Meu Doce Lírio escrita por Capistrano


Capítulo 38
Capítulo 38 - Pesadelo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! (;



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Sirius estava certo. Lily de fato passou o resto do verão no jardim, se alimentando de luz solar. Dumbledore enviou, junto com a carta de Remo, os resultados das N.O.M.s e o material escolar de cada um. A ruiva tinha se saído muitíssimo bem nos exames, para seu completo alívio e orgulho, e por isso tinha bastante liberdade e opções para montar sua grade de horário do próximo ano letivo.

Remo também foi excelente, além do título de monitor, seus resultados nas provas tinham sido fantásticos, e ele e Lily estavam delirando com as possibilidades de matérias que poderiam cursar. Pedro não se saiu tão bem, na verdade ele teve notas medíocres e praticamente tinha limitado quase todas as carreiras que poderia escolher no futuro.

James e Sirius surpreenderam Lily. Ela já sabia que eles não eram péssimos alunos, mas mesmo assim não imaginava que eles tivessem um resultado tão acima da média. Especialmente Almofadinhas, que durante todo o quinto ano se ocupou de flertar com Marlene ou treinar Quadribol. Ambos permaneciam firmes no sonho de se tornarem aurores, e com aquelas notas, o sonho se tornava cada vez mais possível.

Após aquela manhã Lily se permitiu, pela primeira vez durante todas as férias, pensar sobre o ano que se seguiria em Hogwarts. Ela sentia, acima de tudo, medo, especialmente por Severo e suas novas amizades. Eles eram Comensais da Morte, discípulos assumidos do Lorde das Trevas e repudiavam nascidos trouxas, ela não sabia o que esperar disso. Afinal, eles estariam em Hogwarts, ninguém era ferido sob os olhos de Dumbledore, certo?

No fundo de seu coração, ela sabia que o Diretor não era a única proteção que teria dentro dos muros do castelo. As palavras de James ainda pairavam por suas lembranças “minha vida pela sua”, e ela sentia novamente aquele calor que lhe preencheu no quarto, ao ouvir tais dizeres pela primeira vez. Ele iria protegê-la caso fosse necessário e apenas por esse pensamento é que a ruiva se permitia ter paz com a idéia de estudar no mesmo colégio que um bando de Comensais da Morte.

Era bom estar ao ar livre. Os Potter tinham um gramado muito bem cuidado, além de não terem nenhum vizinho. O único som que a menina ouvia eram os dos pássaros e do vento batendo nas folhas. Suas pálpebras pesaram e Lily adormeceu com a sensação do sol batendo no rosto, do vento em seus cabelos e da grama sob suas costas.

O sonho começou calmo, ela estava em sua casa de Cambridge cercada pelos mesmos móveis que ocupavam aquele lar. A ruiva sentia o cheiro dos pães que sua mãe fazia, e podia ouvir a televisão ligada no programa que seu pai assistia sempre. Ela sabia que se subisse a escada veria Petúnia dando risadas enquanto lia alguma revista, tudo estava normal, como sempre fora.

Uma batida na porta a sobressaltou, era mais do que uma batida sutil e educada, era alguém esmurrando aquela porta. Lily aguardou que a pessoa desistisse, ou que alguém de sua família fizesse alguma coisa, mas nada mudou. Ela continuou ouvindo os murros na porta, até que quem quer que estivesse atrás daquele painel de madeira entendeu que não seria recebido.

Um sussurro se seguiu do silêncio e Lily, com alguns instantes de atraso, entendeu o que estava acontecendo. A pessoa que tentava entrar na casa não era trouxa e estava murmurando feitiço de arrombamento.

Alohomora – A voz gélida de um homem pronunciou.

Era ele. Não era um sonho, era um pesadelo. O pior deles. Voldemort estava ali, para matar a família dela. Iria matar Charlotte, John e Petúnia. Lily tinha que fazer alguma coisa, ela olhou em volta, completamente desesperada, em busca da sua varinha, mas não a viu. Na verdade não viu nada além de panelas que pudesse usar para proteger as pessoas que ama.

Alguma coisa tinha que ser feita. Aquilo não era realidade, era tudo fruto da parte mais cruel da imaginação da ruiva. Ela poderia controlar seus sonhos, não poderia? Não fazia sentido o Lorde das Trevas se importar tanto com uma família de trouxas, nada naquele pesadelo fazia sentido. Onde estava Kingsley? Arthur? Por que não tinha ninguém vigiando a casa?

A porta se abriu, e uma figura encapuzada entrou, se arrastando similar a uma cobra. Era a figura mais apavorante que Lily já vira. Ela não conseguia ver seus olhos, mas os imaginou como os de uma serpente, um sorriso cruel se estendia pelo seu rosto pálido.

As pernas de Lily se moveram, seus olhos a procura dos pais e de Petúnia. Ela tinha que protegê-los, nem que isso significasse partir para um combate corpo a corpo com o Lorde das Trevas. Parecia ridículo, mas caso fosse necessário, ela faria isso sem pensar duas vezes.

Barulhos no segundo andar atraíram a atenção da menina, e também de Voldemort. Ambos encararam o teto, imaginando quem estaria andando por ali. O sorriso do homem aumentou, e o coração de Lily bombeava sangue freneticamente pelo seu corpo, adrenalina corria por suas veias e suas mãos suavam, era Petúnia no segundo andar, ela sabia que era.

– T-Túnia, fique onde está – pediu ela vacilante, ainda encarando o teto. Lorde das Trevas pareceu não notar a menina ruiva, e começou a se arrastar demoradamente em direção as escadas.

Nada fazia sentido. O que Petúnia tinha feito para merecer ser morta por Voldemort? Ela era inocente, ingênua, e trouxa. Nada que ameaçasse o reinado de magia negra daquele homem encapuzado. Era tão injusto, ela era sua irmã, e não deixaria que uma criatura (mesmo que essa criatura fosse o maior terrorista bruxo de todos os tempos) pudesse tocá-la.

Será que ela poderia usar a panela para acertar Voldemort? Ele não estava prestando atenção nela. Era um plano patético, e quando ela acordasse certamente iria rir dessa situação, mas era seu único plano.

Lily se voltou para o balcão da cozinha, e pegou a frigideira. Querendo gritar com seu subconsciente “Por que não pôs uma varinha a minha disposição nesse pesadelo louco?!”. Com a panela na mão ela seguiu Voldemort pelo hall de entrada, ele já estava na metade da escada, tudo parecia tão lento e calculado, como o bote de uma cobra.

– Petúnia, não fique com medo – Ela disse, com a voz engasgada. Era quase um pedido para si mesma. “Não fique com medo Lily, isso não é real”.

Enquanto ela respirava fundo, tentando pensar em como acertaria a cabeça do Lorde das Trevas com a frigideira, o homem se adiantou pelos degraus, chegando no segundo andar da casa. Na sombra de seu rosto que escondia seus olhos, ela viu um brilho vermelho, parecia que seus olhos eram rubis. Seu coração perdeu uma batida de medo, ela estava verdadeiramente apavorada.

Petúnia também ficaria horrorizada, completamente paralisada pelo medo, quando visse aquele homem na porta do quarto dela. Um aperto no peito despertou Lily. A garota amedrontada no segundo andar era sua irmã, sua chata, irritante e completamente inocente irmã.

Ela amava Petúnia, apesar de tudo. Ela fazia parte da sua família, e a ruiva sabia que lutaria até o fim por sua família. O calor que ela tinha experimentado na presença de James, se espalhou novamente pelo seu corpo. E no instante que ela sentiu essa sensação, ela notou suas pernas mais fortes, mais precisas e certamente mais rápidas. Soube que seus braços estariam mais firmes e sua visão estava focada na figura encapuzada no topo da escada. Ela lutaria por amor.

Com a panela na mão, Lily se adiantou escada acima. Subiu aqueles degraus tão rápido quanto um leopardo enfurecido e faminto. Quando chegou ao fim da escada ela viu que Voldemort já estava entrando no quarto de Petúnia, e o grito estridente da garota comprovou isso.

A ruiva correu, e ao ver o topo do capuz do Lorde das Trevas ela mirou sua frigideira com toda força que encontrou dentro do seu corpo. O metal bateu forte no crânio do homem, mas nada mudou, ele permanecia em pé, implacável, encarando sua irmã mais velha.

Petúnia chorava encolhida no canto mais recluso do quarto. Suas mãos e pernas tremiam violentamente, e as lágrimas encharcavam sua face horrorizada. Seus olhos negros estavam arregalados encarando Voldemort.

Lily ficou sem saída, sua frigideira tinha caído, com um estrondo, pelo chão do quarto. E algo dizia que de nada adiantaria se Lily corresse pela casa atrás de mais panelas para acertar na cabeça do homem. Tinha que ter alguma coisa. Qualquer coisa que pudesse fazer para salvar sua irmã.

A ruiva se recordou então, de uma conversa que tivera com Frank Longbottom no ano passado, sobre as Maldições Imperdoáveis. E naquele momento, ao lado do amigo, ela teceu uma teia em sua mente, sob a idéia de se proteger da Maldição da Morte. Tal linha de raciocínio se desenvolvia nos devaneios dela, naquele exato momento.

“Minha vida pela sua”, mais uma vez a voz de James ecoou pela cabeça de Lily. Tudo parecia fazer sentido, mas mesmo assim ela não conseguia pensar em como isso poderia de fato salvar Petúnia. Como por em prática o amor que sentia pela sua irmã? Como salvar alguém que ela amava?

Sem entender direito o que estava fazendo, o calor que se apoderou do seu corpo estimulou suas pernas a se moverem, se pondo na frente de Petúnia, separando-a do Lorde das Trevas. E antes que ela pudesse se tocar do que estava acontecendo, ela viu o brilho vermelho dos olhos de Voldemort, seguido da voz gélida e cruel dele:

Avada kedavra! – Um brilho verde voou da varinha estendida do Lorde das Trevas, e então Lily ficou cega pela luz, e caiu no chão, sem vida.

– Lily! – A voz de James começou a ecoar pelo seu crânio, num eco. – Lily!! Acorda, é só um pesadelo... – Ele parecia preocupado, mas os olhos da menina estavam fechados, ela não conseguia encará-lo.

Gradativamente os sentidos dela começaram a voltar. Sua audição foi apurada, havia mais alguém com Pontas, ela escutou o barulho de mais movimentos, pelo tato ela entendeu que permanecia estendida sob a grama do jardim dos Potter, seu olfato identificava o cheiro amadeirado de James, ela conseguia sentir o sol no seu rosto, ela estava suando de calor. Seu rosto estava molhado, pareciam lágrimas. Por fim ela abriu os olhos.

Um par de olhos conhecidos e preocupados a encaravam.

– O que aconteceu? – ela perguntou grogue, tentando se sentar.

– Você caiu no sono... – Potter avaliou seu rosto, secou suas lágrimas com os dedos carinhosamente, e após perceber que Lily estava bem, abriu um sorriso preguiçoso – A Dorminhoca teve um pesadelo

Imagens de Voldemort na casa de seus pais em Cambridge acelerou seu coração.

– Meus pais, James... – Ela se levantou nervosa – Petúnia, eu tive um pesadelo com ela... Preciso saber se ela está bem...

– Claro – Ele se levantou com ela. Pedro estava ao lado dele, a encarando igualmente preocupado – Vou pedir para os meus pais mandarem um patrono a Kingsley, checando se seus pais estão bem...

Ela assentiu agradecida

– Não se preocupe, eu falo com seus pais. Fique com ela Pontas – Pedro se levantou da grama, interrompendo James enquanto ele começava a se virar para correr até a casa.

– Obrigado Rabicho – Potter agradeceu, e a menina sorriu nervosamente ao menino gorducho que saia correndo desajeitadamente pela grama – Vai me contar sobre o que era o pesadelo? – Pontas perguntou quando já estavam sozinhos.

– Você-Sabe-Quem estava na minha casa, estava prestes a matar Petúnia – Lily contou numa voz estrangulada – E-Eu me taquei na f-frente, e ele me matou – Ela disse por fim, e o garoto pareceu estremecer com a parte final do sonho.

– Isso nunca vai acontecer – James pareceu decidido – Não enquanto eu estiver vivo.

– Por quê?

– Se alguém quiser te ferir, vai ter que me matar primeiro – E aquilo parecia mais um juramento de Potter, quase como uma promessa. Um sorriso tímido se estendeu pelo rosto da menina, e o calor de seu peito cresceu como uma chama.

É. Talvez ela estivesse amando James Potter.


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