Nossos rostos estavam a centímetros de distancia. Tinha medo de beijá-la, de ver sua reação. Havia tantas dúvidas em minha cabeça, se ela ainda me amava, se ela tinha ódio de mim, ou se simplesmente não era mais correspondido. Era como se eu descobrisse que meus sonhos que se tornaram realidade foram apenas ilusões. E Tom? O que será que ela achava dele? Aquele miserável.

Com o pensamento de que isso não daria certo, abaixei um pouco minha cabeça com as mãos apoiadas na parede e Gabriele entre elas. Fechei os olhos. Nada dava certo pra mim. A culpa é minha de não aceitar que nunca serei aceito como um normal para a sociedade. Acha mesmo que Gabriele ia querer um anormal? Um homem alto de mais, magro de mais, estranho de mais e que passa maquiagem para completar o look de esquisitice?

-Senti sua falta – disse como se estivesse falando comigo mesmo.

Abracei-a deixando as lágrimas tomarem conta de mim. Já não me importava mais com elas. Não ligava se ia parecer uma criança boba. Não dava mais pra ficar sem Gabi, não mais. Cheguei ao meu limite. Se ela me chutasse agora, viver não valeria mais a pena. Ela era a minha mulher.

-Gabi...

-Shhh, calma Bill. Está tudo bem?

-Não. Eu... eu... – gaguejei. Não agüentava mais aquilo. Puxei-a para perto de mim e a beijei. A princípio ela não se moveu, mas depois ela foi correspondendo. As lágrimas se secaram. Minha respiração ficava cada vez mais ofegante. E meu coração batia num ritmo incontrolável. Já não lembrava mais quem eu era, onde estava e o que fazia ali. Coloquei minhas mãos firmes em sua cintura a apertando cada vez mais contra meu corpo. Quando senti as aceleradas batidas de seu coração, deu-me vontade de me transformar numa onda do mar para poder me desmanchar lentamente num paraíso qualquer.

Seus dedos frios em minha nuca me davam arrepios. Seu corpo quente aumentava minha excitação. Ela nunca havia me beijado daquela maneira. Era bom. Podia ficar ali a noite inteira se quisesse. Mas como tudo o que é bom dura pouco...

-Vá embora. Que saco, Bill – disse me empurrando.

-Não.

Furiosa, foi até a porta e a abriu. Fala sério. Como se isso fosse o suficiente para me tirar dali. Ela veio até mim e foi me puxando pra fora da sua casa. Quase nem me movi, já que era mais forte.

-Por que você está me tratando assim?

-Por que? Ora, eu nem sou importante. Por que está se preocupando com isso? Nos últimos meses você simplesmente sumiu, como se eu nunca existisse pra você. Você e o Tom foram embora e, e...

-Que? Sobre o que você está falando? – perguntei confuso.

-Afe, caia fora da minha casa.

Eu não estava a compreendendo. Uma hora pergunta se eu estou bem e outra fica me expulsando. E como assim eu e Tom sumimos? É verdade que nós tivemos que voltar pra Los Angeles, mas nós avisamos que precisaríamos voltar. Alias, mandamos várias cartas a ela. Senhor, o que está acontecendo?

Meus olhos se fixaram na porta que estava cada vez mais próxima. Ao lado havia uma mesa, a qual eu coloquei as flores. Não sei como não tinha notado, mas em cima da mesa havia uns papéis, todos iguais. Pareciam envelopes. O remetente me chamou atenção, já que a letra do autor era conhecida. Isso me fez parar de segurar meu corpo para não ser mandado pra fora. Lá estava escrito meu endereço, meu nome. A de baixo estava escrito a mesma coisa. Á direita tinha um envelope colorido, também com meu nome.

-Gabi, o que é isso?

-Nada que te interesse.

-Como não? São as minhas cartas, não é? Você nem leu o que eu e Tom mandamos nos últimos meses.

A porta bateu-se fazendo um barulho alto o suficiente para acordar os vizinhos e antes que eu percebesse, já estava trancado para fora.

Droga. Ela acha que eu e Tom fomos embora sem mais nem menos. Claro, ela ainda não sabe das coisas que escrevemos. E como se nem tivemos nos desculpado ainda, por isso ela está tão com uma mulher em estado de TPM estrema.

Senti algo vibrando dentro da minha calça.

-Alô?

-Bill?

-Ah, oi mano.

-Oi. Bill, eu estou com um mau pressentimento. Não estou me sentindo muito bem. Aconteceu alguma coisa com você?

Tom Kaulitz. Cretino. Desgraçado. Miserável. Idiota. Isso é tudo culpa sua.