Eldunari escrita por Valkiria


Capítulo 11
O Rastro do Sangue!


Notas iniciais do capítulo

Já que pediram mais capítulos, ai está xD



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A introdução desse capítulo é um pequeno trecho do final do capítulo “Revelação” visto pelo olhar de outros personagens.

De repente uma luz ofuscante inundou o depósito e tudo ao redor começou a desmoronar. Mobilion que estava à nossa frente confiante em nossa luta mental, fez uma expressão de espanto e tudo que pude ver, foi ele olhar na direção de Alrish antes que Thorn me cobrisse com sua asa. Eu ouvi o decolar de Saphira ao nosso lado e em seguida eu subi rapidamente em Thorn e ele também alçou voo. Thorn pairou no ar distante daquela destruição e eu me esforcei para enxergar algo em meio à nuvem de poeira que subia, vagamente pude observar Mobilion se deslocar e se aproximar de algo, quando eu ia lançar um feitiço para pegá-lo, ele desapareceu no nada.

Ele levou Alrish com ele! – afirmou Thorn que tinha olhos muito mais aguçados.

Eragon que estava próximo de mim, em cima de Saphira decidiu descer depois que a poeira já estava mais cessada. Eu fiquei ainda por alguns instantes com Thorn sobrevoando o lugar, a chuva continuava forte batendo pesadamente contra meu rosto. Eu e Thorn nos libertamos dos domínios mentais de Galbatorix de forma misteriosa e agora estaremos novamente com os vardens. Isso será difícil, eles nãos nos aceitarão facilmente, talvez nunca nos aceitem, mas qualquer coisa é melhor do que voltar a servir Galbatorix.

Pude notar certa movimentação embaixo e então decidi descer, quando chegamos em terra vi um pequeno grupo ao redor de alguém que estava deitado no chão, preferi manter distância para não atrapalhar. Vi Ângela, a herbolária se aproximar, não sei da onde ela apareceu, mas ela se ajoelhou próximo à pessoa deitada e eu pude ouvi-la gritando.

– Seus idiotas, não esperem que ela responda! Ela está entrando em hipotermia, como esperam que ela tenha os pensamentos em ordem? - rapidamente Ângela deu algumas ordens e logo alguém pegou a pessoa que parecia desacordada no colo e foi quando eu pude ver... era Milena! A princípio dei um passo em frente para ir atrás, mas recuei em seguida me lembrando de que não deveria me intrometer em um momento desses. Uma preocupação estranha fez meu coração ficar apertado, aquela garota tinha algo de diferente que me atraia. Eu nem sabia, mas nos próximos dias eu passaria o tempo pensando nela.

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Já dentro de uma barraca, algumas horas depois, Ângela supervisionava o estado de Milena. Um emplasto tinha sido colocado em sua perna esquerda que foi ferida na queda, quase esmagada por um pedaço de concreto e sua cabeça levou uma batida forte. A parte mais difícil foi retirar o veneno que já tinha causado um efeito drástico pelo órgão cardíaco, apesar de seus esforços, tudo que a herbolária tinha conseguido até então, era fazer o veneno parar seu avanço e voltar a se comprimir em um único ponto, ficando adormecido temporariamente. Milena perdeu muito sangue e quando foi trazida para a barraca, ela estava completamente gélida, devido à chuva que ela tomou seu estado só tinha piorado. Ângela a pôs em uma banheira de água quente com ervas, para estabilizar sua temperatura.

Agora era noite e Milena mantinha o coração com batidas fracas, sua pele estava branca como cera, não fosse pela leve respiração, poderia se dizer que a jovem estava morta. Muitas cobertas a cobriam na tentativa de mantê-la aquecida, mas com o passar das horas era difícil notar uma melhora visível.

Nesse momento, Solembum que estava deitado em um canto, se aproximou da herbolária ronronando.

– Essa pessoa... – ele disse – não tem pensamentos de voltar!

– Eu sei – respondeu Ângela seriamente.

Com o passar da noite, Ângela mantinha-se sempre atenta, até que determinado momento ela percebeu que a jovem respirava minimamente, apressou-se em sentir sua pulsação e entrou em alerta, ela estava perdendo Milena.

– Milena! Volte garota! – ela fez massagem cardíaca para trazê-la de volta. – vamos, reaja, você não pode ir agora!

Enquanto isso, no fundo de sua mente vagante, a fênix pedia que Milena fizesse uma escolha.

– Seria por essa pessoa? – a dama de cabelos dourados me mostrou a face de uma pessoa que apesar de conhecer á pouco tempo, fazia eu me sentir estranhamente bem. Meu coração pareceu mais forte naquele instante e eu sorri sem pensar.

– Sim! – eu simplesmente respondi.

– Está bem! – ela sorriu também. – por essa pessoa você deseja viver?

– Sim! – acenei com a cabeça.

Do lado de cá Ângela pressionava e soltava o tórax da garota constantemente, e quando ela estava perdendo as esperanças, ela sentiu... uma única batida forte do coração e ele então voltou a bater ritmado. Ângela tirou as mãos de cima do peito de Milena e recuou devagar pra sentar na cadeira desnorteada. A herbolária deu duas fortes inspiradas para se acalmar.

– Essa foi por pouco! – Ângela sabia o que a jovem era, ela sabia muito mais do que qualquer um podia imaginar! Sabia demais para deixar aquela garota morrer.

Na manhã seguinte, assim que Ângela olhou para o lado, pôde ver uma mudança visível na jovem, da noite para o dia, sua aparência estava mais saudável, seu coração batia mais forte, com anseio pela vida. A herbolária refletiu por instante e sussurrou consigo mesmo.

– O que a fez mudar de ideia, Milena Morgenstern?

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– Foi por você!

Eu caminhava pelo acampamento me lembrando de quando me despedi de Murtagh na noite anterior, antes de nos despedirmos eu o fiz uma revelação.

– Você também salvou a minha vida! – eu disse pra ele – Pois quando eu estava entre a vida e a morte, a fênix me pediu para fazer uma escolha, ela me mostrou você e perguntou se por você eu viveria e eu disse sim!

Sorri comigo mesma enquanto me lembrava disso, enquanto me lembrava da noite que tive com ele. Ah muito tempo eu não tinha esse sentimento tão vivo dentro de mim. Eu teria que me lembrar de me conter agora que tinha voltado para o acampamento.

Nós achamos melhor manter nossa relação em sigilo o máximo de tempo possível para evitar que pudessem usar isso contra nós futuramente. Apesar de essa ser a decisão mais sensata, era doloroso, ter que manter imparcialidade mesmo quando passássemos um perto do outro no acampamento, eu teria que usar minha determinação para permanecer impassível.

Quando cheguei ao campo de treinamento, encontrei Fredric próximo a uma mesa com uns papéis em cima, ele parecia tenso.

– Fredric! – eu o chamei ao me aproximar – Já na ativa? Você parece preocupado, o que houve?

– Ah, bom dia Milena! – ele mantinha o cenho franzido. – Umas ordens de Nasuada que estão me preocupando. Ela quer que eu recrute homens para uma missão suicida!

– Como assim? – eu me aproximei mais.

– A próxima cidade que vamos invadir é Dras-Leona como você já deve saber, mas antes disso, Nasuada quer que enviemos um mensageiro para uma tribo que pode virar nossa aliada. Ajihad falou em vida pra ela que quando os Vardens precisassem de ajuda, ela deveria procurar esse povoado, pois eles nos ajudariam. Pelas coordenadas de Ajihad, eles moram em cavernas subterrâneas próximo do Lago Leona. Já enviamos quatro mensageiros pra lá nas últimas semanas, mas nenhum deles voltou. Qualquer coisa pode ter acontecido com eles, talvez apenas falta de sorte e eles foram capturados pelo império, mas algo me diz que tem algo de errado com esse lugar! – ele respirou fundo e continuou. – As pessoas sabem da fama dessas cavernas e muitos homens não querem ir, eu tentei convencer Nasuada a desistir disso, mas ela não quer. Como foi Ajihad quem lhe aconselhou a procurar esse povoado, ela acredita que eles podem ser um forte acréscimo ao nosso exército.

– Humm – eu refleti sobre o que Fredric falou. Essa missão era de fato uma tentação pra mim. Enquanto Fredric resmungava consigo mesmo e se ocupava em afiar sua espada, eu peguei a prancheta de inscrição e dei uma olhada, tinha apenas um nome lá: Caleb Kovalev. Essa era uma surpresa desagradável! Dentre tantas pessoas por que justamente o esquisito do Caleb tinha que ter se inscrito? Bufei indignada e peguei uma pena sobre a mesa, molhei na tinta e escrevi meu nome logo abaixo. Tanto faz, pensei comigo, só tem nós dois, Nasuada terá que escolher o melhor!

Devolvi a prancheta para cima da mesa e fui adiante para treinar.

Mais tarde, quando eu estava no refeitório, um rapaz loiro, parecia ter a mesma idade de Dimitri, se aproximou de mim.

– Você é Milena Morgenstern? – ele me perguntou um pouco tímido.

– Sim.

– Lady Nasuada solicita sua presença!

– Tá bem... – eu refleti, imaginando que ela já soubesse que eu tinha me inscrito para a missão. – eu já vou! – respondi ao rapaz.

Ele se retirou, e depois que eu terminei de almoçar, fui à barraca de Nasuada. Curvei-me em respeito quando estava diante a presença dela, junto dela estava a conhecida elfa Arya, a quem fiz o comprimento élfico, ela retribuiu e eu respondi com a terceira frase. Enfim me dirigi novamente à líder dos Vardens.

– O que deseja de mim Lady Nasuada?

– Você deve saber o que eu quero Milena! Você colocou seu nome nos inscritos para a missão de enviar uma mensagem à tribo que mora nas cavernas subterrâneas do Lago Leona. Por que se candidatou, mesmo após os alertas de Fredric, que eu tenho certeza que ele te deu?

– De fato... ele me alertou – eu soltei um sorriso leve ao me lembrar – no entanto eu acredito que posso ajudar. Afinal não tiveram muitos candidatos para essa missão, acredito que qualquer ajuda seja necessária!

– Realmente é, mas você acredita que esteja em condições de partir no momento para um destino ao acaso? Você deve saber que nenhum dos nossos mensageiros enviados voltou!

– Eu sei My Lady, mas isso não me incomoda, pelo contrário... me instiga! Quanto as minhas condições, estou ótima, me recuperei rapidamente, posso perfeitamente seguir nessa missão. Tudo que eu preciso é de um mapa, pois não conheço muito os terrenos da Alagaësia.

– Mesmo que você diga isso, eu não me sinto segura de te enviar... – ela inspirou profundamente – te mandar me enche de esperanças, se você conseguir entregar minha carta aos Barushkas, que é o povo que mora nessa região e conseguir que eles façam a aliança conosco, será um grande acréscimo aos Vardens, que estamos precisando nesse momento. No entanto se você não voltar... também será uma grande perda para nós Milena!

– My Lady eu irei voltar com certeza, se tem uma pessoa que é difícil de morrer, sou eu!

– Nesse caso, estaria tudo bem para você sair para viajem amanhã no alvorecer?

– Sem problemas!

– Então eu cuidarei de tudo para que você possa viajar amanhã! – ela manteve o olhar vago por um instante – Só temos tido perdas nos últimos tempos, apesar de podermos contar com os anões, elfos e urgals, se não conseguirmos mais pessoas treinadas para nosso exército, estaremos sem muita gente para a batalha final. Se ao menos pudéssemos saber o próximo passo de Galbatorix, se ao menos tivéssemos alguma informação que pudesse nos alertar para o que está por vir, poderíamos saber com o que vamos lidar e nos preparar apropriadamente.

O silêncio manteve-se por um instante, enquanto cada uma refletia sobre as palavras de Nasuada. De repente uma ideia surgiu e soltei um “ah” involuntário. Nasuada e Arya me encararam no mesmo instante com olhares interrogativos. Eu dei um passo à frente e tratei de expor meus pensamentos.

– Existe um feitiço... em que você não necessariamente pode ver a pessoa, mas sim partes do passado desse alguém. Com óleo de rosa e uma gota de sangue, que não precisa ser da pessoa, e as palavras corretas, você pode ver momentos por onde o sangue passou. Chama-se o “rastro do sangue”...

– Não mesmo! – Arya me interrompeu de repente – esse feitiço requer uma quantidade muito grande de energia podendo matar o feiticeiro que o lançar! Apesar de aparentemente ser um método fácil, ele não é usado, pois requer muita concentração, se a pessoa que o lançar não souber focar no que precisa a vida toda da pessoa que você quer investigar, irá passar enquanto o feitiço consome sua energia e o matará.

– O que você diz é verdade Arya... – eu refleti sobre o que ela falou me lembrando dos ensinamentos de Mobilion, apesar dele ter me falado desse feitiço uma vez, ele mesmo me alertou sobre seu perigo, e nunca fez uma demonstração. – mas apesar disso, devo lembrar que ele possui muitos pontos positivos, um dos, é que a pessoa investigada não saberá que seu destino está sendo averiguado, pois não se trata de uma espionagem, tudo que será mostrado é seu passado e isso não ah como proteger. Então o feiticeiro que lançar esse feitiço, não corre o risco de ser descoberto ou encontrar alguma barreira mágica.

– Mesmo assim Milena é imprudente! Mesmo os feiticeiros mais velhos e experientes, não ousam lançar esse feitiço, ele pode ser fatal! Como alguém tão... jovem como você acredita que conseguirá sobreviver à ele? É imprudência!

– Arya, eu posso ser jovem, mas o espírito animal que habita em mim, é velho! Como sou a portadora da Fênix, eu automaticamente tenho acesso à sua sabedoria milenar e sua força ancestral, eu tenho dentro de mim uma quantidade enorme de energia. Eu posso fazer isso! E se descobrirmos algo importante que ajude os vardens a vencerem essa guerra, por que não tentar?

– É extremamente arriscado! Eu não concordo, mas se valoriza tão pouco sua própria vida, eu não posso fazer nada!

– My Lady, se desejar, eu posso fazer! – direcionei-me a Nasuada – Basta que você mande!

– Eu não sei, - respondeu Nasuada que até então só estava escutando minha discussão com Arya. – se Arya está dizendo que é arriscado, então não deveríamos tentar. No entanto você parece bastante segura de que é capaz, eu tenho que pensar em sua proposta e consultar alguém antes. Milena volte mais tarde, quando o sol estiver se pondo, até lá eu terei minha resposta!

– Está bem! – eu me retirei e voltei ao acampamento para treinar mais.

Ao fim da tarde, quando eu estava a caminho da barraca de Nasuada, encontrei Ângela em frente à barraca, prestes a entrar, ela segurava algo nas mãos.

– Ângela, espere! – eu apressei o passo e entrei junto com ela.

Quando estava dentro da barraca, fiquei surpresa com a quantidade de gente que estava lá dentro, juntamente comigo e Ângela que havíamos acabado de entrar, estavam Nasuada, Eragon, Saphira com sua enorme cabeça dentro da barraca, Arya, Blödhgarm e uma garotinha de olhos violetas penetrantes, que eu supus pelos rumores se tratar de Elva, uma criança “abençoada” por Eragon.

Todos olharam pra mim quando entrei e fiquei sem reação por um instante, até que Ângela rapidamente estendeu o que tinha nas mãos e desembrulhou, revelando um frasco de vidro com óleo de rosas dentro.

– Aqui está o que me pediu My Lady! – anunciou a herbolária, mostrando o vidro para Nasuada.

– Obrigada, Ângela pode passar o frasco para Milena! – disse Nasuada impassível, em seguida dirigindo-se a mim. – Isso basta para o feitiço?

Eu peguei o frasco que Ângela passou pra mim e logo respondi.

– Sim! – eu olhei rapidamente ao redor, ciente de que todos os presentes já deviam saber do que estávamos planejando fazer. – Com certeza deve ser o suficiente para o que precisamos My Lady!

– Ótimo! – respondeu Nasuada – então já sabe o que fazer Milena! – ela acenou em aprovação com a cabeça!

– Está bem! – eu olhei ao redor, desconfortável – todos vão ficar?

– Sim! – Arya respondeu enfaticamente.

Eu troquei olhares com ela por um momento e então voltei a olhar para o frasco em minhas mãos. Andei para o lado direito da cabana e virei de costas para Nasuada, me direcionando em seguida a todos.

– Por favor, se afastem e permaneçam do lado esquerdo, um pouco pra trás, para que possam visualizar melhor o que surgir. – Enquanto todos se reuniam do outro lado, junto à cabeça de Saphira, eu peguei um galho do chão e me concentrando, agachei e comecei a desenhar o símbolo de invocação do feitiço no chão de terra. Depois de finalizado, eu fechei os olhos e inspirei profundamente, procurando encontrar a energia de Eruda dentro de mim.

– Eruda? Você pode me ouvir? Eu preciso de você, você sabe! – aos poucos pude sentir um formigamento dominar meu corpo e um calor conhecido emergir.

– Eu estou aqui Milena, vamos fazer isso, juntas! Eu sempre estarei com você!

Quando abri novamente os olhos, eu pude sentir uma enorme quantidade de energia fluir pelo meu corpo, eu me senti poderosa, mas ao mesmo tempo calma para fazer aquilo. Nada mais importava, quantos estavam dentro daquela barraca ou o que eles pensavam, eu apenas sentia Eruda em toda sua essência vibrar por cada célula do meu corpo.

Eu abri o vidro em minhas mãos e comecei a despejar o óleo de rosas sobre as retas do círculo de feitiço, pronunciando em sussurros as palavras de língua antiga. Quando terminei de despejar o líquido, eu me levantei e puxando minha adaga do cinto, fiz um corte pequeno no meu próprio dedo, estendi a mão e deixei uma gota de sangue cair sobre a terra banhada com o óleo. No instante em que o sangue tocou o chão, eu pronunciei o nome “Galbatorix” em um sussurro sombrio e uma luz violeta emergiu do círculo de feitiço, exibindo uma imagem holográfica na minha frente, eu pude ouvir um leve arfar de surpresa de alguns atrás de mim.

Eu me concentrei em dois anos pra cá, se eu quisesse ver mais do que isso, poderia ser arriscado que realmente consumisse muita energia, além de que o que tivesse de importante e significativo para ajudar os vardens a vencer a batalha, provavelmente estaria entre esse período de tempo. A imagem a minha frente surgiu com uma gota de sangue entrando na água e se espalhando e dissipando, em seu lugar entrou a imagem do chão de mármore branco e passos de botas passando por um extenso salão, em seguida uma nuvem de vapor passou e o cenário mudou.

Um gramado verde em dia claro, um homem lutando com uma criança, não dava para distinguir sua idade, mas parecia ter uns oito ou nove anos. Era um garoto de cabelos pretos, com uma espada de madeira na mão, treinando com um adulto, o homem mais velho deu um golpe com uma espada também de madeira que usava e derrubou o menino, depois ele caiu em cima do menino e fazia cosquinhas nele, o menino dava risadas descontraídas, a imagem então evaporou e deu lugar a outra.

Um aposento escuro, muitos vidrinhos em cima de uma mesa de madeira comprida, o mesmo homem que estava lutando com o garoto, agora pegava um frasco de líquido azul na mesa e se direcionava lentamente a um homem amarrado em uma cadeira no estremo da mesa. O primeiro homem abria a boca daquele que estava preso e jogava o líquido azul em sua boca, o segundo homem então começou a tremer violentamente na cadeira, sua cara avermelhada, a pele começou a borbulhar e o homem berrava em desespero e dor, suas veias enegrecidas, saltavam sobre a pele e então sem aviso ele parou de se mover e seus membros penderam mole.

O primeiro homem então colocou a mão sobre a testa do segundo e seus lábios se moviam rapidamente enquanto ele pronunciava algum feitiço. A cabeça do segundo homem virou pra traz em um movimento brusco e seus olhos brancos se destacavam enquanto algo parecia entrar no corpo daquela pessoa, por alguns instantes permaneceu assim, até que o homem sentado não suportasse e seu corpo voltou a amolecer, sua cabeça pendendo para o lado, o corpo desfalecido. O primeiro homem não demonstrou reação, talvez um pouco de frustação, mas ele deu a volta e voltou a mexer nos vidros em cima da mesa.

O cenário mudou outras vezes, mas não demonstrava mais nada interessante, até que voltou para um aposento amplo, dessa vez iluminado, com as paredes brancas e colunas de mármore ao redor sustentando a estrutura. O menino novamente da primeira visão, dessa vez ele estava maior, suas feições eram mais visíveis e maduras, não parecia tão diferente, mas ao mesmo tempo parecia. Ele usava um manto verde escuro aveludado, se encontrava no centro no aposento e estendeu sua mão para um mastro de ouro, por um tempo não pareceu que nada tinha acontecido, mas então o mastro começou a derreter sobre um calor imenso que saia das mãos do garoto, até virar um montinho derretido aos seus pés. O menino sorriu satisfeito e pareceu olhar para seu instrutor que se aproximou dele com tapinhas nas costas.

Eu pude ver claramente o rosto do rapaz e de repente ele me pareceu incrivelmente familiar, aquelas feições, aquele olhar, aquela sensação... mas como eu podia estar sentindo sua presença? Algo estava errado, eu sabia quem ele era, eu sabia mais do que sua imagem podia mostrar, e então me dei conta de onde estava surgindo essa sensação. Eruda observava atentamente o rosto do menino, mas ela não parecia olhar para ele diretamente, um misto de sentimentos parecia me dominar mesclados aos dela, até que pude captar algo de Eruda. O pensamento passou como um raio por minha mente, ela percebeu que eu tinha notado e recuou drasticamente, fechando seus pensamentos, me impedindo de pegar qualquer outra informação.

Eu fiquei confusa com seu desespero repentino, ela começou a recuar e cortar o contato comigo, voltando para as profundezas do meu ser e então senti de uma vez o peso enorme da magia consumindo minha energia. A imagem à minha frente continuava a ser exibida, mas eu não podia mais contar com o poder de Eruda, ela havia recuado completamente para dentro da minha consciência e eu só podia contar comigo mesma agora. Minha energia vazava sem controle, eu a sentia ir embora como água corrente, passando livremente por minhas veias, sugando minha vida, a visão começou a escurecer e eu vi o chão se aproximar, instantes antes dos meus sentidos apagarem, eu senti um braço forte envolver minha cintura e me puxar.

Quando eu comecei a recuperar a consciência, a primeira coisa que senti foi um cheiro forte amadeirado e obviamente masculino, estava bem próximo, minhas bochechas estavam ardentes, mas parecia que algo agressivo tinha atingido meu rosto e então veio, o tabefe forte na minha cara e eu acordei imediatamente, reconhecendo a razão das minhas bochechas formigarem. Arya estava na minha frente com Eragon à sua direita, um pouco afastado, rapidamente me situei que eu estava deitada no chão, apoiada por algo quentinho, quando olhei para o lado esquerdo, eu percebi que estava nos braços de Blödhgarm. Retesei todo o corpo no mesmo instante, envergonhada e comecei a me levantar com um “obrigada” de cabeça baixa direcionado ao elfo.

Quando levantei, cambaleei para trás com a rapidez e senti seu toque suave nas minhas costas e sua energia sendo transferida pra mim, entendendo o que tinha acontecido, dei um passo discreto pra frente e senti a mão do elfo se afastar.

– Vocês viram mais alguma coisa? – eu tentei desviar a atenção da vergonha de ter desmaiado na frente de todos. Nasuada se encontrava em pé, ao lado esquerdo de Arya.

– Não, aquela era a última visão, não muito tempo depois que você desacordou aquela imagem só durou alguns instantes e depois dissipou. – respondeu Eragon. – Quanto tempo você pediu para exibir?

– Apenas dois anos pra cá. Peço desculpas pelo transtorno, mas é que... a fênix nunca fez isso antes! Ela cortou o contato comigo repentinamente e eu fiquei sem energia suficiente para alimentar o feitiço. – isso é apenas uma grande prova de que eu não sou nada sem Eruda, pensei comigo mesma.

– Eu disse que era perigoso! – Arya soltou todo seu veneno em suas palavras.

– É, mas eu descobri algo antes da fênix cortar contato comigo. – falei, ignorando o comentário da elfa e encarando a todos. – O menino, da visão... é um Esmeraldino!

– Como você pode ter certeza? – questionou Nasuada.

– Por que eu capturei esse pensamento dela, eu podia sentir por intermédio da fênix a presença por trás do garoto. Ela sentiu a energia de alguém antigo, um animal do passado que ela conhecia e isso a deixou desnorteada. Eu tenho certeza de que o garoto é Esmeraldino... e a presença dele é forte! Mais forte do que a de Alrish. Na verdade chegava muito próximo ao nível da fênix.

– Se esse for o caso, então teremos um inimigo de peso pela frente. – disse Eragon.

– Mais um? – eu disse – Galbatorix já é o problema em si, com Mobilion como aliado isso já é uma desgraça! Depois do ataque que fiz a Alrish o libertando, cabe a ele seguir a sua natureza verdadeira. Agora esse menino! Acham mesmo que serão capazes de matar uma criança se for preciso? Serão capazes de passar por cima de tudo para chegar ao objetivo dessa guerra toda? E não vamos esquecer que temos um exército de peões pra enfrentar e alguns deles estão enfeitiçados para não sentir dor o que dificulta as coisas. Ainda tem mais, o que era aquele feitiço que Galbatorix estava fazendo naquele homem amarrado na cadeira? Mais parecia que ele estava tentando torna-lo um Espectro.

– Na verdade estava parecendo que ele queria mata-lo e depois colocar um espírito dentro daquele homem! – Blödhgarm finalmente falou.

– Sim, mas com qual objetivo? Não seria mais simples criar um espectro? – disse Eragon.

As discussões continuaram por um longo tempo, até que cada um resolvesse juntar maiores informações de sua própria maneira. Arya foi a primeira a sair e Ângela foi logo depois. Antes de eu sair, Nasuada se dirigiu a mim, a menina Elva me encarava em silêncio ao lado de Nasuada.

– Milena, obrigada por contribuir conosco, o que você fez hoje foi muito importante para que pudéssemos saber mais sobre o que vamos enfrentar. Agora sabemos o que devemos procurar para enfrentar nosso inimigo. Agora... Está tudo bem mesmo pra você viajar amanhã?

– Claro, antes de o sol nascer, estarei no extremo norte do acampamento, pronta para partir!

– Está bem, alguns homens meus estarão lá para lhe entregar os mantimentos necessários. Eu estarei ocupada com outros assuntos, então lhe desejo sorte desde já.

– Obrigada. – Depois eu sai para a noite e andei até a minha barraca pra juntar minhas coisas para a viajem. Mentalmente me comuniquei com Murtagh explicando os acontecidos e para nos encontrarmos antes que eu partisse. Quando sai da barraca, caminhei até o refeitório, eu tinha passado lá antes de ir pra barraca de Nasuada, mas já tinham se passado horas e minha energia tinha sido muito gasta no processo do feitiço, o rastro do sangue.

No caminho tentei contatar Eruda, mas ela continuava reclusa, pelo visto eu teria que esperar ela vir até mim. Quando eu estava para entrar no refeitório, vi Blödhgarm passar como um fantasma na noite escura, as nuvens cobriam a lua mantendo o ambiente sombrio. Eu lembrei quando senti seu toque em minhas costas mais cedo, foi ele quem recuperou minha energia enquanto eu estava desacordada, eu tinha que agradece-lo, mas sua presença era intimidadora. Ainda assim, levantei a cabeça e criei coragem para ir falar com ele, eu não faria isso como uma rata amedrontada.

– Blödhgarm! – chamei meio baixo, mas eu sabia que ele escutaria, corri para ele enquanto ele parava. Essa era a primeira vez que eu ficava diante dele, a sós. Quando eu me aproximei, ele permaneceu calado. Olhando em seus olhos eu me pronunciei. – Eu agradeço pelo que fez por mim hoje á tarde e peço desculpas se você se desgastou oferendo sua energia para mim. – eu curvei a cabeça levemente em respeito.

– Eu apenas retribui o que você fez por mim em Belatona, agora estamos acertados! – ele respondeu solenemente e deu as costas, seguindo seu caminho.

Eu segui para o refeitório um pouco desconfortável com essa situação, que compensação rápida! Eu me senti rebaixada por ter dado essa chance a ele tão rápido. E se ele não me devesse nada? Será que ainda assim ele me ajudaria, ou eu teria morrido sem forças, esgotada pelo feitiço que me consumia? Essas questões ocuparam meus pensamentos enquanto eu comia.

Depois eu fui me despedir de Fredric e retornei para minha barraca. Não consegui dormir, estava esperando a noite acalmar para me encontrar com Murtagh. Esses encontros noturnos eram perigosos para o nosso segredo, mas como eu poderia dizer a ele que eu ia embora do acampamento, passar dias fora e nem mesmo me despedir dele? Quando só tivemos a chance de ficar juntos por uma noite? O fato é que eu passaria esses dias preocupada e morrendo de saudades dele, mas essa viajem era boa para que não desconfiassem de nós. Enquanto eu permanecesse longe, não haveria ninguém para nos espionar e denunciar.

Quando chegou o horário, eu peguei minha mochila, pois após encontrar Murtagh eu iria partir direto. Ao sair da barraca, fiquei atenta para que ninguém me seguisse, andei até o ponto oeste e em uma área bem aberta onde não tinha ninguém, Thorn esperava deitado, eu soltei um sorriso com tudo aquilo. Quando eu estava discutindo o lugar do encontro com Murtagh, ele teve a ideia de me levar voando sobre Thorn para fora do acampamento, até as montanhas próximas. Eu a princípio achei que poderíamos ser expostos facilmente dessa maneira, mas ele garantiu que ninguém no veria juntos em cima do dragão enquanto ele voasse, sobretudo à noite, com as nuvens encobrindo a lua.

Quando me aproximei da cabeça de Thorn para tocá-lo, ele soltou um leve ronronar. Era intrigante a forma como tínhamos formado uma amizade desde a primeira vez que nos encontramos e agora estávamos tão próximos. Enquanto isso Murtagh que estava encostado na lateral do corpo de Thorn, saiu da sombra do dragão e veio até mim.

– Parecemos dois jovens, namorando escondido dos pais. – ele sussurrou no meu ouvido e começou a envolver minha cintura.

– Vamos ser cuidadosos Murtagh. – eu me desvencilhei de seus braços e o encarei mais séria do que eu realmente estava. – Aqui não é o lugar!

Ele apenas permaneceu em silêncio e subiu em Thorn, estendendo a mão para mim. Eu olhei para Thorn antes.

– Peço permissão para montá-lo! – eu sussurrei para o dragão.

Será um prazer! – sua voz reverberou em minha mente.

Eu então dei a mão à Murtagh e subi em Thorn, envolvendo a cintura de Murtagh. A sensação de cima do dragão já era estonteante com ele em terra, quando Thorn flexionou as pernas e alçou voo, eu senti um friozinho no estômago que logo foi esquecido quando comecei a admirar a paisagem, que mesmo no escuro era uma visão surpreendente. O vento batendo no rosto dava uma sensação de liberdade impressionante, eu fui soltando os braços da cintura do meu cavaleiro e os abri sentindo deliciosamente o vento por meu corpo, como se eu pudesse voar, como se eu já soubesse como era fazer isso.

Eu senti então uma fagulha da consciência de Eruda. Sentindo aquele vento como se fosse ela mesma ali, eu pude vislumbrar ela em seu corpo original, suas asas plumadas em chamas, ela se sentia mais viva do que nunca, ela parecia feliz, mas eu sentia um aperto no interior daquela criatura, por não poder mais fazer isso, por não poder voar com suas próprias asas. Era um pássaro sem asas e esse pássaro voltou a ficar extremamente triste quando lembrou que não podia mais voar e então eu perdi novamente o contato com Eruda. Eu respirei fundo, inundada por aquela tristeza, me curvei pra frente voltando a abraçar Murtagh e inspirei seu cheiro, ele se virou por um momento me olhando com um sorriso no rosto, eu devolvi um sorriso sóbrio e encostei minha cabeça em suas costas, esperando até que Thorn descesse.

Quando descemos, eu agradeci a Thorn pelo excelente passeio e ele voltou a alçar voo. Eu finalmente me voltei para meu cavaleiro e o beijei cheia de saudades.

– Por que você tinha que partir em missão justo agora? – ele disse, assim que nos desvencilhamos de nosso beijo.

– Será melhor assim Murtagh, acredite, se continuarmos dessa forma, vão nos descobrir rapidamente.

– Como isso pode ser melhor? Para sentirmos mais falta ainda do outro? Eu demorei em encontra-la Milena Morgenstern, não quero perder agora! Você tem atração por situações perigosas para sua vida?

– Na verdade eu tenho, e agradeça por isso se não eu não estaria com você! – eu o impedi de falar ao me lançar para seus lábios outra vez. Minha pele de contato com a sua, deixava meu corpo quente e meu coração acelerado, eu também não queria perder isso, não queria perder nem um segundo! Eu voltaria dessa viajem viva, pois agora eu tinha um objetivo, eu tinha alguém me esperando!

Quando voltei para o acampamento, após Thorn me trazer de volta, eu corri para o estábulo e com minha mochila pendurada de um lado, montei em Donner e disparei para o extremo norte do acampamento. Dois homens já me aguardavam quando cheguei lá. Desci do cavalo e cumprimentei os dois, assim como Nasuada havia me dito, eles me passaram comida e água para os próximos dias de viagem, um mapa e alguns utensílios que poderiam ser necessários. Quando eu estava prestes a subir no cavalo, no entanto um deles me interrompeu.

– Um guia irá com a senhorita! Aguarde um pouco mais que ele chegará logo!

– Um guia? - eu perguntei surpresa. – mas eu já estou com o mapa.

– É alguém que se disponibilizou para ajudar nessa missão, ele conhece bem as terras da Alagaësia, ele é muito viajado e também um bom lutador, Lady Nasuada fez questão de enviá-los juntos.

A princípio eu me perguntei quem poderia ser, pois pelo que eu soube ninguém queria aceitar essa missão e de repente aparece alguém tão disposto? Naquele instante me veio um pensamento... o único que também tinha se inscrito nessa missão era... Caleb. Eu não acredito que Nasuada fez isso! Ela decidiu enviar nós dois juntos!?

Quando ouvi o som de cascos de cavalo se aproximando, eu olhei para o lado e esperei ficar perto o bastante para poder visualizar o rosto. Era ele próprio! A cicatriz no lado esquerdo da face quase não era visível no escuro. Ele montava um belo cavalo marrom, com os pelos muito bem tratados. Caleb nem mesmo se dignou a me olhar, passou direto, eu pude ver o brilho da lâmina de sua espada curva em suas costas. Eu abri a boca para reclamar, mas parei percebendo que faria papel de idiota se começasse e discutir com ele em frente aos dois homens. Ao invés disso lhe fiz uma pergunta.

– Você já sabia disso?

– Para minha infelicidade já fui informado de que terei que carrega-la como peso morto nessa viajem.

Eu me segurei ao máximo para não insultá-lo. Essa era a primeira vez que eu via Caleb desde a luta em Belatona e ele continuava o mesmo arrogante! Quando parei para lembrar isso, ele me viu usando o poder da fênix, então ele sabe do que sou capaz, rapidamente entendi por que Nasuada tinha aceitado enviá-lo comigo, por que ele já tinha me visto usando esse poder antes, não teria problemas se visse novamente.

No entanto se eu usar novamente o poder da Fênix, o veneno em meu coração poderá definitivamente me matar. O que usei hoje no feitiço do rastro do sangue foi apenas a energia da fênix, mas eu não expus todo seu poder como em Belatona... se eu me deparar novamente com essa situação, o que acontecerá? Parei com meus devaneios quando reparei que Caleb continuava indo adiante e eu estava ficando pra trás. Incentivei o cavalo a andar e parti para essa jornada ao desconhecido com um arrogante desprezível.


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Notas finais do capítulo

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