Tardes de Domingo escrita por Manu Pontes


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.. ^^



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One-Shot – Tardes de Domingo

Domingo. Quinze horas. O comércio está fechado desde as treze horas. Afinal, quem trabalha em uma tarde de domingo? Eu respondo, EU, Hyuuga Hinata, trabalho. Ou melhor, eu crio raízes em tardes de domingo, pois raramente algum cliente vem até a padaria, meu castigo, comprar algo. As ruas desertas são provas disso. Mas por que continuo abrindo as portas da padaria nesses dias, com certeza todos se perguntam isso, não é? Bem, eu não sou culpada disto. Mas meu chefe é. E como o odeio por isso. Aquele loiro idiota!

Arg! Como eu abomino aquele Uzumaki de uma figa, pois ele sabe que a padaria não rende quase nada no domingo, ou melhor, nas tardes de domingo ela não rende NADA! Se ao menos fosse época de concurso, que é quando há várias pessoas fazendo provas na Universidade aqui perto. Quando é assim, melhor, pois todos em meio à ansiedade querem comer algo, e nada melhor do que uma padaria que também é uma confeitaria e lanchonete, para alimentar aquelas bocas nervosas.

Mas, infelizmente, esses concursos ou provas do gênero são raros, acontecem poucas vezes durante todo o ano. E novamente o idiota do meu chefe não entende isso. A única coisa que aquele ser de cabeleira loira pensa é fazer pão, bolo, e o que o mais possa passar pela cabeça dele. Agora, ele está lá nos fundos da padaria terminando de preparar rosquinhas amanteigadas. E eu aqui sem nada a fazer.

A padaria está limpa, como sempre. Os armários com alguns biscoitos, e pacotes de pães pumas estão em ordem. A estufa está aquecendo os salgados. O freezer está ligado e gelando as latas e os litros de refrigerante. A bancada de bolos e rocamboles, ao lado do caixa, está arrumada, além de seu interior está preenchido com pães doces. Ou seja, estou em um tédio total!

Ah, claro, não posso me esquecer o zunindo da voz do chefe que está soando aqui na frente, fazendo-me companhia. Mania daquele Uzumaki de ficar cantando enquanto trabalha. Ser irritante!

- Hinata. – alguém me gritou. Sim, ele, meu infeliz chefe, simplesmente berrou meu nome! O que será que ele quer?

- Estou no balcão, Naruto. – será que ele se esqueceu que não posso simplesmente abandonar esse deserto? - O que você quer?

- Feche a padaria. – Ops... Nos primeiros segundos pensei ter ouvido mal. Naruto Uzumaki querendo fechar a padaria no meio do expediente?!

- Está doente? – eu perguntei na hora, ou melhor, gritei devido ao barulho das máquinas que ele acabara de ligar. Porém ele nada me respondeu. Afinal, o que estava acontecendo? Eu estava feliz em sair mais cedo, porém também estava confusa, no fundo aquilo me preocupava.

Mesmo assim, eu fechei as portas de aço da padaria. Contabilizei o dinheiro, e o guardei numa caixinha secreta, ordem do loiro aguado. Desliguei o ventilador já velho e, peguei minha sacola de plástico com uma garrafa de água, meu celular e uma toalhinha roxa que eu sempre trago. Fui até os fundos da padaria, ainda ouvindo o barulho das máquinas, Naruto provavelmente estaria já preparando a massa do pão de amanhã.

- Naruto, eu já fechei... – eu já disse que além de idiota, irritante, e ser meu chefe, o loiro aguado é extremamente gato? Eu me pergunto até hoje, como ele pode ser assim, capaz de tirar todo o meu fôlego.

Uow... Que fique claro que não sou gamada nele. Ele é até ajeitadinho... Ok, ele pode ser um gato, mas ainda é Naruto Uzumaki, o cara sinônimo de idiota.

E eu só estou aqui parada, frente a ele, que por sinal está sem camisa, ou seja, mostrando seus ombros e tórax definidos, mas não de forma exagerada. Mais que m****, Hinata. Mantenha distância, uma grande distância.

- E-Eu já estou indo, Naruto. – informei já me direcionando a porta dos fundos, sendo a covarde que eu sempre fui. Sim, queridos, toda vez que ele está próximo dou um jeito de afastá-lo, afinal sei o que me espera e do que sou capaz ao ficar na presença dele por mais de cinco minutos. Opa! Eu não sou uma maníaca tarada, ok?

- Hinata, preciso que me ajude aqui. – Oh, não. Ele não me pediu isso.

- Naruto... – murmurei um resmungo, ainda de costas para ele. Inútil, ele sabe ser insistente, e irritante...

- Não vai demorar muito, preguiçosa. – ouvi sua risada, e minha respiração falhou mais uma vez. Droga de atração. Droga de domingo.

- Ok, idiota. – não pude deixar escapar esse elogio, e me direcionei a ele, fitando um sorriso prepotente em minha direção. – O que tenho que fazer? – tratei de perguntar, antes que o “silencio” viesse a surgir entre nós, e atrasasse ainda mais a minha saída.

- Preciso que me ajude com essa massa. – somente agora eu olhei ao redor com mais atenção. Na grande mesa de mármore estava a massa de pão enrolada, ainda em processo de pesagem.  A máquina de rolagem, o cilindro, estava ligada, provavelmente, ainda teria mais massa para enrolar. Ao lado, havia a máquina que eu sempre me esqueço o nome, mas sei que ao forçar a alavanca de ferro, ela corta a massa em diversos pedaços, facilitando o uso para a máquina moduladora que dá a forma ao pão francês.

No canto esquerdo, a pia, ao lado uma prateleira de metal com alguns fermentos, potes com ingredientes, e embaixo da pia dentro de uma espécie de gaveta estavam alguns produtos de limpeza bem lacrados, ou cuidadosamente guardados em sacolas plásticas pretas, evitando o derramamento ou proliferação do cheiro.

No outro lado, dois fornos grandes, e uma batedeira de panificação e um fogão duas bocas. Além de dois grandes armários de descanso para pães, durante a semana a procura pela deliciosa massa Uzumaki era grande. Ainda existiam mais três ambientes, o banheiro, o depósito de trigo e de fermento,  e outro depósito de produtos alimentícios. A padaria, com certeza era equipada, Naruto se dedicava muito a tudo isto.

- Onde está com a cabeça, pequena? – ouvi Naruto me perguntar, eu acho que me desliguei um pouco.

- Sobre os meus ombros, loiro. E pare de me chamar assim. -  respondi, de maneira “carinhosa” como sempre.

- Amo esse seu jeito, sabia? – me disse com uma voz que poderia ser facilmente qualificada como sedutora. Ele realmente abusa desse charme idiota que ele possui.

- O que eu faço com essa massa? – tratei de me pôr longe dessas insinuações sem fundamentos que a minha mente faz com as palavras dele.

- Preciso que você termine de dar a forma ao pão, e coloque-o nas grades dentro dos armários. – indicou os armários enquanto desligava o cilindro.

- Ok. – confirmei. Poderia parecer ser muita coisa, mas na verdade não era nada em vista do quanto Naruto fazia tudo aquilo sozinho. E era isso que mais me intrigava, ele sempre fizera tudo isso sozinho, por que agora pedir ajuda? Algo estava errado.

Direcionei-me a prateleira, coloquei minhas coisas no cantinho e lavei bem as minhas mãos. Voltei para a mesa, e Naruto já ligava a modeladora para começar a primeira fase de finalização do pão. Esperei as primeiras massas deslizarem, enquanto eram enroladas até mim.

Confesso que de todo o processo, esse é o que eu mais gosto. Não por já está no final, mas por já ter mais contato com a massa. Lembro-me da primeira vez que fiz isto, também não há como esquecer aquele dia, não mesmo.

***

Fazia cinco dias que eu estava trabalhando na padaria dos Uzumaki. Com o convite de Naruto, o filho do padeiro. O loiro era meu melhor amigo de escola, nos conhecíamos desde o jardim de infância, e mesmo que não andássemos o dia inteiro juntos, a amizade dele era uma das mais presentes em minha vida. Ainda assim para mim foi uma surpresa ele me chamar para trabalhar na padaria de seus pais, não pelo tipo de trabalho, mas por ele exatamente me chamar.

Como sempre fora desde que o conheci ele tinha seu grupo de amigos, Sasuke e Sakura, filhos de amigos de Kushina e Minato, pais de Naruto. Diante disso eu não entendi porque Naruto não os solicitara, não que eles precisassem desse salário, mas eram os melhores amigos de Naruto, e Sakura em especial, é a garota que ele ama.

Amor. Esse tipo de amor é o que sente a Sakura pelo Sasuke, e que é correspondido pelo mesmo. Naruto em toda essa história somente sofre. Eu via como os olhos profundamente azuis dele brilhavam quando a observavam, ele parecia mais feliz, o sorriso que já lhe era marca registrada se alargava ainda mais. Porém isso não vem ocorrendo nas últimas semanas desde que Sakura e Sasuke assumiram o namoro. O moreno de orbes ônix até conversara com ele antes de anunciar seu relacionamento com a também amiga Haruno, mas Naruto nunca pediria para que seus amigos fossem indiferentes ao que sentiam por causa dele. O coração de ouro que abita dentro dele nunca permitiria isso. E mesmo contente pela felicidade dos amigos, era impossível não perceber que sofria. É, está aí à explicação por ele convidar a mim, e não a amiga de cabelos róseos.

Eu ainda estou no processo de aprendizagem. A Sra. Kushina tem sido muito amável e paciente comigo, sempre me explicando com calma o que devo e como devo fazer com relação ao atendimento, limpeza e estocagem dos produtos. O Sr. Minato também me recebeu muito bem, normalmente não o vejo muito, ele aos poucos está se desligando da panificação, e não é porque ele queira, mas sim porque a saúde dele necessita de um pouco de tranqüilidade, que com certeza as máquinas não lhe trarão.

Hoje é feriado para o comércio, sendo assim a padaria só funcionara durante o turno da manhã com a Sra. Kushina atendendo e Naruto nos fundos assando as dezenas de prateleiras de pão francês. Eu até viria durante a manhã para ajudá-los, mas a Uzumaki irrevogavelmente me proibira, o motivo é que eu e Naruto havíamos combinado de termos uma espécie de aula sobre como fazer pães durante o turno da tarde, e bem aqui estou. E cheguei mais cedo, antes das catorze horas como tratamos, o loiro estava em horário de almoço, enquanto Kushina estava ajeitando tudo para fechar a padaria.

- Oi, Sra. Kushina. – cumprimentei-a com um sorriso, e recebi uma careta alegre em troca. Ops! Fiz besteira.

- Mocinha eu acho que já lhe expliquei mil vezes, não é Sra. Kushina, é somente e simplesmente Kushina. – eu sorri sem graça, e acho que vermelha, enquanto ela repetia o que parecia difícil, e era de fato para eu chamá-la com menos formalidade. Talvez eu ainda consiga aprender, assim espero. – Mas olá para você também, Hina. Naruto ainda está almoçando.

- Sei disso Senhora... Quer dizer Kushina. Eu vim mais cedo para ver se conseguia lhe ajudar em algo. – expliquei. Meu objetivo não era fazer média para agradá-la e assegurar o emprego, mas sim porque eu me encantei com tudo e todos daqui. Até os clientes me tratam amavelmente. E no que eu puder ajudar, eu sempre tentarei fazer.

- Ah, Hina, você é mesmo uma menina de ouro. – disse ela, e com certeza eu corei novamente. – O meu filho realmente não tem consciência do que está perdendo. – ela disse baixinho, quase um murmuro que mesmo assim me fora audível. Guines Book se prepare, pois a garota escarlate tem nome e sobrenome, Hinata Hyuuga.

Depois disto eu peguei uma vassoura, comecei a varrer como de praxe. Antes de fechar a panificação sempre deixá-la limpinha.

Não demorou muito para que Naruto chegasse. Ele até tentara ressurgir aquele sorriso que todos tanto amam, mas pelo olhar dele já se via uma tristeza que partia meu coração. Naruto não merecia isso, não mesmo.

- Mãe, Hina. Desculpe o atraso. – ele disse fazendo um gesto típico com a mão atrás da nuca, com um pequeno sorriso desajeitado.

- Não se preocupe, eu que cheguei mais cedo. – expliquei logo.

- Ah. E por que, aconteceu algo? – Naruto sempre preocupado com todos. Antes que eu respondesse, a Sra. Kushina começara.

- Não, filho. – começou com a explicação - Acredita que ela veio para me ajudar a fechar a padaria, e ainda veio com o papo de senhora?! – a Sra. Uzumaki até fez uma careta, mas logo se pôs a sorrir. Já Naruto me fitou, e naquele instante eu não reconheci o seu olhar, mas parecia conter um pouco de surpresa ou admiração, na verdade não sei o quê exatamente era, mas sei que me aqueceu por dentro. Depois disto fomos para os fundos da padaria,  Naruto já foi tratando de me explicar coisas rápidas, onde ficam alguns ingredientes, como devo ligar as máquinas e precauções de segurança ao tentar ligar ou desligá-las.

De todo o processo que começa com o carregamento de baldes de trigo, que ele não me deixou carregar dizendo que eram pesados demais para mim. Depois foram baldes de água bem gelada, mais uma vez a mesma desculpa. Afinal eu estava lá para aprender ou somente para o ver trabalhando com uma linda camisa regata laranja?! Ops! O que é que eu estou pensando?! Aff...

- Naruto, afinal eu vou fazer algo? – indaguei. Naruto fitou-me risonho, e eu enrubesci.

- Claro. Desculpe-me. – pediu com aquele lindo sorriso que eu não via há um tempo. Retribui feliz.

- Certo. Sem problemas, mas me deixe tentar lhe ajudar, sim? – percebi que ele hesitou, sei que desde o principio ele acreditara ser um trabalho muito exigente para mim ou qualquer mulher. Não que ele fosse machista, longe disto. Mas Naruto sempre tivera esse cuidado, essa complexa preocupação, a Sra. Kushina que o diga, pois Naruto recebera tal educação cavalheiresca do Sr. Minato.

Depois disto continuamos, com Naruto a me ensinar cada etapa e eu pondo em prática cada um de seus ensinamentos. Tudo indo bem, como deveria ter sido desde o começo até o fim, mas não foi exatamente o que ocorreu. Não mesmo.

Estávamos na modeladora, último processo antes do armazenamento da massa para descanso e crescimento nos armários. Ficou combinado que Naruto por ter mais experiência operaria a máquina, mas eu obtive toda a explicação necessária e numa próxima “aula” eu já começaria a obrar todo seu funcionamento. Mas eu iria dar o último formato e arrumaria todos os pães nas grades, junto com ele. E mesmo insegura, eu comecei. Com a massa que rolava pela máquina, eu peguei uma porção deslizando minha mão sobre ela.

- Assim Naruto? - indiquei para a porção de massa à minha frente, depois de escorregá-la sob as palmas de minhas mãos.

- Não exatamente. – me disse hesitante. Senti-me triste com suas palavras mesmo que ele não me dissesse por mal.

- Desculpa, só estou atrapalhando. – lamentei, eu queria muito retribuir todo o ensinamento, e principalmente toda a paciência que Naruto e seus pais estão tendo comigo, e não conseguir terminar este pão está sendo frustrante.

- Deixe de besteiras.  Isto é fácil, você verá. – incentivou-me, ao mesmo tempo em que se aproximava de mim, com o seu corpo atrás do meu. – É só deslizar suavemente as mãos sobre a massa, porém com firmeza. Desse jeito, entendeu? – indagou, mostrando-me o que fazer com as mãos grandes sobre as minhas pequenas mãos macilentas. Um simples e gentil contato de peles parecia como um vulcão dentro de mim, aquecendo-me de um sentimento indecifrável.

- Hum-Hum. – murmurei como resposta, tensa com sua presença colada ao meu corpo.

- Ótimo. – sussurrou-me, causando-me um leve arrepiar, enrijecendo ainda mais os meus músculos, eu achei que viraria uma pedra.

Parados, eu fitava a parede em linha reta, evitando olhá-lo enquanto levemente sentia meu rosto corar. Naruto conservava suas mãos sobre as minhas. Imóveis, enquanto eu o sentia próximo, ouvindo um leve ofegar. Senti-me fria pela tensão quando surpreendida ele me girou obrigando-me a fitá-lo. Seu olhar era intenso, parecia descobrir todos os meus sentimentos. Parecia conectado a mim. Eu não conseguia desligar-me de seus orbes safiras, não quando tão próximos. Cada vez mais próximos. Mais próximos.

No começo eu continuava inerte, gélida em seus braços, sentindo um leve choque que seus lábios fizeram ao roçar aos meus.  Porém seus lábios gesticulavam de maneira tão experiente que fora impossível não o corresponder. Mesmo sem jeito aprofundei-me na cena de meus mais ilusórios sonhos, pondo minhas mãos envolta de seu pescoço, enquanto sentia-o me envolver ainda mais em seus fortes braços. Naruto estava me beijando de verdade.

Sua língua pedira passagem, querendo conhecer-me minuciosamente. Nesse momento eu já estava entregue a ele e concedi. De olhos fechados, aprofundei-me numa sensação inexplicável e incrivelmente maravilhosa. Não me preocupei caso alguém pudesse ver nossa cena, não com Kushina já tendo ido para sua casa e com toda a padaria fechada. Aquele era o nosso momento.

Eu não tinha a mínima ideia de quanto tempo se passara naquele contato, só nos demos conta do mundo ao redor quando deste nos faltou o ar, forçando uma separação angustiante de nossos lábios.

Ofegante, me mantive de olhos fechados esperando que o ciclo de gases carbônico e oxigênio se estabilizassem em meu corpo. Mas foi o toque de suas mãos em meu rosto lívido que me causaram uma sensação estranha, obrigando-me a fitá-lo. Com duas belas íris azuladas, Naruto me observava com o mesmo olhar de mais cedo. Um olhar que eu simplesmente não sabia compreender.

- Hinata. – ele começou, e eu tive a certeza de que nunca me esqueceria de suas palavras. – Desculpe-me. Isto está errado. – afastou-se de mim aturdido, e toda boa sensação que eu sentira no beijo se foi junto.

- C-Como? – gaguejei surpresa com o que ele dizia, e principalmente confusa. Naruto só podia estar brincando. Uma brincadeira que me fazia mal, com certeza.

- Você é linda. Mas... Eu... Eu não te a-amo. – como eu pensei antes, esse era um de meus mais ilusórios sonhos que terminam com Naruto me rejeitando. Diferente de um sonho, ou pesadelo. Não dói tanto como na vida real. Não dói tanto como agora. – Eu não quero que isso estrague nossa amizade. Por favor. – dizia angustiado. Eu simplesmente não acreditava no que estava acontecendo. Em um momento estive no máximo da felicidade, e no outro momento senti-me perdendo todo o chão.

- Eu sou... – uma idiota, imbecil, estúpida, e infelizmente apaixonada por você. Eu gostaria de lhe dizer isso. De expor a ele tudo o que me faz sentir. De como é difícil vê-lo sofrendo todos os dias por outra enquanto eu sou somente... – Sua amiga, e sempre serei Naruto. Não se preocupe com o que aconteceu. Sério, não fez nenhuma d-diferença na nossa amizade. – eu disse me esforçando ao máximo para sorrir, despreocupar o grande coração deste Uzumaki. Tenho ideia do quanto ele se sentiria mal se soubesse o que sofro por causa deste sentimento.

***

Desde aquele dia minha relação com Naruto nunca mais foi à mesma. A quase promessa de amizade se esmigalhou com o tempo. Respeito, além de um enorme carinho eu ainda atribuo a ele. Somente não consigo estar próxima a esse loiro aguado, sem querer manter uma distância segura entre nós. Afinal eu sei bem como o Naruto pode magoar alguém, sem nem ao menos perceber, e muito menos com tal intenção.

Além disso, não havia porque ter esperanças de “um quem sabe”, pois não era na minha imagem que ele se perdia. Eu não habitava seu coração, não da forma que inconseqüentemente eu sempre desejei.

Em silêncio eu trabalhava. De cabeça baixa, evitando olhar o loiro do outro lado da mesa, evitando coincidir meu olhar com o dele e me perder em seus olhos azuis tão profundos. Continuei assim até o fim, preenchendo ligeiramente e com habilidade todas as grades metálicas, colocando-as em seguida nos armários.

Terminamos em torno de quarenta minutos depois. Quarenta minutos de um profundo e angustiante silencio.

- Acabamos. – disse Naruto o óbvio, cortando assim toda a ausência de som com sua voz grave, e inevitavelmente eu o olhei, sentindo-me mais uma vez tensa por sua presença.

- Então eu vou indo. – comuniquei enquanto me afastava da grande mesa de mármore, indo a pia lavar as minhas mãos. Melhor assim, aumentar nossa distância, me privar de sentimentos dolorosos ainda piores do que os quais já me acompanham.

- Para onde você vai tão rápido com meu coração? – eu mal ouvi o que ele disse, e me virei para saber o que interessava para onde eu estava indo com o seu... Coração?

- O q-quê? – eu gaguejei, absorvendo suas palavras. Naruto simplesmente não me disse nada, somente se aproximou de mim, em passos curtos, contornando a mesa entre nós, parando seu corpo alto frente ao meu tão pequeno e frágil. Eu fechei meus olhos respirando pesadamente, eu hesitei, porém dei um passo para trás, ato desnecessário, pois ele dera junto um passo à frente. Eu ouvi de perto a sua respiração contra partida a minha. Senti sua mão segurar minha nuca, e minha boca ficou seca, necessitando de um contato. Eu ofeguei com o seu toque em minha cintura, nossos corpos bem próximos. Abri meus olhos devagar, erguendo levemente minha face, fitando-o. Seu sorriso tão radiante, como eu nunca pensei em ver. Seus olhos me observavam, pareciam ler minha mente confusa. Ele se inclinou sobre mim vagarosamente, seu olhar ficou pesado até que se fechassem seus olhos, e eu o acompanhei sentindo meus lábios cobertos pelos dele. Tão doces, encaixavam-se perfeitamente aos meus. Lábios tão experientes, que me atraiam a um contato mais próximo, então eu tomei a iniciativa e enlacei meus braços envolta de seu pescoço. Eu o sentia, sentia seus sentimentos. E não havia dúvidas de que ele conseguia sentir igualmente os meus sentimentos, toda minha paixão, meu carinho, meu amor por ele. Entreguei-me ao seu pedido silencioso, e sua língua descobriu-me encantada pelo seu toque carinhoso em minha nuca, seu hálito fresco preenchendo-me. Simplesmente apaixonada por ele. Ele relutou quando o tempo não contado chegara ao limite, e necessitamos de ar. Seus lábios roçaram ainda algumas vezes sobre os meus, em selinhos. Eu sorria de olhos fechados, tentando recuperar meu fôlego. Meu corpo feliz pelo ato. Em silêncio escutei sua respiração retornando ao normal, como a minha. Por quanto tempo ficamos nos beijando?! Segundos, minutos?! Tempo cronológico longe de qualquer definição que não indicasse o melhor momento de toda a minha vida.

Eu queria abrir meus olhos, e o observar, mas tive medo. Medo de que fosse como da outra vez, de que tudo não passe de mais um sonho ilusório, desejo carnal de alguma breve confusão. Pareceu-me que ele sabia como o nosso último beijo me afligia, sua carícia em minha nuca, e um singelo beijo em meus lábios me devolveu a coragem. Eu abri meus olhos encontrando os dele. Tão lindos, e penetrantes que eu ofeguei seduzida. Seu sorriso era tão largo, eu estava confusa, mas feliz, intensamente feliz por vê-lo sorrir.

- Você fica tão linda sorrindo. – ele disse depois de um tempo enquanto nos olhávamos. Eu nem havia percebido que também sorria, corei enquanto ele ria, uma gargalhada tão gostosa.  Como eu poderia imaginar que em  minutos atrás eu mal o olhava, e agora eu estou em seus braços, preenchida de uma felicidade fora do comum.

Eu queria dizer algo, mas meus lábios somente gesticulavam, nenhum som era emitido. E de qualquer maneira eu não sabia o que dizer. Ainda tinha receio de que em algum momento ele acreditaria que esse momento tenha sido errado. Eu não aguentaria tanta sinceridade de sua parte, não de novo.

- Hinata... Eu... – ouvi Naruto me chamar, e pelo som de sua voz ele estava hesitante com o que iria dizer, esperei um tempo vendo seus orbes brilharem tanto, e suas íris azuis pareciam o mar no amanhecer. – Droga! – ele praguejou baixinho rindo fracamente. – Me sinto um completo idiota. – murmurou para o aumento de minha confusão, pelo seu olhar eu vi meu reflexo de interrogação. - Porque eu antes, eu nunca percebi esse sentimento. – ele segurou minha mão lívida, colocando-a sobre seu tórax. Eu corei sentindo seus batimentos acelerados, sua pele tão quente. – Você sente? – ele indagou. – Sente cada milésimo de segundo bater por você? – meus orbes lagrimaram. Minha mente a todo vapor. Ele realmente dizia o que pensava que ele dizia?! Era a pergunta que mais me martelava.

- Naruto. – eu murmurei. – Você...? O que está dizendo?

- Você nem faz ideia? – ele me perguntou desconfiado, com um sorriso maroto em seus lábios. Eu não queria adivinhar, eu queria ouvir de seus lábios. Ter certeza de que dessa vez eu o teria ao meu lado. De que tudo não fora simplesmente um reflexo de seu instinto.

- Diga. – eu deprequei.

- Hinata Hyuuga, - ele disse meu nome tão bobamente, me deixando envolvida de euforia e ansiedade. – Eu te amo. – eu demorei um tempo para absorver o que acabara de dizer com tanta veracidade, que minhas pernas ficaram bambas. Ele me amava?!  Não era loucura minha, não era a minha mente que programava sua voz se declarando?! – Eu te amo. – ele repetiu, e eu me joguei em seus braços. Sim. Ele me amava.

O calor do seu corpo me aqueceu ainda mais. Eu nem percebi que estava chorando enquanto sorria, até ele murmurar pedindo que eu não chorasse. Como não?! Eu não estava triste, longe disto. Eu só estava reconstituindo os últimos anos, todo o amor silencioso que eu nutri. Os últimos meses, nosso beijo e nosso distanciamento. Os últimos dias, como ele andava estranho e quieto demais. Os últimos minutos, decididamente os melhores da minha vida.

- Eu te amo. – eu confessei, sabendo que ele não teria dúvidas, aquilo sempre fora tão óbvio. Óbvio?! Como então ele nunca, e agora...? Como ele descobriu? – Naruto, como você descobriu tudo? – indaguei totalmente confusa.

- Eu sempre pensei que amasse a Sakura. Não por ela ser linda, mas pelo coração bruto, porém igualmente amável que ela possui. – começou, e ele estava certo, Sakura apesar de ter um gênio forte, esmurraria qualquer um para defender aqueles que ela ama. - E estava aí o que não se encaixava. O que eu acreditava estava errado. – ele continuava a me explicar, eu ansiava por acreditar em suas palavras. Como eu sempre pensei Naruto não confessaria um amor, que ele não nutrisse. Nem a Sakura ele um dia chegou a confessar mesmo que todos já soubessem, e inclusive a rosada. - A primeira mensagem feminina que eu tive em minha juventude foi ela. Minha mãe nesse caso não conta, claro porque é minha mãe. – eu abafei um leve riso, com o seu difícil desenrolar de fatos. - Eu realmente idealizei muito sobre Sakura. Personalidades que não eram dela, que só em meu pensamento existiam. Vê-la com o Sasuke me feriu, mas não foi por vê-la com ele, mas por vê-la com ele e não sentir nada. – isso me surpreendeu. Então toda aquela tristeza em seu olhar, era por não estar sofrendo como esperado? - Eu sempre soube no fundo que eu não a amava como mulher, entende?! E saber que isso era realmente verdade, me deixou estranho. Meio perdido. – eu pensei que ele fosse perder o seu brilho de amanhecer no olhar, porém ele simplesmente irradiara mais como um sol ofuscante e lindo. – Mas eu tive alguém que sinalizava todos os dias para que eu continuasse a andar. Eu vi duas luas iluminando a escuridão. – ele tocou de leve com as pontas dos dedos os meus olhos que eu havia fechado antes, eu voltei a corar. – Você sempre esteve ao meu lado, eu me sentia tão bem. – ele murmurou em meu ouvido, eu me arrepiei com sua proximidade. Tenho certeza que ele percebeu, eu ouvi sua risada abafada. – Sabe eu sonhei com você inúmeras vezes. Você invadia minhas noites, era o meu momento de felicidade. – eu percebi que um sorriso brincava em meus lábios. Abri meus orbes vendo-o analisando-me com suas safiras brilhantes. – Mas aí eu errei de novo. Eu a desejei de modo tão intenso, e depois a afastei. – ele falava sobre o beijo, tenho certeza. Naquele dia ele disse que não me amava, e desejava que o beijo não atrapalhasse nossa amizade, o que foi meio impossível não ocorrer. – Eu disse algo do qual não tinha certeza, fiz você sofrer. Desculpe-me. – ele implorou, e meu coração se apertou porque eu via tanto arrependimento em seu olhar, tanta dor.

- Shii... Não se preocupe. Já passou. – eu disse a mais pura verdade, não me importava o que houve antes. O meu querido ser irritante dissera que me amava, isso era o mais importante. – Mas você ainda não disse, bem, como você descobriu. – eu disse um pouco corada. Ele sorriu, fazendo-me derreter bobamente.

- Bem. Nisso eu dou todos os créditos a Senhora Kushina. Ela me aconselhou bastante.

- Mas eu nunca...

- Você nunca disse nada a ela. Eu sei, ela também me disse. Mas ela também me mostrou o que eu sentia, e o que você sentia. De como você estava agindo, sabe?! Você estava estranha, não me olhava nos olhos, achei que estivesse com medo de mim. Eu fiquei meio em pânico com isso. – ele disse com uma cara de menino assustado. Senti vontade de pôr sua cabeça sobre o meu colo, e lhe fazer um cafuné. Abafei um riso com o pensamento, eu o tratava como um menino, sendo ele o homem que eu amo. – Mas confesso que eu me arrisquei um pouco hoje. Bem, eu não tinha tanta certeza do que você sentia, eu somente segui os meus instintos. E bem, agora eu estou com você nos meus braços. Acho que isso quer dizer que eu acertei, pequena. – ele disse em tom divertido, me atraindo em seu charme tão natural. Claro, sempre em seus apelidos carinhosos.

- Dessa vez sim. – eu sorri, sentindo-o tocar meus lábios novamente, em mais um beijo, em mais um contato dos quais eu ansiava que houvesse mais, um para sempre sem fim. Até porque se fosse sempre assim, trabalhar em tardes de domingo, não seria ruim, pelo contrário, seria o meu presente semanal.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que leram, espero que tenham gostado. ^^
Por favor, deixem-me reviews, todos que leram, e se não gostaram, por favor, também me digam em seus reviews..
A ideia de uma FanFiction feita em um universo de padaria surgiu, de repente, e acredito que seja porque já trabalhei em uma padaria.. XD
Meu gênero normalmente é mais dramático e doce, eu acho, mas eu me diverti escrevendo esta One-Shot menos dramática, claro que nem tanto..
Quem nunca leu minhas FanFictions, aqui estão os links delas:
http://www.fanfiction.com.br/historia/44166/Meu_Melhor_Presente
http://www.fanfiction.com.br/historia/53801/Lucky
http://www.fanfiction.com.br/historia/41502/A_Nossa_Historia_De_Amor
Até a próxima.. ;D
Só mais um aviso.. Esta One-Shot é uma sugestão do que está por vim com a minha próxima FanFiction.. ^^
Então, até o próximo projeto... ^^