Meu Doce Lírio escrita por Capistrano


Capítulo 42
Capítulo 42 - Sorte Líquida




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Ao sair da aula de poções, tudo o que Lily queria era se deitar. Tinha dormido muito pouco durante a noite, preocupada com o encontro de hoje com Severo, e seu corpo implorava por repouso.

   No fim da aula quando todos arrumavam suas coisas para sair da sala, ela sentiu os olhos de Snape em cima dela. Se esforçando muito para não retribuir o olhar ela simplesmente pegou seus livros e a varinha e saiu atrapalhadamente, esbarrando em alguns colegas no corredor.

   Ela odiava encontrar Severo. Odiava principalmente o fato de mesmo depois de tudo o que aconteceu, ela ainda sentir saudades do amigo que tinha. Era desesperador não saber como se comportar ao lado de uma pessoa que teve um papel tão grande em sua infância.

   Lily, às vezes, ainda pegava lembrando-se da risada do amigo enquanto estavam deitados nos gramados de Cambridge. Ou sobre como o amigo era o único que sabia como consolá-la quando Petúnia passava dos limites. Era doloroso perder isso.

   Já no corredor abarrotado de gente ela ouviu James chamar seu nome ao fundo, mas a última coisa que ela iria querer agora era olhar o rosto excessivamente perfeito de Potter e recriar a cena das mãos daquela garota loira alisando os braços dele.

   Cada passo que Lily dava para longe de Pontas e Snape era libertador. Até mesmo a idéia de conversar com Alice, Marlene ou Julian sobre os acontecimentos daquele dia era desgastante. Realmente nada era mais atrativo para a ruiva do que a própria cama.

   Ao entrar no salão comunal ela encontrou Remo, cumprindo sua função como monitor da Grifinória ele tentava explicar para alguns alunos do primeiro ano onde ficavam as estufas da aula de herbologia que teriam no dia seguinte logo cedo.

— Quando saírem do castelo pelo lado norte vão encontrar o campo de Quadribol ao fundo e na direita, logo atrás do gramado de treino de vôo, verão três estufas... – Lupin indicava com as mãos as direções – a aula de vocês é na estufa dois, a do meio.

   Eles agradeceram e se dispersaram, passando por Lily pelo quadro da mulher gorda e provavelmente indo ao Grande Salão já se preparar para o jantar.

— Lily, bom te ver – Remo sorriu sempre cordial.

— Oi Aluado – a ruiva respondeu tentando esconder da voz o cansaço e desânimo.

   Obviamente sem ter muito sucesso em esconder seus sentimentos de Lupin, o amigo se aproximou dela, analisando seu rosto com cuidado e curiosidade.

— Dia difícil? – ele perguntou somente.

   Lily em resposta assentiu, já mirando nas escadas do dormitório feminino, ansiosa para se deitar nos lençóis limpos de sua cama.

— Preciso mesmo descansar, falamos depois, ok?

— Claro... Se precisar de alguma coisa estou aqui – Remo disse no fundo, enquanto a ruiva subia as escadas se arrastando. Ela se limitou a virar o rosto por cima do ombro e esboçar um sorriso ao amigo.

   Deitada em sua cama, a menina se permitiu enfim relaxar. Depois do dia lotado de aulas os estudantes estavam todos indo ao Grande Salão jantar, e isso daria a Lily alguns minutos preciosos de tranqüilidade.

   A cabeça de Lily latejava de dor e também por todos os pensamentos que estavam confinados na mente dela. Snape conseguindo fazer uma poção do morto vivo perfeita e ganhando um frasco de Sorte Líquida, James sendo cortejado, sua família sendo vigiada, Lorde Voldemort a solta matando trouxas.

   Um suspiro pesado escapou pelos lábios da ruiva. Virando de lado na cama ela fechou os olhos com força, querendo limpar sua mente e dormir.

   O cansaço era tanto que quando a consciência da ruiva se esvaiu e ela caiu no sono, sua cabeça era apenas um breu, sem sonhos.

   Lily acordou no meio da madrugada, com seu estômago rugindo de fome. Encarando o teto ela refletiu mais uma vez sobre como Snape estava mudado e sobre como James parecia confortável ao lado daquela menina.

   Ela se lembrou da conversa que tinha ouvido a um tempo atrás, dos marotos, no trem. Nessa conversa ela tinha descoberto que Pontas usava oclumência em uma garota, seu interesse romântico da época.

   O coração de Lily afundou. Durante as últimas semanas a atitude de James com ela a tinha convencido de que a tal menina tivesse ficado para trás, e ele pudesse agora estar interessado na ruiva, quase tanto quanto ela estava interessada nele.

   Sentindo uma humilhação crescendo no peito ela tentou apagar de sua memória o beijo que tinham dado no Beco Diagonal, ou o toque de mãos que tinham tido naquela semana no primeiro jantar do ano letivo.

    Sem conseguir conter mais a fome que tinha, ela resolveu descer para o salão comunal, tentando buscar de alguma forma algo para comer.

— ... quando a encontrei mais cedo, ela estava acabada – sussurrou uma voz, que ela reconheceu como sendo a de Lupin.

— Eu preciso provar para ela que entre mim e a Anne não há nada – Pontas comentou com uma voz angustiada.

   Os sussurros estavam vindo do sofá do Salão Comunal, e Lily, como sempre, não conseguiu conter a curiosidade sobre tudo que envolvia James. Parando nas escadas para ouvir, ela apurou os ouvidos.

— Não sei por que está tão preocupado Pontas... Não é obvio? – Sirius perguntou com um tom de divertimento na voz – Evans está louca de ciúmes!

   Ciúmes?! Lily não tinha visto toda a situação dessa forma, e por um momento ela parou de ouvir os marotos e refletiu sobre o que Black tinha dito. A raiva selvagem que invadiu o corpo da menina só de lembrar o toque de Anne nos braços de James, confirmou a teoria de Sirius.

— Acha mesmo? – Potter perguntou inseguro

— Com certeza! Durante anos você sonhou em ver a ruiva louca de ciúmes por você... – Black continuou – Deveria estar comemorando agora.

— Eu não quero isso, pelo menos não mais. Lily precisa saber que é única pra mim, sempre foi e sempre vai ser – James afirmou decidido, e a menina prendeu a respiração, chocada com a revelação que tinha escutado.

— Já que estamos nesse assunto... – Remo comentou nervoso – Preciso falar de algo que ouvi hoje de manhã no Grande Salão e sobre algo ainda pior que fiquei sabendo na sala dos monitores depois do jantar.

— Desembucha Aluado – pediu Sirius.

   Depois do que James tinha dito sobre Lily ser a única para ele, a ruiva teve que se esforçar muito para continuar escondida e não se jogar no sofá e se declarar para Potter de igual forma. A única coisa que realmente freou seus pés de fazerem isso foi o tom urgente e nervoso na voz de Remo.

— De manhã eu e Pedro ouvimos Lily falar sobre Snape...

— falar o que? – a ruiva ouviu alguém se remexer no sofá, e pela ansiedade na pergunta de Potter, presumiu que tivesse sido ele.

— Não gosto de fofoca, e eu e Pedro combinamos de não te contar, mas depois do que ouvi hoje dos outros monitores... Acho que você precisa saber – Aluado começou – Lily estava comentando com Alice e Julian sobre o quanto Severo era importante para ela – Remo contou com cuidado.

   A ruiva não sabia quantas pessoas tinham no Salão Comunal com os meninos, mas um silêncio se fez e parecia que Lupin, e quem mais estivesse ali, estava estudando a reação de James.

— E o que mais ela disse? – Potter perguntou tentando (inutilmente) mascarar o nervosismo na voz.

— Disse que era muito difícil para ela ter perdido a amizade dele – continuou Remo – Mas só estou te contando isso porque hoje logo depois do jantar fui com Dédalo, o monitor da Lufa-Lufa, na sala dos monitores e escutamos uma conversa entre Amélia Bones, monitora da Corvinal e o monitor da Sonserina, Yaxley...

— Que tipo de conversa? – Sirius perguntou desconfiado.

— Sobre Lily? – quis saber James ainda ansioso.

— Sim... Sobre Lily.

   O corpo da ruiva enrijeceu e todo calor que se espalhou por seu peito quando ouvi a declaração de Pontas, sumiu quase que imediatamente, dando lugar a uma sensação gelada no estômago. “O que poderiam estar falando sobre mim?”

— Diz – ela ouviu Potter exigir entre dentes.

— Hoje na aula de poções Snape conseguiu criar uma poção do morto vivo perfeita, e ganhou do Professor Slugorn um frasco de Sorte Líquida como recompensa... – Contou Remo com calma – Amélia estava horrorizada com um boato espalhado por Yaxley... Não sei até que ponto é verdade, mas pelo o que escutei de Lily hoje de manhã e pelo o que conheço de Severo... Pode ter algum fundamento.

— Por Merlim, conta logo! – pediu Sirius exasperado.

— Yaxley estava dizendo que Snape iria usar a poção para conseguir um beijo de Lily – disse por fim, Lupin.

— Um beijo?! – Almofadinhas perguntou abismado – Pra que?

— Ou usar a Sorte Líquida para conseguir fazer uma poção do amor forte o bastante para afastar Lily de nós, especialmente de Pontas – Remo explicou - Não é nenhuma novidade que o Ranhoso é apaixonado por ela.

— Ok, que ele seja afim da ruiva, eu realmente não duvido nada... Mas gastar um frasco de Sorte Líquida para dar um beijo? Não parece um motivo tão importante assim.

— Você não gastaria essa oportunidade para dar uns beijos na Lene? – Aluado perguntou provocativo.

— Não! – respondeu categoricamente Sirius – Vontade eu até tenho, de conseguir um beijo daqueles lábios maravilhosos... – Lily quase podia ver o rosto admirado de Black enquanto falava da menina lufana – Mas quando esse momento acontecer, e eu sei que um dia vai acontecer, quero que ela me beije por vontade própria.

— A não ser... – James enfim disse alguma coisa, com a voz nitidamente concentrada em alguma teoria – Que ele faça isso por mais de um motivo.

— Que outro motivo poderia ter? – Lupin parecia confuso.

— Podemos falar o que quiser sobre o Snape, mas não podemos negar que ele é inteligente – Potter admitiu de mal grado – Se ele conseguiu fazer uma poção do morto vivo perfeita, não precisa de Sorte Líquida para fazer uma poção do amor para Lily... Até por que, se ele quisesse dar a ela uma poção dessas, já poderia ter feito isso desde o quarto ano. Ranhoso tem talento com poções, e isso é óbvio. Mas Almofadinhas está certo... Ele não gastaria essa oportunidade com apenas um beijo.

— O que acha que ele vai fazer então? – Sirius perguntou

— Algo relacionado à Lily com certeza, e eu não vou deixar isso acontecer – James pareceu decidido e o coração da ruiva acelerou de admiração.

— Pontas, sabe que se ele realmente tomar a Sorte Líquida, não há nada que você possa fazer – Remo avisou a contra gosto.

— Não há nada que vá me impedir de protege – lá.

   A fome que a ruiva tinha sentido quando acordou passou, e a única vontade que Lily tinha naquele momento era dormir nos braços de James e nunca mais sair de lá. Mas ela sabia que estava ouvindo, mais uma vez, uma conversa privada dos meninos. Sem saber muito bem o que pensar sobre os boatos envolvendo Severo, a menina resolveu voltar ao dormitório.

   Enquanto subia as escadas ela ainda ouvia murmúrios da conversa no andar de baixo, mas contendo a curiosidade, sabendo que já tinha escutado demais, ela entrou no quarto na ponta dos pés e deitou-se na cama quieta.

  Havia tanta coisa para digerir, especialmente a parte sobre Snape pretender usar a Sorte Líquida para tentar algo com Lily. Mas mesmo sabendo da gravidade deste assunto, ela não conseguia pensar em nada além do que ouvira da boca de James no salão comunal.

Lily precisa saber que é única pra mim, sempre foi e sempre vai ser”. Foram essas palavras que embalaram o sono da ruiva, que dormiu com um sorriso bobo no rosto, e com a certeza que não importasse qual poção usassem nela, Potter também sempre seria o único para ela.


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