal passando novamente raspado sobre a minha cabeça.

Ouvi o som de um berro estrondoso vindo de alguns metros, parecia ser de Caleb. Tentei levantar o braço em outra tentativa vã de atacar a adversária em minha frente, mas o ombro formigava adormecido e o resto do braço estava sem forças para que eu pudesse segurar qualquer coisa. Um corte profundo se formava do pulso, de onde terminava o bracelete até o cotovelo na parte interna do braço. O dardo que tinha me atingido estava aos poucos adormecendo todo o corpo.

Estávamos acabados, logo seríamos aniquilados! Virei-me para o lado à procura de Caleb a tempo de vê-lo ser atingido por uma adaga que lhe perfurou a costela. Notei que havia um corte profundo em sua coxa esquerda também; com o último golpe ele caiu de joelhos sobre o chão, subjugado pela força inimiga. Por mais que eu não fosse muito com a cara do ser, admito que me enfureceu ver aquela cena.

Levantei-me decidida a não perder aquela luta, porém nesse momento um estrondo forte veio do teto do galpão, não tive tempo de pensar em nada, apenas coloquei o braço bom diante da face para proteger-me dos destroços que caíam de cima. O som alto de asas fortes batendo ribombava pelo aposento e o vento poderoso prendia à todos no chão.

Olhei para cima com os olhos cerrados tentando ver algo e pude distinguir Thorn e Saphira e seus respectivos cavaleiros montados. Recuei tentando encontrar algo para usar como escudo, pois o vento forte das batidas das asas dos dragões faziam muitas caixas voar loucamente para todos os lados. Em meio a este redemoinho de bagunça, notei vagamente as moças com as quais lutamos se dispersando de volta para os obscuros do galpão, se refugiando da ventania. Vi Caleb caído bem perto dali e corri em sua direção, apesar de sentir-me um pouco anestesiada devido ao dardo eu ainda tinha sentido sobre meu corpo. Ao chegar até Caleb, me agachei ao seu lado e virei seu corpo, agora eu podia ver a profundidade do corte que a adaga fez em sua costela.

– Caleb! Droga, me responda! – gritei para ele, tentando chama-lo para a consciência. – Vamos lá, não me deixe logo agora, seu rabugento! – sacudi seus ombros, ele se mexeu um pouco. Senti um baque em minhas costas quando a lasca de alguma caixa de madeira me atingiu e me segurei para não cair em cima dele. – Droga! Droga! Não dá para ficar aqui! – puxei o braço de Caleb sobre meu pescoço e o incitei a levantar. Com esforço e bem atordoado, ele se levantou mancando por causa da coxa machucada e eu o levei comigo o mais rápido possível para perto da parede atrás de uma coluna do galpão. Lá eu o deitei e me apressei em fechar seus ferimentos com um feitiço.

Com esforço me arrastei para encostar-me à parede. Caleb ficaria bem, ele perdeu sangue, mas se recuperaria rápido com os ferimentos já fechados.

Meus pensamentos estavam começando a ficar bagunçados, meu corpo estava mole, eu sabia que em pouco tempo não conseguiria conjurar mais nenhum feitiço no ritmo que as coisas estavam tomando. Forçando a mente a trabalhar lancei um feitiço para regenerar a pele do meu braço, finalmente estancando o sangramento. Eu pretendia lançar outro feitiço para tirar o veneno que corria por minhas veias, mas a essa ora, meus pensamentos estavam tão bagunçados que eu não sabia mais nem o que tinha que fazer. Recostada na parede, fechei os olhos e deixei que qualquer que fosse o destino que me aguardava, seguisse em frente, exausta demais pra lutar contra. Ouvi o som retumbante dos dragões chegando próximo do chão, abri os olhos e por traz da coluna, vi os dragões pousando no chão do grande depósito, esmagando várias caixas com seus pesos enormes. Os cavaleiros desceram de seus dragões para uma luta corpo a corpo, suas espadas se chocaram e em um momento ou outro, luzes eram lançadas de um lado ao outro quando um deles lançava algum feitiço.

Lá estava eu me reencontrando com Murtagh e Thorn novamente. Eu estava feliz de vê-lo bem, apesar de estarmos de lados opostos, isso não me impediu de torcer por ele de certa forma, enquanto o via lutando com Eragon... Na verdade, ao pensar sobre isso, eu não queria que nenhum deles se ferisse. Era complexo isso, mas eu não podia simplesmente torcer contra o Cavaleiro dos Varden, pois eu estava do lado deles. Mas eu também não desejava o mal de Murtagh.

Notei de repente que eu não me sentia mais dormente, pelo contrário, senti minhas forças retornando e minha cabeça voltava a funcionar de novo. Há! O dardo apenas anestesiava por um tempo limitado, obviamente, em uma batalha, tempo suficiente para que as garotas eliminassem seu inimigo. Mas por algum motivo, talvez pura sorte, escapei desse destino.

Levantei devagar e me colei à pilastra na minha frente para ver melhor tudo o que acontecia. Reparei que as moças com que eu e Caleb lutamos a poucos instantes, tinham voltado à ação, desta vez contra os elfos. Eu nem tinha notado que eles tinham entrado. Era o mesmo grupo que sempre estava junto com Eragon.

Ouvi um gemido baixo, próximo a mim e virei-me, Caleb estava tentando se levantar.

– Imbecil! – xinguei-o aos sussurros. – você não está pensando em voltar a lutar nessas condições não é? Caleb, você perdeu muito sangue, não devia se esforçar!

– Não tente me dizer o que eu devo fazer pirralha! – ele tentou me tirar de seu caminho, mas empaquei no lugar.

– Podia ser ao menos um pouco mais agradecido, já que se não fosse por mim, você estaria morto agora, mas eu não espero esse tipo de atitude vinda de alguém como você. – respirei fundo. – Quer saber? Se você quer tanto se matar, vá em frente! É cada um por si agora! – bufei irritada e dei de ombros, andando próximo à parede, indo para a outra extremidade do galpão. Procurei pelo cara de capuz que estava perto da velha, pouco antes de toda aquela bagunça começar.

Esgueirando-me por traz dos entulhos, achei a velha e o misterioso encapuzado ainda no mesmo lugar. – Como? Com tudo o que estava acontecendo, eles estavam intactos, no mesmo lugar, como se nada os estivesse afetando. – atordoada com isso, comecei a me perguntar qual o nível de poder aquela velha possuía, ou até mesmo que tipo de inimigo aquela pessoa perto dela representava?

De repente voltei minha atenção para o duelo de Murtagh e Eragon. O Cavaleiro Varden levantou a espada para atingir Murtagh, quando meu peito bateu forte e as palavras saíram sem que eu notasse.

– NÃO!!! – corri para frente de Murtagh e Eragon parou abruptamente com a espada no ar. – Parem! Pelo amor de Deus, até onde pretendem continuar? Até matarem um ao outro e se arrependerem pelo resto da vida? Um dia vocês lutaram juntos, pela mesma causa, pela liberdade, lado a lado. Um dia vocês foram companheiros, amigos e se importaram com a vida do outro, o que faz vocês lutarem entre si agora? Independente de que lados estão agora, vocês dois e somente vocês podem parar com isso. Somente vocês podem escolher ir pra frente e tirar a vida do outro ou não. Vocês podem parar com isso aqui e agora se desejarem realmente. – eu gesticulava com os braços para o alto, falando tudo o que vinha a mente. Ouvi um grunhido vindo de Thorn ao reconhecer minha voz e virar-se para mim, se desfazendo de seu duelo com Saphira. Apenas o som do confronto dos elfos continuou ao fundo. – Por Deus! Não é por que estão em lados opostos que vocês tem que lutar entre si! – virei-me para Murtagh – Cada um pode escolher seu próprio destino, as pessoas têm escolhas, desistam dessa carnificina, antes que seja tarde demais!

Murtagh me encarava com o cenho franzido como se, se perguntasse quem era essa maluca que entrou no meio de sua luta e começou a dizer essas coisas? Ele virou o rosto, com o olhar baixo e murmurou. – Minhas escolhas foram roubadas de mim!

– Não! – falei enfaticamente, em desespero, me aproximando dele encarando-o nos olhos. – Somente você pode mandar no seu destino e ninguém pode te tirar esse direito a menos que você permita. Você pode fazer sua escolha Murtagh! Você vai viver o resto da sua vida com medo de Galbatorix? Quanto mais você alimenta o medo, mais forte ele fica.

Novamente Murtagh me olhou atordoado, colocou as mãos em meus braços e me afastou dele. – Por que está dizendo isso? – ele falou exasperado de repente. – Quem é você para dizer isso? Você não tem nada haver com minha vida ou minhas decisões. Saia daqui antes que eu mesmo decida tirar sua vida, moça!

Encarei-o por alguns instantes e ignorando seu aviso, disse. – Você pode se libertar dele se desejar! Você pode!

Antes que eu pudesse falar algo mais ou qualquer um tivesse alguma reação, o armazém foi invadido novamente. Quando virei-me para as portas, vi Fredric com sua enorme espada empunhada e atrás dele vinha lady Nasuada acompanhada de Jormundur e um grupo de soldados logo atrás, entre esses, achei Dimitri. Isso aqui virou festa agora?

De repente Nasuada deu o comando e todos avançaram. Um forte barulho de espadas se chocando tomou todo o armazém. Vi Dimitri passando logo em frente e dei um passo à diante no intuito de ir atrás dele, mas parei abruptamente e voltei-me para Murtagh. – para ele, eu podia ser uma desconhecida, mas para mim, ele já não era mais um estranho. No tempo em que estive naquela caverna, cuidando de seus ferimentos, eu pude conhecer um pouco dele, foi mínimo, mas ainda assim, foi significativo para mim. Nas poucas conversas com Thorn eu sentia o sofrimento transparecer em suas palavras. A dor de ter sua liberdade tolhida.

Eu queria ajudar e agora que nossos destinos se cruzaram novamente, eu faria o que estivesse ao meu alcance para ajuda-los! – Obedecendo a um impulso de meu corpo, sem me importar com o que Murtagh pensasse ou qualquer um achasse ao ver aquilo, eu apenas botei um pé na frente do outro andando até ele e o abracei forte. Senti seu corpo se retesar ao meu toque, como se não estivesse acostumado com tal proximidade com ninguém, como se o toque humano fosse algo que há muito tempo ele não conhecia, então eu abracei mais forte. Não importava como isso pudesse ajudar ele, mas eu queria que meus sentimentos chegassem a ele de alguma forma, eu queria mudar seu destino e lhe dar uma chance de ser livre, mesmo com um simples abraço. Então soltei-o, virei-me e corri, trocando um último olhar com ele antes de me misturar aos outros.

Quando encontrei Dimitri, me juntei a ele na luta contra as garotas habilidosas.

– Tome cuidado com os dardos que elas lançam! – gritei para Dimitri para me fazer escutar em meio ao som da batalha. Ele assentiu, olhando para longe e notando as garotas mais distantes que seguravam as zarabatanas. – Como vocês nos acharam aqui? – eu perguntei.

– Eu te segui! – olhei para ele surpresa e ele soltou um sorriso faceiro. – permaneci escondido fora do armazém, enquanto você e Caleb estavam atrás das caixas. Porém quando tudo caiu e todas essas garotas surgiram, eu pensei em me juntar a vocês, mas achei melhor chamar ajuda. Quando eu estava correndo para procurar mais gente, cruzei com lady Nasuada que tinha visto onde os dois Cavaleiros tinham acabado de cair. – ele apontou o polegar para a direção onde Murtagh e Eragon estavam. – Ela já estava vindo para cá. Chamei mais alguns soldados para aumentar o grupo e o resto você já sabe. – Dimitri abriu ainda mais o sorriso, como quem estava satisfeito com seu próprio desempenho.

Retribui o sorriso e o afaguei na cabeça, ajeitando seu cabelo molhado de suor que grudava na testa, um pequeno gesto para mostra-lo que eu tinha gostado do que ele tinha feito. Depois virei-me e continuei lutando. Agora estávamos em maior número, mas não necessariamente em vantagem, tinham muitas lutadoras e elas possuíam destreza inigualável. Olhei ao redor. Eu não conseguia mais ver onde estavam Murtagh e Eragon. no entanto vi Caleb em meio ao povo e nesse momento notei também Fredric, ele lutava com uma vitalidade que me surpreendia.

Concentrei-me na luta e desta vez consegui me sobrepujar, embora possuíssem velocidade maior, essas mulheres não podiam ser invencíveis. Após muito esforço em desviar de seus ataques, finalmente consegui encontrar uma brecha para atacar, puxando rapidamente minha adaga e enfiando no peito da que estava na minha frente. Seu rosto contorceu de dor, mas ela ainda levantou o braço na tentativa de me atacar. Eu imediatamente retirei a adaga de seu peito e rasguei sua jugular, seu corpo caiu inanimado aos meus pés.

De repente parei para pensar na velha sentada na cadeira. A velha devia ser a feiticeira do grupo, ela quem devia estar fornecendo algum poder sobrenatural às guerreiras. Mas ela era tão poderosa a ponto de nem ao menos se preocupar em se esconder? Porque deixar tão evidente? Tinha algo mais nessa história, as garotas eram poderosas certamente, mas havia alguma armadilha por trás disso. Algo encoberto. Aquela pessoa do lado da velha também chamava a atenção. Esse mistério estava me corroendo e eu decidi ir atrás para descobrir o que era.

Sai de perto de Dimitri confiando que ele se sairia bem na luta, já que não estava sozinho e procurei onde estava a feiticeira. Não foi difícil, uma vez que o ponto onde eles estavam era um pouco elevado comparado ao resto do galpão, quase como se a velha ficasse ali para assistir um espetáculo do alto do seu trono. Em meio ao povo, fui me aproximando e notei pela primeira vez que um sussurro constante saia dos lábios da velha, quase que imperceptível.

Se eu a atacasse à distância com magia, não funcionaria, uma vez que ela devia estar se protegendo contra isso apropriadamente, então avancei correndo pra frente da cadeira onde a velha continuava com seu murmúrio constante, inabalável. Tentei entender o que era, mas apenas consegui captar palavras soltas da língua antiga e mesmo assim pareciam diferentes, saídas da boca da velha lembravam silvos de serpente.

Com o machado firmemente seguro na mão direita, dei o último passo em sua direção. Então a pessoa de capuz saiu do lado da cadeira para prostrar-se diante dela guardando sua defesa. Muito bem, eu já imaginava isso. Agora vamos ver do que você é capaz! Pensei desafiadora, puxando o machado e dando outro passo adiante o incitando a lutar.

Seu movimento foi tão rápido que mal pude captar. A mão habilmente puxou de dentro da penumbra da capa, sua espada e rebateu meu ataque com destreza. O brilho prateado do metal ofuscando do alto enquanto sua mão permanecia estendida segurando a espada em um movimento congelado. Cambaleei para trás com a força do rebate, quase me desequilibrando, mas me recompus antes que caísse da plataforma.

Surpresa endireitei-me e parti para outro ataque, desta vez mais esperta, desviei à tempo de seus golpes e desferia outros, sem dar-lhe muito tempo para reagir. Ao fundo eu podia ouvir o som do murmúrio sibilante da velha. Aquilo me perturbava. Agora que eu podia ouvir mais de perto, ele parecia penetrar em minha mente e confundir meus pensamentos. Mal notei quando a espada do meu oponente estava cortando o ar em minha direção, naquele momento eu não soube o que fazer. Algo no fundo de minha mente dizia para agir, defender, mas eu não reagia enquanto via a lâmina chegar cada vez mais perto de mim, até que algo bloqueou meu campo de visão e ouvi o som do choque de duas lâminas.

O som me despertou, quando olhei para cima, reconheci os cabelos negros de Caleb pousando sobre os ombros.

– Corra! – sua voz grave se dirigiu a mim.

Meio atordoada, dei um passo pra trás sem saber ao certo o que fazer. Eu não podia simplesmente dar às costas a ele e deixá-lo sofrer as consequências por mim. Seria um ato de extrema covardia! Olhei por sobre ele, para ver o que estava acontecendo, mas desviei minha atenção para a velha que agora fazia sinais estranhos com as mãos, franzi o cenho e meu coração deu um pulo quando reconheci aqueles movimentos. Não... Não pode ser! Eu conhecia a única pessoa que fazia aquele feitiço! A pessoa que criou aquele feitiço!

Antes, porém que eu tomasse qualquer atitude, dois pares de mãos me puxou por cada braço para trás. Surpreendida tentei me libertar, empurrei uma das garotas com um chute de lado, em seguida virei-me para a outra e dei-lhe um soco no nariz desnorteando-a. Outras surgiram em seguida, mas eu consegui afastá-las por certo tempo até que eu estivesse tão cercada delas que não tinha mais nem como me mover. Empurraram-me com força para que eu me ajoelhasse no chão, ainda desnorteada não tive como combater. Virei para trás e vi duas garotas me segurando por trás fazendo um breve feitiço de algemas invisíveis, prendendo minhas mãos para trás. O que está acontecendo? Voltei a olhar a velha de longe pronunciando as palavras sussurrantes. Minha cabeça doía. Vi a velha se levantar e se dirigir a minha direção.

– Ora, ora Milena. Já faz um tempo que não nos vemos, aposto como temos muitos assuntos para colocar em dia! – a voz arranhada da velha zunia e ecoava em minha cabeça.

Olhei diretamente para ela, a visão turva, eu podia sentir o suor escorrendo pela minha testa.

– Você...! Por que não mostra sua verdadeira face... Mobilion!? – pronunciei o nome com os dentes rangentes.

Primeiro uma risadinha baixa começou até se transformar em uma gargalhada incontida, enquanto sua forma mudava. Sua pele começou a rachar e se soltar em pedaços. A velha aparentemente frágil abandonava seu disfarce para revelar um homem longilíneo de cabelos compridos, cinza claro e barba branca, seus olhos negros brilhavam com a satisfação da desgraça alheia.

Olhei para ele com ódio, a respiração acelerada. Tentei avançar sobre ele, mas fui contida pelas mãos que me seguravam pelos ombros firmemente. Ele se aproximou e agachou-se a minha frente com um sorriso cínico no rosto.

– Não está contente em ver seu querido mestre, minha cara? – ele estendeu a mão, roçando em minha bochecha. Virei o rosto para me afastar de seu toque, encarando o chão, evitando seu olhar - Que feio isso… - Mobilion mexia a cabeça de um lado pro outro negativamente e estalava a língua. Encarou-me fingindo estar magoado – pensei que estivesse com saudades de mim, querida.

Voltei o olhar para ele, colocando todo meu ódio somente no olhar, eu não daria a ele o gostinho de se divertir com minhas palavras acusatórias... não enquanto eu pudesse me segurar. Ele soltou um longo suspiro como quem estivesse decepcionado e se levantou.

– Entendo que você queira silenciar, mas é mesmo uma pena que você faça as coisas do jeito mais difícil. Ele virou-se para a pessoa encapuzada – Alrish – chamou.

Virei-me para olhar e a espada de Caleb fora abaixada e presa ao chão pela espada do guerreiro encapuzado. Caleb encarava-o de lado, paralisado, enquanto o homem levantava sua arma e obedecia ao chamado de Mobilion se ajoelhando diante deste.

– Sim, mestre. – as palavras foram pronunciadas quase em sussurro, a voz masculina saiu suave, porém penetrante. Ele retirou o capuz revelando os cabelos negros, em um leve tom azul índigo e compridos, perfeitamente lisos, caindo e cobrindo-lhe a face.

– Meu precioso aprendiz. – Mobilion inclinou-se lhe tocando a face e virou o olhar para mim. – Milena... venha! Junte-se a mim, junte-se ao império. Aqui você será reconhecida e valorizada assim como Alrish. Aqui o seu poder ganhará o verdadeiro merecimento que lhe cabe! – ele estendeu a mão para mim. – Basta você dizer “sim”.

– NUNCA! – gritei enfaticamente. – Não me juntarei a sua corja! Eu tenho brio, Mobilion. Dou valor a minha liberdade! Não venderei minha alma para você.

Senti uma pontada forte na cabeça e sabia que ele estava tentando entrar em minha mente, suas investidas eram como um punhal querendo perfurar minha barreira. Droga! Inclinei o corpo com dor, sentindo sua penetração. Não! Tentei evitar com todas as minhas forças, mas ele estava entrando. Nem mesmo minha raiva parecia suficiente para bloquear sua investida. Ele era ótimo em invadir mentes, eu era consciente disso e sabia que não tinha mais muito tempo, apenas um pouco mais e... Senti sua mente fétida ultrapassar a barreira e rasgar minha resistência invadindo meus pensamentos, coletando todas as informações que queria.

Notei Caleb a certa distância me olhar de lado, sua mão retesada no punho da espada, ele parecia preso no lugar de algum modo. Nesse momento um risinho escapou dos lábios de Mobilion quando ele achou provavelmente alguma lembrança que considerasse digna de nota, apenas para poder usar como ponto fraco posteriormente. Chega! Eu tenho que tirar essa peste de dentro de minha mente! Com uma nova onda de energia, tentei expulsá-lo, porém ele já estava muito bem fixo, não seria fácil impelir o sujeito pra fora de meus domínios mentais. Ele veio a minha direção novamente, encarando-me.

– Por que não mostra seu poder para todos, hein Milena? Revele sua verdadeira essência. Você pode ajuda-los sem precisar fazer nenhum esforço para isso. – ele indicou com a cabeça lady Nasuada e os poucos guardas ao seu redor que ainda resistiam às forças do inimigo, lutando bravamente. Eragon parecia entretido em uma discussão decisiva com Murtahg. Porém os Varden pareciam estar perdendo as forças, sendo subjugados aos poucos.

– Vai deixar que todos paguem as consequências por você? – ele me encarou com seus olhos de cobra. – Novamente?

Prendi a respiração por um momento quando ele disse isso, depois desviei o olhar e respondi sem muita ênfase nas palavras. – Não sou responsável pela vida dos outros!

– Há, é mesmo? – uma risada débil brotou em seus lábios - Que ótimo então, você não vai se importar se eu fizer pequenas experiências com alguns de seus amiguinhos novos.

Levantei o olhar e vi pura satisfação emanar do rosto de Mobilion. Não! Eu soube nesse instante, o que exatamente ele viu em minha mente que lhe chamou atenção e eu sabia que ele ia usar isso contra mim. O desgraçado não perdia tempo em arruinar a vida de qualquer pessoa que cruzasse o seu caminho. Aconteceu tão rápido, em instantes tudo foi arruinando. Bastou um olhar de Mobilion, ele virou para o lado e eu já sabia o que ele pretendia. Seguindo seu olhar, vi Fredric lutando pouco adiante de Lady Nasuada. Concentrado em sua luta, ele não pôde notar quando dois dardos foram lançados em sua direção. Foi tão cruel... tão injusto! Eu queria me levantar e lutar ao seu lado, queria tornar aquela luta um pouco mais justa pelo menos. Eu queria poder impedir que as coisas tomassem o rumo que tomaram. Uma dor massacrou meu coração quando eu pensei que tudo aquilo só estava acontecendo por minha culpa. Se eu não tivesse me apegado, nada disso estaria acontecendo. Porque? Porque todos que me cercam têm que ter esse destino? Por que todos a quem me apego, acabam morrendo? Eu sou uma desgraça para qualquer pessoa que se aproxime de mim, sou a própria morte, ceifando a vida de todos que passam pelo meu caminho.

Tudo que pude fazer foi ver Fredric ser morto de modo covarde e cruel, tudo por que... tudo por culpa minha! Fredric... sempre tão espontâneo, as vezes extravagante de mais, porém seu jeito cativante, tinha aquecido meu coração, eu o tinha como um pai. Isso era tão injusto! As lágrimas escorriam pelas minhas bochechas enquanto eu assistia impotente à sua morte. Aquilo me sufocava, me matava mais ainda por dentro Eu sentia meu coração sendo esmagado por uma mão enorme que o apertava cada vez mais forte, impedindo-o de bater. Eu precisava liberar isso de algum modo, antes que me sufocasse, eu não aguentava mais ver e não poder agir, de repente enchi o pulmão com toda força e gritei.

– PARAAAAA!!!!

Mobilion se deliciava com minha dor, eu sentia isso. Ele levantou a mão e colocou o dedo indicador na frente dos lábios, me pedindo silêncio. – Ainda não! – Seus olhos brilhavam quando ele disse isso e virou seu olhar para Dimitri ao longe. Arregalei os olhos desesperada. NÃO, NÃO... isso não pode estar acontecendo. Dimitri não, ele também não. Eu não permitirei, não deixarei que ele pague por um preço tão caro por minha causa. Eu prometi protege-lo, eu devo isso ao pai dele e eu nunca... nunca quebro uma promessa!

Vi quando Alrish a comando de Mobilion andou em direção de Dimi com a espada em punho. Abaixei a cabeça sombriamente, as lágrimas agora secavam em minha face. Eu não deixarei que nenhum mal aconteça à Dimitri... Eu não permitirei que tudo se repita! Não permitirei!

– Não permitirei que você faça mal a mais ninguém, seu desgraçado. Se você almeja tanto me possuir, então te darei... o meu melhor! Mas não meta mais ninguém no meio disso. – cada palavra saia recheada de ódio. Cada palavra sussurrada entre dentes... – Você quer poder? Eu de darei o poder que você tanto quer, mas vamos ver se você pode suportá-lo! Mas eu não deixarei que você machuque mais ninguém com a sua ambição! – meu corpo tremia de raiva, o ódio só aumentava cada vez mais, a cada palavra. – Eu não permitirei... Não permitirei!!!

Alrish se aproximava cada vez mais do jovem, e quando este levantou sua espada para atacar o corpo frágil e diminuto diante de si, eu me afundei em uma escuridão profunda e interminável.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi bem longo e é só o começo do que realmente vai acontecer de interessante! ;D

Aqui vai uma pequena descrições sobre algumas armas que eu citei no confronto com as lutadoras habilidosas (aliais eu sei que foi uma baita falta de imaginação colocar esse nome nelas, mas não tive outra ideia melhor -.-'):

Nunchaku consiste de dois bastões pequenos conectados em seus fins por uma corda ou corrente.

Naginata é uma lâmina montada em uma haste longa, se assemelha a uma alabarda européia, mas somente com uma lâmina curva e de um gume montada em sua extremidade.

Kusarigama é uma arma tradicional japonesa que consiste de uma kama (o equivalente japonês a uma foice) com uma longa corrente presa ao cabo e um peso de metal na outra extremidade da corrente.

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