Olhava para os dois e nenhum deles se atrevia a se explicar ou dizer alguma coisa. Tom começou a sair do guarda-roupa devagar, afinal não tinha mais motivo de se esconder. Droga! O desgraçado ainda estava sem camisa. Comecei a desconfiar.

-O que estavam fazendo antes de eu chegar? – perguntei ríspido.

-Não é o que está pensando.

-Claro que é! Olha pra sua cama, Gabi. Está toda desarrumada e o meu irmãozinho aqui está sem camisa escondido no seu guarda-roupa. O que queria que eu pensasse?

-Confie em mim. Eu e Tom só estávamos...

-Confiar? Você quer eu confie em você depois de mentir pra mim? Depois de não dizer que Tom estava aqui, depois de ter prometido tudo aquilo pra mim ontem?

-Calma, Bill, eu vou explicar.

-Eu não vou ficar calmo! – sim, eu já estava alterado, tanto que andava pra lá e pra cá com minhas mãos quase arrancando meus cabelos. Meu irmão apenas observava e não fazia nada. Gabriele já estava aparentemente nervosa. Dizia que ia se explicar, mas eu percebia que ela ainda não havia formulado uma explicação em sua mente, ou uma desculpa como todas as outras – Você prometeu, Gabi. Prometeu que ia me dizer a verdade mesmo que doesse. Droga, como fui tão idiota ao ponto de acreditar em você...

-Bill, eu...

–Você disse que me amava – berrei como se estivesse perdendo a vida. Realmente eu estava. Estava perdendo Gabriele. Lágrimas já caiam sobre meu rosto.

–Ah, faça-me o favor, Bill – debochou Tom finalmente decidindo falar alguma coisa – Acha mesmo que uma mulher como a Gabi iria se apaixonar por você? Nunca se viu no espelho? Olha pra você. Usa maquiagem, pinta as unhas, nem corpo de homem tem. E até um tempo atrás, tinha um cabelo que assustava as crianças na rua, exatamente igual quando éramos pequenos. Nada mudou.

Tom sabia meu ponto fraco. Sabia que a minha infância não foi como de todas as crianças, já que vivia sempre excluído por ser diferente. Mas eu também sabia uns podres dele, e não ia deixar de usá-los.

–Nada mudou mesmo, Tom. Você continua o mesmo egoísta de sempre. O mesmo galinha e infiel que sempre foi. Debochando de todo mundo, principalmente do Georg. Por acaso você já se perguntou se ele gosta que você fica rindo dele durante as entrevistas, hein? Pare de olhar para o próprio umbigo.

–Olha quem fala. Quem é que faz tudo pra chamar a atenção? Quem é que anda por ai se sentindo macho de unhas feitas? Qual membro do Tokio Hotel aparece igual a um Sr. Gaga?

–Não dou a mínima para o que falam do meu estilo ou do jeito que me visto.

–Ótimo. E eu não dou a mínima pelo que você sente pela Gabi. Antes eu até ligava, mas não mais. Pra mim basta. Não consigo mais ficar sem ela.

–Own, virou romântico agora? Caso não tenha percebido até agora, também não consigo ficar sem ela.

–Então temos um problema.

–Só percebeu isso agora, idiota? Não vou te deixar ficar com ela. Está maluco? Se pensa que vai fazer a Gabi feliz transando com ela toda noite que nem você fazia com as outras está enganado.

-Olha, Bill. Você já está me estressando. Onde quer chegar? O que quer? – perguntou impaciente.

-Quero que me digam a verdade.

Olhei para Gabriele. Estava assustada, sem saber o que fazer. Fui até ela, segurei seu rosto com as minhas mãos e a olhei bem em seus olhos, que agora sei que não são mais tão perfeitos, porque têm o dom da mentira. Havia tanta raiva dentro de mim junto com tantos outros sentimentos que me faziam sentir como uma bomba atômica prestes a explodir.

-Gabriele, ontem você fez uma promessa e essa é a hora de cumpri-la. Você me ama?

Ela olhou para o chão, depois para Tom e para os lados, nunca olhando pra mim. Começou a coçar a cabeça. Típicos sinais de nervosismo.

-Eu amo você, Bill, mas eu também amo muito Tom e eu...

-Não... – disse me afastando dela.

-Não o que? – indagou confusa.

-Você não me ama. Se me amasse o tanto quanto você diz ou disse pra mim, Tom jamais estaria envolvido. Tom não seria problema. Você jamais iria preferir ele à mim.

-Mas...

-Mas nada, Gabi. Acabou. Você sempre gostou dele, não é? Desde a primeira vez que nos vimos. Só me diga uma coisa. Se gosta tanto dele, por que ficou comigo esse tempo todo? Por que me fez sofrer tanto por você se era Tom que sempre queria? Por que me fez fazer tudo aquilo por você sendo que nada valeria à pena?

-Eu gosto dos dois.

-Me diz a verdade! – gritei.

-Tive pena de você – paralisei. Meus Deus, o que está havendo? – Você sempre foi tão gentil comigo, sempre mostrando o quanto eu era importante pra você. É isso, eu tive pena de ficar com Tom e te deixar sozinho e triste por eu e ele estarmos juntos. Conversamos e ele concordou comigo. Você queria a verdade? Pronto!

Era como imaginei. A verdade ia doer. E doeu.

-Vocês tiveram pena? Nunca pensaram como eu me sentiria quando descobrisse tudo?

Comecei a chorar. Minhas forças de resistência desapareceram.

“Então ela teve pena de mim... Não dá pra ficar pior”, pensei.

E Tom? Por que ele só fica parado não fazendo nada e só assistindo? Posso sentir que ele está triste por mim, mas a sua felicidade é maior já que agora terá Gabriele só pra ele. Não vou segurá-la mais. Não acredito que ele também teve pena. Não acredito que ele teve coragem de fazer isso com seu próprio irmão.

Ela chegou perto de mim e me abraçou. Não estava ligando mais para nada. Também a abracei e chorei junto a ela. Talvez essa fosse a ultima vez que ficamos tão próximos assim. Apertei-a bem forte, mostrando meu sofrimento e o quanto ela ainda é importante pra mim.

-Gabi? – disse ainda em seus braços.

-O que?

-Por que fez isso comigo? Por que? Por que fez isso comigo? Eu não merecia.

-Sinto muito, Bill.

-Não, eu que sinto muito – a empurrei e fui em direção a porta do quarto.

Acabou.

Olhei para eles que estavam espantados e disse:

-Sinto muito por ter sido um peso em suas vidas e por ter atrapalhado o amor de vocês. Estou profundamente arrependido e peço desculpas por apenas tentar ser feliz. Obrigado pela pena de vocês. Me fez sentir muito melhor.

Peguei a chave do meu carro que havia deixado em cima da mesa da cozinha e fui embora.