24 de dezembro, às sete horas...

-Alô?

-Gabi, é o Bill. Já estou aqui em baixo te esperando.

-Já vou descer.

Desligamos o telefone e em alguns minutos ela apareceu. Como ela estava bonita. Linda como sempre.  Segurei-me pra não ficar de boca aberta quando a vi. Ainda bem que Tom não estava lá, se não já ia desconfiar de alguma coisa. Ele foi ao hospital desejar um Feliz Natal a um amigo que sofrera um acidente de carro recentemente, mas não iria demorar muito.

Antes de buscar a Gabi, eu tomei uma decisão. Vou tentar esquecer que a amo. Ela é apaixonada pelo Tom e o mesmo é apaixonado por ela. Eu não tinha praticamente nenhuma chance e se eu tentasse roubá-la do meu irmão, íamos ter problemas. Não gosto de brigar com ele e é justamente isso que vai acontecer se descobrir que eu gosto da quase namorada dele. Vou deixar os dois serem felizes sem me intrometer. Mas se o Tom fizer alguma coisa de ruim com a Gabi, aí ele vai se ver comigo.

Chegamos em casa, mas Tom ainda não. A  apresentei para a família e todos gostaram dela. Ela era muito simpática, mas notei que estava um pouco envergonhada. Se eu estivesse no lugar dela, rodeada de estranhos também ficaria. Depois, levei a Gabi no lugar que eu mais gosto naquela casa, o jardim. Era muito florido, grande e muito especial pra mim, mais ainda com ela ao meu lado.

-Bill, que lugar mais lindo!

-Eu sei. Dizem que mulheres gostam de flores, então achei que você ia gostar.

-Eu não gostei, eu amei! – seus olhos brilhavam diante de tantas flores. Arranquei uma que achei bonita e dei pra ela.

-Fique com essa aqui. É a sua cara.

-Obrigada – ela corou e acho que eu também

Depois de mostrar quase o lugar inteiro, sentamos nos dois balanços que eu e Tom brincávamos quando éramos crianças. Seu eu não fosse magro, não iria caber mais ali.

 -Bill, já conseguiu falar com ela?

-Ela quem?

-Aquela garota que você está afim.

-Hum... Ainda não – cocei a cabeça.

-Bill, fala logo de uma vez pra ela. Eu sei que ela está com outro cara, mas se ela souber o que você sente, ela vai ter a oportunidade de escolher. Vai que o escolhido é você.

-Mas se ela escolher o outro cara e não a mim?

-Daí eu vou estar sempre aqui com você pra te consolar. Você tem que tentar, Bill. – se ela ao menos soubesse a verdadeira situação, saberia que “tentar” talvez não seja a melhor opção – Vem aqui. Você está precisando de um abraço.

Ela me abraçou e ficou assim por um tempo tentando me consolar de alguma maneira. Sei que não teria nenhuma chance com Gabi, porém estar na presença dela já era suficiente.

Por praga do destino, meu momento feliz e ao mesmo tempo consolador foi interrompido pela minha mãe após alguns minutos.

-Bill, seu irmão chegou e mandou-me dizer que quer falar com você agora. Fique tranquilo que eu fico aqui com a Gabi e já entramos.

-Ta bom, mãe. Mas o que ele quer? – perguntei.

-Não sei, mas disse que tem que ser agora.

O que será que Tom queria falar comigo pra ser tão urgente? Entrei e o vi de costas apoiado na parede do corredor perto da sala.

-Tom, o que foi? Aconteceu alguma coisa? – mal terminei a minha frase e ele se virou rapidamente e deu um tapa no meu rosto tão forte que cai no chão.

-Você está pensando que é o que, Bill? Que pode fazer isso pelas minhas costas?

-Do que você está falando cara? E por que me bateu?

-Por que? Acha que eu não vi você abraçando a Gabi lá fora?

-Tom, você está entendendo tudo errado. Ela só estava me consolando por causa daquela garota. Só isso. E para de gritar comigo!

-Eu sei o que eu vi. – ele não parou de gritar e continuava irritadíssimo – Fica longe da Gabi, Bill. Ela é a primeira pessoa que eu amo de verdade e você fica dando em cima dela? Seja homem pelo menos um dia na sua vida e fala de uma vez pra essa tal garota que você quer ficar com ela e deixa a minha em paz!

Todo aquele ciúme dele era desnecessário. Ela apenas tinha me dado um abraço, nada de mais.

Levantei-me e agora era eu quem estava com raiva.

-E se por acaso essa garota for a Gabi, Tom? E se eu estiver completamente apaixonado por ela tanto quanto você? – meu irmão ficou paralisado, mudo. Não sabia o que dizer.