Meu Vizinho Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 8
Eu peço uma xícara de açúcar


Notas iniciais do capítulo

Outro capítulo!



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Certo, vamos parar um minuto para analisar as coisas.

Imagine que você estuda em um colégio e que na sua turma tem um valentão. Digo, um valentão enorme, grosso, e mal educado que adora mexer com as pessoas menores e mais fracos. Ele é sempre sério e vive com raiva.

Só que em um milagroso dia você entra na sala de aula e para a sua surpresa... O valentão está sorrindo. Não sorrindo do jeito: “Eu vou socar o seu estômago até você vomitar o café da manhã da semana passada”, e sim do jeito: “Olá! Como vai você nessa adorável manhã de Sol, querido amiguinho?”.

Você está acostumado com ele do jeito raivoso. E isso te dá medo. Mas... Vê-lo sorrindo... Dá muito mais.

Foi assim que eu me senti quando vi o Deus da Guerra, o cara que queria me matar á poucos minutos, sorrindo alegremente para mim como se nada tivesse acontecido. A não ser pelo fato mais assustador ainda dele... Ter pedido... Desculpas.

“O que?” Perguntei incrédula e sem entender.

Ele ainda sorria de um jeito amigável e feliz, embora eu pudesse ver que por baixo de seus óculos escuros estava saindo uma certa quantidade de fumaça.

“Eu disse...” Ele falou entre os dentes, ainda sorrindo. “Que eu sinto muito. Você gostaria de entrar?”

Parecia um robô programado para dizer sempre a mesma frase.

“Ahm... Sim e... Não.” Aquilo estava começando a me assustar. Eu me virei pronta para ir embora, mas ele segurou o meu braço.

“Que bom que aceitou o convite.” Falou ele.

“Ei! Você perdeu a cabeça?!” Perguntei me debatendo. “Há um minuto você não queria nunca mais me ver de novo, e agora pede desculpas e pede para eu entrar?!”

Eu podia sentir que ele estava odiando aquilo, mas por uma razão bizarra e desconhecida... Ele continuava sorrindo!!

“Entre de uma vez.” Falou ele sem soltar o meu braço.

“Para o que? Tomar uma xícara de chá com você?” Perguntei esperando que aquilo fosse irritá-lo.

Ele não respondeu. Simplesmente me puxou para dentro e me lançou na sala.

“Aí!” Protestei.

Quase perdi o equilíbrio. Eu olhei em volta. No sofá que antes tinha milhares de revistas de motos jogadas encima, estava ela. A tal atriz de cinema.

Toda a casa estava em perfeita ordem. Só que... Isso não parecia agradar á ela. Estava sentada de pernas cruzadas, e retocava uma falha invisível de sua maquiagem. Novamente eu me senti envergonhada de estar na frente dela naquele estado decadente.

Ares fechou a porta e virou-se para me observar. Lançou um discreto olhar raivoso, o que diminuiu o meu medo, mas logo depois se concentrou nela.

Cof! Cof!” Fez ele tentando chamar a atenção dela, mas foi simplesmente ignorado.

Eu achei aquilo divertido.

Ele limpou a garganta, mas mesmo assim ela nem olhou. Ele estava levando o maior gelo que eu já vi. Era o Deus da Guerra, mas mesmo assim ela não dava a mínima atenção para ele.

Mas... Será que ela sabia que ele era o Deus da Guerra? Bem... A minha mãe conheceu o meu pai, então acho que fazia sentido.

Ares se deu por vencido. Eu olhei com atenção. Pude jurar que as bochechas dele ficaram vermelhas.

“A-Amor...” Chamou ele timidamente.

Eu morri de rir. Tá... Eu tentei esconder ao máximo a minha risada. Fingi que estava tossindo, mas isso não o enganou.

“Escuta aqui sua...!” Ele estava pronto para me xingar de todos os piores palavrões que conhecia, mas algo o interrompeu.

Ela se levantou do sofá, e isso foi o bastante para fazê-lo engolir o que ia dizer.

“Ares.” Falou ela. “O que você ia dizer?”

Uma de suas sobrancelhas se levantou, e eu pude ver claramente o Deus da Guerra tremer.

“Eu? Nada de mais! Ia só apresentá-la para você!” Desculpou-se.

Ela não engoliu aquela.

Olhou para mim, e foi a minha vez de tremer. Foi o momento mais embaraçoso de toda a minha vida. Sem dúvida.

Eu estava parecendo uma mendiga na frente daquela... Atriz perfeita!

“Veja bem...” Falou Ares dando alguns passos na minha direção. “Ela é... A minha vizinha.”

“Ah, jura?” Perguntou ela. “E o que ela veio fazer aqui?”

Ele não esperava por aquela. Eu cruzei os braços. Estava na cara que eu não tinha nada a ver com aquela discussão. Seja lá o que estivesse acontecendo, era problema de Ares com ela. Eu preferia ficar parada ali vendo-o agir como um cãozinho sem dono correndo atrás dela, á falar alguma coisa.

E é claro... Estava controlando o riso.

“E-Ela veio...” Ele me olhou com uma cara de “Invente alguma coisa”, mas eu continuei calada e fingi que não vi. “Ela... Veio pedir uma xícara de açúcar.”

Xícara de açúcar?! O que eu era?! Uma garotinha idiota de conto de fadas?! Quem é que pede uma xícara de açúcar para o vizinho hoje em dia?

“Xícara de açúcar?” Repetiu ela incrédula. “Espera que eu acredite nisso?”

“Sim!” Afirmou ele quase rastejando para os pés dela.

“Tá bom. E porque ela está desse jeito?” Perguntou ela.

Eu queria dizer: “Resolvam isso enquanto eu me arrasto até o outro canto da sala e me encolho fingindo não existir”, mas achei melhor continuar quieta.

“E-Eu...!” Ares me interrompeu antes que eu pudesse contar a verdade.

“Ela caiu!” Apressou-se em dizer. “Caiu da escada da casa dela.”

“Uhm...” Fez ela sem acreditar.

“É sério!” Falou ele mais empolgado com sua mentira. “Ela caiu da escada enquanto veio correndo para cá pedir açúcar.”

“Claro... Aí eu rasguei o meu pescoço. E eu também amo pedir xícaras de açúcar ás 2 da manhã.” Comentei.

Ele pisou no meu pé de propósito, em sinal de: “Não me atrapalhe!”.

“Viu só? Eu disse que podia explicar tudo para você e...!” Ele foi interrompido.

Uma almofada acertou seu rosto, e infelizmente não fui eu quem jogou. Ele ficou parado por um segundo. Quando a almofada caiu de seu rosto ele notou que foi a atriz de cinema que a jogou. Pensei naquele momento que ela estaria morta.

Arrumar briga com aquele cara era loucura, e eu podia confirmar isso. Ainda mais para uma pessoa como ela. Teria tanto medo de quebrar uma unha, que nem notaria os ataques do Deus da Guerra.

Mas eu estava enganada. Ela cruzou os braços e ficou de costas para ele. Ares me surpreendeu. Ao invés de gritar com ela ou algo parecido, ele se jogou no chão como um cãozinho de verdade e começou a implorar.

“Por favor! E-Eu já expliquei para você que...!” Ela o interrompeu.

“Você mentiu para mim!” Exclamou aborrecida.

“Eu não...!” Ele tentou dizer, mas ela virou-se para olhá-lo e ele calou a boca.

“Quando disse que iria tirar férias, e que iria ter mais tempo para mim, eu fiz você jurar duas coisas.” Falou ela andando em volta da sala de estar e ele á seguiu. “A primeira era que você realmente teria tempo para mim e que meu marido não nos acharia.”

“Ele não nos achou!” Protestou Ares.

“Ainda!” Rebateu ela. “E segundo...”

Ela virou-se e pôs as mãos nas cinturas para mostrar que estava com bastante raiva.

“Que você não iria entrar em brigas!” Ela apontou para mim e senti meu sangue congelar.

“Mas...! Mas...! Mas...! Amor!” Ele tentou se explicar, mas ela levantou as mãos em sinal de basta.

“’Mas’ coisa nenhuma!” Falou ela. “Olhe para a pobre garota.”

Ela andou para perto de mim e pude notar que ela era realmente perfeita. Ela começou a mexer no meu cabelo, depois passou os dedos delicadamente pelo machucado no meu pescoço que não sangrava mais, mas ainda estava bem vermelho e ardendo, e virou-se para ele.

“Isso é coisa sua. Não tem como se machucar desse jeito caindo da escada!” Ela falou.

Ares abriu a boca para dizer alguma coisa, mas depois engoliu. Ele se pôs de pé e olhou para mim com um olhar de raiva. Estava voltando ao normal aos poucos.

  “Foi ela quem pediu isso!” Defendeu-se ele. “Não acreditaria o quanto irritante ela é!”

“Eu, irritante?!” Exclamei finalmente dizendo alguma coisa. “Foi você quem não queria abaixar aquele estúpido som!”

“Não falei com você, pirralha!” Reclamou Ares.

“Pare com isso!” Exigiu ela batendo seu salto alto direito no chão. “Francamente... Será que você não consegue se controlar?”

Ela revirou os olhos e ele coçou a nuca.

“De qualquer jeito... Ela o desafiando ou não... Você deve desculpas para essa senhorita.” Falou de um jeito delicado e gentil

“Eu o que?!” Exclamou ele.

“Peça! Agora mesmo.” Falou ela com firmeza.

“Eu já... Pedi.” Murmurou ele.

“De novo. Em alto e bom som.” Falou.

Ares parecia que ia ter um infarto ali mesmo, se é que isso é possível para um Deus. Ele olhou em volta hesitante, e por fim acabou sedendo.

“Descul...Pe.” Engasgou ele.

Eu fiquei admirada. Não esperava que fosse assim tão fácil. Não tinha idéia de quem ela era, mas tinha um enorme poder de persuasão sobre ele. Ela o tinha na palma da mão.

A triz virou-se para mim sorrindo.

“Que bom que ele a convidou para entrar novamente, e que bom que você aceitou.” Sorriu ela.

Larry, Tim, Hugh, James... Todos os primeiros garotos pelo qual me apaixonei vieram na minha cabeça quando ela sorriu. Não tinha idéia do porque, mas era uma sensação ótima.

“É eu... Estava... Inclinada a aceitar o convite.” Falei escolhendo bem as palavras.

Ares lançou para mim uma careta horripilante, e eu preferi continuar encarando a atriz de cinema.

“Ah, mas que doce.” Ela passou a ponta dos dedos sobre as minhas bochechas e mais uma leva de garotos passou na minha mente. “Você é realmente uma garota adorável, saiba?”

Ares estava quase vomitando.

“É... O meu pai disse isso.” Eu não sei porque falei isso. Veio na minha cabeça do nada, e acabei falando. Que vexame...

“Tenho certeza que disse.” Riu ela. “Bem... Eu ia adorar conhecer você melhor, mas acho que está um pouco tarde, não é?”

Eu pisquei os olhos.

“É verdade!” Exclamei olhando para o relógio perto da TV. “São 3 da manhã!”

“Tudo bem. Eu encontro você amanhã.” Ela piscou para mim. “Sinto muito pelo que o meu namorado lhe fez. Ele ás vezes é um pouco bruto, mas... Ele é um amor de pessoa. No fundo é até bonzinho.”

Eu franzi o cenho. Olhei bem para ela. Só podia ser brincadeira! Como alguém no mundo poderia achar ele uma boa pessoa? Ou... Bonzinho? Mas... Eu preferi não falar para ela que seu namorado era o Deus da Guerra violento, e assassino, que tem como passatempo favorito matar e destruir.

Ao invés disso, eu fiz o que todo mundo deve fazer quando alguém comenta algo sobre o namorado. Você sorri e concorda.

“Tenho certeza que você o conhece melhor do que eu.” De novo escolhi com cuidado as palavras.

Ela sorriu. Acho que respondi certo.

“Então nós nos vemos amanhã.” Falou ela. “Até mais.”

Ela acenou com a mão para mim, e eu fiz o mesmo. Ares segurou o meu braço e me arrastou até a porta, como se eu não soubesse onde ela ficava.

Com um empurrão leve e com a sua perfeita força de Deus ele me lançou para fora da casa e eu cambaleei, mas consegui não cair no chão.

“Teve sorte de ela aparecer para salvar a sua pele, Filhinha de Hermes.” Disse Ares com a sua raiva de sempre. “Teria adorado cortar o seu pescoço fora.”

“Claro que sim. Pense o que quiser.” Falei. “Mas eu ganhei.”

“Ganhou?” Riu baixo ele para que ela não o ouvisse. “Você estava morta! Eu ia acabar com você.”

“É você ia! Mas ao invés disso preferiu me soltar e abaixar o som. O que prova que desistiu e eu ganhei.” Disse.

Ele ia dizer alguma coisa quando ela o chamou.

“Ares! Estou esperando por você!” Disse com uma voz charmosa.

“Eu já vou!” Cantarolou ele de volta, mas depois olhou para mim e sua voz voltou ao normal. “Escute aqui sua pirralha. E escute bem. Eu posso acabar com você á qualquer momento que eu quiser. Poderia te transformar em uma minhoca agora mesmo e fazer com que ficasse perdida no meu gramado por dias..!”

Eu tossi. Um sinal clássico de: “Men-ti-ra!”.

“Cuidado com a tosse. Ela pode te matar.” Eu senti a indireta.

“Ela podia me matar. Não pode agora.” Corrigi.

“O agora não dura para sempre.” Riu ele. “Você se acha tão especial, não é? Só porque o seu papai foi te visitar umas... 3 vezes? Há! Acha mesmo que isso vai ser para sempre?”

“Isso não é da sua...!” Eu queria mandar ele calar a boca, mas ele prosseguiu sem ligar.

“Ele não vai.” Falou Ares. “Se tiver sorte, verá ele mais umas duas vezes durante a sua vida. No máximo. Acha que é a única filha de Hermes? Tem dezenas espalhados pelo mundo! A maioria nem tem idéia de quem é o seu pai de verdade.”

“Quer dizer que a maioria nem sabe também que você é o tio deles. Crianças felizes.” Comentei.

Ares riu. Ele disse alguma coisa em uma língua estranha, e eu senti todo o meu sangue ferver. Me senti diferente... Um pouco mais... Tonta.

“Quer tanto ser especial? Então eu vou te dar uma mãozinha.” Ele sorriu cruelmente. “Se achou que o som era o pior do seus problemas. Se achou que os cães eram o pior de seus problemas... Não viu nada ainda. Nunca mais vai ter paz e sossego, Alice Kelly.”

Ele fechou a porta com força. Não tinha idéia do que ele queria dizer com aquilo, mas algo me diz que não ia ser bom ficar ali para descobrir. Voltei para casa, fui para o meu quarto, e desabei na minha cama.


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Notas finais do capítulo

Então...

O que vocês acham que Ares fez?

Será que os sonhos dela vão ser normais?

E quanto a Hermes? Será que Alice o verá novamente?

Reviews?